domingo, 26 de janeiro de 2025

"Lá no lugar que se diz América." A poesia de Célio Turino




Lá no lugar que se diz América

o espírito do tempo chega, 

estranho, 

com promessas que arrebentam sonhos

e erguem pesadelos.


A história insiste em repetir-se, 

dizem, 

e vem outra vez 

com suas máscaras de ferro, 

seus gritos de guerra, 

seus fantasmas ressuscitados. 


Alguns homens 

-mulheres também-

erguem a voz,

prometem a verdade única 

e o que trazem é sombra, 

rancor e silêncio.


Tempos obscuros 

dobram a esquina 

com palavras 

que se vestem de vazio, 

como escudo, 

dividem o chão 

em fronteiras e muros,

ódio e dor. 


Tempo de luta

vem por aí.


Verdade, a primeira a ruir

Vejo sombras de gente uniformizada 

marchando em seu eterno retorno ao ódio.

Tempo de olhos fechados 

e punhos cerrados. 


É o Espírito do Tempo que assombra novamente.

Zeitgeist, 

depois da farsa, a tragédia, 

agora lúgubre.


Tempo de erguer muro 

e cavar poço.

Nesse nosso tempo 

a verdade é a primeira a ruir.


Quem semeará um ponto de luz? 

A história vai e volta,

recomeça como farsa,

como se nunca tivesse sido outra coisa,

vira tragédia

e se repete.


2025,

o mundo em expectativa.


Nós estamos aqui!  

Presos na tela, 

a um botão que nunca desliga

aguardando um ponto de luz.


Da tela, avistamos o muro, 

um eco, 

uma sombra, 

uma arma...


Da tela, escutamos o grito,

um estrondo, 

um espectro... 

Que inferno! 


A promessa de deportação:

“- Façam as malas e saiam enquanto é tempo!”

A promessa de retaliação:

“- Uma bomba virá!”


Quantos escombros!

E nós estamos aqui.


Não há verso para o genocídio 

transmitido na tela,

a palavra vira pedra,

a pedra vira mapa

de gente que não tem mais chão.


E nós continuamos aqui!

Na tela.

 

É o espírito do tempo 

que volta como farsa e tragédia,

um passado sombrio 

que se torna presente,

um vento que sopra 

e faz tudo virar cinza.


Quem semeará um ponto de luz 

em meio a esse mundo lôbrego? 


Criação de Célio Turino  nos remetendo aos poemas de  Carlos Drummond de Andrade no   livro Rosa do Povo escrito na década de 1940, tempos de poucas luzes como o presente, tempo que ruge. 
Zezito de Oliveira - editor do blog da cultura

3 comentários:

Anônimo disse...

A parte obscura dos ciclos repetidos da história... Que pena viver pra ver!

Anônimo disse...

Célio, excelente trabalho!

Anônimo disse...

Muito duro e, ao mesmo tempo, um marilhoso poema.