sexta-feira, 11 de outubro de 2019

E SE AS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS TIVESSEM DADO MAIS VALOR AS IDÉIAS E A OBRA DE PAULO FREIRE?


Estudando Paulo Freire visando estruturar a base de argumentação teórica para a sistematização que estamos realizando, acerca da experiência pioneira de arte-educação popular denominada AMABA/Projeto Reculturarte, realizada na Aracaju dos anos de 1980 e 1990.

Essa experiência de ler mais Paulo Freire, para mim está cada vez mais confirmando, o quanto o campo progressista marcou bobeira por não ter valorizado suficientemente o legado do mestre.

É surpreendente, o quanto o patrono da educação brasileira realizou em matéria de diagnóstico e de propostas para a superação da "crise" da educação brasileira, o que na frase célebre de outro educador e intelectual brasileiro, Darcy Ribeiro, não é "crise", é projeto.

Vez em quando, iremos publicar trechos do livro "Pedagogia da Autonomia" como exemplo para explicar o que tornou possível a eleição de um Jair Bolsonaro e de tantos iguais a cargos parlamentares. 

Isso, por deixar Paulo Freire como autor secundário nos cursos de licenciatura e em outras áreas das ciências humanas e sociais. O que gera reflexo nas dificuldade que encontramos no ensino básico, sistemas de saúde, notadamente o que atende as populações mais pobres, comunicação, artes, psicologia, economia, administração e etc....

E você que nos lê, também teve pouco contato com a obra de Paulo Freire na faculdade ou na universidade? Se quiser, pode comentar a esse respeito.

Abaixo, retirado do livro Pedagogia da Autonomia
"1.3 – Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros urbanos? Esta pergunta é considerada em si demagógica e reveladora da má vontade de quem a faz. É pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia.

Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? A ética de classe embutida neste descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos."
Zezito de Oliveira


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