Não é fácil uma pessoa criativa, inquieta e sedenta de justiça viver em comunidade ou participar de coletivos. Quando me refiro a comunidade, tenho em mente desde a mais primária, a família, até aquelas ou aqueles coletivos dos quais participamos por nossa livre escolha.
O desafio para este tipo de pessoa é desenvolver, de forma individual, as potencialidades de um modo de pensar e viver de forma inquieta, criativa e indignada, sem se isolar da maioria que pensa e age de outra maneira.
De um ponto de vista mais amplo, há um outro desafio para grupos e instituições que têm por objetivo a construção de uma sociedade fundamentada nos ideais e práticas cristãs: Como conciliar a necessidade de uma ação coletiva e, ao mesmo tempo, resguardar o direito do indivíduo pensar e viver diferentemente?
Mas, qual a razão desta pergunta? Porque mesmo com tensões, e até desconfortos, um grupo coletivo ou instituição, caso saiba lidar com a “diferença”, cresce e se fortalece. Ao contrário, quando busca tolher ou até perseguir aqueles que pensam e agem “contra a corrente”, estes grupos ou instituições diminuem ou se enfraquecem.
Quando me refiro à diminuição ou enfraquecimento não penso em quantidade, mas nos aspectos qualitativos, ou seja, a criatividade, o respeito ao diferente, a inteligência critica, a solidariedade desinteressada, as relações sinceras e etc..
Em outras palavras, quando o indivíduo ou o grupo se fecha para a convivência com pessoas inquietas, criativas e indignadas se distancia da humanização que, mesmo parecendo um paradoxo, nos aproxima da divindade ou da vida em plenitude, como disse e quer Jesus Cristo, nosso irmão maior.
Faço esta reflexão por perceber um declínio do extraordinário crescimento humano e espiritual que muitos cristãos experimentaram durante a segunda metade do século XX, em que pese o grande número de fiéis que frequentam igrejas atualmente.
Já agora, no limiar do século XXI, entristece-me o fato de que cristãos tão pouco inquietos, criativo e indignados, ou “pobres de espírito”, tenham preconceito e persigam velada, ou diretamente, muitos cristãos inquietos, criativos e indignados .
Isto trará consequências funestas e lamentáveis a médio e longo prazo, repetindo um fenômeno característico do período pós revolução francesa durante o qual ser cristão, salvo honrosas exceções, era sinônimo de pessoa ou grupo ignorante, intolerante , incoerente, insensato, mórbido, pouco inteligente e criativo .
P.S.:
1 - O paradoxo maior é perceber nos evangelhos, após uma leitura mais atenta e contextualizada, que Jesus Cristo foi uma pessoa inquieta, criativa e sedenta de justiça e que a sua perseguição e morte deu-se exatamente por este motivo. Claro que esta opinião tem como base uma leitura mais atenta e contextualizada dos evangelhos. Quem fizer a leitura com menos atenção ao contexto cultural, social e político da época haverá de discordar.
2 - Quem quiser aprofundar os argumentos apresentados acima, sugiro a leitura dos livros do padre, teólogo e educador José Coblin e os de autoria de Marcelo Barros, monge, biblista, teólogo, ensaista, romancista, escritor e educador popular, como também os livros de Leonardo Boff e Frei Betto. Lamentavelmente Pe. Coblin faleceu em 2011.
3 - Pessoas inquietas, criativas e indignadas necessariamente não significa serem mal resolvidas, secas ou ásperas, chatas, impertinentes e etc.. Podem e devem ser inquietas, criativas e indignadas, mas, sem perder a ternura.
Abaixo, exemplos de cristãos ou de iniciativas iniciativas religiosas, estéticas, culturais e políticas que fortalecem a perspectiva defendidas no texto acima. Quem quiser/puder pode enviar outros exemplo no espaço para comentários.
Textos que dialogam com este:
Vaticano II: O concilio da mudança.
Igreja: de regente a terceiro violino. Entrevista especial com Sérgio Coutinho
Vaticano II: O concilio da mudança.
2 comentários:
Após ter postado o artigo pensei em algumas questões para debate:
O que foi ou está sendo feito para resgatar, registrar e difundir o que foi produzido pelos cristãos inquietos, criativos e comprometidos com a justiça no século XX?
O que está sendo feito de inovador no século XXI por cristãos inquietos, criativos e comprometidos com a justiça , seguindo a pegada daqueles que atuaram na segunda metade do século XX? Importante frisar que esta pergunta se aplica a atuação em espaços além das igrejas.
Quais os meios e estratégias que devemos utilizar para que as mensagens e práticas do cristianismo libertador possam dialogar e servir também como referência ética, cultural, simbólica, espiritual e política para aqueles que nasceram a partir das duas última décadas do século XX?
Zezito de Oliveira
Abaixo o link de um texto do Zé Vicente para ajudar no debate. Quem puder ou quiser post outros links também na mesma perspectiva e das demais questões. http://acaoculturalse.blogspot.com.br/2011/06/arte-na-caminhada-das-comunidades.html
Pesquisando com as palavras Zé Vicente na caixa de busca deste blog, vocês encontrarão outros textos interessantes,
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