quinta-feira, 17 de outubro de 2019

A fundamentada critica de Ruda Ricci às escola militares e um programa de inspiração freireana como alternativa


Os caminhos da educação civil frente ao modelo militar foi tema de debate na Alese
Por George W. Silva -16 de outubro de 2019



A Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Assembleia Legislativa, por iniciativa do deputado Iran Barbosa, do PT, realizou, na tarde da terça-feira (15), Dia do Professor, Audiência Pública para debater “Os Caminhos da Educação Civil Frente ao Modelo Militar do Governo Federal”, com palestra do professor doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, Rudá Guedes Ricci.

“Muito importante esse debate, que está na ordem do dia. É preciso deixar evidente que o que as nossas escolas precisam do governo federal é de respeito e mais recursos para garantir que elas desenvolvam, autonomamente, os seus projetos pedagógicos, elaborados com participação de toda a comunidade escolar. Não dá para aceitar a imposição de uma militarização educacional e pedagógica. No Dia do Professor, é importante reafirmarmos esse compromisso, com a construção e o fortalecimento do projeto de educação que defendemos”, afirmou Iran Barbosa.

Em sua exposição, o professor doutor Rudá Ricci colocou a necessidade de que educação seja tratada como política de Estado e lembrou que os militares são também servidores públicos e que devem estar envolvidos nas discussões das políticas públicas. Entretanto, para ele, os militares são importantes no que fazem, mas não estão aptos e nem foram preparados para lidar com Educação.

“Não podemos cair no irracionalismo de achar que, em razão de a Educação brasileira enfrentar problemas, vamos abrir esse espaço para os militares ou outros segmentos de profissionais que não compreendem Educação. Imagina se fizéssemos isso na Saúde, que também não vai bem. Temos problemas no SUS, mas mesmo que eu esteja desesperado para salvar pessoas, sou sociólogo e não médico. Na ânsia de querer curar uma pessoa, eu, certamente, iria matá-la”, colocou, fazendo a mesma analogia com a Segurança Pública, que também enfrenta inúmeros problemas, mas que não cabe a outros profissionais, senão aos que foram preparados para atuar no setor, garantir a segurança da população.

Rudá lembrou que quase metade das crianças e adolescentes brasileiros vive na pobreza, o que afeta sobremaneira o desempenho escolar dos alunos nessas condições, e que não se vê o debate do combate a esse problema entre os militares, que desconhecem essa realidade. Ele também criticou a ideia de imposição de disciplina rígida nas salas de aula. Segunda Rudá, está mais que provado que disciplina militar no ambiente civil escolar não funciona.

“A proposta de militarização das escolas no Brasil tem o sinal da boa vontade dos militares, o que deve ser acolhido, porque vem de servidores públicos que querem contribuir com aquilo que eles sabem, que é impor a ordem. Mas nós temos que dizer para eles que o Brasil é mais que militarismo e que tem educadores fantásticos. A Finlândia está sempre entre os primeiros lugares em educação. Mas sabe quem eles adotaram para formular as suas políticas de educação? Os brasileiros Paulo Freire e Anísio Teixeira. Esse é o caminho, e não entregar a nossa educação para os militares”, destacou o sociólogo e educador.

Concepções antagônicas

De acordo com Rudá Ricci, na concepção de escola militarizada a causa é o espírito indisciplinado, que tem relação com ímpetos selvagens, que devem ser domados com regras impostas; a didática desse modelo tem como objetivo convencer o estudante que é preciso ceder sua liberdade para viver em sociedade. O modelo é anglo-saxão, com foco apenas no resultado, com padronização e avaliação a partir do padrão desejado, e o sistema é centralizado para controlar.

Já a contraposição a esse modelo, na concepção de escola civil, o processo de socialização e educação se dá dentro e também fora da escola, exigindo conexões entre as duas dimensões, e a educação escolar ocorre quando se dialoga entre o que o estudante sabe e o que ele pode saber, estabelecendo-se uma zona de aprendizagem proximal. O modelo é latino, com foco no processo de formação (acompanhamento), a avaliação é múltipla para encontrar motivos para erros, e o sistema é descentralizado para motivar formulações.

O sociólogo também expôs dados socioeconômicos que fogem às concepções dos militares, que desconhecem a influência desses dados na aprendizagem e na realidade dos alunos. Entre esses números, Rudá apontou que a presença materna é fundamental para uma melhor aprendizagem entre as crianças.

“A mãe tem uma forte influência no índice de formação. A taxa de alfabetização daqueles que moravam com a mãe quando tinham 15 anos de idade chegou a 92,2%, enquanto entre aqueles que não moraram com a mãe na mesma idade foi de 88,1%. E os alunos cujas mães possuem pelo menos o ensino primário têm desempenho três vezes melhor que alunos cujas mães não possuem instrução formal”, destacou.

Ricci também apontou problemas na educação brasileira que simplesmente não serão resolvidos com a militarização do ensino e das escolas. Entre estes, o racismo, a violência e o alto índice de adoecimento dos professores em função do excesso de burocracia, do baixo retorno financeiro, dos desvios de função, da ausência de funcionários e apoio, e por agressões.

 “Esses são problemas que a militarização das escolas por si só não resolverá. Militares não entendem de educação e não sabem dos principais problemas do setor. Estão vendendo uma solução como tantas outras sobre as quais somos bombardeados diariamente. Educação não é só ter disciplina ou cantar hino perfilado, é coisa de profissional. Se está errado, vamos avaliar juntos e discutir quais as soluções”, disse o sociólogo, destacando a experiência positiva da cidade de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), que conseguiu, no curto período de um ano, reduzir a evasão escolar e aumentar o desempenho dos alunos com intervenções humanas e criativas, como os professores não se limitarem ao tempo na sala de aula, indo à casa dos alunos com alguma dificuldade. Como resultado, a evasão escolar caiu 92% e a indisciplina 86%, e as notas dos estudantes aumentaram 64%.

Objetivos cumpridos
Para o deputado e professor Iran Barbosa, a Audiência Pública cumpriu com os objetivos, não apenas de conhecer melhor os argumentos para enfrentar o debate sobre a proposta da escola militarizada, mas também pelas experiências bem-sucedidas trazidas pelo professor Rudá Ricci, no campo da escola civil, cujo padrão é o referendado pela legislação educacional nacional.

“Nós temos uma educação construída e sustentada pelos educadores, pedagogos e por todos que estudaram e estudam essa área. As contribuições do professor Rudá nos ajudam a refletir sobre isso e a conhecer mais profundamente as experiências exitosas que vão numa linha de humanização da educação, e não da militarização para enfrentar os problemas”, explicou Iran, reforçando que os militares têm o seu valor e atuam bem naquilo para que foram preparados, o que não inclui a educação preconizada na constituição e na legislação educacional.

“Foi algo que o professor Rudá enfatizou muito bem, que cada servidor público deve cumprir as tarefas específicas no campo em que se formaram e atuam, e esse limite precisa ser respeitado. Nós, professores, estudamos para saber elaborar e lidar com projetos pedagógicos. Queremos construir esse espaço e exercitar com plenitude a nossa autonomia como autoridades docentes. Precisamos buscar o diálogo com os diversos setores da sociedade e encontrar as alternativas para resolver os problemas da educação, mas jamais com a militarização e sem abrir mão do nosso fazer profissional, permitindo que pessoas estranhas ao campo pedagógico assumam nossa tarefa”, reforçou o parlamentar e professor.

Fizeram parte da mesa e contribuíram também com o debate o deputado Adaílton Martins (PSD), presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Alese; a professora e presidente do SINTESE, Ivonete Cruz; o vereador de Aracaju Lucas Aribé (PSB); Naldson Gomes Santana, representando a OAB/SE; e a professora Aline Menezes, do Conselho Municipal de Educação de Aracaju – Comea.


Impressões sobre a audiência pública em tela.


Entre os pacotes pedagógicos instrucionais das empresas e fundações e entre a escola militarizada, existe muita vida, muita sabedoria e muita capacidade de fazer uma boa escola. Com aprendizado, prazer, humanidade e, disciplina. Uma das conclusões possíveis da fala do professor Rudá Ricci, na audiência publica promovida na tarde de ontem, 15 de outubro, pelo comissão de educação e cultura da ALESE, através da iniciativa do professor e deputado estadual Iran Barbosa.
Importante lembrar que o professor Rudá Ricci trouxe dados consistentes, para confrontar os defensores da intervenção das empresas e fundações capitalistas na educação publica, bem como os defensores da militarização.
Também apresentou relato que compreende a experiência educativa, como uma experiência de formação em rede ou em redes. Incluindo família, em especial as mães ou avós, programas e serviços governamentais (estados, município e união) e comunidade.
Atentemos para isso! Criticar a ingerência das empresas, fundações e militares na educação, mas com dados, com resultados das experiências comprometidas e criativas, inclusive dos professores do chão de escola e pensar a escola, como centro ou pivô de uma rede educadora.
Gratidão ao deputado Iran Barbosa e a sua equipe. Como contaminar outras setores, instâncias governamentais e sociedade civil organizada, a utilizar mais dados quantitativos e qualitativos para divulgar e fomentar outras possibilidade, outras alternativas, para a educação humanizadora e democrática? Não apenas focar em problemas, fracassos e insucessos da escola pública. A quem interessa selecionar e propagar somente o noticiário negativo acerca da escola pública?
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Muito bom!! A audiência pública sobre a militarização das escolas publicas, organizada pela comissão de educação e cultura da ALESE com o sociólogo Ruda Ricci .A proposta e organização foi realizada pelo mandato do professor e deputado Iran Barbosa. A questão fundamental é como fazer com que esse debate e de outros temas fundamentais saia da bolha e chegue de forma dialógica, criativa e dinâmica, até as ruas, becos, praças, vilas e vielas, assim como até as escolas, comunidades religiosos, grupos culturais, associações comunitárias e etc.
Uma possibilidade para começar: Produzir uma edição resumo das audiências, por volta de 30 minutos, e compartilhar via youtube e redes sociais, utilizando as imagens geradas pela Tv Alese.
Também fazer memória agradecida e atualizar as experiência de educação e comunicação popular do passado. Dentre tantas, Uma experiência interessante é a TV Viva do Recife (PE). Estudando essa experiência pode-se descobrir um formato interessante, ainda atual, para conversar com os moradores de comunidades, utilizando a mediação do audiovisual
Mandatos progressistas e sindicatos podem também começar a produzir educação EAD. Para iniciar o estudo de experiências virtuosas do passado no campo da educação popular, combinado com encontros presenciais.
Zezito de Oliveira

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Acompanhe a Audiência Pública "Os Caminhos da Educação Civil Frente ao Modelo Militar do Governo Federal", com o professor doutor Rudá Guedes Ricci. A realização é da Comissão de Educação Cultura e Desporto da Alese, atendendo a iniciativa do deputado Iran Barbosa.

Aqui

A proposta de base freireana e seus resultados,  apresentada como uma das possibilidades para fazer o contraponto ao projeto de militarização das escolas. 
Programa Comunidade Educadora. -    O Programa se estrutura a partir da visita de educadores – aqui nomeados de articuladores comunitários – às famílias dos estudantes das redes públicas, no intuito de gerar informações sobre condições de vida, tempo de convívio familiar, acesso a bens culturais e sociais, acolhida comunitária e acompanhamento dos responsáveis em relação aos estudos e progressão na carreira estudantil. As visitas semanais dos articuladores comunitários envolverão famílias de estudantes que apresentarem duas dentre essas quatro situações: 1) Queda brusca de desempenho escolar nos últimos quatro meses; 2) Sinais de violência; 3) Sinais de abandono; 4) Residência em área de risco.
A partir desta coleta de informações técnicas, que são registradas em um website dedicado ao programa, são gerados relatórios analíticos para a Secretaria Municipal de Educação. A partir destes relatórios, um Comitê Gestor Integrado composto por três redes de proteção analisa as informações e definem encaminhamentos para cada caso. A formação de redes no território, configurando a Comunidade Educadora, tem o objetivo de articular todos os agentes envolvidos no processo educacional e lideranças comunitárias na promoção de interesses comuns, na efetivação dos direitos sociais e na consolidação de políticas públicas.   Saiba ,mais: https://institutocultiva.com.br/projeto/comunidades-educadoras/

Comunidades Educadoras


Um comentário:

Tânia Maria disse...

Somente um governo bestial, com seus cúmplices bestialóides, incluindo os seus eleitores, pode propor como solução para a Educação no Brasil a militarização das escolas. Poupem-me a paciência.