sábado, 22 de janeiro de 2022

LEONEL BRIZOLA CENTENÁRIO (1)

Há um século nascia Leonel de Moura Brizola, em Carazinho, Rio Grande do Sul. Brizola é uma figura histórica muito importante no Brasil do século XX. Para mim, tem um significado especial: jovem professor de História, foi o primeiro "grande personagem" que estudara nos livros e conheci pessoalmente. 

Brizola, para a minha geração, juntava essa dimensão contemporânea e histórica. Como gostava de dizer, "viemos de longe". Representou o trabalhismo mais autêntico, de caráter progressista. Tanto que o articulador da ditadura, Golbery do Couto e Silva, operou para que ele, na volta do exílio, não ficasse com a legenda do PTB - até hoje totalmente degenerado.

Brizola nunca esteve imune a contradições e equívocos, mas sempre atuou no campo democrático e popular. Homem de convicções, jamais ficou trocando de partido, como é péssimo costume de uns tempos para cá. Faz falta por suas qualidades: tinha enorme sensibilidade para os deserdados, priorizou de fato a Educação  (nos dois estados que governou, RS e RJ) e não temia a polêmica (inclusive a da prioridade absoluta para as escolas de horário integral). 

Brizola, com seu inegável carisma, aproximou o povo da política, que não queria como "acerto por trás das cortinas". No seu 2º governo no RJ precisou compor com o fisiologismo na Alerj. Como contraponto a essa concessão, alertava para a necessidade de não apenas eleger o Executivo, mas uma base parlamentar significativa. "O governador promete/ mas o sistema diz não/ e a usura dessa gente/ já virou um aleijão", cantou Gil, certamente inspirado nele...

Brizola nunca se orientou pelo ideário marxista (ao contrário de seu amigo Oscar Niemeyer), mas defendeu um impreciso "socialismo moreno", cuja tradução era a implementação de políticas públicas para as maiorias. Darcy Ribeiro, com sua inteligência voraz,  sempre foi seu fiel companheiro, instigador de utopias.

Brizola era demolidor contra seus adversários, sem perder o humor. Gostava de apelidar aqueles com quem competia: "gato angorá", "rainha de Sabá". Eu mesmo, ao disputar com Miro Teixeira (PDT) a prefeitura do Rio, fui qualificado como "pangaré" - bom só de largada (não foi o que as urnas mostraram...).Mais tarde, amistoso, ele me prometeu um "insuperável arroz a carreteiro", que infelizmente nunca ocorreu.

Na quadra medíocre que o Brasil vive, cabe lembrar Brizola: política é posição, projeto de Nação, embate (civilizado), denúncia de privilégios, superação das desigualdades.

Ato pelo Saneamento Básico na Baixada Fluminense (anos 80)


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