Papa Francisco | Cidade do México | 13.2.2016 | © L'Osservatore Romano
O papa afirmou este sábado que «a sabedoria ancestral» que o
«multiculturalismo» traz consigo «é, de longe», um dos «maiores recursos
humanos» do México, país que Francisco visita desde sexta-feira.
No encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, na Cidade do México, apontou algumas das consequências nefastas da desigualdade na distribuição de riqueza e oportunidades, patentes, por exemplo, na violência e no narcotráfico.
«A experiência demonstra-nos que quando se busca o caminho do privilégio ou do benefício para poucos em detrimento do bem de todos, mais cedo ou mais tarde, a vida em sociedade transforma-se num terreno fértil para a corrupção, o tráfico de drogas, a exclusão das culturas diferentes, a violência e até o tráfico humano, o sequestro e a morte, que causam sofrimento e travam o desenvolvimento», afirmou.
Na catedral da capital, dirigindo-se aos bispos do México, Francisco citou Octavio Paz (1914-1998), prémio Nobel da Literatura, referindo-se a um excerto do ensaio "Labirinto da saudade", sobre a identidade mexicana.
«Um inquieto e ilustre escritor desta terra disse que em Guadalupe não se pede a abundância das colheitas ou a fertilidade da terra, mas procura-se um ventre no qual os homens, sempre órfãos e deserdados, procuram uma proteção, uma casa», apontou.
No encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, na Cidade do México, apontou algumas das consequências nefastas da desigualdade na distribuição de riqueza e oportunidades, patentes, por exemplo, na violência e no narcotráfico.
«A experiência demonstra-nos que quando se busca o caminho do privilégio ou do benefício para poucos em detrimento do bem de todos, mais cedo ou mais tarde, a vida em sociedade transforma-se num terreno fértil para a corrupção, o tráfico de drogas, a exclusão das culturas diferentes, a violência e até o tráfico humano, o sequestro e a morte, que causam sofrimento e travam o desenvolvimento», afirmou.
Na catedral da capital, dirigindo-se aos bispos do México, Francisco citou Octavio Paz (1914-1998), prémio Nobel da Literatura, referindo-se a um excerto do ensaio "Labirinto da saudade", sobre a identidade mexicana.
«Um inquieto e ilustre escritor desta terra disse que em Guadalupe não se pede a abundância das colheitas ou a fertilidade da terra, mas procura-se um ventre no qual os homens, sempre órfãos e deserdados, procuram uma proteção, uma casa», apontou.
Papa Francisco | Cidade do México | 13.2.2016 | © Lusa
A atenção às tradições minoritárias, e todavia fundadoras do país,
foi igualmente sublinhada pelo papa na intervenção aos prelados:
«Peço-lhes um olhar de singular delicadeza para os povos indígenas, para
eles e as suas fascinantes, e não poucas vezes, massacradas culturas».
«O México precisa das suas raízes ameríndias para não cair num enigma por resolver. Os indígenas do México ainda esperam que se lhes reconheça efetivamente a riqueza da sua contribuição e a fecundidade da sua presença», pelo que ao episcopado cabe o dever de recordar «ao seu povo quanto são poderosas as raízes antigas, que permitiram a viva síntese cristã de comunhão humana, cultural e espiritual» que se forjou no México.
Francisco pediu aos bispos que tenham um «olhar limpo», «alma transparente» e «rosto luminoso», para não se envolverem na «mundanidade» nem se deixarem «corromper» quer pelo «materialismo» quer pelas «ilusões sedutoras dos acordos por debaixo da mesa».
«Não ponham a sua confiança nos "carros e cavalos" dos faraós atuais, porque a nossa força é a "coluna de fogo" que rompe, dividindo em dois as águas do mar, sem fazer grande rumor», apelou, antes de exortar o episcopado a não perder «tempo e energias nas coisas secundárias», como «intrigas», «murmurações e maledicências», abandonando «projetos vãos de carreira» e «planos vazios de hegemonia».
«O México precisa das suas raízes ameríndias para não cair num enigma por resolver. Os indígenas do México ainda esperam que se lhes reconheça efetivamente a riqueza da sua contribuição e a fecundidade da sua presença», pelo que ao episcopado cabe o dever de recordar «ao seu povo quanto são poderosas as raízes antigas, que permitiram a viva síntese cristã de comunhão humana, cultural e espiritual» que se forjou no México.
Francisco pediu aos bispos que tenham um «olhar limpo», «alma transparente» e «rosto luminoso», para não se envolverem na «mundanidade» nem se deixarem «corromper» quer pelo «materialismo» quer pelas «ilusões sedutoras dos acordos por debaixo da mesa».
«Não ponham a sua confiança nos "carros e cavalos" dos faraós atuais, porque a nossa força é a "coluna de fogo" que rompe, dividindo em dois as águas do mar, sem fazer grande rumor», apelou, antes de exortar o episcopado a não perder «tempo e energias nas coisas secundárias», como «intrigas», «murmurações e maledicências», abandonando «projetos vãos de carreira» e «planos vazios de hegemonia».
Papa Francisco | Cidade do México | 13.2.2016 | © Lusa
A necessidade de os católicos terem um papel ativo no combate à
droga foi também salientado por Francisco: «Peço-vos para não
menosprezarem o desafio ético e anticívico que o narcotráfico representa
para a juventude e para a toda a sociedade mexicana, incluindo a
Igreja».
«A proporção do fenómeno, a complexidade das suas causas, a imensidão da sua extensão, como metástase que devora, a gravidade da violência que desagrega e as suas perturbadoras ligações não nos consentem, pastores da Igreja, que nos refugiemos em condenações genéricas - formas de nominalismo, mas exigem uma coragem profética e um sério e qualificado projeto pastoral», vincou.
Só com uma ação nas famílias, paróquias, escolas, instituições comunitárias, meios políticos e estruruas de segurança será possível «libertar totalmente das águas nas quais lamentavelmente se afogam tantas vidas, seja a vida de quem morre como vítima, seja de quem diante de Deus terá sempre as mãos manchadas de sangue, ainda que tenha os bolsos cheios de dinheiro sórdido e a consciência anestesiada».
«A proporção do fenómeno, a complexidade das suas causas, a imensidão da sua extensão, como metástase que devora, a gravidade da violência que desagrega e as suas perturbadoras ligações não nos consentem, pastores da Igreja, que nos refugiemos em condenações genéricas - formas de nominalismo, mas exigem uma coragem profética e um sério e qualificado projeto pastoral», vincou.
Só com uma ação nas famílias, paróquias, escolas, instituições comunitárias, meios políticos e estruruas de segurança será possível «libertar totalmente das águas nas quais lamentavelmente se afogam tantas vidas, seja a vida de quem morre como vítima, seja de quem diante de Deus terá sempre as mãos manchadas de sangue, ainda que tenha os bolsos cheios de dinheiro sórdido e a consciência anestesiada».
Papa Francisco | Cidade do México | 13.2.2016 | © Lusa
A "Virgem Morenita", Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do
México e da América, ensina que «a única força capaz de conquistar o
coração dos homens é a ternura de Deus».
«O que encanta e atrai, aquilo que dobra e vence, o que abre e desencadeia não é a força dos instrumentos ou a dureza da lei, mas a debilidade omnipotente do amor divino, que é a força irresistível da sua doçura e a promessa irreversível da sua misericórdia», acentuou.
Falar de Deus à sociedade contemporânea exige uma Igreja «que saiba proteger o rosto dos homens que vão bater à sua porta»: «Se não decifrarmos os seus sofrimentos, se não nos dermos conta das suas necessidades, nada poderemos oferecer-lhes. A riqueza que temos flui apenas quando encontramos o pouco daqueles que mendigam».
Esta última ideia foi reforçada na homilia da missa que Francisco presidiu, após o encontro com os bispos, na basílica de Guadalupe, considerado o maior santuário mariano do mundo, ainda na Cidade do México: «Todos somos necessários, sobretudo aqueles que normalmente não contam porque não estão "à altura das circunstâncias" ou porque não "trazem o capital necessário"».
«O que encanta e atrai, aquilo que dobra e vence, o que abre e desencadeia não é a força dos instrumentos ou a dureza da lei, mas a debilidade omnipotente do amor divino, que é a força irresistível da sua doçura e a promessa irreversível da sua misericórdia», acentuou.
Falar de Deus à sociedade contemporânea exige uma Igreja «que saiba proteger o rosto dos homens que vão bater à sua porta»: «Se não decifrarmos os seus sofrimentos, se não nos dermos conta das suas necessidades, nada poderemos oferecer-lhes. A riqueza que temos flui apenas quando encontramos o pouco daqueles que mendigam».
Esta última ideia foi reforçada na homilia da missa que Francisco presidiu, após o encontro com os bispos, na basílica de Guadalupe, considerado o maior santuário mariano do mundo, ainda na Cidade do México: «Todos somos necessários, sobretudo aqueles que normalmente não contam porque não estão "à altura das circunstâncias" ou porque não "trazem o capital necessário"».
Papa Francisco em oração diante da imagem da Virgem de Guadalupe | Cidade do México | 13.2.2016 | © Lusa
A Virgem de Guadalupe repete hoje o que disse a S. Juan Diego
Cuauhtlatoatzin, homem simples a quem apareceu em 1531: «Sê o meu
mensageiro, sê o meu enviado para construir muitos novos santuários,
acompanhar tantas vidas, enxugar tantas lágrimas. Basta que caminhes
pelas ruas do teu bairro, da tua comunidade, da tua paróquia, como meu
mensageiro, minha mensageira».
«Ergue santuários partilhando a alegria de saber que não estamos sós, que ela está connosco. Sê meu mensageiro, diz-nos, dando de comer aos famintos, de beber aos sedentos, dá um lugar aos necessitados, veste quem está nu e visita os doentes. Socorre o prisioneiro, não o deixes só, perdoa quem te fez mal, consola quem está triste, tem paciência com os outros e, sobretudo, implora e reza ao nosso Deus», disse o papa.
Depois da missa, Francisco pôde finalmente olhar nos olhos, de perto, a Virgem de Guadalupe, a imagem da Virgem mestiça que está na origem da identidade dos povos da América Latina, rezando sozinho durante cerca de 20 minutos.
Este domingo o papa viaja de helicóptero até Ecatapec, próximo da capital, onde preside à missa e recita a oração mariana do Angelus. Após o almoço regressa à Cidade do México, onde visita um hospital pediátrico.
Rui Jorge Martins
Publicado em 14.02.2016
«Ergue santuários partilhando a alegria de saber que não estamos sós, que ela está connosco. Sê meu mensageiro, diz-nos, dando de comer aos famintos, de beber aos sedentos, dá um lugar aos necessitados, veste quem está nu e visita os doentes. Socorre o prisioneiro, não o deixes só, perdoa quem te fez mal, consola quem está triste, tem paciência com os outros e, sobretudo, implora e reza ao nosso Deus», disse o papa.
Depois da missa, Francisco pôde finalmente olhar nos olhos, de perto, a Virgem de Guadalupe, a imagem da Virgem mestiça que está na origem da identidade dos povos da América Latina, rezando sozinho durante cerca de 20 minutos.
Este domingo o papa viaja de helicóptero até Ecatapec, próximo da capital, onde preside à missa e recita a oração mariana do Angelus. Após o almoço regressa à Cidade do México, onde visita um hospital pediátrico.
Rui Jorge Martins
Publicado em 14.02.2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário