domingo, 26 de junho de 2022

O BRASIL COMO RESULTADO DO ATAQUE DA DIREITA E DA EXTREMA DIREITA. AVENTURA MILITAR GOLPISTA A VISTA?

Chico Buarque - Vai Passar

Abro nesta manhã de domingo (26/06/2022) a newsletter do portal 247 e me deparo  com duas matérias jornalisticas preocupadas com a possibilidade de um aprofundamento do golpe no Brasil e de forma ainda mais violenta, mesmo que particularmente concorde com outros  analistas que consideram uma hipótese pouco provável, todavia por ser pouco, não é de todo impossível.

Aí uma pergunta vem sempre porque não se cala dentro de mim....

O que é que pode fazer o homem comum neste presente instante ? 


Quanto a esquerda, PT, Lula e q tais, espero,  tenham aprendido a lição. Embora pela forma como muitos companheiros e camaradas atuam na pequena e na grande  politica, em especial nos parlamentos e nos executivos, parece haver um longo caminho a ser percorrido.

Acerca disso, publicou um agente cultural no chat de uma live organizada pelo setorial de cultura do Partido dos Trabalhadores.

"Alguém sabe explicar porque nesses eventos de políticas culturais, tem sido incluídos figuras que foram autoritárias no MINC, ou que em conselhos de cultura não fazem nada?"

Afinal,  importa reconhecer o papel e a importância da democracia participativa no campo da macro politica como nessa postagem que publiquei no facebook a poucos dias atrás.

DEMOCRACIA PARTICIPATIVA RADICAL
Se os governos pós Constituição de 1988 tivessem investido mais nas propostas de plebiscito e referendos, o desmonte do estado brasileiro poderia não ser tão fácil como está sendo..
Um governo de centro esquerda ou de "esquerda" não pode ficar refém apenas do "republicanismo"  das instituições, como o parlamento,  o judiciário e a imprensa. 
E não é bolivianarismo ou comunismo, coisa nenhuma..
Plebiscitos e referendos são comuns em países liberais como EUA e Suiça. Podem trazer complemento para melhorar o argumento nos comentários....


Há que se reconhecer o mesmo no campo da politica das cidades, na politica do cotidiano. Como na postagem abaixo que publiquei no portal Overmundo no ano de 2006. 

OUTRO BRASIL? SOMENTE COM PARTICIPAÇÃO E ARTE.

Certa feita, conversando com um amigo educador/artista, que reside na cidade de Olinda, em Pernambuco, sobre o modo de a esquerda governar, ele externou para mim algumas preocupações referentes ao modelo de gestão de muitas administrações progressistas que ele conheceu e que se moldam facilmente à cultura política das oligarquias locais e realizam, mesmo que de forma mais eficiente, uma gestão cuja prioridade são apenas as grandes obras, os programas assistenciais e os shows com grandes artistas ligados à cultura de massa, o que acaba lembrando uma canção do Cazuza: “Um museu de grandes novidades” ou parafraseando Belchior: “Minha dor é perceber que apesar de tudo que fizemos, ainda somos os mesmos, “pensamos” e administramos a coisa pública como os velhos coronéis.”

E o meu amigo fez o questionamento porque, ocorrendo o término do mandato (sem reeleição), uma outra administração ligada a partidos conservadores, com inteligência e perspicácia pode fazer a mesma coisa: realizar grandes obras, investir em programas sociais e prosseguir na organização dos mega shows e, conseqüentemente, passar para a população a idéia de que não haverá necessidade de se votar na esquerda novamente.

Se na época não consegui imaginar isso como uma possibilidade real, decorridos alguns anos dessa conversa, reconheço que essa opinião é pertinente e esse texto foi escrito para ajudar na reflexão sobre o assunto, na linha de que tudo que é sólido se desmancha no ar e de que o que é novidade facilmente torna-se comum, e por isso todo indivíduo ou organização que deseja ser sempre considerada e reconhecida deve continuadamente buscar se aprimorar naquilo para que foi criada e facilitar as coisas para que novas descobertas e novas invenções possam ter lugar.

E isso só acontece num ambiente de autonomia e que favoreça condições e oportunidades para a construção e reconstrução subjetiva dos indivíduos .

Nesse sentido, considero duas questões primordiais. Em primeiro lugar, atenção especial para a mudança de valores e práticas de relacionamento político pautado nos antigos procedimentos da elite dominante, como o clientelismo, o paternalismo, o autoritarismo etc...

Em segundo lugar, atenção especial àquilo que aponta para a criação de sujeitos mais solidários, mais livres, mais ousados, àquilo que cria e dá sentido à realização plena das pessoas (refiro- me aqui à produção artístico/ cultural).

No primeiro caso se faz necessário (re)construir, fortalecer ou criar estruturas formais e informais de participação “real” da população nas decisões sobre os rumos do governo, como os conselhos, as conferências, as câmaras setoriais, os fóruns e as redes, além do incentivo e apoio à organização da sociedade civil através das ongs, e cooperativas. Assim, se viabilizaria um ambiente favorável à gestação de novas idéias e recursos para resolver ou atenuar velhos problemas, o que também pode garantir a criação de um antídoto para evitar o retrocesso de condução antidemocrática das decisões, a partir da eleição de partidos ligados às velhas elites dirigentes, após suceder-se um governo de esquerda.

No segundo caso, democratizar o acesso aos meios de produção artística e dos meios de produção e difusão da informação, com orçamento decente e gestores comprometidos, preparados e que saibam ouvir os interessados no assunto, o que resultará em diretrizes e ações que garantirão à maioria da população a possibilidade de se expressar de maneira que não fiquem apenas se comportando como meros consumidores de um bocado de lixo que é comercializado como produto cultural e cujos conteúdos -- carregados de intolerância (inclusive religiosa), vulgarização do sexo, preconceitos vários, individualismo exacerbado, banalização da violência, etc., -- vão na direção contrária de tudo aquilo que defendemos, formando o “caldo” da cultura que conduz ao retorno e sustentação da nova/ velha direita.

E isso é tudo que muita gente que ousa lutar e acreditar em outro país menos deseja, mas que será inevitável, caso opiniões como a nossa não sejam levadas em consideração a tempo.

P.S.: Segundo o pensador italiano Norberto Bobbio a esquerda orienta-se por um sentimento igualitário e a direita aceita a desigualdade como natural. Embora no Brasil seja praticamente impossível perceber a diferença através dos discursos e propaganda em época de campanha eleitoral.

Quanto as questões que apresento no texto acima percebo que o modelo de gestão do Ministério da Cultura aponta para o que escrevi acima. Apesar da necessidade de aumento do orçamento e da capacitação técnica e redução da burocracia para o acesso dos pequenos empreendedores culturais do interior e das periferias aos editais. Em Recife, em visitas a comunidades periféricas e em conversas com artistas e arte-educadores populares e também com o Secretário de Cultura, João Roberto Peixe, que nos concedeu audiência de quase duas horas no ano de 2004, pude perceber que muito daquilo que queremos/sonhamos já é realidade. Na oportunidade, o secretário me entregou cópias do relatório de gestão 2000/2004 e da I Conferência Municipal de Cultura do Recife, da qual tive a honra de participar.

José de Oliveira Santos - “Zezito” Professor de história e ativista cultural

No e-book coletivo "Paulo Freire em tempos de fakenews" escrevi: 

"E assim, a AMABA/Projeto Reculturarte foi caminhando, entre erros, acertos, contradições, encontros, desencontros. Até que chegou ao fim no ano de 2004.  Mas, em 2018, a experiência retorna como memória de um tempo bom, por meio de entrevistas e coleta de documentos, fotos, recortes de jornais, pesquisas acadêmicas, base para a produção de um livro cujo objetivo principal é demonstrar   a necessidade e o potencial de iniciativas culturais de base comunitária.
Ao mesmo tempo em que começava as primeiras entrevistas, nos deparamos com a disputa eleitoral de 2018, dentro de um ambiente marcado pela apatia, pela desinformação e preconceitos gerados e disseminados pelas empresas de produção de  fake news e, decorrente disso, a  virulência verbal e odienta nas redes sociais e em muitos encontros  nas casas, nas ruas.
Por outro lado, uma sensação de impotência e angústia de quem foi um dos idealizadores da AMABA e do Projeto Reculturarte, mas que nesse momento não dispunha dos meios e  pre-textos, as linguagens artísticas, a comunicação popular, o esporte etc. para reunir pessoas de diversas idades para discutir e aprender coletivamente, visando à superação dos muitos equívocos e da desinformação espalhados como recursos para a vitória de algumas ideias e candidaturas a cargos eletivos.
Com certeza, caso a iniciativa tivesse continuidade, um expressivo contingente de pessoas residentes em um bairro periférico de Aracaju estaria vacinado contra a apatia e contra as fake news que tomaram conta das últimas eleições e do processo cotidiano de convivência e vínculos, com possibilidade de participar de forma positiva como protagonista dos acontecimentos sociais e políticos, sejam aqueles mais próximos relacionados ao bairro, rua, escola, posto de saúde etc., como aqueles mais distantes, os momentos de decidir pelo voto os rumos e a gestão da cidade, do estado, do país."  

Para compreender o contexto da afirmação acima dentro de um tempo mais longo, recomendo a leitura do artigo na integra: 

Se conseguirmos ultrapassar esse período tenebroso da nosso história, sem mais sobressaltos, poderemos construr  mais antidotos ou vacina contra aventuras autoritárias, desde que realmente tenhamos aprendido a lição.


O Globo
Marcos Nobre: ‘Essa ameaça autoritária vai seguir mesmo se Bolsonaro perder’

Jair Bolsonaro
Jan Niklas
sáb., 25 de junho de 2022 8:25 PM

O filósofo e cientista político Marcos Nobre, autor do livro recém-lançado “Limites da democracia”, vê o presidente Jair Bolsonaro em seu pior momento eleitoral, mas acredita que uma eventual derrota em outubro não vai representar o afastamento do que ele classifica de “ameaça autoritária”. Para o escritor, o chefe do Executivo agora vai mobilizar a base digital para conter os danos relacionados às suspeitas de corrupção que pairam sobre o ex-ministro Milton Ribeiro (Educação).

Qual a diferença do modelo celebrizado pelo MDB para dar apoio aos governos de PSDB e PT para a união entre Bolsonaro e o Centrão?

No modelo que funcionou de 1994 até 2013, o peemedebismo agiu como um mecanismo para travar transformações profundas. Nesse sentido, ele representa um conservadorismo democrático. O Centrão na versão Bolsonaro é a forma limite do peemedebismo, porque pode levar à abolição da democracia. Representa um conservadorismo autoritário. É o “Centrão carcará”: pega, mata e come. E topa colaborar com um presidente que tem um projeto autoritário. Eles têm muito mais poder do que qualquer outro Centrão já teve: dispõem de 20% do orçamento discricionário.

Mesmo com a aliança, Bolsonaro usa a imagem de antissistema...

Bolsonaro não se responsabiliza pelo seu próprio governo. Ele diz que quem governa é o sistema. E entrega para quem quiser governar — desde 2020, é o Legislativo. Se ele sofre uma derrota, é porque o sistema continua mandando. Ou seja, não adianta ganhar a eleição, porque o sistema é mais forte. E qual é o implícito disso? Para que eu possa realmente lutar contra o sistema, vocês precisam me dar mais poder no meu tempo. E assim fecha o regime.

Há chance de golpe? Qual seria o papel das Forças Armadas?

Um golpe clássico me parece a possibilidade menos provável. Nós não sabemos o que as Forças Armadas pensam. Mas uma coisa dá para saber, elas não vão apoiar uma ruptura institucional se 70% do eleitorado estiver contra. Agora, podemos pegar o exemplo da Bolívia. Quando o caos se instalou (em 2019, após eleições marcadas por denúncias de fraude e renúncia de Evo Morales), as Forças Armadas simplesmente apoiaram a saída que apareceu, no caso, a posse da autoproclamada presidente (Jeanine Áñez). No Brasil, você pode produzir um caos social, ter uma paralisação de caminhoneiros, desabastecimentos, quebra-quebra, fazendo com que uma intervenção para “restabelecer a ordem” seja necessária.

Bolsonaro segue distante de Lula nas pesquisas. O que esperar da mobilização do presidente para reverter este quadro?

Do ponto de vista eleitoral, o Bolsonaro está no seu pior momento. Mas o jogo do Bolsonaro é o golpe, não é a eleição. Ele tem 30% da intenção de voto, uma taxa de aprovação que se mantém num patamar constante desde o início do governo dele. O que está em jogo não é só eleição. A derrota de Bolsonaro na eleição não significa o afastamento da ameaça autoritária. Enquanto Bolsonaro está montando o octógono para o MMA, o outro lado está jogando amarelinha.

O que podemos esperar da reação do Bolsonaro sobre as suspeitas no Ministério da Educação? O discurso anticorrupção foi uma das tônicas da campanha de 2018.

Nenhuma acusação de corrupção colou em Bolsonaro para sua base de apoio até hoje. Se colar, ele está perdido e arrisca até perder a vaga no segundo turno. Agora, é evidente que toda a contracampanha no partido digital bolsonarista já começou muito antes de o Milton Ribeiro ser preso. Da mesma maneira como ele conseguiu convencer essa base de que era necessário fazer acordo com o Centrão, ele vai tentar convencer de que a acusação de corrupção não tem nada a ver com ele.

Frei Betto fala sobre Bolsonaro defender Jesus armado





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