De como destruir um país em pouco tempo: I.Lesbaupin
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Texto publicado na página "Meu professor de história"
Tem uma galera me pedindo "ajuda" pra entender a crise argentina e se existe alguma similaridade entre esta crise e a venezuelana. Bem, eu não acho que sou tão qualificado assim pra falar sobre as coisas, não me acho inteligente, e quem fala demais dá bom dia à cavalo. Quem nada, corre e voa é o Pato. Corre mal, voa mal e nada mal.Mas eu estudo neoliberalismo, o neoliberalismo é por si só uma doutrina monetarista e a crise argentina tem, em grande medida, um flanco monetarista.A ditadura militar argentina, assim como a chilena e a uruguaia - e diferente da brasileira - teve uma característica neoliberal de influência da Escola de Chicago e as teorias de Milton Friedman. Portanto esse conjunto de fatores quando somados podem sim explicar o contexto geral da crise argentina atual.E é diferente da Venezuela, cuja crise começou com um processo econômico chamado "Doença Holandesa", que é quando um país fica completamente dependente de uma única atividade econômica. No caso de lá, a venda de commodities, do petróleo. E aprofundada por sabotagem internacional.A fome já atinge a outrora pomposa classe-média argentina, racionamento de leite (o que é incrível, pois a Argentina é uma das maiores produtoras de leite do mundo, só que a moeda está tão deteriorada, que mal sobra produção para atender o mercado interno, vai tudo quase que automaticamente para exportação), de alimentos nos mercados do país, inflação galopante, moeda derretida... e agora, congelamento de preços.E outra diferença da Argentina para a Venezuela, é que a Argentina teve todo o apoio do mercado internacional após a vitória do Macri. Enquanto que a Venezuela vem resistindo com sanções, sabotagem, ameaça de bombardeio, cerco de guerra e etc.É evidente que a derrocada Argentina tem vários culpados e vários motivos, mas é bom destacar que os hermanos chegaram a possuir, no início do século passado, um PIB Per Capita comparável ao da Alemanha e Holanda, e superior ao da Espanha, Suécia, Suiça e Itália.O projeto de estado da Argentina no século XIX vislumbrava ser a potência que ia fazer frente com os Estados Unidos. Eles realmente acreditaram e tentaram, de certa forma, realizar este plano.Enquanto o Brasil não tinha uma universidade, contava com cerca de 95% de sua população analfabeta, e o Conde D'eu fazia tiro ao alvo com crianças na Guerra do Paraguai, sequestrava meninas paraguaias para trabalhar como escravas sexuais nos prostíbulos de membros da família real brasileira, o Bartolomeu Mitre voltou para a Argentina para mediar o projeto de alfabetização e urbanização do país.Uma população quase que integralmente alfabetizada, um PIB que cerca que o dobro do Brasil, e responsável por mais de 50% das exportações de toda a América do Sul, no início do século XX.Agora, de todos os processos que levaram a Argentina a esta catástrofe, eu destaco a ditadura militar daquele país e, claro a supressão do mercado nacional e da indústria pelo monetarismo.O neoliberalismo, principalmente após a década de 90, após o Plano Brady e o Consenso de Washington, se aprofundou de forma com que permitisse que os países pudessem "lastrear" a sua moeda não apenas com riquezas do setor produtivo, ou dólares, mas com "papel". Todas as moedas passaram ali a serem especulativas. Em uns países mais e em outros menos. E a Argentina foi a que levou tal processo mais à fundo.Porém, cerca de 2 décadas antes, durante a ditadura, por lá ocorreu o que eu chamo de "quimioterapia econômica e social". Explico:Com o intuito de destruir a esquerda do país e o legado peronista (e aqui não vou me apegar as controvérsias do peronismo, mas o que ele possa ter tido de bom, como a ideia de um estado nacional forte e industrializado), e com isso impôr o modelo neoliberal, os militares forçaram um processo de desindustrialização, enfraquecimento econômico dos centros urbanos e voltou a sua economia para o campo.Com isso, automaticamente, na contramão do século XX, um modelo de trabalho sindical, de alta qualificação, uma sociedade civil pujante e inteligente, uma classe-média cosmopolita e progressista se viu de uma hora para outra desempregada e dilapidada. Some a isso a grande crise do petróleo dos anos 70.Sim, meus amigos. Os militares argentinos perceberam que para enfraquecer a esquerda e o peronismo tinham que sacrificar a indústria do país, empobrecer a população e com isso priorizar o campo.Isso para não falar da repressão, que matou cerca de 30 mil pessoas...A bomba relógio da atual crise argentina foi armada assim: Uma população letrada, rica, empobrecida forçadamente, um país que viu seu PIB despencar, passou a deixar de vender produtos industrializados com alto valor agregado para vender produtos do campo, de baixo valor. É como se você abrisse mão da sua revendedora da BMW para administrar um sacolão, tudo isso por ódio ideológico.Somou aí o processo de tornar o peso uma moeda especulativa. Uma população com o padrão de consumo despencando, passa a tomar empréstimos, se endividar, se torna inadimplente e não tem como cobrir o buraco. A previdência não dá mais conta. E aí, meus amigos, não adianta aumentar taxa de juros, decretar feriados bancários, congelar preço e nem nada. A crise é cíclica e sem data para terminar. Porque se uma moeda não tem um colchão de "riqueza" para que o seu câmbio seja sustentado, chega determinado momento que nem mais a especulação e a espoliação dos mais pobres vai dar conta de alimentar o rentismo.E sabem quem está com um plano igualzinho para o Brasil? A turma da lava-jato e do Jair Bolsonaro. Com o intuito de destruir a esquerda, o PT e as universidades, eles estão matando toda a indústria. Vai ser terra arrasada.E, com esse volume de perda de exportações, não me surpreende se o Real já não começar a derreter este ano.Vinícius CarvalhoMiguel Nicolelis: “Esse golpe é muito pior que o de 1964, pois carrega a semente da destruição”
Em entrevista ao Tutaméia, neurocientista brasileiro afirma que o que está acontecendo atualmente é a “obliteração total de qualquer vestígio de soberania brasileira”.“Se caio, hermano, te levo comigo”. Em operação temerária, deflagrada a pedido de Trump, FMI torra US$ 57 bilhões na Argentina, para tentar salvar Macri. Fracasso é provável – e exporá miséria do projeto neoliberal. Por isso, Buenos Aires tira o sono de Bolsonaro.
- Assista também a entrevista no canal Tutaméia com Vladimir Safatle.
informações voltadas ao fortalecimento das ações culturais de base comunitária, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
sábado, 4 de maio de 2019
Por que e como se destrói o Brasil? O passado e o presente da Argentina explica.
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