quarta-feira, 8 de junho de 2022

PROJETO DE PESQUISA EM ANDAMENTO – UFS. CURSO DE EXTENSÃO "A EXTREMA DIREITA CATÓLICA NO BRASIL – 2013-2022"

 UMA BOA DEFINIÇÃO PARA  GUERRA CULTURAL DA EXTREMA DIREITA.    
Renato Janine Ribeiro
Um pouco de história recente. 
A extrema direita nos EUA apostou nas "guerras culturais" desde os anos 90 para mobilizar um público de gente sem rumo, uns assustados pela perda do emprego ou do nível de vida.
Mobilizou-os dizendo a eles que perderam o nível de vida por causa de chicanos, gays, imigrantes ilegais, mulheres que não queriam mais ser só donas de casa. 
Aqui foi 20 anos depois, com a ideologia de gênero, a mamadeira de piroca e muita coisa mais.
O segredo é simples: transformar uma privação econômica em revolta contra o Outro, o historicamente discriminado, que é mentirosamente apresentado como um aproveitador. Ou seja, reativar os preconceitos tradicionais que estavam e estão sendo contestados.
Dá para entender o ódio contra Paulo Freire, o grande educador da emancipação e da liberdade pessoal e coletiva?? Dá para entender por que isso começa quando o Congresso está debatendo o Plano Nacional de Educação??
A coisa fica perfeita quando justamente as vítimas (p ex, estudantes cotistas, populações LGBT, mulheres) são apontadas como causadores do sofrimento de uma suposta maioria silenciosa. 
O que traz um adicional: você, sofrido por questões econômicas, padecendo por conta das políticas neoliberais, é empoderado por um ficticio pertencimento  a uma grande comunidade de pessoas "do bem". Exemplo fácil: homens que acham difícil entender e aceitar direitos iguais das mulheres, negros e gays. (Pode ser difícil sim, mas é justo haver liberdade para todos. Saímos todos ganhando com isso!).
A chave, porém, é desviar a discussão dos problemas sociais para uma suposta moralidade.


*Porque a partir de 2013:

- A eleição do Papa Francisco

- O segundo momento das jornadas de Junho

*Nota geral:

- Apesar do recorte de 2013, fazemos algumas incursões históricas necessárias ao tema... O fim do papado de Pio XII em 1958... O Papa João XXIII e o Concílio Vaticano II (ponto de origem de reação dentro do catolicismo e da formação de uma direita católica no Século XX).

*Uma distinção conceitual importante: “direita” e “extrema-direita”. Como “aplicar” ao catolicismo brasileiro pós-2013...

*A escolha dos grupos e dos “youtubers” católicos:

- Centro Dom Bosco (CDB) do Rio de Janeiro. Organização de caráter privado de católicos assumidamente tradicionalistas. Nasceu em 2016. Tem como lema: “Rezar, estudar e defender a fé”.

- Os “Arautos do Evangelho”. Nasce de uma dissidência da TFP (Tradição, família e propriedade) em se definem como: Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício, a primeira a ser erigida pela Santa Sé no terceiro milênio, por ocasião da festa litúrgica da Cátedra de São Pedro, em 22 de fevereiro em 2001. A sede no Brasil é em São Paulo.

- Os “Sedivacantistas” do mosteiro da Santa Cruz liderados pelo “bispo” dom Tomás de Aquino e sediado no Rio de Janeiro. São discípulos direto do bispo Marcel Lefebvre (primeiro grande dissidente do Concílio Vaticano II e do rito da missa. A primeira extrema direita católica no Século XX tem origem nas ideias de Lefebvre).

- Seminário São José de São Paulo liderado por “dom” Rodrigo da Silva (sagrado bispo nos EUA pelo bispo Dolan – ultrarreacionário nos EUA. Um grupo fervorosamente reacionário e que tem impacto midiático nas redes sociais. Abriga um canal no Youtube chamado: “Controvérsia católica” desde 2018.

- Dois nomes importantes na extrema-direita católica: Orlando Fedeli (Associação Montfort – nascida da TFP em 1983 e que tem visibilidade social pós-2013) e Frederico Viotti (Instituto Plínio Corrêa de Oliveira)

- Youtubers:

*pe. Paulo Ricardo; Bernardo Kuster; Diogo Rafael Moreira e Conde Leppeux. Todos passaram pelos cursos de Olavo de Carvalho pós-2013.

*Algumas observações gerais:

- Todos reivindicam o “tradicionalismo” e herdeiros de Pio XII (último papa verdadeiro para eles).

- Quase todos têm referência em Olavo de Carvalho e a sua maneira de usar as redes sociais.

- A reação radical a João XXIII e ao Concílio Vaticano II.

- O uso do termo genérico de “modernismo” para quase tudo: humanismo, liberdade, iluminismo, feminismos, socialismo, teologias modernas...

- A defesa da missa em “latim” e a rejeição da missa em vernáculo próprio.

- a invenção do termo obscuro e impreciso de “ideologia de gênero” (o termo tem origem no universo católico dos EUA, Espanha, Argentina e chega ao Brasil em 2013).

- O confronto e a deslegitimação do papa Francisco.. Chamado de herege, apostata, anti-cristo...

*Uma referência filosófica para a extrema-direita católica:

"A Igreja existe todavia, e necessariamente, mas ela não está mais em Roma; o Vaticano está tomado por uma força de ocupação estrangeira. Esta força de ocupação é o que se chama de modernismo: desde o século XIX, e mesmo antes, o racionalismo e o cientificismo influenciaram os católicos, já imbuídos de civilizacionismo progressista, como quase todos os ocidentais."

Frithjof Schuon.

Romero Venâncio (UFS – Universidade Federal de Sergipe)


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