sábado, 16 de março de 2019

Sobre a tragédia de Suzano. O olhar de quem está dentro ou bem próximo a realidade das escolas públicas..

A COBERTURA DA RÁDIO BRASIL ATUAL
Tragédia

Massacre em Suzano abre discussão sobre como o país tem tratado as escolas e alunos

Advogado afirma que redução nos investimentos, culto às armas, ascensão da extrema-direita só impedem projeto pedagógico e de seguranças nas escolas
por Redação RBA publicado 14/03/2019 10h22, última modificação 14/03/2019 13h37
Rovena Rosa/Agência Brasil
Massacre escola Suzano
"Eu entendo que mais violência só vai gerar sempre mais violência", avalia o advogado e especialista Ariel de Castro Alves
São Paulo – O atentado em uma escola de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, que deixou 10 pessoas mortas e nove feridas, nesta terça-feira (13), levanta a importância de uma reflexão sobre como a sociedade brasileira tem tratado crianças e adolescentes e a própria educação pública. A avaliação é do como avalia o advogado especialista em Direito da Infância e da Juventude Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Ao contrário das declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) em relação a "arma fazer tão mal quanto um carro" e do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que usou a tragédia para criticar a maioridade penal e o desarmamento, ou ainda, da ascensão de doutrinas da extrema-direita que pregam o culto às armas, violência e intolerância, o advogado chama a atenção para a falta de estrutura das instituições de ensino. 
De acordo com Alves, o momento posterior ao massacre precisa vir acompanhado de um projeto que dê conta da seguranças nas escolas, mas também do processo pedagógico tanto para o entendimento do bullying como  da evasão escolar e da necessidade de mais investimentos na educação, por exemplo, para contratação de professores mediadores de conflitos. "Eu entendo que mais violência só vai gerar sempre mais violência. É necessário um trabalho mais preventivo das escolas, com relação à própria estrutura, do que essas questões que eles (Eduardo e Flávio) colocam", afirma à jornalista Marilu Cabañas.

Ouça a entrevista na íntegra



É preciso transformar assuntos que afligem jovens em tema de aula

USP recebe professores da rede para abordar questões que afligem os estudantes, como ética, bullying e drogas. OUÇA AQUI

Deep Web

Submundo da internet estimula crimes como o da escola em Suzano

Poder público deve estar tecnologicamente à altura das novas ameaças virtuais. Protegidos pelo anonimato, integrantes de fóruns disseminam todo tipo de discurso de ódio
por Redação RBA publicado 14/03/2019 11h50, última modificação 14/03/2019 13h58
CC
deep web
Massacre em Suzano foi comemorado em fóruns que reúnem internautas que se dizem frustrados e revoltados com o 'sistema'
São Paulo – Em fóruns virtuais da chamada deep web, os executores do massacre da escola de Suzano foram saudados como "heróis", como mostra reportagem da Ponte Jornalismo. Estes fóruns formam um submundo virtual inacessível a navegadores comuns e reúnem pessoas que, anonimamente, passam a propagar discursos de ódio, racismo, misoginia (ódio contra as mulheres) e homofobia, incitando crimes como o ocorrido na última quarta (13).
Para a integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social – Flávia Lefévre, que também participa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), é preciso que o poder público – polícias e Ministério Público – se desenvolva tecnologicamente para combater esse tipo de crime no mundo virtual. Episódios como o da escola de Suzano são celebrados por esses grupos como forma de "despertar" a sociedade contra um "sistema opressor" e seus "ideais socioculturais", que impedem os seus integrantes de fazer e ser "o que quiserem".
"Não faltam leis no Brasil. O que falta, especialmente neste momento, é um compromisso dos organismos públicos de atuar na garantia desses direitos. Se a gente tem conhecimento de que existe um grupo dentro da deep web comemorando, estimulando e incitando ódio – o que é crime –, assim como essas pessoas acessam, a polícia também deve acessar e atuar para coibir", afirma Flávia, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas na Rádio Brasil Atual nesta quinta-feira (14).
Ela diz que, especialmente no Brasil, vive-se um clima de extrema polarização que faz com que grupos políticos desvalorizem conquistas civilizatórias realizadas nas últimas décadas, desde a Constituição de 1988.
"É muito grave quando representantes dos poderes públicos adotam posturas estimulando o armamento, a violência e o desrespeito a esses direitos fundamentais. Compromete o desenvolvimento e aplicação de políticas públicas, bem como a aplicação de recursos para garantir que a polícia apure a violação a esses direitos. Estamos vivendo um momento muito perigoso institucionalmente, e isso pode ser reverter no caos, como ocorreu ontem na escola em Suzano." 
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Ouça a íntegra da entrevista



Tragédia em Suzano

Saúde mental dos alunos deve ser observada no ambiente escolar

Debate na Rádio Brasil Atual suscitou a importância do tema. “Como formamos um cidadão, que é o papel da escola, sem cuidar da mente?”, questiona Maria Julia, diretora da UJS


por Redação RBA publicado 15/03/2019 13h57, última modificação 15/03/2019 14h41
Rádio Brasil Atual/Divulgação
Debate discute as razões do atentado em Suzano
Maria Júlia Oliveira, Maria Eduarda Antonowitz (centro) e Rogê Carnaval discutiram as possíveis razões do atentado em Suzano
São Paulo – O programa Jornal Brasil Atual desta sexta-feira (15) promoveu um debate para tentar compreender as razões que levaram dois jovens a entrarem numa escola com o intuito de matar alunos e funcionários, como aconteceu esta semana na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, região metropolitana de São Paulo.
Participaram da conversa Rogê Carnaval, historiador e educador do projeto “Respeitar é Preciso”, Maria Julia Oliveira Rodrigues do Nascimento, diretora da União da Juventude Socialista (UJS), e Maria Eduarda Antonowitz, estudante secundarista e também integrante da UJS, com mediação da jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
Para Rogê Carnaval, a uso da força e a violência está no centro da formação histórica do Brasil, desde a escravidão, com requintes de crueldade e a prática de castigos públicos para servirem de “exemplo”.
“Isso se perpetua na nossa formação enquanto nação. Nos anos 70 e 80, a violência vai se transformando em algo ainda mais endêmico, um momento em que a ditadura militar e a violência vai se institucionalizando nos porões, mas também com a polícia nas ruas, com grupos de extermínio que se formam nas grandes cidades”, analisa.
Para ele, esse processo chega aos dias atuais, com o crescimento do tráfico de drogas alinhado com o tráfico de armas, e uma população cada vez mais armada e com medo. “É um discurso absolutamente falacioso, mentiroso, hipócrita, dizer que, ao armar a população, estamos promovendo aquilo que o Estado não consegue prover, que é a sensação de segurança. E de fato, é um discurso legítimo, todo mundo quer se sentir seguro, o problema é que não é armando a população que a gente vai conseguir isso.”
Maria Julia pondera a importância de se avaliar a saúde mental dos jovens que cometeram o atentado em Suzano. “São jovens que entram numa escola para matar outros jovens. Por que? Problemas de saúde mental têm sido cada vez mais recorrentes. É urgente se preocupar com a saúde mental principalmente dos jovens, que já é uma fase muito complicada.”
Ao concordar com a colega, Maria Eduarda diz desconhecer a existência de algum trabalho nas escolas de escuta dos estudantes. E concordo que é preciso dar amparo. “É uma idade muito vulnerável”, afirma, destacando a importância de haver assistente social e psicólogo nas escolas para poder dar esse auxílio.
“Como formamos um cidadão, que é o papel da escola, sem cuidar da mente?”, questiona Maria
Julia.

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