“Assim, hoje as bruxas são legião no século XX. E são bruxas que não
podem ser queimadas vivas, pois são elas que estão trazendo pela
primeira vez na história do patriarcado, para o mundo masculino, os
valores femininos. Esta reinserção do feminino na história, resgatando o
prazer, a solidariedade, a não-competição, a união com a natureza,
talvez seja a única chance que a nossa espécie tenha de continuar viva.”
Leia mais..... aqui
ROSE MARIE MURARO.O Espírito de Deus Pairou Sobre as Águas
Rose Marie Muraro (11/11/1930 – 21/06/2014)
Quando as trevas cobriam o Abismo
o meu espírito pairou sobre as águas
e Eu as fecundei e fiz delas a origem de toda vida.
E as águas se tornaram a base de toda a natureza que Eu criei.
Na terra, assim como no ar,
Eu fiz que nada existisse sem as águas
e o Tempo, o meu filho primeiro, foi seguindo o seu curso,
milênio a milênio.
E os seres vivos foram se sucedendo:
os que se arrastavam e os que voavam e os que andavam.
Até que chegaram os que pensavam
e neles Eu pus todo o meu amor.
Fiz os seus rostos resplandecentes
e nas suas mãos coloquei raios de fogo
e asas nos seus pés.
E, principalmente, mais do que tudo,
entreguei-lhes a minha filha predileta: a Liberdade.
E perdi o poder sobre eles,
o poder que tinha sobre as outras criaturas,
porque a liberdade lhes dava esse poder
de criar e destruir como Eu mesmo fazia.
Tomei esse risco para ter com quem dialogar
e fazer com que tudo crescesse
e a vida desabrochasse.
Mas eles levantaram as suas faces contra mim.
E destruíram mais do que criaram, até cometer o supremo pecado
de matar o Futuro, filho do Tempo com a Liberdade.
E violaram as águas de tudo que era feito.
E elas se tornaram envenenadas,
A Terra foi se tornando um deserto
e o ar foi se tornando irrespirável.
E, se dentre os seres revoltados, como Lúcifer,
não surgirem seres livres capazes de ressuscitar o Futuro
e, com ele, a vida e a esperança, a Liberdade e o Tempo,
não terei outro remédio senão fazer com que as trevas
voltem outra vez a cobrir o Abismo.
o meu espírito pairou sobre as águas
e Eu as fecundei e fiz delas a origem de toda vida.
E as águas se tornaram a base de toda a natureza que Eu criei.
Na terra, assim como no ar,
Eu fiz que nada existisse sem as águas
e o Tempo, o meu filho primeiro, foi seguindo o seu curso,
milênio a milênio.
E os seres vivos foram se sucedendo:
os que se arrastavam e os que voavam e os que andavam.
Até que chegaram os que pensavam
e neles Eu pus todo o meu amor.
Fiz os seus rostos resplandecentes
e nas suas mãos coloquei raios de fogo
e asas nos seus pés.
E, principalmente, mais do que tudo,
entreguei-lhes a minha filha predileta: a Liberdade.
E perdi o poder sobre eles,
o poder que tinha sobre as outras criaturas,
porque a liberdade lhes dava esse poder
de criar e destruir como Eu mesmo fazia.
Tomei esse risco para ter com quem dialogar
e fazer com que tudo crescesse
e a vida desabrochasse.
Mas eles levantaram as suas faces contra mim.
E destruíram mais do que criaram, até cometer o supremo pecado
de matar o Futuro, filho do Tempo com a Liberdade.
E violaram as águas de tudo que era feito.
E elas se tornaram envenenadas,
A Terra foi se tornando um deserto
e o ar foi se tornando irrespirável.
E, se dentre os seres revoltados, como Lúcifer,
não surgirem seres livres capazes de ressuscitar o Futuro
e, com ele, a vida e a esperança, a Liberdade e o Tempo,
não terei outro remédio senão fazer com que as trevas
voltem outra vez a cobrir o Abismo.
Extraído do livro O Espírito de Deus Pairou Sobre as Águas: Orações
para o Século XXI, organizado por Rose Marie Muraro e publicado pela
Pensamento.
No dia 21 de junho
concluíu sua peregrinação terrestre no Rio de Janeiro uma das mulheres
brasileiras mais significativas do século XX: Rose Marie Muraro
(1930-2014). Nasceu quase cega. Mas fez desta deficiência o grande
desafio de sua vida. Cedo intiuíu que só o impossível abre o novo; só o
impossível cria. É o que diz no seu livro Memórias de uma mulher
impossível (1999,35). Com parquíssima visão formou-se em física e
economia. Mas logo descobriu sua vocação intelectual: de ser uma
pensadora da condição humana especialmente da condição feminina. Foi ela
que no final dos anos 60 do século passado, suscitou a polêmica questão
de gênero. Não se limitou à questão das relações desiguais de poder
entre homens e mulheres mas denunciou relações de opressão na cultura,
nas ciências, nas correntes filosóficas, nas instituições, no Estado e
no sistema econômico. Enfim deu-se conta de que no patriarcado de
séculos reside a raíz principal deste sistema que desumaniza mulheres e
também homens.
Realizou em si mesma um impressionante processo de libertação,
narrado no livro Os seis meses em que fui homem (1990,6ª edição). Mas a obra quiçá mais importante de Rose Marie Muraro tenha sido Sexualidade da Mulher Brasileira: corpo e classe social no Brasil (1996). Trata-se de uma pesquisa de campo
em vários Estados da federação, analisando como é vivenciada a
sexualidade, tomando em conta a situação de classe das mulheres, coisa
ausente nos pais fundadores do discurso psicanalítico. Neste campo Rose
inovou, criando uma grelha teórica que nos faz entender a vivência da
sexualidade e do corpo consoante as classes sociais.
Que tipo de processo de individuação pode realizar uma mulher famélica
que para não deixar o filhinho morrer, dá o sangue de seu próprio seio?
Trabalhei com Rose por 17 anos como editores da Editora Vozes: ela
responsável pela parte científica e eu pela parte religiosa. Mesmo sob
severo controle dos órgãos de repressão millitar, Rose tinha a coragem
de publicar os então autores malditos como Darcy Ribeiro, Fernando
Henrique Cardoso Paulo Freire os cadernos do CEBRAP e outros. Depois de
anos de longa discussão e estudo em conjunto reunimos nossas
convergências num livro que considero seminal Feminino & Masculino:
uma nova consciência para o encontro das diferenças (Record 2010).
Destaco apenas uma frase dela:”educar um homem é educar um indivíduo,
mas educar uma mulher é educar uma sociedade”.
Sem deixar nunca de lado a questão do feminino (no homem e na mulher)
voltou-se cedo aos desafios da ciência e da técnica moderna. Já em 1969
lançava Autonomação e o futuro do homem e previa a precarização do mundo
do trabalho.
A crise econômico-financeira de 2008 levou-a colocar a questão do capital/dinheiro com
o livro Reinventando o capital/dinheiro (Idéias e Letras 2012), onde
enfatiza a relevância das moedas sociais e complementares e as redes de
trocas solidárias que permitem aos mais pobres garantirem sua subsistência à revelia da economia capitalista dominante.
Outra obra importante, realmente rica em conhecimentos, dados e reflexões culturais se intitula Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade: querendo ser Deus? (Vozes 2009). Neste texto ela se confronta com a ponta da ciência, com a nanotecnologia, a robótica,
a engenharia genética e a biologia sintética. Vê vantagens nessas
frentes, pois não é obscurantista. Mas pelo fato de vivermos dentro de
uma sociedade que de tudo faz mercadoria, inclusive a vida, percebia o
grave risco de os cientistas presumirem poderes divinos e usarem os
conhecimentos para redesenharem a espécie humana. Daí o sub-título:
Querendo ser Deus? Essa é a ingênua ilusão dos cientistas. O que nos
salvará não é essa nova Revolução Tecnológica mas, como diz Rose, é a
“Revolução da Sustentabilidade, a única que poderá salvar a espécie
humana da destruição…pois a continuarmos como está, não estaremos em um
jogo ganha-perde e sim no terrrivel jogo perde-perde que significará a
destruição de nossa espécie, na qual todos perderemos”(Reinventando o
Capital/dinheiro, 238).
Rose possuía um sentimento do mundo agudíssimo: sofria com os
dramas globais e celebrava os poucos avanços. Nos últimos tempos Rose
via nuvens sombrias sobre todo o planeta, pondo em risco o nosso futuro.
Morreu preocupada com as buscas de alternativas salvadoras. Mulher de
profunda fé e espiritualidade,
sonhava com as capacidades humanas de transformar a tragédia anunciada
numa crise purificadora rumo a uma sociedade que se reconcilie com a
natureza e a Mãe Terra. Conclui seu livro Os avanços tecnológicos com
esta sábia frase:”quando desistirmos de ser deuses poderemos ser
plenamente humanos, o que ainda não sabemos o que é, mas que intuímos
desde sempre”(p. 354).
Proclamada a 30 de dezembro de 2005 oficialmente pelo Presidente, Patrona do Feminismo Brasileiro e com a criação da Fundação Cultural Rose Marie Muraro em 2009 deixará um legado de fecundo humanismo para as futuras gerações. Rose Marie Muraro mostrou em sua saga pessoal que o impossível não é um limite mas um desafio. Ela se inscreve na linhagem das grandes mulheres arquetípicas que ajudam a humanidade a preservar viva a lamparina sagrada do cuidado por tudo o que existe e vive. Nesse afã ela se tornou imorredoura.
Proclamada a 30 de dezembro de 2005 oficialmente pelo Presidente, Patrona do Feminismo Brasileiro e com a criação da Fundação Cultural Rose Marie Muraro em 2009 deixará um legado de fecundo humanismo para as futuras gerações. Rose Marie Muraro mostrou em sua saga pessoal que o impossível não é um limite mas um desafio. Ela se inscreve na linhagem das grandes mulheres arquetípicas que ajudam a humanidade a preservar viva a lamparina sagrada do cuidado por tudo o que existe e vive. Nesse afã ela se tornou imorredoura.
Leonardo Boff trabalhou na Editora Vozes por 17 anos junto com Rose Marie Muraro
Só a conheci ontem, quando soube de sua morte.
Me senti muito pequeno e ignorante.
Uma mulher incrível como ela, deveria ser de meu conhecimento e de todos no país.
Como posso eu, conhecer os nomes e a história de vida, de apresentadoras fúteis de televisão, e desconhecer Rose Marie Muraro?
Fonte: http://www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=2293
Músicas para celebrar a presença e-terna de seres humanos como Rosie Marie Muraro...
Só a conheci ontem, quando soube de sua morte.
Me senti muito pequeno e ignorante.
Uma mulher incrível como ela, deveria ser de meu conhecimento e de todos no país.
Como posso eu, conhecer os nomes e a história de vida, de apresentadoras fúteis de televisão, e desconhecer Rose Marie Muraro?
Foi aí que eu entendi porque eu faço televisão.
Depois passem na TV Humana para ver nossa pesquisa.
Aprendi demais com mais este trabalho.
Ela diz coisas incríveis nestes 11 vídeos e nas citações que buscamos.
Beijos pra todas vcs, mulheres do século XXI.
Paul Sampaio Chediak Alves (Via Facebook)
Para saber mais sobre Rose Marie Muraro, clique abaixo:
Depois passem na TV Humana para ver nossa pesquisa.
Aprendi demais com mais este trabalho.
Ela diz coisas incríveis nestes 11 vídeos e nas citações que buscamos.
Beijos pra todas vcs, mulheres do século XXI.
Paul Sampaio Chediak Alves (Via Facebook)
Para saber mais sobre Rose Marie Muraro, clique abaixo:
Também em rede social, o Instituto Rose Marie Muraro postou um poema inédito da escritora com o título “O Pássaro de Fogo”. Leia abaixo o poema.
O Pássaro de Fogo
Tu vieste como um pássaro
E pousaste no meu ombro
E eu fui habitadaPela paixão da entrega.Eu te amei antes que tu existisses
Como o deserto que tem sede de água
E as flores tem sede da luz
E te amei como a pedra ama a terra
Que lhe dá sua força.Com teu bico colocaste na minha mão esquerda
A semente da morte
E na direita a semente da vida
Para que com as duas juntas
Eu fizesse a escolha de cada momento
Ligando o instante à sua profundidade eterna.Pássaro de fogo
Capaz de queimar sem consumir
Estás dentro de mim.Pássaro de fogo
Irei onde tuas asas me conduzirem
E meu caminho se tornou incandescente
Como teus olhos.
Fonte: http://www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=2293
Músicas para celebrar a presença e-terna de seres humanos como Rosie Marie Muraro...
Não se admire se um dia/Um beija-flor invadir/A porta da tua casa/Te der um beijo e partir...
(Foto: beija-flor albino)
acrescido em 30 de Setembro de 2023
A ameaça da mulher escritora:
a censura aos livros feministas de Rose Marie Muraro durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)
Nenhum comentário:
Postar um comentário