Ontem, sábado, 20 de maio de 2018, fui ao Cine Vitória em Aracaju, pela
segunda vez, assistir ao filme “Todas as vidas de Paulo”, dos
diretores Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira. O filme é um
documentário encantador sobre a carreira artística de sucesso do ator
Paulo José, com algumas pitadas sobre a sua vida particular, em
especial sobre a doença que acomete o artista nos últimos anos, o mal de
Parkinson.
Há muitos filmes excelentes que foram, que são e que
serão exibidos no Cine Vitória, cada um com seu encanto e magia próprio,
alguns com pegada mais politica ou social, outros, com uma pegada mais
existencial ou filosófica, outros mais relaxados e afetivos.
Também há àqueles que misturam um pouco de cada dimensão citada. O filme
“Todas as vidas de Paulo” é um desses, fazendo jus a pessoa e aos
personagens interpretados por Paulo José, um homem com seus personagens
que aparecem sabendo dosar e misturar humor, generosidade, visão
política progressista, compreensão dos limites humanos, afeto e sedução .
E para mim, uma grata surpresa, ao perceber o quanto o talento do
ator Paulo José é uma presença forte no cinema e na televisão
brasileira, isso ao rever no documentário a cenas de filmes que marcaram
a vida de milhares de brasileiros, no meu caso particular, o filme
Terra em Transe e Macunaima, e outros como “O Padre e a Moça” e “Todas as mulheres do mundo” que conheço de ouvir dizer, fora cenas de outros
filmes e novelas que fazem parte do imaginário nacional como Shazam e Xerife , exibido nos longínquos anos de 1970.
Sobre uma das
cenas do filme “Todas as mulheres do mundo”, apresentadas no
documentário, o destaque é dado para uma professora, personagem feminina
que me chamou a atenção, tanto pela interpretação e força de
expressão, como pela beleza.
Na cena, a personagem responde ao
galanteio de um jornalista bom vivant, personagem interpretado por
Paulo José que propõe namoro, ela promete só aceitar se este realizasse
algo que a fizesse rir naquele momento e sempre a surpreendesse para
que ela sorrisse, mas sem clichês. Ela então fecha os olhos com as duas
mãos, e o personagem interpretado por Paulo José busca então preparar
algumas cenas, enquanto ela não destampa os olhos. O desfecho é
interessante, não sei se tão engraçado, mas decidido.
Essa
personagem é interpretado por Leila Diniz, uma atriz brasileira que foi
símbolo da geração que lutou pela liberação sexual e comportamental nos
anos de 1960 e 1970, e cantada e decantada em imagens, prosa e versos,
como os da canção “Coqueiro Verde” do Erasmo Carlos e “Todas as mulheres do mundo” da Rita Lee.
E um detalhe: A identidade da atriz que
fez o personagem citado, somente descobri na segunda vez em que assisti
o filme. Grata surpresa, pois nunca tinha assistido a um papel
interpretado por Leila Diniz, a qual nos deixou muito cedo, em razão de
um acidente aéreo.
Para concluir o porque das perguntas que
abre esse texto, na primeira sessão a plateia contava com cerca de 7
pessoas, na segunda sessão, somente com a minha presença.
Após a
sessão de “Todas as vidas de Paulo”, logo a seguir, casa cheia para
filme “O Processo” da documentarista Maria Augusta Ramos, filme que
assisti na pré –estréia, um filme “pesado” , mas necessário, já que
expõe a grotesca ópera bufa que foi o processo que culminou com o
afastamento da presidenta Dilma Roussef, e que tem sequência nesse
absurdo processo kafkiano contra o presidente Lula.
O primeiro
filme, para nos deixar com esperança em nós e no Brasil, e o segundo
para nos deixar preocupados, na linha da canção “Podres Poderes” do
Caetano Veloso, “ “Será que não faremos confirmar a incompetência da
américa católica colonial e da moderna américa gospel evangélica?”... E a
mesma canção oferece como alento, para manter a esperança viva e
questiona ao mesmo tempo. “Será que apenas os Hermetismos Pascoais. E
os tons e os mil tons, seus sons e seus dons geniais, nos salvam, nos
salvarão dessas trevas. E nada mais?”
Respondendo a indagação que
Caetano Veloso faz na canção "Podres Poderes", penso também que podem
nos salvar , assistir mais filmes como “Todas as vidas de Paulo”,
promovermos e participarmos de mais estudos e leituras acerca de intelectuais negros, como os promovidos pelos professores Romero
Venâncio e Petrônio Domingues, realizados na UFS, mas abertos a
comunidade. Assistir e promover o espetáculo “Bill Holiday, a canção” ,
produzidos e apresentados pelos atores Raimundo Venâncio e Tânia Maria,
participar ou apoiar as ocupações culturais e de terras ociosas na
cidade e no campo, a rede de produtoras culturais colaborativas, o acampamento Lula Livre e tanto mais.
E fazendo isso, para não
incorrermos no erro lembrado pelo político e escritor irlandês Edmund Burke “Um povo que não conhece a
sua história está condenado a repeti-la.”
E como não é tão fácil de fazer somente pela escola, não é caso de valorizarmos. mais autores, filmes, canções, literatura e etc., que nos ajudam neste sentido? Como uma maneira de conhecermos e/ou lembrarmos da nossa história, das melhores e das piores partes. Como uma maneira de nos comprometermos com um papel mais ativo enquanto brasileiros e brasileiros.
E como não é tão fácil de fazer somente pela escola, não é caso de valorizarmos. mais autores, filmes, canções, literatura e etc., que nos ajudam neste sentido? Como uma maneira de conhecermos e/ou lembrarmos da nossa história, das melhores e das piores partes. Como uma maneira de nos comprometermos com um papel mais ativo enquanto brasileiros e brasileiros.
Portanto, como diz a canção Vida do Chico Buarque: “ Luz, quero luz.
Sei que além das cortinas, são palcos azuis e infinitas cortinas, com
palcos atrás. Arranca vida, estufa veia. E pulsa, pulsa, pulsa, pulsa,
pulsa mais.”
Por isso, um Viva! ao ator Paulo José e aos artistas da velha guarda. Evoé! Para os novos artistas. Outro Viva! para os atores sociais e politicos que também velam pela alegria do mundo.
ZdO
P.S.:
Quem chega na próxima semana no Cine Vitória é o premiado filme
E também a Semana da Europa. Quem for de outra cidade observe as datas
no site abaixo. O tema da programação 2018 são filmes sobre os ataques a
democracia, a liberdade e aos direitos humanos na Europa, assim como as
lutas de resistência.
Em Aracaju a entrada custa R$3.00
Semana da Europa tem programação diversa em Brasília
Uma oportunidade para conhecer um pouco da cultura europeia sem sair do Brasi.
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