domingo, 16 de fevereiro de 2020

A cena pulsa. Conversas sobre polticas e acão cultural no bairro Bugio em Aracaju


Zezito de Oliveira

Ontem , 15/02, na sede do Grupo Teatral Boca de Cena, foi um dia histórico  em termos do debate sobre politicas e ação cultural  em Aracaju.

Acredito que,  pela primeira estiveram reunidos os melhores representantes do pensamento conservador e tradicional em termos de concepção sobre arte e politica cultural, juntamente com  o seu inverso, os  representantes do pensamento progressista em sua vertente mais insurgente, como materializada na proposta do grupo teatral Boca de Cena que realiza trabalho artístico ancorado em pesquisas e influências estéticas bem contemporâneas , convidado para turnês nacionais, mas   fortemente conectado com o local. 

Não apenas em termos de cultura popular sergipana, mas também conectados com uma comunidade da periferia  formada por trabalhadores de baixa renda. Local onde está localizada a sede do grupo. A propósito, o local até parece sede de uma igreja evangélica.

Quem passou no dia de ontem pelo local, sem estar acostumado, pode ter lembrado de algo parecido, principal mente pelas pessoas sentadas em cadeiras de plásticos assistindo a um grupo de pessoas falando na frente, utilizando caixas de som , com  painéis pintado ao fundo, falas intercaladas com canções, poesias e tambores.

Das falas da professora Alexandra Dumas,  me lembro do quanto podemos encontrar fontes de sentido e estratégias na  visão de mundo e práticas cotidianas das populações tradicionais, em se tratando do enfrentamento aos podres poderes que insistem em nos explorar,  amedrontar, sufocar.

Dessa maneira,  de forma insistente, mediados pela  cultura,   como fazem essas populações,  precisamos buscar  estarmos mais tempo juntos, uns com os outros, assim também como recuperar a lógica da gratuidade,  esquecida nestes  últimos tempos. 

Nessa hora me lembrei da canção Podres Poderes, quando Caetano Veloso afirma

“Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas, negros e mulheres

E adolescentes fazem o carnaval.””

“Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais

Nos salvam, nos salvarão dessas trevas

E nada mais?”


Da fala do professor Romero Venâncio , me recordo da ênfase que ele deu acerca do  pensamento de Celso Furtado, um dos primeiros e principais defensores da concepção de  cultura como base do desenvolvimento de uma nação.
E isso explica muita coisa coisa acerca de quem está no comando atual da nação, que trabalha paradoxalmente contra o desenvolvimento do Brasil e do seu povo. Ou o NADA que se faz no campo das poltiicas e ação  cultural , ou o TUDO que é feito para destruir o pouco das politicas e ação cultural  inspiradas no pensamento de Celso Furtado.
Durante a permanência pela primeira vez naquele local, me veio a lembrança,   uma constatação positiva e um desafio
A lembrança se refere a outro momento histórico de discussão sobre politicas e ação cultural, realizado na sede da TAMPA no Bairro América como preparação aparticipação dos agentes culturais  sergipanos que foram a Bahia em 2018,  participar do Fórum  Social Mundial. Este momento também contou com a contribuição do Professor Romero Venâncio.
A constatação positiva é o fato de estar-se aprendendo e discutindo politicas e ação cultural, em um local na  periferia, região onde precisamos disputar  com o pensamento conservador quase fascista,  o futuro de uma  nação que sofre uma tentativa de marcha a ré inimaginável pouco tempo atrás, e em termos completamente anacrônicos.
Os desafios: Como criar uma rede apoio e proteção para iniciativas culturais como as desenvolvidas pela TAMPA no Bairro América e pelo Boca de Cena no Bugio. Uma rede de apoio que possa contar com um fundo solidário com arrecadação financeira junto a pessoas, empresas e instituições nos moldes do que está fazendo os jornalistas dos canais e sites progressistas na internet.
O segundo desafio é prosseguir realizando debates, estudos e pesquisas sobre politicas e ação cultural.
Penso que a cena cultural em Sergipe estaria bem melhor,  caso a formação na  universidade e nos cursos livres buscassem uma maior  politização, aqui mais conceitual e prática em termos amplos e plural, mesmo para quem se considere anarquista.
Mas sem dúvida, a conjuntura atual também favorece a compreensão dessa necessidade e ainda há tempo, talvez precisemos correr um pouco.
Portanto, mais Augusto Boal, Bertold Brecht, Hermilo Borba Filho, Paschoal Carlos Magno,  Vianinha e o CPC da UNE  e semelhantes. É isso que grita o tempo atual.  Foi invisivelmente com estes que me senti acompanhado na tarde de ontem. Além de todos e todas que foram citados/convidados,    pelos  professores Aglaé, Severo D'acelino, Alexandra Dumas, em especial as mulheres do samba de pareia da  Mussuca, incluindo Celso Furtado, citado por Romero Venâncio conforme foi dito

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