quinta-feira, 14 de março de 2019

Olhando a chacina de Suzano sem os chavões e clichês recorrentes. Mesmo que alguns façam sentido.

      foto Werther Santana
    Jornalista André Ortega
    A tragédia que aconteceu em uma escola num bairro de Suzano (essa de video de youtube falando "Escola Suzano" já é sintoma da banalização) merece o título de tragédia por sua profundidade, que vai além da superficialidade dos debates políticos que estão canibalizando o acontecimento.
    Vejo vários comentários que tentam emprestar a legitimidade de áreas como a sociologia e a psicologia, mas no fim mais se afastam do que se aproximam do problema.
    A esquerda tem esse vício do discurso com pretensão científica, o que ao invés de desvelar as interações que formam o fenômeno as encobre com alguma simplificação.
    É como o clichê de falar que tudo é "construção social", colocando alguma determinação unilateral por cima da da interações que formam o sujeito (nem consideram "sujeito"). No fim é forma insidiosa de reabilitar a falácia naturalista, "construção social" vira uma espécie de chave metafísica que explica tudo ("clavis aurea").
    Na sua especificidade, esse problema é um problema que diz respeito a área de estudos em comunicação.
    Isso é um fenômeno comunicacional internacional, que tem suas origens em fóruns nos Estados Unidos.
    Existem fóruns, grupos, ambientes comunicacionais em que esses jovens interagem, produzem e reproduzem signos com SOLIDEZ E CONSTÂNCIA, criando símbolos e cultura própria. Especificamente, eles criam uma pseudo ciência e uma narrativa que explica a situação de sofrimento dos membros, oferece identidades e noções éticas (extremamente distorcidas, mas prescritivas).
    É claro que existe um problema social, psicológico. Esses lugares virtuais não flutuam no nada e são formados por pessoas reais. A "civilização capitalista" dissolve laços de socialização, dissolve comunidades e cria indivíduos cada vez mais atomizados, ao mesmo tempo que os violenta e cria poucos parâmetros de referência além do consumismo - todos os valores fora do consumo (que é uma categoria extra-econômica, é antropológica) estão em crise.
    A sociedade não oferece valores tão sólidos. O individualismo é mais forte do que a socialização. De certa forma, não se oferece oportunidade para as pessoas fazerem algo pela sociedade, pelo coletivo. Não existem grandes referências, grandes acontecimentos.
    (jovens em situações de vulnerabilidade e pobreza mas que estão em comunidades são menos suscetíveis a esse tipo de coisa, mesmo que ali exista uma outras criminogenia - mesmo a máfia é uma forma de acolhimento)
    Tratar como um simples problema de "transmissão de ideologias", "ah o bolsonarismo, a extrema direita" é perder de vista uma realidade muito contemporânea. Estão presos no século XX, é uma resposta funcionalista, igual a conversa de culpar viodegame, como se as pessoas funcionassem assim como receptores passivos e determinados.
    Não tem medida administrativa, panaceia humanista ou aumento de gasto que vá fazer mágica.
    Não se resolve com materialismo de farmácia.
    (nisso eu incluo clichê noventista sobre "bullying")

    ---------------------------

    A PROPÓSITO DO QUE ACONTECEU NA ESCOLA EM SUZANO NO DIA DE ONTEM (13/03/2019). O QUE ALGUMAS PRÁTICAS DEMONSTRAM SOBRE O QUE PODE CONCORRER PARA TRANSFORMAR DE FORMA SADIA E SAUDÁVEL O AMBIENTE E O CLIMA ESCOLAR. FAZENDO REPERCUTIR ATÉ NO CLIMA E AMBIENTE DAS FAMILIAS E DAS COMUNIDADES.
    Gestão democrática de " verdade", imprescindível para avançar nessa proposta de comunidade terapêutica. E aqui, antes que digam que professor não é psicólogo, não me refiro aqui ao termo terapêutico "stricto sensu". Me refiro a combinação da gestão democrática “de verdade”, da interdisciplinaridade, do esporte, dos saraus, cineclubes, das oficinas culturais, das aulas-passeio, das caminhadas em grupo, dos retiros/acampamentos , dos grupos de debates, não apenas de temas pedagógicos e políticos, mas também de questões ligados ao campo das emoções, dos sentimentos, das identidades, das fragilidades, dos temas tabus e etc.. e etc. Junto e misturado. Bem na linha do que meninos e meninas apontaram no movimento de ocupação de escolas e que Frei Betto propõe no texto ao final desse post.
    PROSSEGUINDO A DISCUSSÃO GERADA PELOS DOIS PEQUENOS TEXTOS REPUBLICADOS NO DIA DE ONTEM NO FACEBOOK. (leia no final desse post)
    Abaixo: Uma experiência bem sucedida na rede pública do Estado de São Paulo , mas destruída pelos militares.

    Com projeto de formação crítica, Ginásios Vocacionais foram extintos pela ditadura

    Aqui: O que tem sido feito de melhor hoje, na perspectiva defendida nos termos de comunidades terapêuticas de base.
     

     Sementes da Educação

    Série documental sobre iniciativas transformadoras na educação pública do Brasil.
     

    “ No decorrer da caminhada matinal do dia 15/01/2019, a lembrança de um país cheio de gente pirada, de gente maluca, inclusive ocupando a presidência e alguns ministérios.
    Daí me ocorre a idéia de comunidades terapêuticas de base, como podemos definir o que foi a AMABA/Projeto Reculturarte.
    Nas entrevistas com os que participaram dessa iniciativa sociocultural nos anos de 1990 no bairro américa, periferia de Aracaju, salta aos olhos o quanto as ações culturais, esportivas e de reforço escolar, colaboraram com a auto estima, o sentido de pertencimento e coesão, o centramento, a construção de sentido e projeto de vida, a consciência cidadã, a alegria, o bem viver.
    Portanto, precisamos ir além da discussão sobre o investimento em comunidades terapêuticas para tratar de dependentes químicos, assim como da discussão sobre a redução da maioridade penal, o que fará entupir os presídios e empurrar mais jovens para os braços do crime organizado.
    O mais necessário é evitarmos a necessidade disso, de gente pirada, de gente maluca, elegendo gente igual. E para tal, precisamos de mais comunidades terapêuticas de base. O que pode também prevenir a quantidade de adolescente paajovens enredados no crime e na violência. 
    Professor Zezito de Oliveira 
     --------------------------------
    "Dois jovens entram numa escola, saem atirando e se matam.
    Precisamos cuidar da saúde mental dos nossos jovens, precisamos dar mais atenção as emoções.
    "-Mas se tivessem penas mais duras? "
    Eles se mataram! Não faria diferença!
    " Mas isso é culpa dos jogos q assistem"
    Se eles se inspiraram num jogo, quer dizer q não sabem diferenciar realidade de fantasia. Falta saúde mental.
    Vamos cuidar do emocional uns dos outros. Que as escolas não sejam depósitos de gente e sim onde se cresce como ser humano. Cada jovem morto e cada funcionário foi uma vida que se foi, foram sonhos e famílias enterradas...
    Mais amor por favor... Tá bom2019.
    "

    Professora Carol Loureiro

    A escola dos meus sonhos Frei Betto

    leia também:

    Dogolochan: até quando ‘mascus’ vão destilar ódio, ameaças e marcar hora para matar?


    Massacre de Suzano foi celebrado em fórum acessado na deep web, mas não foi a primeira vez que um crime foi anunciado no grupo.

      O atirador de Suzano. Reportagem da Folha entrevistou familiares de Guilherme Taucci Monteiro, um dos atiradores do massacre ocorrido em escola na cidade de Suzano, no interior de São Paulo, e traz detalhes sobre a vida do jovem: bullying, obsessão por jogos e abandono dos pais.  Fonte dessa nota. Agência Pública

Nenhum comentário: