informações voltadas ao fortalecimento das ações culturais de base comunitária, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
COLETIVO AÇÃO CULTURAL
PROMOVE A EDIÇÃO 2016 DA OFICINA DE DANÇAS CIRCULARES DOS POVOS.
Desde meados dos anos 2000,
para alimentar a chama das rodas de danças circulares em Aracaju , a Ação
Cultural promove a edição anual da oficina de danças circulares, sob a
coordenação de Àlvaro Pantoja , que integrou o extinto Cenap, um pioneiro e
criativo coletivo de arte educadores populares , responsável por uma das mais
importantes portas de entrada para as danças circulares dos povos em nossa
região.
Esta edição 2016, terá como
local de realização a Comunidade Bom Pastor,localizada à Rua Efrem Fernandes Fontes, 65- Bairro Santos Dumont,
próximo ao Terminal Rodoviário Maracaju .
O valor da inscrição é de R$200,00, incluindo
CDs e apostilas com as músicas do encontro. Quem antecipar o pagamento até 15
de maio pagará apenas R$180.00.
Quem realizar duas inscrições, a sua e a de um amigo, terá um desconto de R$20.00 e o amigo R$10.00. Ficando o pagamento em R$ 160.00 e R$170.00 até 15 de maio. Depois. - R$180.00 e R$190.00 para pagamento casados. Importante
Há custos adicionais de
gravação do DVD e de alimentação, almoço e lanche, para quem tiver interesse.
Dados da conta para depósito do pagamento
Banco do Brasil
Agencia: 1224-6
CC 35811-8
Irene do Socorro Smith Correa
Público a que se destina: Educadores
(as), técnicos (as), agentes sociais e culturais e pessoas de diferentes áreas
interessadas na integralidade do ser humano e em conhecimentos que
potencializem a revitalização das pessoas e experiências pedagógicas e de cura.
Sobre o focalizador da
oficina de danças circulares
Àlvaro Pantoja éEducador/Formador, licenciado em Filosofia e
doutor em Ciências da Educação. Durante 15 anos foi membro do coletivo de
educadores/formadores do Centro Nordestino de Animação Popular (CENAP), com atuação
no campo das metodologias do trabalho social e educativo. Desde 2001 tem atuado
como focalizador em rodas, encontros, ateliers/workshops e cursos de Danças
Circulares, em diversas cidades do nordeste brasileiro (Recife, João Pessoa,
Aracaju, Maceió, Teresina, São Luis, Fortaleza e Sobral);desde 2009 na cidades do Porto e Braga
(Portugal).
Para participar, siga as instruções abaixo: 1- Efetue o pagamento de sua inscrição; 2- Preencha a ficha abaixo com todos os dados solicitados (incluindo a data e o número do depósito); 3- Envie-a para o seguinte e-mail: zezitodeoliveira@gmail.com Data do Depósito: ...................... Número de documento/depósito: .............................. Nome.:............................................................................................................. End.:............................................................Bairro.:........................................ Cidade.:.........................................CEP.:........................................................ Tel.:................................ E-mail.:.................................................................... Instituição/Organização/Entidade:................................................................... OBS.:
Pedimos que sua confirmação de inscrição e depósito seja efetuada o
quanto antes para que possamos nos organizar com antecedência para o
Encontro!!! É IMPORTANTE ,portanto, esse retorno por e-mail! Agradecemos
desde já a compreensão, a colaboração e a participação de todos!
Mais informações: Irene Smith -
9836-1945 (vivo) - Maxivel Ferreira 8815-1116 (Oi) - Zezito de Oliveira -
zezitodeoliveira@gmail.com
ATENÇÃO!!!
A
comunidade bom pastor está localizada próximo ao Terminal Rodoviário da Av.
Maracaju no bairro Stos. Dumont.
O acesso
ao local de realização da oficina de danças circulares partindo do centro, deve ser feito através da Av. Visconde de
Maracaju, sentido Soledade, Lamarão e Conj. João Alves. Ao passar em frente ao
terminal Maracaju, entrar na segunda rua a direita após o terminal, na esquina
desta segunda rua encontra-se a Igreja Adventista. Esta rua é a Efrem Fernandes
Fontes, no numero 65 está localizado a comunidade bom pastor, que fica localizada
a 250 metros da Igreja Adventista.
Como foi a edição 2015
É nós, na oficina de danças
circulares mais bonita da cidade.
Contando com a maior
quantidade de pessoas em uma oficina colaborativa de danças circulares
promovida pela Ação Cultural, desde a primeira, realizada no ano de 2004, esta
7ª edição de 06 e 07 de junho de 2015 foi bastante satisfatória.
Para isso, foi de grande
importância a colaboração das pessoas, nos bastidores, em forma de mutirão, a
partir de uma visão de economia solidária, a qual combinou trabalho voluntário
e trabalho remunerado do focalizador, com base no conceito de ganha-ganha e
preço justo. Outras despesas também aconteceram com base nisso, como foi o caso
das diárias da comunidade Bom Pastor e do taxista, que ficou à disposição da
equipe de produção, etc.
Segundo o coordenador geral
da equipe responsável por esta oficina colaborativa, Maxivel Ferreira, o evento
dançante foi um sucesso: "A Oficina de Danças Circulares dos Povos superou
minhas expectativas (ainda que elas tenham sido sempre positivas!) e renovou
meu espírito para essa tão prazerosa atividade. Sou grato a todos pela maravilhosa
oportunidade de estar entre pessoas tão alegres, agradáveis, e tendo como
facilitador um amigo tão talentoso e dedicado. Foi uma experiência vivificante,
singular, e que certamente nos possibilitará novos belos encontros, novas
partilhas e aprendizados nesse sempre dinâmico círculo de alegria, paz e
meditação!"
Para Vera Lúcia,
participante da oficina, o evento também foi muito positivo: "Aprendi que
as danças circulares não é apenas dançar. É um autoconhecimento, pois nela
integramos ritmo, concentração, postura, leveza e harmonia entre os passos com
todos os outros integrantes, como também o prazer de aprender novos
conhecimentos. Para mim foi dez. E pretendo continuar."
Já Luiz Joacy afirma:
"Recomendo a quem puder participar de rodas de danças circulares, pois
além de serem gostosas e não exigirem nenhum conhecimento prévio de dança (são
danças coletivas que se dança em círculo), são terapêuticas. "
Além da oficina, a Ação
Cultural é ao mesmo tempo parceira e integra, por meio de dirigentes e
colaboradores, o grupo de Danças Circulares, o qual promove mensalmente uma
roda de danças em um dos anexos da Igreja São Francisco de Assis, no bairro
Santos Dumont.
Reportagem da Tv Aperipê sobre a oficina de danças circulares de 2011
Dia
23 de abril (sábado), a partir das 3 horas da tarde, foi reiniciado a oficina do projeto Rap Identidade Cultural, na Escola Júlia Teles, no
Conjunto Jardim. Quem gosta de RAP e mora na comunidade ou próximo, é só
chegar... No próximo sábado, 2 de maio, teremos mais....
A voz da periferia
que pensa. Mais Rap, por favor!
Durante o ano de
2015, as atividades da Ação Cultural foram realizadas sem o aporte de recursos
financeiros públicos, apenas com trabalho voluntário e cobrança de taxas com
preços populares, no caso de duas oficinas culturais — a de danças circulares e
a oficina colaborativa de audiovisual.
Também foi no ano de
2015 que realizamos pela primeira vez um trabalho educativo e cultural tendo
como eixo o RAP. E isso foi muito
importante, porque desde há alguns anos, era uma possibilidade aguardando
condições favoráveis para acontecer.
A iniciativa teve início
a partir de 10 de abril, em razão da procura de alguns jovens ligados aos
grupos Filosofia de Loucos, Relato
Verdadeiro e Resistentes da Favela,
interessados em começar uma espécie de escolinha de hip-hop no Conj. Jardim. A
proposta foi acatada pela direção da Escola Júlia Teles, que abriu as portas e
a Ação Cultural ficou de apoiar com a sua experiência acumulada na realização
de oficinas culturais e com equipamentos de áudio.
O objetivo da
iniciativa que recebeu o nome de Rap Identidade Cultural é realizar oficinas
com os quatro elementos do Hip-Hop, além do Rap, o break (dança), o grafite e
DJ, visando colaborar para o fortalecimento do senso crítico, autoestima e
sentido de pertencimento de adolescentes e jovens à escola e à comunidade por
meio da cultura Hip-Hop.
A iniciativa Rap Identidade Cultural terminou o ano
com 5 alunos participantes, 3 instrutores, e produziu uma canção de Rap, cuja
gravação em estúdio foi realizado neste início de 2016.
É vero!! Em tudo há um lado bom, mesmo em meio as derrotas e
dificuldades. Da derrota deste último domingo (17/04), podemos perceber alguns aspectos
positivos. 1- Temos a mobilização acima do esperado de amplos setores da
sociedade brasileira, ao perceber os riscos que muitas conquistas
sociais estarão correndo, caso o golpe seja consumado. 2 - A exposição pública a que a câmara dos deputados foi exposta, revelando uma cara ainda pior do que se imaginava. 3 - A garra, a energia e a criatividade da juventude, como é peculiar a maioria dessa faixa etária. 4 - O protagonismo da arte e dos artistas, Em especial nas últimas semanas de resistência ao golpe em curso. 5 - O vexame dos golpistas terem um aliado como Eduardo Cunha, conduzindo o julgamento do impedimento da presidente Dilma. 6 - Os argumentos frágeis e inconsistentes contra a presidente Dilma.
Como disse o comentarista Paulo Vannuchi, da Rádio da Rede Brasil
Atual. Há derrotas que carregam sementes de vitórias e vice e versa. Ter
uma presidente honesta, tendo a frente do seu julgamento, um bandido
como Eduardo Cunha, tem o efeito de mostrar os reais interesses que
estão em jogo., Mesmo que muitos não queiram admitir.
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A crise ética e politica, cuja votação do impedimento da presidente
Dilma, realizada por um congresso completamente rebaixado, como
constatado na tarde e noite de ontem (17/04), revela o fim de um ciclo. Porém,
em uma dimensão muito maior do que muitos de nossos intelectuais,
dirigentes ou militantes/ativistas de esquerda percebem. O que precisa
ser revisto: 1 - Referenciais teóricos; 2 - Modelos ou modos de organização interna; 3 - Modelos ou modos de relacionamento como quem está dentro e com que está fora das organizações e/ou partidos.
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“A guisa de conclusão, a questão do
sucesso do enfrentamento dessa guerra ideológica e midiática, perpretada
pelas elites, passa por essa compreensão. Além de ser amparada na
melhoria continua dos indicadores econômicos e sociais, precisamos
conhecer e valorizar os aspectos ligados as tradições, aos costumes, as
crenças, aos velhos e novos hábitos comportamentais, ou seja, a dimensão
da cultura nesta luta, não pode continuar sendo desconsiderada ou
colocada em segundo plano.” http://acaoculturalse.blogspot.com.br/2016/04/como-cultura-do-brasil-profundo-pode.htmlC
O urgente é afirmar a ilegitimidade de Temer e enfrentar seu
programa de horrores. Mas o essencial é encarar o imenso trabalho de
reconstruir um projeto de esquerda Por Antonio Martins
Lá dentro, havia terminado, poucos antes, o espetáculo deprimente
oferecido pelos homens brancos, cínicos e toscos. Diante do Congresso
Nacional, Guilherme Boulos empulhou o microfone e se dirigiu às milhares
de pessoas que – tanto em Brasília, quanto em dezenas de cidades –
acreditaram que poderiam, com seus corpos, frear o golpe urdido pela TV
Globo, pelos maiores empresários e pela mídia.
Não foi possível, por enquanto. Mas Boulos acredita que ainda estão
rolando os dados. “O Brasil todo sabe: o que acabamos de assistir foi
uma farsa golpista, conduzida por um sindicato de ladrões”, frisou ele. E
tirou as consequências: “Os golpistas não têm condições de governar
este país. Nós não reconhecemos sua legitimidade. Este recado tem que
ecoar país afora. Perdemos a batalha do carpete, mas vamos ganhar a
batalha do asfalto. Não tem um minuto de trégua. Vai ter ocupação. Vai
ter luta. Tomaremos este país, incendiaremos as ruas até derrotar os
golpistas.”
É possível que o coordenador do MTST tenha razão. Agora, só uma
surpresa muito improvável impedirá que Temer vista a faixa presidencial
em cerca de quinze dias. Mas governar é outra história. Como dissera
horas antes o jornalista e professor Igor Fuser, num debate organizado
pelo jornal Brasil de Fato, o
vice-presidente que conspirou contra sua companheira de chapa assumirá o
palácio do Planalto em situação de fragilidade incomum. Entre a
população, sequer os mais conservadores, que foram à Avenida Paulista
ontem, o apoiam, como mostra o próprio Datafolha.
No grupo, 54% querem também o impeachment de Temer, e 68% creem que um
eventual governo liderado por ele será regular, ruim ou péssimo, (no
Anhangabaú, onde se reuniram, em São Paulo, os que lutam contra o golpe,
os números são, é claro, muito mais altos: 79% e 88%).
A mídia, é claro, dará uma mãozinha ao vice. Ainda que muito
impopular, ele tem um trabalho a fazer em pouco tempo. Nos últimos dias,
apareceu com clareza a agenda de concessões
ao poder econômico, ataques aos direitos sociais e normatização moral
conservadora que pretende cumprir, nos 32 meses que faltam para o final
do mandato. Por isso, haverá certamente, nas TVs e jornais, muito
foguetório quando Temer anunciar medidas demagógicas – como a redução do
número de ministérios –, quando atribuir a seus antecessores a
responsabilidade pela crise e também quando a Lava jato deflagrar,
eventualmente, novas operações.
Mas haverá muitas pedras no caminho. O Orçamento do Estado é
limitado, ainda mais para os defensores da ortodoxia econômica. Fazer
grandes concessões ao capital implicará cortar direitos e programas
sociais. As maiorias – inclusive os que se deixam hoje seduzir pelo
impeachment – aceitarão? Um presidente não referendado por eleições, e a
quem as pesquisas de intenção de voto atribuem
1% das preferências do eleitorado, terá força para impor medidas
antipopulares? Mais: a oposição a Dilma é uma rinha de egos. A pouco
tempo das eleições presidenciais, para governadores e o Congresso,
haverá unidade entre ministros e parlamentares?
É nesta brecha que Boulos acredita. A Frente Brasil Popular (formada
basicamente por centrais sindicais e partidos de esquerda) e a Frente
Povo sem Medo (bem mais à esquerda, articulada em torno do MTST)
lançaram, já no domingo, um apelo conjunto
que esboça uma tática e uma agenda de lutas. Haverá ainda pressão sobre
o Senado (que deverá se pronunciar sobre o impeachment por volta de 10
de maio). Para organizá-la, prepara-se um 1º de Maio expressivo,
convertido em Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora. Preveem-se em
“paralisações, atos, ocupações, já nas próximas semanas”.
Caso Temer ao final assuma, propõe-se “não reconhecer tal governo
ilegítimo”, “combater cada uma das medidas que dele vier a adotar” e
lutar por “uma profunda reforma do sistema político atual, verdadeira
forma de combater efetivamente a corrupção”. A aposta é clara e ousada:
reverter o golpe de ontem com mobilização popular e astúcia. Tirar
proveito da impopularidade evidente de Temer e do desprestígio crescente
do Congresso, onde 299 de 513 deputados foram condenados ou acusados de atos de corrupção.
* * *
Suponha agora que o golpe tivesse sido derrotado, domingo à noite.
Que, pressionados pela mobilização popular, 25 dos 367 homens brancos,
cínicos e toscos deixassem de usurpar o voto de 54 milhões de eleitores e
de escolher Michel Temer para a Presidência. Que Dilma despertasse
ontem segura dos dois anos e meio restantes de mandato. Estaríamos bem?
Prossiga um pouco, nas especulações. Relembre que, por treze anos, Lula e
Dilma tiveram como parceira central de sua governabilidade, a mesma
escória que ontem terminou por derrotá-los. O anonimato a escondia em
gabinetes sempre frequentados por lobistas, em comissões de trabalho
cujas pautas a velha mídia nunca revela, num plenário onde se aprovam
sem qualquer debate público, leis, medidas provisórias e emendas à
Constituição. Convocada, a escória deixou os corredores e expôs aos
holofotes sua boçalidade orgulhosa.
O choque que as imagens provocaram está reavivando um questionamento
distinto do de Boulos, e talvez complementar a este. A que beco nos
conduziu o projeto de esquerda que evitou chocar-se com a
institucionalidade conservadora; que recorreu à mobilização popular só
em casos de emergência; que não ousou falar em reformas estruturais; que
se acomodou, em seus momentos mais infelizes, a medidas que devastavam
sua própria base – como o “ajuste fiscal” implementado por Dilma?
Este questionamento não é, em si, inédito – mas algumas reflexões
recentes sugerem que está se refinando e difundindo. Não se trata de
repetir a antiga crítica de partidos e correntes mais à esquerda,
segundo as quais o PT “endireitou”, ou “adaptou-se à ordem burguesa”
(uma versão recente deste argumento pode ser encontrada numa postagem
recente do historiador Henrique Carneiro). Também não é apenas uma
observação sobre como certa esquerda governista aceitou os limites da
institucionalidade e respeitou tanto seus métodos e costumes que acabou
reproduzindo-os ela mesma (vide a promiscuidade com as empreiteiras, ou o
desvio de recursos da Petrobras para financiar campanhas eleitorais).
O que há, além disso, em alguns textos muito recentes, são duas
novidades. Primeiro, seus autores não se limitam a criticar o PT e seus
aliados – parecem dispostos a assumir responsabilidades na construção de
novos projetos e práticas. Evita-se o simplismo das disputas
autofágicas. “O jogo de acusações é divisionista e pueril. Do mais
realista ao mais idealista, do mais institucional ao mais anárquico,
apesar das intenções, o fato é que ninguém conseguiu chegar lá. E a
tarefa agora é (pro)positiva, aprender com os erros (já que por ora
estamos vivos), ter frieza e criar incessantemente”, afirma
o advogado Hugo Albuquerque, ligado à sensibilidade negriana. Além
disso, não se fazem observações apenas conceituais. Propõe-se ir além
das formas convencionais de ação política (sem, contudo, negá-las);
compreender a dimensão possivelmente transformadora da cultura e das
ações cotidianas; dialogar com grupos às vezes estigmatizados, como os
evangélicos.
Ao comentar a votação de domingo, na Câmara, o cientista político Henrique Costa consegue, por exemplo, ver bem mais
que um show grotesco. “Poderíamos aprender algo com essa bizarrice e
reconhecer que não conhecemos o Brasil, ao invés de continuar achando
que esse horror caiu do céu”, adverte ele. Em seguida, indaga,
provocativamente: “Como fazer proposta de mudança sem saber do que
tratamos, os desafios que a realidade impõe?” E emenda: “O discurso do
‘analfabetismo político’ é, pois, nada mais que elitismo mal disfarçado.
É estar comodamente acima da barbárie pedindo ‘mais amor’, enquanto lá
embaixo tem milícia, seita evangélica, chacina e linchamento”.
Presidente recém-eleita da Associação dos Docentes da UFRJ (Aduferj),
a matemática Tatiana Roque também se debruça sobre espetáculo dos
deputados. Ela indaga-se: “Minha família, meus filhos, meu deus, minha
pátria. Como isso ganhou tais proporções”? Responde com uma hipótese sofisticada.
Para Tatiana, o crescimento do discurso conservador tem a ver tanto com
as virtudes quanto com os limites do projeto lulista. “Um mínimo de
diminuição da desigualdade, em um país construído sobre o privilégio,
com relações sociais calcadas na desigualdade e na exploração, já faz
muita coisa explodir. (…) O inconsciente que explodiu o
macho-adulto-branco-sempre-no-comando é sim produto das políticas de
redução da desigualdade, de inclusão, da radical transformação na
universidade. Foi pouco? Foi, mas precisava de pouco pra explodir.”
Tatiana observa, a seguir: transformações libertárias do cotidiano
são sempre bem-vindas, mas não bastam. Diz ela: “Organizar essas forças é
um passo adiante. E aqui o PT falhou feio, assim como toda a esquerda.
Os arcaísmos funcionam tão bem, hoje em dia, porque não há perspectiva
de transformação na ordem das relações de forças, no plano de uma nova
institucionalidade”. Por fim, a professora provoca novamente. Se “a
inclusão da vida no fazer político aparece nas lutas das mulheres, nas
causas LGBT e trans, na força dos movimentos de negras e negros”, “então
como criar espaços de pertencimento transversais para que tais lutas
possam ser mais do que reconhecimento e identidade? Elas não podem ser
somente iniciativas por fora do sistema político. Se não encontrarmos um
jeito de incluir a subjetividade na política, de criar esses espaços de
conexão e de subjetivação coletiva, correremos o risco de entregar para
a igreja e para a família todo esse plano pulsante dos afetos, da
espiritualidade e dos modos de vida”.
Num comentário ao que Tatiana escreveu, o artista visual e fotógrafo
Amílcar Packer mostra que é possível encontrar sentido político
transformador em muitas práticas relacionadas ao que sua interlocutora
chama de “novos modos de existência, novos corpos e novas sexualidades”.
Diz Amílcar: “Há muito a fazer e os processos são mais lentos e
complexos do que talvez alguns chegaram/chegamos a pensar. O trabalho
das neopentecostais, por exemplo, vem sendo feito há décadas e de
maneira molecularizada e presencial (…) Se tem skinhead na Paulista em
frente à Fiesp, no dia seguinte pode haver capoeira na esquina com a
Augusta, Democracia Corintiana e Periferias contra o golpe” (…) É pouco?
Talvez só nisso discorde [de Tatiana], porque é nos detalhes e no
“pequeno” que se produz a diferença e que se pode contribuir para a
criação desses espaços transversais, pois são espaços do dia-a-dia”.
* * *
Na luta contra o golpe, a surpresa mais inesperada foi o surgimento
de um campo comum, reunindo setores de esquerda que se encontravam,
havia muitos anos, divididos. Os protestos, que vão se multiplicando e
adquirindo enorme capilaridade, reúnem uma galáxia de sensibilidades
políticas, movimentos sociais, ativistas anônimos. Mas a quebra de
barreiras culturais vai além. Nas últimas semanas, não foi raro ver, por
exemplo, militantes sindicais promovendo ações de que estavam afastados
há muito. Ocupam espaços públicos, acampam em tendas (em São Paulo, na
Praça do Patriarca), organizam cozinhas coletivas. Ativistas de origens
distintas, que se encontram nas manifestações, continuam a dialogar em
enormes grupos que se formam nas redes sociais, no Whatsapp ou Telegram.
Um novo período vai se abrir, em breve, caso avance o
golpe iniciado domingo na Câmara dos Deputados. Não se deve desprezar os
riscos de retrocesso, em muitos terrenos. Mas a combinação das
tendências apontadas acima parece promissora. Oxalá seja possível
organizar, com perspicácia, uma resistência capaz de reduzir o espaço
dos golpistas, desmascarar sua hipocrisia, acirrar suas divisões
internas, levá-los a impasses – e ao fim inviabilizá-los. Oxalá sejamos,
ao mesmo tempo, capazes de organizar o debate coletivo necessário para
construir um novo projeto de pós-capitalismo.
Plenário da Câmara? Não: “Cristo Carregando a Cruz” (Bosch, início do século 16)
Direita nada de braçadas no que se refere ao convencimento direto
de setores majoritários da população; votos pelo “sim” no impeachment
precisam ser estudados
Onde a direita acerta? Há tempos penso em escrever algo nessa linha.
Tentando identificar alguma fundamentação – ainda que tortuosa – em
argumentos e fatos por ela utilizados em seu discurso. Ou estará ela
errada o tempo todo, sob todos os aspectos? A esquerda precisa ignorar o
papel do medo, por exemplo, na definição das opções políticas de cada
cidadão? Por que deixar a direita nadar de braçadas em relação a
determinados temas que interessam a todos os brasileiros?
Fiquei pensando nisso ao tentar rever a votação de domingo, em meio
ao show de horrores na Câmara. Ainda que seja mais fácil maximizar uma
fala especialmente grotesca, como a de Jair Bolsonaro (de certa forma
bancando sua estratégia violenta), talvez falte refletir sobre o papel
de Deus e da família na conquista de mentes e corações – e no quanto
sair demonizando as duas palavras pode significar mais uma compra do
jogo do adversário.
Muitíssimos indígenas são evangélicos. Ou cristãos. Não conheço
indígenas ateus, talvez existam. No mínimo têm suas tradições
religiosas, míticas, associadas à natureza. Cito-os neste dia 19 de
Abril porque costumam ser esquecidos, mas a percepção de que a população
– indígena, negra, branca – é majoritariamente religiosa não deveria
ser esquecida na hora de desancarmos os deputados. Será que não
desrespeitamos desnecessariamente crenças dos demais (como se não as
tivéssemos) em vez de atacar somente a hipocrisia dos nobres deputados?
Falo de deuses e de famílias. No plural. Pois, a se julgar por
algumas falas à esquerda, é como se a simples menção à palavra “família”
fizesse o orador se alinhar ao que há de mais sórdido no planeta. Sim,
eu sei da associação do termo ao conservadorismo, até mesmo à
propriedade (pensemos na TFP, a Tradição, Família e Propriedade,
organização de ultradireita). Mas será mesmo tão interessante agirmos
como se as famílias não fossem uma dimensão importante do cidadão (e do
eleitor)?
É claro que a agenda do Estado laico precisa ser divulgada. E não é
disso que estou falando. E sim de certa precipitação nos discursos, da
associação de todo evangélico à mais fina flor reacionária, e de certa
presunção de que todos à esquerda seriam ateus. Não são. Temos
umbandistas e católicos, judeus e espíritas. E temos famílias – famílias
hétero, famílias gays, famílias. (Fico tentando imaginar alguém que
tenha filhos que consiga fugir da definição mínima de família, ainda que
viva numa comuna.)
Novamente: estou tentando dizer que se trata de combater a hipocrisia
e a usurpação, de questionar o machismo e a vigarice religiosa na fala
deste ou daquele deputado. Mas que é preciso ter cuidado com o
preconceito e a demonização pura e simples – e olhem que termo foi
utilizado aqui, “demonização”. A esquerda também tem suas crenças e
cacoetes, também tem seus maniqueísmos e suas seitas. E está errando,
está errando feio, está perdendo, continua perdendo. Até quando?
UMA DISPUTA RETÓRICA
Patético um deputado ir com filho a tiracolo no plenário para que ele
diga o “sim”? Claro. Ou que outro deputado volte ao microfone porque
esqueceu de mencionar o filho? Evidente. Mas a própria utilização da
palavra “patético”, aqui, remete a uma tradição persuasiva, a um braço –
tradicionalmente eficiente – da retórica. E a ausência de inclusão em
discursos racionais das dimensões familiar e religiosa talvez escancare o
terreno (simbólico) para que os conservadores nadem de braçada.
Quem, de fato, defende a família nessa foto? (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
Não, não estou pedindo para que deputados de esquerda dediquem voto à
tia ou façam o sinal da cruz durante a fala. Mas que respeitem a tia e a
cruz, e que façam uma desconstrução das hipocrisias e cafajestices
atacando-as pelo que são, e não pelo que elas usurpam. Ou que se lembrem
que famílias de camponeses são atacadas e expulsas no campo, que pais e
mães perdem filhos diariamente por causa da violência promovida por
falsos defensores da família. Por causa da violência de classe.
Era uma família em Imbituba (SC), no dia 30 de dezembro, aquela
família indígena que tevê o bebê degolado na rodoviária. São famílias de
agricultores e pescadores as atingidas pela política predadora do
agronegócio, que tem metade dos votos na Câmara e mais da metade no
Senado. É gente que acredita em Deus que tem seus filhos mortos por um
sistema defendido pela bancada da bala, pela legião de Bolsonaros (não
temos um só Bolsonaro) que se multiplica no Congresso.
Se a direita reduz, cabe à esquerda ser plural. Efetivamente plural.
Mesmo Paulinho da Força terá uma família, por trás daquelas rugas
pelegas. Paulo Skaf e cada dono golpista de jornal têm família. E eles
usam o que têm de melhor (em muitos casos, apenas a própria família, ou a
própria crença em algo transcendental) para parecerem mais humanos.
Cabe também à esquerda se lembrar que atacar essas dimensões pode apenas
referendar o discurso de que comunistas comem criancinhas.
O que está em jogo é a violência patrocinada por esses canalhas. O
filho do deputado tal não tem culpa de nada, ele talvez pronunciasse
“sim” sem os tons de cinismo do pai. Combater os privilégios de classe
não implica ser cruel com a parte mais bela da vida desses senhores.
Respeitar a mãe do ex-deputado Hildebrando Paschoal – aquele que
motoserrava desafetos – deveria fazer parte da mesma ética que nos faz
respeitar uma camponesa que, fervorosamente, reze todos os dias pelo fim
da desigualdade.
A política é um negócio sujo em
Eldorado. O país fictício tem governantes corruptos no poder,
partidários e aliados assassinos, fracos e extremistas — à direita e à
esquerda — o que não facilita em nada a vida do povo, que não sabe para
qual lado seguir; é facilmente enganado por palavras de consolo e de “estou anotando tudo, tudinho!”
e festeja a chegada de um líder populista como se esta fosse a resposta
para todos os problemas imediatos pelos quais passam: a falta de terra,
a falta de emprego, a falta de comida.
A trama de Terra em Transe é
uma alegoria política, um texto que faz uso de elementos históricos
muito próprios do Brasil e da América Latina como um todo, especialmente
porque não se nega a mostrar as diferenças sociais, a larga oferta de
posturas político-ideológicas, o embate quase infantil entre povo e
poder, o uso da força militar ou do assassinato político. Através de
todos esses fatos observados no Terceiro Mundo, Glauber Rocha nos mostra a crônica de uma ascensão ao poder e sua subsequente derrocada.
Paulo Martins, o jornalista que assume a
narração e o tom de quase letargia impresso ao roteiro, é o personagem
de maior destaque do longa. É através dele que vemos os lados opostos da
moeda, o conservadorismo de Diaz, o populismo ineficiente de Vieira.
Com o sonho de ser poeta e falar sobre temas políticos, Martins é, na
verdade, um observador desgraçado dos fatos que ele julgava ter algum
controle sobre. Seu ego e talvez fé extrema nas mudanças sociais o
fizeram apoiar e trair, difamar e promover campanhas políticas e
representantes que um dia desprezara.
Fazendo uso de uma estética experimental
muito particular, Glauber Rocha intensifica a sensação de transe no
próprio público, que observa ente tiros de metralhadoras, música e Villa
Lobos, valsas famosas, óperas e jazz a entrega de simpatizantes
governistas à farra e aos comícios, tudo filmado de uma perspectiva que
faz todos os atos em cena parecerem grandes novidades, quando, na
verdade, são a repetição de algo ou a revelação de uma situação que
ocorria às escondidas a bastante tempo. Toda a esfera pública é posta no
jogo, de quem é a que fabrica a notícia; do empresário ao grevista; do
sindicalista aos arquétipos femininos vistos nessa dança
pseudo-democrática: a santa revolucionária e a puta alienada.
E aqui, o povo não recebe a visão social e manipulada por promessas divinas como vimos em Deus e o Diabo na Terra do Sol.
O contexto todo é ampliado para situações que beiram o constrangimento,
porque mostram a facilidade de qualquer um obter apoio popular,
independente do discurso que faça, e das situações que se forjem nos
bastidores dos Palácios do Governo. A preocupação do povo com o estômago
fala mais alto; o apreço a uma terra familiar de muitas décadas ganha
mais importância do que o pensamento e a ação política. O povo em Terra em Transe não é apenas o faminto romeiro de Deus e o Diabo.
Ele é o ajudante direto — mesmo sem saber — da roda social que o
massacra e o faz protestar em vão ou se deixar levar facilmente por
qualquer promessa.
Mas o longa exige uma atenção enorme do espectador. Como a narrativa é quase toda contada em flashback
e esta em ordem alinear, não é difícil nos perdermos um pouco no
início, confundirmos nomes ou a localização das personagens, seja em
Alecrim, seja em Eldorado. Aos poucos, porém, entendemos a intenção do
diretor e o filme é compreendido sem nenhum problema.
Contando com um monstruoso elenco (que infelizmente é prejudicado pela dublagem do filme), Terra em Transe
consegue passar uma mensagem política forte e uma visão social que pode
incomodar bastante gente. Lançado em meio à ditadura militar, a obra
chegou a ser proibida e sofreu cortes e solicitações de mudança pela
censura, além de ter sido chamada de fascista por Fernando Gabeira e
outros intelectuais da época. Ao espectador crítico, porém, fica a
sensação de ter ouvido um feroz grito de muitas vozes inquietas sobre
uma situação viciante e sem data alguma para terminar, uma conclusão a
que o próprio cineasta chegara em Berravento, mas no patamar essencialmente social. A questão de Terra em Transe ultrapassa a comunidade e investiga as regras do jogo que lhe dá origem.
Terra em Transe (Brasil, 1967)Direção: Glauber RochaRoteiro: Glauber RochaElenco: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce
Rocha, Paulo Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Joffre Soares,
Modesto De Souza, Mário Lago, Flávio Migliaccio, Telma Reston, José
Marinho, Francisco Milani, Paulo César PeréioDuração: 111 min.
O que a esquerda deveria aprender com os evangélicos
Publicado por Pavarini
em março 7, 2012 as 9:00 am
O mapa da religiosidade no Brasil revela nossa incompetência social:
os evangélicos e pentecostais são mais numerosos entre mulheres (22,11%
delas; homens, 18,25%), pretos, pardos e indígenas (24,86%, 20,85% e
23,84%, respectivamente), entre os menos instruídos (sem instrução ou
até três anos de escolaridade: 19,80%; entre quatro e sete anos de
instrução: 20,89% e de oito a onze anos: 21,71%) e na região norte do
país, onde 26,13% da população declara-se evangélica ou pentecostal. O
Acre, esse Estado que muitos acham que não existe, blague infantilmente
repetida até mesmo por esclarecidos militantes de esquerda, tem 36,64%
de evangélicos e pentecostais. É o Estado mais evangélico do país.
Simples: a igreja falou aos corações e mentes daqueles com os quais a
esquerda nunca verdadeiramente se importou, a não ser em suas dialéticas
discussões revolucionárias de gabinete, universidade e assembleia.
“As massas de homens que nunca são abandonadas pelos sentimentos religiosos então nada mais vêem senão o desvio das crenças estabelecidas. O institnto de outra vida as conduz sem dificuldades ao pé dos altares e entrega seus corações aos preceitos e às consolações da fé.” Alexis de Tocqueville, “A Democracia na América” (1830), p. 220.
Publicado originalmente no sensho
No Brasil, um novo confronto, na forma como dado e cada vez mais
evidente e violento, será o mais inútil de todos: o do esclarecimento
político contra o obscurantismo religioso, principalmente o evangélico,
pentecostal ou, mais precisamente, o neopentecostal. Lamento informar,
mas na briga entre os dois barbudos – Marx e Cristo – fatalmente
perderemos: o Nazareno triunfa. Por uma razão muito simples, as igrejas
são o maior e mais eficiente espaço brasileiro de socialização e de
simulação democrática. Nenhum partido político, nenhum governo, nenhum
sindicato, nenhuma ONG e nenhuma associação de classe ou defesa das
minorias tem competência e habilidade para reproduzir o modelo vitorioso
de participação popular que se instalou em cada uma das dezenas de
milhares de pequenas igrejas evangélicas, pentencostais e
neopentecostais no Brasil. Eles ganharão qualquer disputa: são
competentes, diferentemente de nós.
Muitos se assustam com o poder que os evangélicos alcançaram: a posse
do senador Marcello Crivela, também bispo da Igreja Universal do Reino
de Deus, no Ministério da Pesca e a autoridade da chamada “bancada
evangélica” no Câmara dos Deputados são dois dos mais recentes exemplos.
Quem se impressiona não reconhece o que isso representa para um a cada
cinco brasileiros, o número dos que professam a fé evangélica ou
pentecostal no Brasil. Segundo a análise feita pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV), a partir dos microdados da Pesquisa de Orçamento Familiar
2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a soma
de evangélicos pentecostais e outras denominações evangélicas alcança
20,23% da população brasileira. Outros indicadores sustentam que em 1890
eles representavam 1% da população nacional; em 1960, 4,02%.
O crescimento dos evangélicos não é um milagre, é resultado de um
trabalho incansável de aproximação do povo que tem sido negligenciado
por décadas pelas classes mais progressistas brasileiras. Enquanto a
esquerda, ainda na oposição política, entre a abertura democrática
pós-ditadura e a vitória do primeiro governo popular no Brasil, apenas
esbravejava, pastores e missionários evangélicos percorreram cada canto
do país, instalaram-se nas regiões periféricas dos grandes centros
urbanos, abriram suas portas para os rejeitados e ofereceram, em muitos
momentos, não apenas o conforto espiritual, mas soluções materiais para
as agruras do presente, por meio de uma rede comunitária de colaboração e
apoio. O que teve fome e dificuldade, o desempregado, o doente, o
sem-teto: todos eles, de alguma forma, encontraram conforto e solução
por meio dos irmãos na fé. Enquanto isso, a esquerda tinha uma linda (e
legítima) obsessão: “Fora ALCA!”. ________________________________________________ O crescimento dos evangélicos não é um milagre, é resultado de um trabalho incansável
de aproximação com o povo
O projeto de poder evangélico não é fortuito. Ele não nasceu com o
governo Dilma Rousseff. Ele não é resultado de um afrouxamento
ideológico do PT e nem significa, supõe-se, adesão religiosa dos quadros
partidários. Ele é fruto de uma condição evangélica do país e de uma
sistemática ação pela conquista do poder por vias democráticas,
capitalizada por uma rede de colaboração financeira de ofertas e
dízimos. Só não parece legítimo a quem está do lado de fora da igreja,
porque, para cada um dos evangélicos e pentecostais, estar no poder é um
direito. Eles não chegaram ao Congresso Nacional e, mais recentemente,
ao Poder Executivo nacional por meio de um golpe. Se, por um lado, é
lamentável que o uso da máquina governamental pode produzir intolerância
e mistificação, por outro, acostumemo-nos, a presença deles ali faz
parte da democracia. As mesmas regras políticas que permitiram um
operário, retirante nordestino e sindicalista chegar ao poder são as que
garantem nas vitória e posse de figuras conhecidas das igrejas
evangélicas a câmaras de vereadores, prefeituras, governos de Estado,
assembleias legislativas e Congresso Nacional. O lema “un homme, une voix” (“um homem, uma voz”) do revolucionário socialista L.A. Blanqui (1805-1881), “O Encarcerado”, tem disso.
Afora a legitimidade política – o método democrático e a
representação popular não nos deixam mentir – a esquerda não conhece os
evangélicos. A esquerda não frequentou as igrejas, a não ser nos
indefectíveis cultos preparados como palanques para nossos candidatos
demonstrarem respeito e apreço pelas denominações evangélicas em época
de campanha, em troca de apoio dos crentes e de algumas imagens para a
TV. A esquerda nunca dialogou com os evangélicos, nunca lhes apresentou
seus planos, nunca lhes explicou sequer o valor que o Estado Laico tem,
inclusive como garantia que poderão continuar assim, evangélicos ou como
queiram, até o fim dos tempos. E agora muitos militantes, indignados
com a presença deles no poder, os rechaçam com violência, como se isso
resolvesse o problema fundamental que representam. ________________________________________________ A esquerda nunca dialogou com os evangélicos,
nunca lhes apresentou seus planos,
nunca lhes explicou sequer o valor do Estado Laico
Apenas quem foi evangélico sabe que a experiência da igreja não é
puramente espiritual. E é nesse ponto que erramos como esquerda. A
experiência da igreja envolve uma dimensão de resistência que é, de
alguma forma, também política. O “não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação do vosso espírito” (Paulo para os
Romanos, capítulo 12, versículo 2) é uma palavra de ordem poderosa e,
por que não, revolucionária, ainda que utilizada a partir de um ponto de
vista conservador.
Em nenhuma organização política o homem comum terá protagonismo tão
rápido quanto em uma igreja evangélica. O poder que se manifesta pela
fé, a partir da suposta salvação da alma com o ato simples de “aceitar
Jesus no coração como senhor e salvador”, segundo a expressão amplamente
utilizada nos apelos de conversão, transforma o homem comum, que duas
horas antes entrou pela porta da igreja imundo, em um irmão na fé,
semelhante a todos os outros da congregação. Instantaneamente ele está
apto a falar: dá-se o testemunho, relata-se a alegria e a emoção do
resgate pago por Jesus na cruz. Entre os que estão sob Cristo, e são
batizados por imersão, e recebem o ensino da palavra, e congregam da fé,
não há diferenciação. Basta um pouco de tempo, ele pode se candidatar a
obreiro. Com um pouco mais, torna-se elegível a presbítero, a diácono, a
liderança do grupo de jovens ou de mulheres, a professor da escola
dominical. Que outra organização social brasileira tem a flexibilidade
de aceitação do outro e a capacidade de empoderamento tal qual se vêem
nas pequenas e médias igrejas brasileiras, de Rio Branco, das
cidades-satélite de Brasília, do Pará, de Salvador, de Carapicuíba, em
São Paulo, ou Santa Cruz, no Rio de Janeiro? Nenhuma.
Se esqueçam dos megacultos paulistanos televisionados a partir da Av.
João Dias, na Universal, ou da São João, do missionário R.R. Soares.
Aquilo é Broadway. Estamos falando destas e outras denominações
espalhadas em todo o território nacional, pequenas igrejas improvisadas
em antigos comércios – as portas de enrolar revelam a velha vocação de
uma loja, um supermercado, uma farmácia – reuniões de gente pobre com
sua melhor roupa, pastores disponíveis ao diálogo, festas de aniversário
e celebrações onde cada um leva seu prato para dividir com os
irmãos. A menina que tem talento para ensinar, ensina. O irmão que tem
uma van, presta serviços para o grupo (e recebe por isso). A mulher que
trabalha como faxineira durante a semana é a diva gospel no culto de
domingo à noite: canta e leva seus iguais ao júbilo espiritual com os
hinos. A bíblia, palavra de ninguém menos que Deus, é lida, discutida,
debatida. Milhares e milhares de evangélicos em todo o país foram
alfabetizados nos programas de Educação de Jovens e Adultos (EJAs) para
simplesmente “ler a palavra”, como dizem. Raríssimo o analfabeto que
tenha sido fisgado pela vontade ler “O Capital”, infelizmente. As
esquerdas menosprezaram a experiência gregária das igrejas e
permaneceram, nos últimos 30 anos, encasteladas em seus debates áridos
sobre uma revolução teórica que nunca alcançou o coração do homem comum.
Os pastores grassaram.
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A esquerda não deve aprender nada com os evangélicos
Não faltam religiosos, mesmo do campo evangélico, que seriam aliados de primeira ordem contras os Edirs e Valdomiros.
Li um texto do @senshosp que me parece de um derrotismo terrível. O texto em questão chama-se “O que a esquerda deveria aprender com os evangélicos“.
Os “evangélicos” (em geral os neopentecostais da estirpe de Edir Macedo
e cia.) ganharam, é a conclusão. A esquerda não conseguiu conquistar
corações e mentes mais do que conseguiu chegar ao poder e migrar para a
direita. Como se o Brasil tivesse o dever de ser sempre
subdesenvolvido e atrasado, em que religião dita costumes e leis, e o
país não pode evoluir. Em que não podemos lutar por uma esquerda de
verdade, comprometida, sem recuos, com suas bandeiras históricas e
populares. Diversos países da Europa são a prova de que é possível combater a
ignorância do fanatismo religioso e dos marginais da fé – forma
“carinhosa” pela qual descrevo Malafaias, Valdomiros e cia., mantendo de
fora aquelas igrejas tradicionais, onde não faltam progressistas, como
entre os anglicanos, betestda e afins que sabem, em geral, os limites da fé e onde começa o Estado e a vida civil. E não se trata de uma disputa entre Marxistas e “Religiosos”, pois
tenho absoluta certeza que nem entre o PSDB ou mesmo o DEM há tanta
simpatia assim pelos marginais da fé e seu poder. Ser de direita,
liberal e até mesmo ter algum grau de conservadorismo não é defender a
mistura perigosa entre religião e Estado. A esquerda não prega “salvação”, e nem diz ser caminho fácil. E uma
ampla parte da direita pode ser nociva, mas não é a TFP ou a Opus Dei. É
preciso ainda lembrar da quase neutralização da Teologia da Libertação
que, pese críticas, era um movimento mais aberto e que, mesmo com
preconceitos, buscava dialogar e não impor sua vontade.Ainda que
religioso, ligado à Igreja, era um respiro que possibilitava o diálogo. O
marginal da fé diz que basta rezar e… pronto. Paraíso terreno e além. Ao invés de combater isso, cobrando impostos e legislando, o governo preferiu se aliar/perpetuar a farra dessa corja. O crescimento dela não se deve só a seus feitos, mas à inação de governo após governo e, agora, à aliança
do governo com esses tipos. É óbvio que o crescimento vertiginoso
dessas igrejas caça-níquel não se deve ao PT, mas tem sido ajudado,
agora, pela clara aliança e troca de favores que existe. Estamos falando de, talvez, 20% da população – não há ainda dados
conclusivos divulgados pelo IBGE que sustente esse número. E estes 20%
têm pautado os demais 80%. Temos tido retrocessos gigantescos em áreas
onde 20% dita as regras contra o resto da população e contra outras
minorias igualmente significativas. Dilma mente ao dizer que governa
para todos, quando na verdade vemos claramente que governa para e
comandada por uma minoria em detrimento do resto da população. E dizer
que “o brasileiro médio é conservador” não justifica recuos que
contrariam as noções mais básicas de direitos humanos, marco sob o qual
devem ser fundadas todas as relações humanas e entre o Estado e seus
cidadãos. As ações do governo para privilegiar uma casta religiosa
conservadora, rica e que chegou lá por meios extremamente obscuros, como
os vetos a toda e qualquer campanha para o público LGBT, ou pelo
tratamento da questão do aborto como problema de saúde pública, dentre outras, denunciam a escolha feita pelo governo e não o fim das disputas e dos combates em busca de um Estado Laico. Aliás, não faço uma crítica ao @senshosp em si, seu texto possui
algumas análises que acho bastante válidas, mas discordo de suas
conclusões e, acima de tudo, do parâmetro “Marxistas/Esquerda versus
Evangélicos” utilizado. A luta contra a teocratização do país não é
apenas uma luta das esquerdas. Ao mesmo tempo, discordo do título e
tomo-o como referência de minha análise. Não devemos aprender nada com estes criminosos (e lembro que
falo de líderes e não dos coitados enganados com promessas de riquezas
materiais caso abram mão de tudo que é material para seus líderes. E,
sim, a contradição é proposital e pregada por eles) que se aproveitam
das brechas – ou mesmo da total ilegalidade – na legislação para usar
concessões públicas para pregação, da inação dos órgãos públicos para
efetuarem a clara lavagem de dinheiro que praticam, para não falar na
lavagem cerebral e no flagrante desrespeito às leis – mesmo que de
convivência e sociais. Temos de combater este estado de coisas, e, acreditem em
mim, não faltam religiosos, mesmo do campo evangélico, que seriam
aliados de primeira ordem, que são laicos e se opõem de forma veemente a
estes que prometem os céus mediante pagamento no cartão em suaves
prestações e que, no meio tempo, pregam o ódio e usam o povo como
instrumento de sua vingança contra a humanidade. Reforçando, o crescimento destes “evangélicos” não se deve ao PT, mas
sem dúvida a chegada da esquerda ao poder poderia e deveria ter
combatido este crescimento oferecendo opções, como lazer, cultura,
educação e ensinado para que serve o Estado/Poder Público e como não ser
enganado facilmente. Sejamos honestos: qual era a importância e o poder
destes – Macedo, Valdomiro, Malafaia – durante o governo FHC? Foi um
governo nefasto, sem dúvida, mas em momento algum usou de religião para
justificar ou promover retrocessos. Era ideológico e não religioso, por
pior que fosse a ideologia. É possível dizer que os marginais da fé não
eram ainda tão poderosos, talvez, mas não importou seu poder, não
tiveram vez. Uma democratização das comunicações, com o fim de concessões a
igrejas e pastores, a proibição de programas de tele-evangelização (a
venda de horário de concessões públicas em si é contra a lei, logo,
vender horário para igrejas não deveria ser tolerado) e a ampliação da
internet (e não a piada do PNBL entregue para as teles lucrarem com
serviço pior que o que já oferecem), seria de grande ajuda, mas nada foi
feito. Ampliar o alcance e a qualidade da educação pública, melhorando
salários de professores e os preparando melhor para a profissão seria
outro passo importante, assim como dar dignidade à população que, muitas
vezes, recorre a esses marginais da fé por puro desespero de suas
condições sociais e econômicas. É óbvio – e nisso vejo méritos no texto que analiso – que precisamos
realizar uma autocrítica profunda. A esquerda, em sua imensa
fragmentação, tem falhas visíveis e invisíveis. Se por um lado é fato
que o governo e o PT caminharam a passos largos para a direita por gosto
e prazer, por outro a fragmentação da esquerda ainda durante as
disputas do Lula-Operário ajudaram a facilitar que o PT se transformasse
nessa máquina eleitoral descolada totalmente das bandeiras históricas
da esquerda. Hoje mesmo, temos uma infinidade de formações de esquerda
ou que se dizem de esquerda e que não dialogam – ou, se o fazem, o
diálogo não caminha muito. Desde partidos que pregam a surrealpolitik, se aliando a ruralistas e espancadores, como o PCdoB, passando pelo PSB, PDT (do Paulinho que defende prostituição como apaziguador de ânimos)
e mesmo o PSOL, com inúmeros rachas internos, além dos minúsculos PSTU,
PPL e PCO, até grupúsculos insignificantes em um quadro amplo como
LER-QI, LBI, POR, MEPR, PCML e tantos outros que costumam se odiar e
pregar uma pureza inalcançável – e até desnecessária. O que vejo é uma soma de fatores, que vão desde problemas estruturais
da esquerda, passando pela inação e covardia do governo – passando
também pela Ditadura que, se de um lado viu um crescimento da Teologia
da Libertação, acabou por massacrar organismos evangélicos tradicionais
legítimos e até progressistas, facilitando a proliferação de igrejas
totalmente desligadas de qualquer tipo de regra mínima de convivência
com a diversidade -, até a falta de legislação ou mesmo aplicação delas
contra um câncer que cresce, se espalha e periga chegar até a metástase:
os marginais da fé.