06 de março de 2019, 18h07 - Revista Fórum
Vitória da Mangueira sacramenta derrota de Bolsonaro no Carnaval
Enquanto nas ruas os protestos contra
Bolsonaro dominaram os blocos, na Sapucaí a Estação Primeira de
Mangueira lavou a alma dos brasileiros ao desconstruir os heróis e as
ideias defendidas pelo presidente e contar a verdadeira história do país
A Estação Primeira de Mangueira
conquistou, nesta quarta-feira (6), seu 20º título do Grupo Especial do
Carnaval do Rio de Janeiro.
A
vitória da escola de samba sacramentou a derrota do presidente Jair
Bolsonaro neste Carnaval. Enquanto nas ruas os protestos contra o presidente
dominaram os blocos, transformando a festividade em um verdadeiro ato nacional
de resistência ao governo autoritário, a Mangueira, na Sapucaí, lavou a alma
dos brasileiros ao desconstruir os heróis e as ideias defendidas pelo
presidente e contar a verdadeira história do país.
A agremiação, com o enredo “História pra ninar
gente grande”, fez um desfile histórico em que homenageou heróis esquecidos
como lideranças negras, indígenas e mulheres – segmentos que Bolsonaro
historicamente procura marginalizar.
Entre os “heróis esquecidos” homenageados pela
escola, estão, por exemplo, o lendário Sepé Tiaraju, guerreiro indígena que
lutou contra a dominação portuguesa e espanhola no Brasil, e mulheres negras do
Quilombo dos Palmares, como Acotirene e Dandara.
A homenagem a Marielle Franco, citada no
enredo, foi um dos destaques do desfile. O rosto da vereadora e ativista dos
direitos humanos foi estampado em bandeiras e faixas na última ala, que contou
com a presença, na avenida, do deputado federal Marcelo Freixo e do vereador
Tarcísio Motta, ambos do PSOL, partido de Marielle, além da viúva da vereadora,
a arquiteta Mônica Benício.
Outro destaque do desfile da
verde e rosa foi o carro que representou os assassinatos e perseguições da
ditadura militar, em uma verdadeira provocação ao capitão da reserva que, além
de um entusiasta do período, tem entre seus ídolos militares torturadores.
Representando a memória dos
mortos e desaparecidos da ditadura, estava a jornalista Hildegard Angel, filha de Zuzu Angel e irmã de Stuart Angel,
ambos assassinados pelo aparelho repressor dos anos de chumbo. Ela estava em
cima de um livro gigante e a frente de um em que se lia “ditadura assassina”.
Em tempos de “Brasil acima de
tudo, Deus acima de todos”, a Mangueira ainda ousou ao apresentar uma bandeira
do Brasil com as cores da escola onde, no lugar de “Ordem e Progresso”, se lia
“Índios, Negros e Pobres”.
“Na luta é que a gente se
encontra”, dizia o enredo da escola de samba. De fato, o Brasil se encontrou na
luta deste carnaval.
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publicado
06/03/2019 18h44,
última modificação
06/03/2019 19h41
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por Paulo Donizetti de Souza, da RBA
publicado
04/03/2019 19h33,
última modificação
05/03/2019 11h32
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O SAMBA DA MANGUEIRA (2019) E “O PERIGO DA HISTÓRIA ÚNICA” DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE |
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