quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Cinzas do atraso - Carnaval de Olinda, Lacração Performática e Bolsonarismo Medieval.



Empoderamento feminino é um termo desse início de século que não tolero porque quanto mais as feministas rezam essa ladainha, mais mulheres morrem assassinadas por seus maridos, namorados ou amantes. 

É uma coisa triste esse desfile de mortes que enchem os noticiários diariamente na TV. Em 1978, Beto Guedes compôs uma melodia e o poeta Fernando Brant fez a letra e colocou o título: O MEDO DE AMAR É O MEDO DE SER LIVRE. 

“Ser livre” é a luta que as mulheres deveriam enfrentar. E ser livre não é apenas mostrar os peitos num bloco de carnaval como fazem as meninas do VACA PROFANA, de Olinda, que, famosas, já foram até desfilar em São Paulo. Mas o empoderamento tão sonhado pelas feministas fundadoras do bloco está fazendo com que ele regrida a cada ano que passa. Aliás, mulher com os peitos ao vento no carnaval, eu já via desde a década de 70. A coisa era feita individualmente na coragem ou na loucura mesmo e não chamava tanto a atenção como nesse agrupamento feminista da Marim dos Caetés. 

Cansei de ver moças com os seios livres lanchando no saudoso Drive In, do Derby, em cenas naturalmente lindas, até porque os peitos eram muito mais bonitos, não como esses tamanho-pitomba ou do tipo frevo de Michilles (me segura senão eu caio) das moças do bloco Vaca olindense. 

Em 2018, esse bloco fez um percurso alternativo, concorrido e sem chamar muito a atenção. Foi o auge! O decantado empoderamento fez o bloco ganhar a mídia e atrair a ira dos evangélicos bolsonaristas, uma desgraça que também chegou a Pernambuco: a deputada estadual Clarissa Tércio enviou ofício à polícia militar para proibir o desfile 2020 das profanas em nome da moral, dos bons costumes e da tradição familiar e cristã. Pura hipocrisia! 

Infelizmente, a polícia militar no dia 24/02, dia do desfile, chegou na sede do bloco querendo fazer uma varredura, mas algumas advogadas que dele fazem parte exigiram um mandado e a polícia não tinha nada. Também na Praça do Arsenal, a PM queria prender um vocalista de uma banda porque cantava música do grupo Nação Zumbi. Ambas as ordens devem ter sido dadas “de boca” por algum viado enrustido e bolsonarista do meio policial fardado de PE. E eles não são poucos! 

As meninas de Olinda, coitadas, desfilaram espremidas e pressionadas através de um beco estreito próximo das instalações do sistema de saúde que atende as pessoas necessitadas no carnaval de Olinda, ali no lado sul da Praça do Carmo. E dizem que o desfile foi até mais comportado com moças de mamilos cobertos e sem aqueles adornos de cabeça pedindo “vulva livre”. Empoderadas, mas recuadas e confinadas? São rimas que não formam uma poesia! 

Um cartaz que uma moça trazia às costas, no bloco, em 2020, me chamou a atenção: era uma frase da letra de Caetano Veloso para PAULA E BEBETO, com melodia de Milton Nascimento, lançada no seu famoso álbum Minas, de 1975, que dizia “toda maneira de amor vale a pena”. Dizem os pouco entendidos que essa é uma das primeiras músicas da MPB destinada à temática gay. É boato. Paula e Bebeto existem na vida real e são pessoas amigas de Milton. Ele compôs a melodia quando eles romperam o romance. Caetano fez a letra depois, mas a música não surtiu nenhum efeito no destino daqueles amantes: rompidos estavam e desunidos continuaram. 

Acho (e somente acho) que à mulher falta um pouco de razão ao falar sobre empoderamento feminino porque primeiro é preciso ser livre. Tenho certeza que os bolsonaristas em geral não têm juízo e chegaram trazendo intolerância, hipocrisia e 520 anos de atraso. A estes eu desejo que se f..., mas àquelas meninas de Olinda, eu dedico HORA DA RAZÃO, do grande sambista baiano Batatinha, gravado de forma impecável por Caetano Veloso no seu disco de 1977, “Muitos Carnavais”, acrescido de um recado: o medo de amar é o medo de ser livre e sofrer porque não existe amor sem sofrimento, mas em compensação, cada mulher sabe a dor e a delícia de ser o que é. Abraço de cinzas a todos! 

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