segunda-feira, 8 de julho de 2019

Brasil grande é João Gilberto, e tem mais.

Mas é preciso desesconder, tirar da gaveta, redescobrir. Se não for assim, ai de nós...
Zezito de Oliveira

Provocado pela colega professora  Inês Ferreira. 

Gente, foi o pai da Bossa Nova que faleceu hoje! Neste país , muitas vezes sem memória, qual o peso e a simbologia deste momento ?

Respondi: "Morre um pouco do país que tentou ser mais feliz. Em que pese a Bossa Nova tenha buscado passar ao largo dos problemas sociais enfrentados ou existentes, no momento do seu apogeu enquanto canção. Mas com o golpe de 1964 e consequências, a tristeza passou a ocupar mais tempo em nossas vidas. "tristeza não tem fim. felicidade sim." Até que veio o momento da redemocratização (final dos anos de 1970 e anos de 1980), a luta pelas diretas, constituinte, primeiras eleições diretas pós 1964, culminando com a eleição de Lula. Até que em 2016, as elites brazucas fazem o relógio da história retroceder novamente. E a bossa nova no meio disso tudo? Talvez um oásis de descanso e refrigério para não ficarmos tão tristes e desalentados assim. O que lembro de João Gilberto é a sua entrada na cena musical dos anos de 1980 em um disco gravado com Caetano Veloso. Para nos lembrar como um país tão rico em criatividade e diversidade pode dialogar e caminhar juntos, mesmo com diferenças." 

E quando vou postar esse comentário, eis que recebo a atualização do que escreveu o grande jornalista Ricardo Kotscho

"Com João Gilberto, morre mais um pouco do Brasil que tinha orgulho do Brasil."


João Gilberto na Praia do Arpoador, em 1959.
"Ele canta e as meninas suspiram";
"Para sentir João é preciso entendê-lo e, para entendê-lo é preciso, antes de tudo, um estado de espírito jovem."
dizem as legendas.
Revista Manchete, edição 398. Fotos de Carlos Kerr.

Zezito de Oliveira
Os tropicalistas como responsáveis pela entrada de uma geração de brasileiros ao universo da bossa nova, e a outras expressões da rica diversidade musical brasileira.




João Gilberto, por Caetano Veloso

Ele foi uma iluminação mística. Nenhum aspecto do mundo que ele sempre tocou tão rente pode ameaçar a grandeza da verdade de sua arte.
https://jornalggn.com.br/musica/joao-gilberto-por-caetano-veloso/?fbclid=IwAR3abupAwUUpf5AncaehFdq7-ezP67rFPNFPWFI18DhEE2KMYQkYIpFOku8



Eu, você, nós dois
Já temos um passado, meu amor
Um violão guardado
Aquela flor
E outras mumunhas mais
Eu, você, João
Girando na vitrola sem parar
E o mundo dissonante que nós dois
Tentamos inventar tentamos inventar
Tentamos inventar tentamos

A felicidade a felicidade
A felicidade a felicidade
Eu, você, depois
Quarta-feira de cinzas no país
E as notas dissonantes se integraram
Ao som dos imbecis
Sim, você, nós dois
Já temos um passado, meu amor
A bossa, a fossa, a nossa grande dor
Como dois quadradões
Lobo, lobo bobo
Lobo, lobo bobo
Eu, você, João
Girando na vitrola sem parar
E eu fico comovido de lembrar
O tempo e o som
Ah! Como era bom
Mas chega de saudade
A realidade é que
Aprendemos com João
Pra sempre
A ser desafinados
Ser desafinados
Ser desafinados
Ser
Chega de saudade
Chega de saudade
Chega de saudade
Chega de saudade



Romero Venâncio
. Idade, saúde fragilizada, problemas familiares, processos, etc. Difícil demais para uma pessoa de 88 anos. Obviamente, a morte pode ser vista como alento, descanso eteno... Não é esse João Gilberto que gostaria de me concentrar nesse momento.
Volto ao João Gilberto dos anos 50 e 60 e do momento síntese da música brasileira. A música que ele interpretava dizia muito de um Brasil com esperança de desenvolvimento. Um país cantado com alegria, dramático em seus amores, popular em sua vivacidade. A sua voz, o seu violão e sua batida particular nos levava sempre a um Brasil imenso. Dava a entender que ele sempre cantava sentimentos de um país imenso, maior do que parecia ser. Nada na voz quase falada de João Gilberto parecia pequeno. Era simples, singelo, mas nunca pequeno. A predominância do samba tornado Bossa Nova foi a marca moderna de João Gilberto e sua influência em toda uma geração. Esse baiano era um exímio interprete ao lado de um violão único na história do Brasil... Mas que nunca esqueceu seu povo, sua terra... Era cosmopolita sem perder sua raiz... Por tudo isto, a morte de João Gilberto nos toca profundamente ( a mim, em particular). Pelo que ele foi na MPB e pelo que disse resumidamente aqui. Mas tem uma coisa que incomoda na sua morte hoje: ele ter morrido nesse ano de 2019. O sentimento que temos é de um pais que agoniza sem ter rumo. João Morre no momento em que governa essa figura desqualificada e medíocre chamada bolsonaro. Um governo que odeia tudo que cantou João Gilberto. Um país marcado pelo ódio, pelo veneno, pela baixaria pequena e sem dimensão de grandeza alguma. Traumatizados com esses dias de fúria sem delicadeza, precisamos voltar a geração de João Gilberto e darmos um rumo nesse presente a um Brasil... A morte de João Gilberto tem que ser um lugar de pensamento. Tem que ser um lugar de memória. Tem que ser um lugar de utopia. A música que cantou João Gilberto deve ser um lugar para investigarmos como chegamos a essa tragédia dos dias de hoje.



Após minuto de silêncio, Unesco diz que morte de João Gilberto é perda para “patrimônio cultural”

Internacionalmente conhecido como um dos pais da Bossa Nova, um estilo musical único derivado do samba e com influências do jazz, ele deixa músicas que marcaram gerações.








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