Zezito de Oliveira
Ontem , 15/02, na sede do Grupo Teatral Boca de Cena, foi um
dia histórico em termos do debate sobre
politicas e ação cultural em Aracaju.
Acredito que, pela primeira
estiveram reunidos os melhores representantes do pensamento conservador e tradicional
em termos de concepção sobre arte e politica cultural, juntamente com o seu inverso, os representantes do pensamento progressista em
sua vertente mais insurgente, como materializada na proposta do grupo teatral
Boca de Cena que realiza trabalho artístico ancorado em pesquisas e influências
estéticas bem contemporâneas , convidado para turnês nacionais, mas fortemente conectado com o local.
Não apenas em termos de cultura popular sergipana, mas
também conectados com uma comunidade da periferia formada por trabalhadores de baixa renda. Local
onde está localizada a sede do grupo. A propósito, o local até parece sede de
uma igreja evangélica.
Quem passou no dia de ontem pelo local, sem estar
acostumado, pode ter lembrado de algo parecido, principal mente pelas pessoas
sentadas em cadeiras de plásticos assistindo a um grupo de pessoas falando na
frente, utilizando caixas de som , com
painéis pintado ao fundo, falas intercaladas com canções, poesias e
tambores.
Das falas da professora Alexandra Dumas, me lembro do quanto podemos encontrar fontes
de sentido e estratégias na visão de
mundo e práticas cotidianas das populações tradicionais, em se tratando do enfrentamento
aos podres poderes que insistem em nos explorar, amedrontar, sufocar.
Dessa maneira, de
forma insistente, mediados pela cultura,
como fazem essas populações, precisamos buscar estarmos mais tempo juntos, uns com os outros,
assim também como recuperar a lógica da gratuidade, esquecida nestes últimos tempos.
Nessa hora me lembrei da canção Podres Poderes, quando
Caetano Veloso afirma
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval.””
“Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas
E nada mais?”
Da fala do professor Romero Venâncio , me recordo da ênfase que ele deu
acerca do pensamento de Celso Furtado,
um dos primeiros e principais defensores da concepção de cultura como base do desenvolvimento de uma
nação.
E isso explica muita coisa coisa acerca de quem está no comando atual da
nação, que trabalha paradoxalmente contra o desenvolvimento do Brasil e do seu
povo. Ou o NADA que se faz no campo das poltiicas e ação cultural , ou o TUDO que é feito para destruir
o pouco das politicas e ação cultural inspiradas no pensamento de Celso Furtado.
Durante a permanência pela primeira vez naquele local, me veio a
lembrança, uma constatação
positiva e um desafio
A lembrança se refere a outro momento histórico de discussão sobre politicas
e ação cultural, realizado na sede da TAMPA no Bairro América como preparação aparticipação dos agentes culturais sergipanos que foram a Bahia em 2018, participar do Fórum Social Mundial. Este momento também contou com
a contribuição do Professor Romero Venâncio.
A constatação positiva é o fato de estar-se aprendendo e discutindo
politicas e ação cultural, em um local na periferia, região onde precisamos
disputar com o pensamento conservador
quase fascista, o futuro de uma nação que sofre uma tentativa de marcha a ré inimaginável
pouco tempo atrás, e em termos completamente anacrônicos.
Os desafios: Como criar uma rede apoio e proteção para iniciativas
culturais como as desenvolvidas pela TAMPA no Bairro América e pelo Boca de
Cena no Bugio. Uma rede de apoio que possa contar com um fundo solidário com
arrecadação financeira junto a pessoas, empresas e instituições nos moldes do
que está fazendo os jornalistas dos canais e sites progressistas na internet.
O segundo desafio é prosseguir realizando debates, estudos e pesquisas
sobre politicas e ação cultural.
Penso que a cena cultural em Sergipe estaria bem melhor, caso a formação na universidade e nos cursos livres buscassem uma
maior politização, aqui mais conceitual
e prática em termos amplos e plural, mesmo para quem se considere anarquista.
Mas sem dúvida, a conjuntura atual também favorece a compreensão dessa
necessidade e ainda há tempo, talvez precisemos correr um pouco.
Portanto, mais Augusto Boal, Bertold Brecht, Hermilo Borba Filho, Paschoal Carlos Magno, Vianinha e o CPC da UNE e semelhantes. É isso
que grita o tempo atual. Foi
invisivelmente com estes que me senti acompanhado na tarde de ontem. Além de todos e
todas que foram citados/convidados, pelos
professores Aglaé, Severo D'acelino, Alexandra Dumas, em especial as mulheres do samba de pareia da Mussuca, incluindo Celso Furtado, citado por Romero Venâncio conforme foi dito
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