Da nossa parte, compreendo o importante papel que a
educação, a comunicação e a cultura tem no enfrentamento a isso. Porém, com pouco resultado
de curto prazo, mas crescente a médio e a longo prazo, desde que feito com criatividade,
ousadia, determinação, e de forma permanente e constante.
Porém, a nossa
experiência, particularmente no Bairro América, Aracaju, a partir da pesquisa e dos estudos que estão sendo realizados para a produção de um livro sobre
a AMABA/Projeto Reculturarte (1986 à 1996) , revela o quão instigante e desafiador,
é realizar ações no campo da arte-educação popular e das ações culturais de base comunitária, e ao mesmo tempo descobrir o quanto de autoritarismo,
elitismo e exclusão nos acompanha e estão dentro de nós. Mesmo dentro
daqueles (as) que fazem o bom combate contra isso, com maior grau em uns, e em outros em menor grau.
O resultado disso, é que essas experiência educativas e
culturais que se propõem a transformar a realidade de opressão, terminam por avançar
até um certo ponto, mas sucumbem depois, por não conseguir superar os choques dos desejos. Como por exemplo, o de controlar, de mandar,
de ser o centro das atenções de um lado, e
do outro lado, o de saber ouvir, dialogar e decidir mediante consenso, assim como o respeito e reconhecimento pelos conhecimentos
e talentos dos outros. Assim a disputa
no plano micro, fortalece o plano macro. As derrotas
e vitórias embaixo nos enfraquecem ou nos fortalecem em cima.
Vamos ao documento:
“Em 1988, participei de um seminário da ANAMPOS (articulação nacional do movimento popular e sindical) em vitória (ES), e que contou com a participação de delegações de 20 estados reunindo militantes do movimento popular.
O objetivo era fazer uma avaliação de como estava o movimento popular em termos de organização, infraestrutura, relação com o governo, igreja e partidos etc... fora estas questões mais gerais, um tema que não suscitou maior interesse da plenária na hora de formação dos grupos, mas que produziu um dos melhores textos, foi “A dimensão afetiva do militante “, onde participei juntamente com três mulheres da discussão, ficando a cargo da companheira Luiza Fernandes de São Paulo elaborar a síntese final em forma de tese. Algum tempo depois, o texto foi publicado no boletim da ANAMPOS que era distribuído a nível nacional, possibilitando desta forma ser lido por um número maior de pessoas.
Recentemente folheando o arquivo da AMABA encontrei-o, e ao lê-lo confesso que fiquei muito feliz pois o texto coloca algumas questões que tem muito a ver com a nossa situação interna atual, por este motivo trago-o resumido para servir de introdução a analise dos motivos que nos levaram a essa situação. Por ultimo, é importante frisar que estas não são e nem serão as ultimas palavras a respeito do assunto.
(...) As análises, os relatos feitos, as experiências vividas tem revelado em sua maioria, que reproduzimos a estrutura vertical da sociedade burguesa. A hierarquização, o desrespeito pelo iniciante que passa a ser usado como massa de manobra, como voto na convenção e para panfletagem, vive uma situação semelhante ao operário na fabrica que não tem direito a nenhuma instância de decisão. Ele também não sabe sobre como, porque e quando fazer.(...)
(...) Raramente discutimos porque uma pessoa entra em um movimento. Será que isto só acontece quando ela já tem uma consciência politica pronta. Se for isso, como fazer um trabalho educativo. E a idéia de processo. E a idéia de transformação enquanto um processo contínuo e dialético. (...)
(...) Até que ponto , o como e porque iniciei no movimento não está relacionado com a minha estória de vida. (...)
(...)Se sou machista com minha mulher, se espanco meus filhos, se escondo que tenho família, nada disso interessa ao movimento. Estas são questões de foro intimo. Mas será isso mesmo? Será que mesmo não querendo não levamos para o movimento tudo o que somos . (...)
(...) Até que ponto, não fazemos do movimento um lugar de valorização, de busca de status. Ou não conhecemos muitos que entraram em um processo de deterioração por causa da falta de diálogo, da desconfiança entre companheiros, de situações ambivalentes, de desentendimentos entre os companheiros, de palavras não ditas. (...)
(...) Usamos nossas experiências passadas como guia numa situação nova. E como adultos, racionalizamos de acordo com normas e valores acumulados durante toda a nossa vida. E como adultos temos dois caminhos: podemos cristalizar uma posição, ou estamos sempre abertos para reelaboração, que é diferente de não ter posição. " (...)
Zezito de Oliveira
Levar isso em conta é fundamental, para quando os partidos de esquerda ou de centro esquerda
(PT, PSOL, PDT, PC do B, PSB), assim como movimentos sociais (UNE, UBES, CUT CONAN,
CMP, MST, MTST) decidirem fazer auto critica.
Por outro lado, canções como essa abaixo no fará um bem danado, isso para não mergulharmos na
falta de esperança, no niilismo, na depressão. Os ateus considerem o uso da
expressão “Tomara, meu Deus tomara” como
força de expressão. Mesmo assim, a
canção não perde o sentido. Independente de se ter fé ou não, o trabalho, a
ação, é o fundamental. E com a esperança
e a utopia no centro.
Como diz Mário Quintana em “Das utopias”, “Se as coisas são
inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querê-las... / Que tristes os
caminhos, se não fora / A mágica presença das estrelas!”
P.S.: - Associação dos moradores e amigos do bairro américa (AMABA) e Reeducação, Cultura e Arte. (Reculturarte)
“ Tomara
meu Deus, tomara
Que tudo que nos separa
Não frutifique, não valha
Tomara, meu Deus
Que tudo que nos separa
Não frutifique, não valha
Tomara, meu Deus
Tomara
meu Deus, tomara
Que tudo que nos amarra
Só seja amor, malha rara
Tomara, meu Deus
Que tudo que nos amarra
Só seja amor, malha rara
Tomara, meu Deus
Tomara
meu Deus, tomara
E o nosso amor se declara
Muito maior, e não pára em nós
E o nosso amor se declara
Muito maior, e não pára em nós
Se as
águas da Guanabara
Escorrem na minha cara
Uma nação solidária não pára em nós
Escorrem na minha cara
Uma nação solidária não pára em nós
Tomara
meu Deus, tomara
Uma nação solidária
Sem preconceitos, tomara
Uma nação como nós.”
Uma nação solidária
Sem preconceitos, tomara
Uma nação como nós.”
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