quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Nara Leão é o amor em forma de artista...


  Respondi assim em três postagens com derramados elogios a Nara Leão e a equipe que produziu a série de televisão sobre a artista 

O querido Chico Alencar soube captar muito bem o sentido da minha afirmação quando escreveu abaixo , após a minha resposta acima em uma postagem da sua autoria.

"A primeira vez que vi Nara em pessoa foi num show no Tijuca Tênis Clube. Paixão instantânea do adolescente que eu era pela sua voz, seu rostinho, seu repertório, seus joelhos... Mas ela não me deu muita bola (rssss). Comprava e me deliciava com todos os seus LPs. Nara é terna e eterna!"

O texto publicado do Chico Alencar no facebook

UM CANTO LIVRE QUE JÁ FOI NOSSO

“O canto livre de Nara Leão”, série em 5 capítulos que estreou no dia 7 de janeiro, na Globopay, está sendo elogiada por todo mundo que a viu. Basta acompanhar as manifestações entusiasmadas nas redes. O sucesso foi instantâneo.

E com razão. A série merece todos os aplausos. Ela resgata não apenas a trajetória de uma de nossas mais importantes cantoras, mas, por meio de uma pesquisa iconográfica excepcional, mostra um país que nos surpreende, do qual estávamos esquecidos, e que não se parece em quase nada com o que vivemos atualmente.

Não é saudosismo. É constatação. O que se vê na tela são imagens de um Brasil criativo e pujante. Um país com desigualdades sociais, claro, pois com isso desde sempre convivemos – é característica estrutural de nosso país, infelizmente, e lutamos para corrigir esse aspecto terrível.

Nara morreu cedo, em 1989, aos 47 anos, vítima de um tumor no cérebro. Caso estivesse viva, faria 80 anos no próximo dia 19. Foi uma mulher à frente de seu tempo. Referência da Bossa Nova, rompeu publicamente com o movimento e, logo adiante, estrelou, ao lado de João do Vale e Zé Keti, o show “Opinião”, primeiro espetáculo de resistência à ditadura militar. "Eu, menina da Zona Sul, não sabia que tinha tanta pobreza, favela, e muita criação em meio ao sofrimento!".

Em 1966, quase foi presa pelo ditador de ocasião, marechal Castelo Branco, ao defender a extinção do Exército. Carlos Drummond de Andrade, em um poema, foi em seu socorro: “Nara é pássaro, sabia? /E nem adianta prisão/para a voz que, pelos ares, /espalha sua canção. /Meu ilustre marechal/dirigente da nação, /não deixe, nem de brinquedo, /que prendam Nara Leão.”

A série é emocionante. Nos faz renovar o ânimo para enfrentar a desfaçatez atual, a vulgaridade reinante, o negacionismo no poder.

Vejam! 

-------------------------------------
Tom Cardoso
 · 
POR QUE NINGUÉM PODIA COM NARA LEÃO?
1-A despeito do ar de desencanto e da quase displicência, Nara participou ativamente dos mais importantes movimentos musicais surgidos a partir da década de 1960 – e saiu de todos eles sem se despedir.
2-Ela foi a primeira artista de sua geração a ridicularizar a passeata contra a guitarra elétrica, liderada por Elis Regina e Geraldo Vandré e endossada por Gilberto Gil.
3- Filha de um advogado excêntrico, fez tudo que uma pré-adolescente de classe média alta carioca nos anos 1950 jamais sonhou fazer: como ir ao cinema, ao teatro e ter aulas de violão com um professor negro.
4- Ela foi uma das primeiras adolescentes do Rio a fazer análise, por necessidade e curiosidade.
5-Tratada como bibelô pelos machos alfas da bossa nova, deixou o movimento para se juntar à turma politizada do CPC e do Cinema Novo.
6-No disco de estreia, recusou-se a pegar carona no sucesso da bossa nova e gravou um disco com sambas de Cartola, Zé Kéti e Nelson Cavaquinho.
7-  Apesar da decisão de dar um caráter mais político ao disco de estreia, tendo como fio condutor um gênero que estava associado diretamente às massas, ela se recusou a gravar uma letra machista de Cartola. 
8- Lançado sete meses após o Golpe de 1964, “Opinião de Nara” foi o primeiro trabalho de uma estrela da MPB a colocar o dedo no nariz da ditadura. Sem rodeios, sem metáforas. Um disco-manifesto, inserido no contexto político-social e em sintonia com o que se ouvia nas favelas do Rio, marginalizadas e discriminadas pela política higienista do governador Carlos Lacerda.
9- O demolidor segundo disco serviu de inspiração para um dos mais revolucionários espetáculos musicais da história do país: o “Opinião”.
10- Foi ela, em pesquisa musical pelo Brasil, quem abriu as portas do Sudeste para os talentos do Teatro Vila Velha, Caetano, Gil, Gal e Bethânia - essa última, com 17 anos, foi convocada para substituí-la no show “Opinião”.
11- Foi a primeira estrela da MPB a falar abertamente e de forma mais contundente contra a ditadura militar, ao afirmar, em 1966, que o “Exército não servia para nada”.
12- Ao ver nascer a expressão “Esquerda Narista”, ela, que sempre rejeitou ser porta-voz de qualquer coisa, decidiu gravar, só por provocação, uma singela marchinha de um compositor iniciante, que mal abria a boca: Chico Buarque. 
13-Atendendo a um pedido de Nara, Chico compôs  “Com Açúcar, Com Afeto”, a primeira de muitas canções em que a mulher assume a narrativa na primeira pessoa.  Preso aos preceitos machistas da época, Chico recusou-se a interpretá-la, passando a tarefa para a cantora Jane Moraes. Nara, sempre na vanguarda, achou a atitude ridícula. 
14- Primeira artista da MPB a gravar no mesmo disco Ernesto Nazareth e Lamartine Babo, Villa-Lobos e Custódio Mesquita, Nara nasceu tropicalista antes do movimento existir - e ser gestado com a sua ajuda. 
15-Presidente do júri da polêmica e histórica edição do FIC 1972, o festival que revelou Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Walter Franco, pediu demissão por não aceitar a ingerência dos militares. 
16- Cansada de tudo e de todos, decidiu dar um tempo, no auge da carreira: “Uma hora eu sou a musa da bossa nova, outra a cantora de protesto e ainda tem essa coisa ridícula do joelho. Então me recuso a virar um sabonete e vou dar uma parada”.
17- Decidida a estudar Psicologia na PUC, por um bom tempo não foi reconhecida pelos colegas de classe, dez anos mais novos. 
18-De volta aos estúdios, decidiu gravar um disco inteiramente dedicado ao cancioneiro de Roberto e Erasmo, ainda vistos como artistas menores por alguns medalhões da MPB.
19-No fim da década de 1970, rodou o país numa perua kombi, fazendo shows nos rincões do Brasil, ao lado de uma nova e renovadora turma do choro carioca, entre eles o violonista Raphael Rabello, de 15 anos.
20-Diagnosticada com um tumor no cérebro, que lhe impôs uma série de complicações, nunca deixou de produzir compulsivamente, gravando praticamente um disco autoral por ano.
Quem quiser saber mais, é só comprar o livro. Tô por aqui.


Zezito de Oliveira

5 de outubro 2021  · 
A situação de convalescente da Covid, nos coloca a oportunidade de ouvir CDs antigos que há muito tempo estavam guardados, alguns desses como os de Clara Nunes. E o curioso é nos surpreender novamente  com o talento extraordinário da artista, assim como o cuidado e esmero do produtor , aqui lembrando o grande Adelzon Alves entre outros, assim também como os músicos. Escolha excelente de repertório e arranjos. Além da Clara Nunes, tenho ouvido muitos discos da  Nara Leão, Elis Regina, Milton Nascimento, Belchior, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Ben, Tim Maia, Legiao Urbana e etc..
E aqui,  trago uma hipótese para explicar a  brutal decadência que nos assombra nestes dias que correm. A decadência cultural precede e alimenta a decadência dos valores éticos e da politica institucional. E isso começa em meados dos anos de 1990, quando a chamada  MPB passa a perder espaço nas emissoras de rádio e televisão. E não é coincidência que a partir dos anos 1980, se aprofunda a politica clientelista de distribuição de  concessões de rádio  e TV, para uma classe de políticos representantes das oligarquias regionais e sem nenhum compromisso com a melhoria da educação e cultura de nossa gente, muito pelo contrário, politicos cuja única preocupação é lucrar a qualquer custo. Seja financeiramente, seja eleitoralmente.
Zezito de Oliveira

25 de dezembro de 2020
ENCHARCANDO AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE ARTE E CULTURA BRASILEIRA E UNIVERSAL.
Encantado com a beleza da música francesa, descoberta por meio de Georges Moustakis e Françoise Hardy via youtuber. O primeiro, gravado por Nara Leão e Rita Lee, no longínquo fins dos anos de 1960 e inicio dos anos 1970, já conhecia-o por meio das versões, com destaque para “José”, quanto a segunda, inédita para mim.
Duas questões que vieram a tona em razão disso, o quanto a colonização das mentes nos privou do conhecimento da rica diversidade cultural, que não fosse a norte americana e com restrições , porque o que conhecemos da música americana, também não é tão amplo assim, legado dos monopólios da rádio e teledifusão. Além do que fizerem e ainda fazem com a nossa própria cultura.
E hoje, 25/12/2020, por participar no facebook de um grupo de fãs de Françoise Hardy, a vontade que me deu em aprender a lingua francesa, e aí, um perguntinha bem básica para fechar essa notinha.
E se antes dos currículos escolares tratarem do ensino de línguas e as demais áreas do conhecimento, tradicionalmente conhecidas como matérias ou disciplinas, enchessem a cabeça e as demais áreas dos corpos dos meninos e meninas, de cultura brasileira e universal?
Aprender e ensinar não passaria a ser algo com mais sentido, significado e prazer?
Será que a vontade em aprender dos meninos e meninas não seriam "turbinadas" com isso?
Aprender e ensinar não nos fariam mais sensíveis, tolerantes, criativos, democráticos e mais justos?
Zezito de Oliveira
Georges Moustaki - Le Métèque

Nara Leão : O Estrangeiro (Le Métèque)



Françoise Hardy - Fleur de lune

https://pt.wikipedia.org/wiki/Georges_Moustaki

https://www.sertao24horas.com.br/.../com-cancer-cantora.../
Zezito de Oliveira




NARA É QUE ERA MULHER DE VERDADE
Por Joaquim Ferreira dos Santos
O Globo - 10/01/2022
O general não sabia com quem estava falando e achou que Nara Leão era mais uma Amélia dessas da música popular, que se calava quando via um macho contrariado. Foi aí que o milico de 1964 ameaçou a cantora de prisão se continuasse com aquela história de protesto, de carcará e de não mudar de opinião. Nara era a pobre menina rica do musical. Morava de frente para o mar de Copacabana, o que não a impedia de denunciar a miséria do povo e a opressão dos poderosos.
O corte de cabelo Chanel fazia uma vírgula graciosa numa das maçãs do rosto de Nara, mas na hora de responder ao general ela tirou da frente qualquer vírgula que empanasse a contundência da frase. No bom português dos anos 1960, mostrou que não era leão à toa, e mandou brasa no gorila: “O Exército não serve pra nada!”.
Ela faria 80 anos neste 19 de janeiro e o Globoplay está exibindo desde o fim de semana “O canto livre de Nara”, documentário de Renato Terra sobre uma vida que se mistura com a história do Brasil, da cultura popular e da resistência feminina no enfrentamento do troglodismo macho. Ela fez o que quis. Carlos Drummond de Andrade entendeu essa liberdade e deu um toque no general: “Nara é pássaro, sabia?/ E nem adianta prisão/ Para a voz que pelos ares/ Espalha sua canção”.
Nara morreu de câncer aos 47 anos, em 1989, e está sentada à mão direita de Leila Diniz e Nise da Silveira, ao lado esquerdo de Zuzu Angel e a escrava Anastácia. Avançou, sem discurso e com muito charme, as lutas da mulher. Enfrentou o general, a gravadora e a caretice de quem lhe parecesse assim. Em 1959, quando o padreco proibiu Norma Bengel, a vedete de voz pequena e coxas monumentais, de cantar num show de bossa nova na PUC, Nara rezou pela primeira vez a oração do “mexeu-com-uma-mexeu-com todas” – e em protesto levou o show para a UFRJ.
Nara há muitas. A todas elas as mulheres de 2022 deviam acender velas pela receita, com açúcar e com afeto, de uma vida em que cada uma possa fazer em liberdade o seu doce predileto. Ora foi um carcará mordendo o cangote dos déspotas, ora um dragão mágico lançando fogo pelo nariz, quando em seguida a um disco de protesto fazia outro de canções para embalar crianças. Sem tabu, aproximou as contradições nacionais. Edu Lobo quase rompeu relações quando a amiga – que tinha apresentado o jazz à turma, menina culta de francês perfeito, musa da bossa nova Zona Sul – gravou as baladas de motel do suburbano Roberto Carlos.
“O canto livre de Nara” é um documentário primoroso sobre um país que estava aqui ainda pouco, a cultura no centro das transformações, um Rio de Janeiro de cair o queixo – e eis que essas imagens emocionantes de uma civilização sofisticada e divertida surgem quando tudo em volta é só morte e destruição. É o jeito de Nara, sempre na contramão. E lá vem ela, o sussurro charmoso, botando a banda para passar a delicadeza da gente sofrida em meio à gritaria dos idiotas.
Zezito de Oliveira

Nenhum comentário: