informações sobre ações culturais de base comunitária, cultura periférica, contracultura, educação pública, educação popular, comunicação alternativa, teologia da libertação, memória histórica e economia solidária, assim como noticias e estudos referentes a análise de politica e gestão cultural, conjuntura, indústria cultural, direitos humanos, ecologia integral e etc., visando ao aumento de atividades que produzam geração de riqueza simbólica, afetiva e material = felicidade"
A comoção gerada pelo vídeo do influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca, empurrou a Câmara dos Deputados e a sociedade civil para uma discussão que deveria ter começado há muito tempo: a exploração sexual de crianças e adolescentes e a adultização desses jovens no ambiente digital. A pressão popular foi tão forte que, na próxima quarta-feira (20), será instalada uma comissão geral para ouvir especialistas e avaliar, em 30 dias, projetos de lei sobre o tema. Existem mais de 60 textos tramitando, mas o de maior avanço (o PL 2628/2022) já passou pelo Senado Federal e estava pronto para entrar em regime de urgência na Câmara.
Esse movimento, que coloca a proteção da infância no centro do debate legislativo, atropelou o roteiro da oposição bolsonarista. Não se trata de mero embate de prioridades: trata-se de um choque direto contra uma lógica política que ignora pautas de interesse público para se agarrar às velhas manobras de autoproteção e maluquices desses extremistas.
Para o campo bolsonarista, a única urgência real é salvar a própria pele. Desde a volta do recesso parlamentar, a obsessão é dupla: enterrar de vez o foro privilegiado de autoridades para escapar de investigações no STF e empurrar goela abaixo a anistia aos golpistas do 8 de janeiro. Foi por isso que, na semana anterior, assistimos àquele espetáculo grotesco em que deputados e senadores da extrema direita invadiram as mesas diretoras das duas Casas do Congresso Nacional, ocupando as cadeiras das duas presidências e tentando intimidar os plenários para que suas vontades fossem atendidas. Sim, um motim no parlamento em plena luz do dia.
CÂMARA
Bancada bolsonarista quer barrar projetos contra adultização de crianças, denunciada por Felca nas redes
Foto ilustrativa de la nota titulada: Rodrigo Constantino chama denúncia de Felca sobre redes de pedofilia de “pegadinha”
HIPOCRISIA BOLSONARISTA
Rodrigo Constantino chama denúncia de Felca sobre redes de pedofilia de “pegadinha”
Só que àquela altura o tiro saiu pela culatra. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deixou claro que não cederia ao terrorismo parlamentar. Resultado: as demandas radicais foram engavetadas mais uma vez. Para piorar tudo e enfurecê-los ainda mais, esta semana veia a “Lei Felca” e outras propostas de proteção online que ganharam espaço. O ódio bolsonarista, que é banal e corriqueiro, tomou proporções ainda maiores ao perceberem que suas pautas, já capenga, seriam ainda mais esvaziadas.
Nesta quinta-feira, 7 de agosto, foi realizado no Rio de Janeiro o painel "Audiovisual na Educação: Políticas Públicas e Estratégias de Difusão nas Escolas", como parte da programação do 3º Festival Curta! Documentários. Na mesa, agentes culturais, produtores e pedagógicos analisaram de que maneira o uso de filmes e séries pode ser incorporado ao cotidiano escolar. Vanessa Souza, coordenadora do CurtaEducação, plataforma de streaming que une educação e entretenimento (edutainment), promovendo engajamento e transdisciplinaridade através de conteúdos audiovisuais relevantes, moderou o debate e pontuou que a grande missão do projeto é fazer com que o audiovisual, principalmente o brasileiro, encontre a plateia que, na sua visão, é a mais importante, que são os cidadãos em formação. "Levar nosso cinema para dentro das escolas é uma oportunidade não somente de formar plateias, mas também de enriquecer e tornar mais prazeroso o aprendizado, levando para a sala de aula personalidades, lugares e histórias que não chegariam ali naturalmente", disse.
O CurtaEducação firmou recentemente uma parceria com a SEEDUC – RJ, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Roseday Nascimento, coordenadora de articulação no órgão, também destacou a importância do audiovisual nas escolas e ressaltou que, como qualquer projeto, isso demanda planejamento. "O audiovisual já começa com uma vantagem, porque 50% da aprendizagem acontece quando a gente consegue ouvir, ler e ver alguma coisa. E esse trabalho do Curta facilita muito porque sabemos que, por trás, há uma curadoria responsável, o que ajuda os professores a desempenharem esse trabalho nas salas de aula. O resultado é muito produtivo. Os alunos entendem a mensagem que você quer passar de forma mais agradável e lúdica. Acredito que esse projeto terá muito sucesso".
Do ponto de vista de alguém cuja trajetória já incluiu anos de trabalho em sala de aula, Nascimento pontuou que não dá para pensar em ensinar as crianças e os adolescentes de uma única maneira. "Temos que diversificar, e essa diversidade ocorre também através dessas possibilidades do cinema. Com ele, conseguimos trabalhar diversos conteúdos, inclusive promovendo uma integração transdisciplinar e alinhando diversos componentes, oferecendo assim uma formação integral. Cada aluno aprende de uma maneira, por isso precisamos de estilos de aprendizagem diferentes – e o audiovisual complementa e facilita esse processo", avaliou.
A coordenadora enfatizou que, antes de escolher um filme ou uma série para utilizar com os alunos, os professores devem planejar, isto é, entender onde querem chegar com aquilo. Qual é o objetivo de apresentar aquele conteúdo. "O professor tem que ter um feeling, um termômetro. Às vezes, ele acha que aquela aula que ele montou é maravilhosa – mas pode ser só para ele. Para os alunos, não. Temos que entender como eles aprendem. Professor é um eterno estudioso. Mas o planejamento é fundamental – além do trabalho integrado, até para otimizar, isto é, utilizar um único curta e atender a diversos componentes curriculares", concluiu.
Incitar o debate
Fernando Sousa e Gabriel Barbosa são diretores e produtores do curta "Rio, Negro" (2023), da Quiprocó Filmes, um documentário que apresenta um olhar possível para a história do Rio de Janeiro. A partir de entrevistas e amplo material de arquivo, a narrativa busca desvelar como a população negra forjou trajetórias individuais e laços comunitários em uma cidade-diáspora marcada pelas disputas em torno do projeto "civilizatório" das elites brancas. O filme é um dos mais utilizados nas escolas a partir do CurtaEducação.
Sousa contou que, durante o processo de produção dos filmes, a dupla nem sempre concorda, mas o ponto é justamente esse: a importância do debate. "Principalmente com os documentários, pensamos em como esses filmes podem favorecer ou facilitar debates – não só na escola, mas em qualquer outro lugar. Quando criamos nossos documentários, pensamos em qual é o público-alvo, claro, mas ao pensar nisso não trazemos essa perspectiva de ser um filme pedagógico, e sim um filme que proporcione debate", explicou. "Nossos filmes trazem perspectivas contemporâneas sobre determinados temas. E um ponto fundamental é não menosprezar o público. Os filmes podem circular no ensino básico, médio, graduação, pós-graduação… Pensamos que eles podem passar por diferentes espaços de ensino, contribuindo para o debate e sendo usados como material de apoio. Eles contribuem com a formação dos professores também, e não só dos estudantes. É uma via de mão dupla", acrescentou.
Barbosa concorda que parte do processo de se pensar e conceber um filme passa justamente por não subestimar o público, não optando por um caminho que circunscreva a audiência e limite aquilo que a obra pode alcançar: "A gente não controla por onde o filme vai circular, nem aquilo que vai ser debatido depois. Com esses debates, nós realizadores também aprendemos ainda mais sobre o filme e a temática que ele aborda. Começamos a pensar nossos filmes de maneiras diferentes a partir dos debates que participamos. Temos a convicção de como o filme segue mudando aqueles que o realizaram também. Um filme pode construir novas possibilidades de abordagem e perspectiva dentro de um mesmo assunto, apresentando co nevões que não eram dadas para nós antes". Para o realizador, produzir um filme é buscar ao máximo a ousadia de reinterpretar coisas, olhando de outra maneira para o assunto em questão, pisando no presente e também mirando o futuro.
Carlos Seabra, sócio-diretor da Oficina Digital, empresa de assessoria e desenvolvimento de projetos lúdicos, educacionais e de comunicação, salientou que, com a Internet e o ambiente digital, esse processo de distribuição audiovisual, inclusive nas escolas, ficou ainda mais fácil – mas há o problema dos algoritmos, uma vez que quem comanda o digital hoje são as big techs. "Existe um projeto de poder, com algoritmos que determinam o que as pessoas assistem ou deixam de assistir", destacou.
É justamente nesse contexto que o uso dos conteúdos audiovisuais nas escolas é ainda mais relevante. "E não é só ver o filme – precisa do debate. Quando você discute o filme, bate um papo a respeito, aí sim você está construindo sinapses. Isso é apropriação do conteúdo. Caso contrário, entra por um ouvido e sai pelo outro. Não é fácil fazer debates com mais significado – principalmente na escola. Por isso precisamos simplificar. A escola não está habituada a debater. Por mais que a educação tenha se democratizado, ainda segue-se muito aquele modelo do professor como emissor do saber. Ele fala e os alunos ouvem. Precisamos reinventar o debate, especialmente nas escolas. Isso é fundamental. Ver um filme em sua plenitude é trocar opiniões a respeito", afirmou. Nesse sentido, Seabra defendeu que os professores devem ser propositivos, fazendo do debate uma coisa viva. "Paulo Freire já era contra essa educação baseada na mera transmissão de informações. O conhecimento é construído pelos indivíduos, e não comunicado", observou.
Ele concorda com Nascimento no sentido de que utilizar audiovisual em sala de aula demanda planejamento. "Você exibe o filme, propõe uma discussão, relaciona com um fato recente. Principalmente com os curtas, os alunos podem assistir tudo de uma vez e depois reassistirem com o professor fazendo pausas, com mini-debates durante o filme. O curta permite isso, ou seja, trabalhar com pequenos segmentos", sugere.
Adaptação ao público
É claro que, em tempos de redes sociais e um verdadeiro bombardeio de conteúdos audiovisuais, especialmente aqueles mais curtos e rápidos, despertar a atenção do aluno para um conteúdo mais longo ou profundo é desafiador. Para Seabra, a estratégia é basicamente "falar na língua deles", colocando conteúdos relevantes nessas plataformas. "Único jeito de contrariamos isso é tendo um projeto próprio de uso dessas redes. Que passa por uma regulamentação, claro, mas trabalhando essa dopamina que elas geram a nosso favor".
Letícia Couto, coordenadora de comunicação do Instituto Claro, que é responsável pela área social da empresa, contou que o Instituto possui um canal no Tiktok feito por e para professores. "No segundo semestre, vamos lançar uma série de planos de aula de livros da Fuvest. Até pensamos em fazer um vídeo do TikTok por obra, mas não dá. Não tem como resumir tanto. Por isso optamos por um formato mais longo. Mas tem muita coisa que dá pra fazer no TikTok, no Instagram. Acredito nisso: em fazermos produção de qualidade em todos os formatos. Se é esse formato que está sendo consumido pelos jovens, que eles tenham acesso a conteúdos de qualidade nesse formato", defendeu.
O Instituto Claro tem um grande volume de produção de conteúdo em educação e cidadania. "Mais do que investir e produzir esse material, temos muita responsabilidade com ele, pensando especialmente nessa quantidade de conteúdo que chega para as pessoas, nessa produção descontrolada. Queremos garantir, ali no detalhe, a qualidade. Temos uma equipe que envolve coordenador pedagógico, jornalista, enfim, pessoas que foram cuidadosamente escolhidas. E ouvimos muito os professores também. Temos esse cuidado de não achar que sabemos o que o professor quer. A gente não sabe, temos que ouvir deles – como a gente pode contribuir, que materiais podemos fornecer. Buscamos também sempre levar temas atuais para a sala de aula, pensando no que está sendo falado agora e no que ainda tem pouco material disponível. O desafio é fazer com que esse conteúdo chegue, por isso trabalhamos muito nas nossas redes sociais e na comunicação. Também damos muito espaço a outros formatos de produção de materiais, como vídeo, podcast e reportagem, trabalhando diferentes formatos para, de fato, chegarmos a públicos diferentes, alunos e professores diferentes, com demandas diferentes", detalhou Couto.
Distorção de políticas públicas
Por fim, Sousa aproveitou a oportunidade para refletir sobre a produção e o atual espaço dos curtas-metragens no Brasil. Sua produtora, a Quiprocó Filmes, já produziu cerca de 15 curtas e dois longas. Na classificação da Ancine, eles são uma produtora de "Nível 2". Para subir de nível, eles precisam produzir novos longas. "A questão é que a produção de curtas não conta nada. Podemos produzir 200 curtas que continuaremos no mesmo nível. Há aí uma distorção – e estamos num momento de muitas distorções nas políticas públicas para o audiovisual brasileiro. Já temos três anos nesse governo e pouco se avançou – na regulação do streaming, na regulação das telas como deveria, na lei do curta… Quando a gente não avança na regulação do streaming, deixamos de arrecadar um monte de recursos que poderiam estar sendo investidos no audiovisual. É uma distorção geral do ponto de vista de políticas públicas. Para quem está do lado da produção, sobretudo as pequenas produtoras – que produzem muitas vezes esses curtas-metragens, nem se fala. Esse Ministério está fraco e precisa operar", concluiu o diretor.
Em 2025, a Quitanda Soluções Criativas chega à maioridade, com a consolidação de 18 anos de atividades de alcance nacional e global. A agência de impacto social criada no Ceará em 2007 desenvolve tecnologias sociais nas áreas de cultura, arte e educação por meio de ações inovadoras e sustentáveis.
Promovendo elos entre os mais variados perfis de público e conectando gestores, produtores, artistas, empresários, profissionais da educação e de outros tantos segmentos, a agência é marcada pelo pioneirismo ao criar métodos e fluxos que vêm inspirando outras instituições e até se consolidando como políticas públicas junto a parcerias com diferentes instâncias de gestão municipal, estadual, federal e internacional.
Com expertise em projetos do setor de Negócios Sociais e Economia Criativa, a Quitanda guia suas ações por meio de pilares como a transformação social e a democratização do acesso à cultura e às artes a partir de uma ressignificação da cultura como agente de desenvolvimento social.
A agência estrutura suas atividades a partir de serviços de consultoria, concepção de projetos, produção, captação e mobilização de recursos, pesquisas e estudos no campo cultural, monitoramento e avaliação de projetos, assessoria em comunicação e marketing cultural.
Ao longo de 18 anos, a empresa vem trabalhando em diversos projetos nas áreas de cultura, educação, meio ambiente, sustentabilidade, além de outros negócios sociais. Com seus projetos, a Quitanda Soluções Criativas quer contribuir e perpetuar os empreendimentos culturais e sociais, fazendo com que eles tenham impactos positivos na vida das pessoas. Portanto, os programas que já passaram e estão em desenvolvimento atualmente têm em seu cerne os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da UNESCO, que visam a diminuição da desigualdade de oportunidades.
A Quitanda Soluções Criativas tem como marca o ineditismo ao oferecer formação aos trabalhadores da cultura, com oferta de cursos técnicos e de pós-graduação com os Laboratórios Culturais. Ainda em seu rol de projetos transformadores, vem impactando a vida de milhares de artistas e plateia com os festivais ELOS, Giro das Artes e Acordes do Amanhã. E com programas como Rede de Dança, Plataforma Sinfonia do Amanhã, Escolas Criativas, CINE+, Ceará Criativa e LAB Cidades Criativas, a instituição deixa um legado de arte e cultura por diversas cidades do Brasil.
Nos últimos anos, a agência conquistou ainda mais alcance global por meio de eventos de impacto a exemplo da realização do Festival Hola Rio, na Espanha, e da direção da Casa G20/Embaixada Cultural, no Rio de Janeiro, com ações de diplomacia cultural que agruparam as maiores e mais importantes potências econômicas do mundo.
O Programa Vai em São Paulo tem esse escopo , ou seja, os seus objetivos tem esse alcance ou extensão. Assim como tem a PNAB e a Lei Rouanet.
No caso do VAI, fomos o responsável pela apresentação da proposta ao então vereador Magal da Pastoral de Aracaju no ano de 2004, sendo aprovado na câmara de vereadores o VAI Aracaju.
Infelizmente, o então prefeito Marcelo Deda e o que lhe sucedeu, Edvaldo Nogueira, não conseguiram ter visão de longo prazo para perceber o alcance ou a extensão do VAI. Não fosse assim, a produção artistico-cultural em Aracaju estaria em outro patamar.
Mas a PNAB atende e amplia o que é proposto no VAI, inclusive por causa do tamanho do orçamento. E por isso esperamos de quem ocupa o lugar que outrora foi de Deda e Edvaldo uma outra compreensão. O atual secretário de cultura municipal, Paulo Correa, que trabalhou nas duas gestões , tanto de Déda, como de Edvaldo, pode ajudar a atual prefeita Emilia Correa não perder mais uma janela de oportunidades para o nosso desenvolvimento cultural, que é também econômico e cidadão...
Para saber mais sobre o VAI SP e o VAI ARACAJU, clique AQUI
No dia de ontem, 07 de agosto de 2025, realizamos de forma online, das 15 ás 16 horas, a primeira reunião de retomada da Rede Sergipe de Pontos de Cultura.
A razão principal da reunião é começar a organização da rede local a fim de participar da preparação da Teia Nacional, a qual deve ser precedida da realização das Teias Estaduais e das Teias municipais onde for possível.
A TEIA é um encontro nacional e regional dos Pontos de Cultura, criado para fortalecer a rede de iniciativas culturais comunitárias no Brasil. Ela funciona como um espaço de articulação, troca de experiências, formação e visibilidade para os projetos culturais vinculados ao programa Cultura Viva, promovendo a gestão compartilhada e a democratização da cultura.
Participaram da reunião seis representantes de pontos de cultura , de um total de nove que fazem parte do grupo whatsapp “Teia 2026 SE” até o presente momento, os quais foram convidados de forma direta pelos integrantes do grupo ou indireta, em comunicado/convite, através dos grupos zap “Comité Paulo Gustavo” e “Fórum do Audiovisual”
Para melhor otimizar o uso do tempo, foi reunido um conjunto de dezesseis tópicos resumindo temas/assuntos registrados em conversas no grupo “Teia 2026 SE” .
Os temas/assuntos de curto prazo foram propostas ações da seguinte maneira:
1-Convidar outros representantes de Ponto de Cultura para participar do grupo. Pode ser direta ou indiretamente. Para isso se faz necessário levantar os nomes que constam dos Pontos sergipanos na Plataforma Cultura Viva. Ação: Cada membro do grupo encaminhar convite diretamente a Pontos de Cultura certificados diretamente e indiretamente por meio de grupos de whatsapp.
2-Escolher um representante titular e suplente da Rede Sergipe de Pontos de Cultura, que pode ser provisório, a ser referendado em reunião ampliada. Ação: Aguardando adesão maior de mais representantes de Pontos de Cultura, com perspectiva de ser decidido em duas ou três semanas.
3-Elaborar ata da reunião de hoje, fotografar a reunião e publicar no blog da cultura. Ação: Como está sendo feito
4-Marcar dia e horário da próxima reunião. O ideal é que seja semanal. Ação: Indicativo de ser na próxima terça-feira (12/08), às 18h30.
5-A próxima reunião pode incluir a participação de um integrante da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura para nos passar algumas orientações. Ação: Entrar em contato para obter confirmação. Contato prévio já foi realizado.
6-Programação da Teia Estadual. Ação: Marcar um turno para reunir representantes de Pontos de Cultura a fim de discutir proposta com base no roteiro abaixo.
Uma programação de Teia Estadual de Pontos de Cultura pode incluir atividades como oficinas, fóruns, seminários, apresentações culturais, feiras e outras ações que promovam o diálogo, a troca de experiências e o fortalecimento da atuação em rede entre os Pontos de Cultura. O objetivo principal é fortalecer o exercício dos direitos culturais e a atuação em rede entre os Pontos de Cultura.
Exemplo de programação:
Dia 1:
Manhã:
Abertura oficial da Teia, com a presença de autoridades e representantes dos Pontos de Cultura. Apresentação do contexto da rede e dos objetivos da Teia.
Tarde:
Fórum Temático sobre "O Papel dos Pontos de Cultura na Promoção da Diversidade Cultural", com palestras e debates.
Noite:
Apresentação cultural com grupos locais, valorizando a diversidade cultural da região.
Dia 2:
Manhã:
Oficinas práticas sobre temas como gestão cultural, produção cultural, comunicação e novas tecnologias, com foco nas necessidades dos Pontos de Cultura.
Feira de produtos culturais, com a comercialização de artesanato, livros, discos, comidas típicas e outros produtos produzidos pelos Pontos de Cultura.
Dia 3:
Manhã:
Visitas técnicas a Pontos de Cultura locais, para conhecer suas experiências e práticas.
Tarde:
Elaboração de um plano de ação para a rede de Pontos de Cultura, com metas e estratégias para os próximos meses.
Noite:
Encerramento da Teia, com a apresentação dos resultados e perspectivas para o futuro da rede de Pontos de Cultura.
Outras atividades:
Rodas de conversa sobre temas relevantes para a atuação dos Pontos de Cultura, como sugestão em razão do atual contexto nacional e internacional "Soberania Digital e Cultural "
Apresentações artísticas diversas, como dança, música, teatro e outras expressões culturais.
Exposição de fotos, vídeos e outros materiais produzidos pelos Pontos de Cultura.
Recursos:
A programação pode ser realizada em um local central da região, como um centro cultural, um teatro ou um espaço público.
É importante contar com o apoio financeiro e institucional do Ministério da Cultura e orgãos de gestão e de outras instituições parceiras.
A participação dos Pontos de Cultura é fundamental para o sucesso da Teia.
Observações:
Este é apenas um exemplo de programação, e a Teia pode ser adaptada de acordo com as necessidades e características de cada região.
É importante que a programação seja elaborada de forma participativa, envolvendo os Pontos de Cultura e outros atores locais.
A Teia deve ser um espaço de diálogo, troca de experiências e fortalecimento da atuação em rede entre os Pontos de Cultura.
7-Sugestão de inclusão de editais exclusivos de bolsas Agentes Jovens Cultura Viva para Pontos de Cultura certificados. Essa ação visa atender prioritariamente Pontos de Cultura certificados que não obtiverem pontuação suficiente para serem selecionados nos editais TCC (Termo de Compromisso Cultural) . Ação: A discutir em próximos encontros.
8-Levantamento dos municípios sergipanos que receberam recursos acima de R$360.000,00 – Ação: Foi informado ser no total de cinco. Há uma lista com cidades de todo o Brasil. Um dos participantes da reunião ficou de destacar as cidades sergipanas
9-Reforçar o pleito do Ponto de Cultura Pescando Memórias a fim de que a Prefeitura de Socorro cumpra a lei que obriga o lançamento de edital para Pontos de Cultura. Ação: A representante do referido Ponto informou que está aguardando resposta depois de uma série de conversas com a Secretaria de Cultura do referido município. A sugestão é que a situação seja protocolada em forma de reclamação na CGU por meio da plataforma FALA BR
10-Apresentação resumida de uma minibio e redes virtuais de todos os Pontos de Cultura que estão no grupo e dos que vierem a fazer parte. Ação: Aguarda que isso seja feito por quem está no grupo e ainda não fez e por novos Pontos de Cultura convidados.
11-Marcar reunião com diretores e técnicos da Funcap, Funcaju, Escritório do MINC em Sergipe e Prefeituras que tem direito a receber de R$360.000,00 para cima. Ação: A pretensão é fazer isso após a segunda reunião, cuja precisão é acontecer na próxima semana. Foi sugerido também contato com cidades que recebem menos de R$360.000,00, mas que possuem Pontos de Cultura certificados a fim de que conste bonificação como parte dos critérios de seleção dos projetos inscritos na seleção pública da PNAB local.
12-Participação unificada nas consultas públicas do 2º ciclo da PNAB (on-line e presenclal) . Ação: Apresentar no grupo e obter o referendo interno, ficando livre para ser apresentada por cada representante de Pontos de Cultura como indicativo, independente do referendo...
13-Escolha de um segundo nome de cada Ponto de Cultura para compor/completar o grupo do ZAP. Ação: A ser encaminhado pelos representantes dos Pontos de Cultura.
14-Marcar momento de formação interna para ler e discutir a LEI CULTURA VIVA, PNAB, portarias, decretos e etc...Ação: Inicialmente deve ser realizado de forma individual por cada integrante do grupo e de forma urgente. Incluir na programação da Teia Estadual e Nacional
15-Sugerir a CGU fazer uma auditoria nacional da PNAB, avaliando também a participação e o controle social, tanto no plano federal, como estadual e municipal. Nesse último caso pode ser por amostragem. Como o viés ou critério de análise do TCU e TCEs é mais centrado nos aspectos financeiro- contábil, a CGU pode pegar a direção da auditoria cidadã pela via da participação e do controle social. Ação: Para discussão nas próximas reuniões.
16- Sendo um grupo pequeno podemos formar duplas de trabalho. Se der, um GT, ou mais de um, com o mínimo de três pessoas..
Pontos de Cultura participantes.
Ação Cultural
A Ação Cultural é uma organização da sociedade civil pioneira em Sergipe no trabalho com dança moderna, audiovisual, teatro, cineclube e hip-hop, junto e misturado, voltado principalmente às crianças e adolescentes e jovens residentes na periferia de Aracaju e Região Metropolitana. Foi criada no ano de 2004 por artistas e produtores culturais emergentes, além de educadores envolvidos com atividades de ação cultural. Se organiza buscando empoderar agentes e grupos culturais que atuam na periferia realizando de forma colaborativa reuniões, pesquisas de diagnóstico, oficinas de elaboração de projetos, produção de artigos/release, divulgação on-line, organização de portfólios, promoção de fóruns de debates, oficinas e mostras artísticas. Mais informações:
José de Oliveira Santos - "Zezito de Oiveira" - Professor de História, produtor cultural e escritor. Especialista em Arte-Educação e Políticas Públicas de Cultura e Empreendedorismo Cultural. Um dos fundadores da Associação dos Moradores do Bairro América (AMABA), do Centro Sergipano de Educação Popular (CESEP) e da Associação Cultural de Sergipe. Trabalha há 40 anos com projetos socioculturais voltados para crianças, adolescentes e jovens da periferia (oficinas, saraus, mostras culturais e cineclube). Autor do livro AMABA: O esquecido círculo de cultura da Aracaju dos anos 1980” produzido com apoio da Lei Aldir Blanc 1 e integrante da equipe técnica do filme “América: Reconstruindo Aracaju” baseado no livro citado acima, produzido com apoio da Lei Paulo Gustavo. Editor do Blog da Cultura, importante veículo alternativo de comunicação no campo do debate público sobre política, ação, produção e gestão cultural.
Rapper, compositor, percussionista, agente sociocultural, produtor cultural, educador popular, palestrante, conselheiro municipal de políticas culturais de são Cristóvão, coordenador do ponto de cultura Barracão Cultural Mãe Maria, e dos coletivos batalha do Holly, noite clandestina e coletivo ideia chek
O ponto de cultura Luz do Sol!
O Luz do Sol é uma iniciativa que visa promover a saúde mental e a cidadania de crianças, adolescentes e adultos com deficiência / transtorno mental na região do Sertão de Nossa Senhora da Glória, em Sergipe.
Com o objetivo de oferecer atendimento integral e humanizado, o Projeto Luz do Sol foi fundado em 1996 pelo médico psiquiatra Manoel Messias de Jesus Cordeiro e implantou o CAPS Luz do Sol em 2003, o primeiro Serviço de Saúde Mental do Estado.
Através do Ponto de Cultura Luz do Sol, oferecemos oficinas terapêuticas e culturais para promover a cidadania e a inclusão social.
O Projeto Luz do Sol é um exemplo de iniciativa que visa promover a saúde mental e a cidadania de pessoas com deficiência /ou transtorno mental, e é um orgulho para a região do Sertão de Nossa Senhora da Glória!
Companhia de Dança Loucurarte.
A Companhia de Dança Loucurarte, sediada em Aracaju/SE, é referência em dança em cadeira de rodas, reunindo bailarinos de diferentes localidades do estado sergipano. O grupo é um exemplo de talento, diversidade e inclusão.
Além das apresentações municipais, estaduais e nacionais, a Loucurarte conquistou importantes reconhecimentos locais, destacando-se em eventos culturais e festivais realizados em Sergipe. Essas vitórias refletem o compromisso da companhia em fortalecer a cena artística regional e promover a valorização da dança inclusiva.
A companhia também foi selecionada no Edital Entrelaces - FUNARTE Acessibilidança Virtual e, em 2017, recebeu o Certificado como Ponto de Cultura, reafirmando sua importância e relevância no cenário cultural brasileiro.
No âmbito nacional, a Loucurarte já alcançou títulos expressivos em campeonatos de dança esportiva e participou, por três anos consecutivos, do Festival de Dança de Joinville/SC — o maior evento de dança do mundo — levando o nome de Sergipe para o cenário artístico nacional com muito orgulho. Cada espetáculo da Loucurarte traduz a paixão e a dedicação de seus integrantes, que utilizam a dança como ferramenta de transformação social, inspiração e inclusão.
COLETIVO INFERNINHO
O Coletivo Inferninho nasceu em abril de 2017, a partir da iniciativa de artistas e produtores culturais de São Cristóvão-SE, junto a estudantes da Universidade Federal de Sergipe, que percebiam a carência e a insuficiência de eventos culturais no bairro Rosa Elze. Com o objetivo de oferecer alternativas para a comunidade, o coletivo começou a realizar atividades de caráter multidisciplinar, integrando apresentações musicais, artes plásticas e visuais, intervenções de artistas de rua e manifestações ligadas à cultura popular e periférica.
Inicialmente promovidos no ambiente universitário e em espaços cedidos, como repúblicas estudantis e bares locais, os eventos ganharam as ruas e passaram a integrar oficialmente as celebrações de Carnaval e São João do bairro, com os eventos Bloquinho do Inferninho e Black Milho, tornando-se uma tradição anual desde 2018.
DANILO DUARTE
Danilo Duarte é músico multi-instrumentista, compositor e produtor cultural, atuante em projetos autorais, bandas e produções musicais. Com formação em guitarra pelo Conservatório de Música de Sergipe, transita por gêneros como samba, rock e música experimental. Também compõe trilhas sonoras para teatro e audiovisual. Atua na realização de ações culturais junto ao Coletivo Inferninho e faz parte do Conselho Municipal de Políticas Culturais da cidade de São Cristóvão-SE.
Relatoria - Zezito de Oliveira -Assessor de Projetos da Ação Cultural e integrante do Conselho Gestor do Pontão de Cultura Digital e Midias Livres
P.S.:
📢 CONVITE ESPECIAL: LIVE NACIONAL de Lançamento - materiais de orientação sobre Participação Social na Aldir Blanc
A Live apresentará dois novos materiais elaborados pelo Conselho Nacional de Política Cultural e pelo Ministério da Cultura: a Cartilha e o Guia de Participação Social na Política Nacional Aldir Blanc.
✅ Serviço LIVE de Lançamento - Participação Social na Aldir Blanc
Roque Santeiro é uma telenovela brasileira produzida pela Central Globo de Produção e exibida pela TV Globo de 24 de junho de 1985 até 21 de fevereiro de 1986, em 209 capítulos. Substituiu Corpo a Corpo e foi substituída por Selva de Pedra, sendo a 34.ª "novela das oito" exibida pela emissora.
Resumo:
Este artigo intenta analisar, por meio de contrapontos, os sacerdotes católicos
danovelaRoqueSanteiro,adaptaçãotelevisivadapeçaOberçodoherói,deDiasGomes (1922-1999).Afimdesubtrair-seàcensurareinantenoregimemilitar,otextomencionado
passoupormodificaçõesesituaçõesoutrasqueprovocaramosurgimentodeumaobrade
autoriacoletiva.Ospresbíterospassaramaintegrarumanovatrama,emqueduasmaneiras
de ser Igreja se contrapõem: o viés tradicionalista e a visão baseada
nos pressupostos da Teologia da Libertação. Padre Hipólito representa o
catolicismo tradicionalista, já Padre AlbanoépartidáriodeumaIgrejamaisengajadasocialmente,porissoéchamadode“padre vermelho”.
Por meio dessas personagens, a novela abordou, de forma geral, essas duas
maneiras de vivenciar a fé católica.
Palavras-chave:Oberçodoherói;telenovelaRoqueSanteiro;adaptaçãotelevisiva;Igreja Católica;
Teologia da Libertação.
O
berço do herói, escrito em 1963, é um texto teatral
cuja tramase desenvolve em uma
cidade interiorana que vive à custa do míticoCabo Jorge, pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que foi consideradomortoduranteumconflitonaItália.“Encorajadospeloheroísmo
deRoque,ossoldadosbrasileirosabandona[ra]matrincheiraeavança[ra] memmassa.[...]Graçasaele,astropasbrasileirasnaItáliaconquistaram seuprimeirotriunfo”(GOMES,2001,p.16).Suapequenaeremotacidade nataladotou,então,onomedeCaboJorgeepassouaserumcentroturístico,
desenvolvendoocomércioemtornodomitodosupostoherói.Asdatasde seu nascimento e de sua morte passaram
a compor o calendário cívico de todas as escolas brasileiras. Jorge tornou-se
um vulto militar.
Anos depois, o pracinha
surge na cidade. Em vez de um autêntico heróideguerra,elerevelou-seumdesertor,poisfugiradalutaapósserferido
emcombate.Assim,aestruturasocial,política,religiosaeeconômicacom queseestabeleceesemovimentaapequenacidadetorna-seameaçada.O berçodoheróiéumtextopolíticocomquesequestionaomitodoheroísmo.
AtéseradaptadoparaanoveladaRedeGlobo,exibidanadécadade
1980,otextodapeçaOberçodoheróipassouportransformação,exigidas não somente pelo processo
tradutório de texto teatral para fílmico, mas também por questões políticas
impostas pelo regime militar brasileiro. O próprioDiasGomes(2001,p.5-7)expõeessehistóriconaintroduçãoque faz a uma edição posterior à novela
global.
O berçodoherói precisouesperar, porcausa dogolpe
militar de 1964, quasedoisanosatéque“umprodutorsuficientementecorajoso”(GOMES,
2001, p. 5) se interessasse por montá-lo. O texto foi publicado em 1965, comumprefácioincisivodePauloFranciseumaorelhadeÊnioSilveira.1
1 Reimão (2014, p. 80) informa que,
apesar da encenação de O berço do herói ter
sido proibidapela censura federal em
1965, a publicação em livro alcançou sucesso de vendas.A pesquisadoraobservaque,noscasosemqueexisteumainterdiçãoparaexibiçõespúblicas,
masolivroestápublicado,ocorrealgocurioso:aobraquenãopodeservistaporplateias adultas que pagam ingressos está
ao alcance de qualquer pessoa, desde que alfabetizada. No que se refere a
restrições dos órgãos governamentais, Reimão (2014, p. 81) salienta quecasossimilaresocorreramcomosfilmesMacunaíma(1969),deJoaquimPedro,São Bernardo (1972), de Leon Hirszman, e Toda nudez será castigada (1972), de Arnaldo Jabor, que também
receberam cortes ou ficaram retidos pela censura.
EssapublicaçãofezcomqueumgeneralexigissedoConselhodeSegurança Nacional a prisão de Francis, Silveira e
Gomes. O motivo, segundo Dias Gomes (2001, p. 5), foi o modo com que se fez a
abordagem da figura do herói – e herói militar –, tema mais que polêmico para
aquele momento histórico brasileiro. Em função desse conteúdo, proibiu-se o
espetáculo, dirigido porAntonioAbujamra, na noite de estreia: 22 de
julho de 1965. Carlos Lacerda, escreve Gomes (2001, p. 5), então governador do
antigo estadodaGuanabara,assumiu,porpressãomilitar,aautoriadainterdição. Somente em 1976
a peça estreou, não em chão brasileiro, mas em terras estadunidenses.
No ano seguinte, 1966, tentou-se uma
adaptação para o cinema, cujoroteirofoiescritopelopróprioDiasGomes.Ocorreunovainterdição. Dez anos
depois, ainda sob o regime militar, houve outra tentativa de adaptação da peça,
agora para a televisão. Para burlar a censura, Dias Gomes trocou-lheo título para Roque Santeiro e alterou o nome de quase atotalidadedaspersonagens.Alémdisso,oprotagonista,umcabodaForça
ExpedicionáriaBrasileira(FEB),passouaserumartesãodesantosdebarro,
umsanteiro.ConformeGomes(2001,p.6),anovelatambémfoiproibida, depois que um
grampo interceptou uma conversa do dramaturgo com o historiador Nelson Werneck
Sodré, confidenciando que a novela Roque
Santeiro seria uma adaptação de O
berço do herói.
Em1985,agoracomoprocessoderedemocratização,anovelafoi, enfim,liberada.Porcausadosucessoestrondosodaversãotelevisiva,Dias Gomesmanteveosnovosnomesdaspersonagenseretrabalhouotextoda peça, enriquecendo-a com algumas cenas
sugeridas e, talvez, necessárias, emsetratandodogênerotelenovela.Estaúltimaversãosedestinavaauma
montagemcommúsicasdeCaetanoVeloso.Em27dejaneirode2017,no TeatroFAAP,emSãoPaulo,otextooriginaldeOberçodoheróiestreou pelaprimeiraveznoformatodemusical,trazendoofamosotítulodanovela para
nomeá-lo: Roque Santeiro, o Musical.
O espetáculo foi dirigido por Débora Dubois e a trilha sonora ficou a cargo de
Zeca Baleiro.
Dias Gomes estabeleceu certa coerência
entre sua obra e ideias e eventos contemporâneos a ele. Um exemplo disso foi o
aproveitamento realizado por Gomes, ativista político de esquerda, para fazer
troça do escândaloestadunidensedeWatergate,queacabouporderrocaropresidente
RichardNixonnomesmoanoemqueanovelaObem-amado(1973)era exibida.EmSucupira,Odoricomandagrampearoconfessionáriodovigário, seuoposicionista,afimdegravarospecadoseossegredosdoshabitantes dalocalidade.Nãoédesurpreender,portanto,queasadaptaçõesdasobras de Gomes tragam marcas sensíveis de
atualizações.
Um dos temas caros a Dias Gomes é a
religião e sua relação com aspectos morais e políticos. Diversas obras
confirmam essa articulação, destacadamenteOpagadordePromessas(1959),Arevoluçãodosbeatos (1961),RoqueSanteiro(1963)eOsantoinquérito(1966).Principalmente nadécadade1980,aTeologiadaLibertaçãosecontrapôsadiversosaspectos
dotradicionalismodaIgrejaCatólica.Opadrecomofigurapolíticaganhaum ardenovidadeexatamenteemRoqueSanteiro,atravésdaatuaçãodepadre
Albano, pároco de uma periferia deAsa
Branca, interpretado por Claudio Cavalcante (1940-2013), e que se contrapõe a
padre Hipólito, vivido por Paulo Gracindo (1911-1995). Entram em choque, então,
duas visões de Igreja: a da moral e dos dogmas católicos em contraste com a
outra, que encarnaoespíritolibertáriodascomunidadeseclesiaisdebase(CEBs),2em que
atuam padres preocupados com questões sociais.
Apósessebrevepanoramadahistóriadotextoedesuastentativas
deadaptaçãoparaoutraslinguagens–algumasexitosas–,discutem-se, a seguir,
algumas questões teóricas que fundamentariam o processo de adaptação
televisiva.
2Transmutação/adaptaçãotelevisiva
Comoadventodocinemaedatelevisão,diversosestudosbuscam verificar
essas novas possibilidades de fazer artístico, que, frequentemente, recorrem
à tradição literária como matéria de constituição. Recorre-se a traduçõesdetextosdeliteratura–aqui,nocaso,incluam-setextosteatrais – para
a televisão.
2SegundoOliveira([20--]),escrevendoparaositedoCentrodePesquisaeDocumentação deHistóriaContemporâneadoBrasil,daFundaçãoGetúlioVargas(FGV),ascomunidades eclesiais de base (CEBs) são
organismos da Igreja Católica que se caracterizam por celebração dominical
realizada por leigos ou leigas; ampla participação na tomada de decisões,geralmentepormeiodeassembleias;eligaçãoentreareflexãobíblicaeaação
na sociedade. Já o site Portal das
Comunidades Eclesiais de Base, no texto “O que são CEBs?”([2017?]),afirmaquenãoháumconsensosobreoqueseriaumaCEB,oquenão
autorizaria generalizações apressadas.
Em termos
conceituais, os estudos de tradução fílmica incorporam as noçõesde“transmutação”,“transposição”,“reescrita”,“releitura”,“tradução
intersemiótica”,etc.Jakobson(2003,p.64-65)distinguetrêsmaneirasde interpretar um signo verbal, o qual pode se expressar por meio de
outros signosdamesmalíngua,emoutralíngua,ouemoutrosistemadesímbolos não verbais.
Essas traduções são diferentemente classificadas:
1)A tradução intralingual ou reformulação (rewording) consiste na interpretaçãodossignosverbaispormeiodeoutrossignosdamesma língua.
3)Atraduçãointer-semióticaoutransmutaçãoconsistenainterpretação dos signos verbais por meio de
sistemas de signos não-verbais. (JAKOBSON, 2003, p. 64-65 grifos do autor).
AtelenovelaRoqueSanteiro,cujaspersonagenspadressãoobjetos desteestudo,insere-senessaterceiratipologia,identificando-se,portanto, comoconceitode“transmutação”.Observe-seque,napassagem/tradução do texto literário ao
televisivo, consagrou-se o uso do termo “adaptação”, queseriaoresultadodatransformaçãodeumtextoemtermosdamigração,
porassimdizer,deumalinguagemparaoutra.Iremosutilizarestetermo– adaptação–nesteartigo.Silva(2007,p.39)afirmaque“aadaptaçãopassa aserconsideradaumainstânciadatradução,vistanãocomosemelhanças, mas, principalmente, como
diferença”.Assim, considera-se que
questões como fidelidade ou infidelidade ao texto-fontenão se sustentam mais nos modernosestudosdetradução.Porisso,valoriza-seaautonomiadofilme
adaptado, caso contrário a adaptação televisiva corresponderia ao que se
costuma chamar de “tradução servil”. Segundo Johnson,
Podemosdizer[...]queasegundaobra,atradução,ganhasignificância autônomaprecisamentedassuasinevitáveisenecessáriasdivergências da obra original. A autonomia total é com certeza
impossível; o textoliteráriofuncionainevitavelmentecomouma“forma-prisão”.
(JOHNSON, 1982, p. 10).
ConformenosfazentenderAmodeo(2003,p.139),atelevisão
é dotada de dispositivos técnicos com que se traduz a representação engendradasimbolicamentepelaliteratura.Portanto,aobratelevisiva– no caso, a novela Roque
Santeiro – apresenta autonomia em relação ao texto-fonte.Umfatoqueprovocariaessaindependênciadaversãotelevisiva
da peça de Dias Gomes seria a extensão do folhetim, constituído de 209 capítulos.ApeçaOberçodoheróipassaaserumpontodepartida,umapista paraarevelaçãodotema,aserolhadocomoatualerelevante.Aadaptação
televisiva precisa ser lida como uma nova reescrita.
Segundo o site Memória Globo (ROQUE...,
[2013?]), a novela RoqueSanteiro,exibidade24dejunhode1985a22defevereirode1986
no horário das 20h, é uma sátira à exploração política e comercial da fé popular.Atelenovelamarcouépocaapresentandoumacidadefictícia–Asa Branca
– como um microcosmo do Brasil. Nela, os moradores vivem em função dos supostos
milagres de Roque Santeiro, um coroinha e artesão de santos de barro que teria
morrido como mártir ao defender a cidade do bandido Navalhada. O falso santo
reaparece vivo dezessete anos depois, ameaçando o poder e a riqueza das
autoridades locais.
É importante que se teçam agora algumas
considerações sobre a autoria coletiva da novela Roque Santeiro.
Partindo do argumento criado pelo dramaturgo [Dias Gomes],
AguinaldoSilvarecebeuaincumbênciadeescreveraspartescentral efinaldahistória.NocomeçodotrabalhodeAguinaldoSilva,Dias Gomes ainda acompanhava o destino dos personagens, através de reuniõesquinzenaiscomoautor.Gradativamente,porém,Gomesfoi seafastando:passouummêsdefériasnoexteriorenãoseinteressou
mais pelo enredo. (UM DIA..., 1985, p. 133).
Onovoautorcontoucomauxiliares:odramaturgoMarcílioMorais,
o roteirista Joaquim deAssis e a pesquisadora Lilian Garcia.
ApersonagemPadreAlbanofoi criação deAguinaldo Silva. Cláudio Cavalcante diz que
OpadreAlbanonãoexistianaprimeiraversão.QuandooAguinaldo Silva começou a escrever a
segunda versão da novela, ele decidiu queiriafalardanovaigreja,daigrejaengajada,daigrejasocialista... FoiaíqueelecriouoPadreAlbano,quecomeçouaacontecerdeuma maneira
muito simpática e muito forte (APALAVRA...,
2005).
ÉextremamenteprovávelqueDiasGomesaprovouAlbanoeaação pastoraldessesacerdote,poisnaminissérieOpagadordepromessas(1988), cuja autoria é do dramaturgo baiano em foco, há a figura –
inexistente na peçade1959–doPadreEloy,grandeincentivadordascausascamponesas, interpretado por Osmar Prado. Ligado àTeologia da Libertação, era
chamado por Tião Gadelha – latifundiário inescrupuloso e comprometido
somente com o próprio lucro – de “padre comunista”.
Padre Eloy mobilizou a ação dos posseiros contra a
desigualdade agrária, reunindo-os na sacristia da igreja, após suas
celebrações. Afirmou,entreoutrasfrasesdeincentivoàlutaporigualdadeejustiça,
que:“Deusfezaterraeodiabofezacerca.”(SACRAMENTO,2013, p.97).
Sacramento (2013, p. 97) destaca o fato
de a minissérie ter sido movida pelo contexto de elaboração da Constituinte e
da possibilidade de umaConstituiçãomaisprogressistaparaoalvorecerdeumaNovaRepública.
Esseexemploreafirmaoqueescrevemosacimasobreofatodeaadaptação
se referir a seu tempo e às questões que lhes são contemporâneas.
Quando se estuda a adaptação fílmica, é
importante utilizar-se o roteironaanálisedaobra.Issoserevelainviável,noentanto,nesteartigo,
visto a grande extensão da telenovela Roque
Santeiro e da dificuldade de seobteressedocumento.Ascomparaçõesexpostasnestetrabalhoentreas
personagens Hipólito e Albano, portanto, foram construídas diretamentea partir da obra televisiva e do texto
teatral. Moraes e Jakubaszko (2019), porexemplo,realizaramumestudodecasosobreasbasescenográficasde Roque
Santeiro. Para isso, empreenderam
a análise de capítulos-chave dessa novela, semelhantemente ao que
fazemos neste artigo.
3Teologias:oCristodivinoeoJesushumano
SegundoWestphal(2011,p.68),aTeologiadaLibertaçãosurgiuna América Latina como resposta às estruturas de
opressão política, social e cultural.Conformeessateologia,afirmaWestphal(2011,p.68),afécristã precisapromovermecanismosdesuperaçãodaquelacoerção;assim,aopção preferencialpelospobresédecorrentedaobediênciaaoEvangelho.Desse modo, “a teologia busca pela
eficácia, que se expressa na libertação dos pobresdetodasasopressõessócio-políticas”(WESTPHAL,2011,p.68).
Noronha
(2012, p. 185) destaca que
ATeologia da
Libertação é sem dúvida alguma a maior expressão de sensibilidade que surgiu
nos últimos trinta anos na história da teologia.ElarompecomconceitostradicionaisdaIgrejainstitucional
introduzindo na história da Igreja ideias de igualdade social e direitos
humanos, reivindicando para si como herança os lemas: liberdade,igualdadeefraternidadeadvindosdaRevoluçãoFrancesa.
(NORONHA, 2012, p. 185).
Parece-nos que Noronha se equivoca ao
afirmar que ideias de igualdade social e direitos humanos foram inseridas no
catolicismo a partir da Teologia da Libertação.Apreocupação com os
pobres faz parte datradiçãocatólicahádoismilênioseremontaàsorigensdoCristianismo.
Nosséculosmaisrecentes,aDoutrinaSocialdaIgrejafundamentou-seem documentos oficiais específicos. Em 1891, o Papa Leão XIII
promulgoua encíclica Rerum
Novarum, que se volta para a condição dos operários. Aelaseguiu-se,em1931,aencíclicadePioXI,Quadragesimoanno,que focaliza a restauração e o
aperfeiçoamento da ordem social. João XXIIIpublicou,em1961,aMateretMagistra,quesededicaàevoluçãodaquestão social à luz
da doutrina cristã. Paulo VI
promulgou, em 1967, a encíclica Populorum
Progressio, que analisa o desenvolvimento dos povos, e, em 1971,
a carta apostólica OctagesimaAdveniens,
texto comprometido com aquestãosociopolíticadoscristãos.JoãoPauloIIescreveutrêsencíclicas decunhosocial:aLaborensexercens,em1981,umolharsobreotrabalho humano;aSollicitudoreisocialis,de1987,quefocalizaosprincipaistemas
daPopulorumProgressio,e,finalmente,aCentesimusAnnus,em1991,por ocasião
do centenário da Rerum Novarum.
Os teólogos
latino-americanos se colocam como continuadores dessa tradição,
que lhes oferece tanto referência quanto inspiração. Pelo menos é o que
exortava o Papa João Paulo II (1986), ao escrever que a Teologia da Libertação
era não só oportuna, mas útil e necessária. Ela deveria constituir, nas
palavras do Papa, uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores –
daquela reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólicaecontinuadacomosgrandesPadreseDoutores,comoMagistério
ordinárioeextraordinárioe,naépocamaisrecente,comoricopatrimônio da
Doutrina Social da Igreja, expressa em documentos que vão da Rerumnovarumà Laborem exercens.
ATeologiadaLibertação,porém,nãoselimitaàsdeduçõesteóricas enãosedeixaaprisionaraomodeloacademicistadearticulaçãoteológica. Westphal(2011,p.91)observaqueateologialatino-americanadalibertação
temoméritodetematizaraexperiênciadafé,ocompromissoconcretocom os
oprimidos, como conteúdo da teologia.
Ateologiaédesenvolvidapelaviadacompreensãoparticipativacom ocompromissohistóricodalibertaçãodosoprimidos,e,assim,não podehaverdivórcioentreateoriaeapráticateológica.Umateologia
cientificista, aprisionada às tematizações teóricas, que procede de formaanalíticaedescritivasomente,seriainadequada,poiscolocaria
o teólogo, o sujeito do labor teológico, à margem da existência
teológica concreta. (WESTPHAL, 2011, p. 91).
A TeologiadaLibertaçãoseapresentacomoummovimentoteológico daAméricaLatinaquebuscaconvenceroscristãosdequeavivênciadafé
precisa ser uma prática libertadora. Ela surge em um contexto em que se
imbricamfatoresdenaturezadiversa.Nosanos1950e1960,ascondições políticas nacionais e
internacionais impulsionaram a mobilização das massas, que reivindicaram
mudanças das estruturas de que resultavam miséria e marginalização.
Para se conhecer o início da Teologia da
Libertação na América Latina,éprecisodebruçar-sesobreasconferênciasdoConselhoEpiscopal Latino-americano(CELAM),quesepredispuseramaouviroclamordopovo daAméricaLatina.Foioiníciodeummovimentoque,aoseguiroConcílio
VaticanoII,estabeleceuconexõescomopovoatravésdasCEBs,proposta quefezcomqueossacerdotessededicassemmaisàscomunidadessofridas.
O Vaticano II, inserido no pensamento da teologia desenvolvimentista,
favoreceu a articulação dos teólogos latino-americanos. Nesse sentido,
Gibellini afirma o seguinte:
NaAméricaLatina,oConcílionãofuncionouapenascomopontode chegada,mastambémcomopontodepartidadeumanovaconsciência
deserIgreja.Deacordocomestaanálise,aIgrejalatino-americana realizou uma “recepção
criativa” do Concílio à luz da realidade latino-americana, na perspectiva dos
pobres a solidariedade comoohomemdehojetorna-sesolidariedadecomospobres,eateologia queacompanhacomreflexãoestecaminhoéateologiadalibertação.
(GIBELLINI, 1998 p. 370).
NaIIConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-Americano,ocorrida emMedellín,naColômbia,em1968,foramdefendidassoluçõesreaispara apobrezanaAméricaLatina.Ganharamgranderepercussãoosdocumentos
sobre a Justiça, a Paz e a Pobreza da Igreja. Diante da relevância e do
impacto desses documentos, elementos característicos de Medellín foram as
reflexões sobre pobreza e libertação.
O Episcopado Latino-Americano não pode ficar indiferente anteas tremendas injustiças sociais existentes
na América Latina, que mantêmamaioriadenossospovosnumadolorosapobreza,queem muitoscasoschegaasermisériadesumana.(DOCUMENTO...2017, p.62).
[...]paranossaverdadeiralibertação,todososhomensnecessitamde profunda
conversão para que chegue a nós o “Reino de justiça, de amor e
de paz”.Aorigem de todo desprezo ao homem, de toda injustiça, deveserprocuradanodesequilíbriointeriordaliberdadehumana,que necessitasempre,nahistória,deumpermanenteesforçoderetificação.
Aoriginalidadedamensagemcristãnãoconsistetantonaafirmação danecessidadedeumamudançadeestruturas,quantonainsistência quedevemospôrnaconversãodohomem.Nãoteremosumcontinente
novo sem novas e renovadas estruturas, mas sobretudo não haverá continente novo sem homens novos, que à luz do
Evangelho saibam ser verdadeiramentelivreseresponsáveis.(DOCUMENTO...,2017,p.4).
Enfrentando graves obstáculos, como
ditaduras, perseguições, prisõesemortes,aTeologiadaLibertaçãoseafirmoucomoumaproposta autonomamenteelaboradaquechegaaganharreconhecimentointernacional.
Na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, ocorrida em
Puebla, no México, no ano de 1979, os postulados de libertação foram
reafirmados e radicalizados:
AConferênciadePueblavoltaaassumir,comrenovadaesperançana força vivificadora do Espírito, a posição da II Conferência Geral que
fez umaclara eproféticaopçãopelospobres[...].Afirmamosanecessidade de conversão de toda a Igreja para uma opção
preferencial pelos pobres, nointuitodesuaintegrallibertação.(DOCUMENTO...,1987,p.352).
dacristologiaedaeclesiologia,vindoaserpobretodoaquelequeseencontra sobalgumaformadeopressão,tantonoâmbitosocial,comoracialecultural; por exemplo, o negro, o índio ou a mulher oprimida.Ainda segundo esse doutoremteologia,avivênciareligiosaacontecenaspráticascotidianasdo pobre,poiseleéamediaçãoprivilegiadaparaaexperiênciatranscendental deDeus,tantoassimque,nopobre,estariaamanifestaçãodoServoSofredor
JesusCristo,oJesushumano.ATeologiadaLibertaçãopercebequeamar aDeusnãosignificasomentecontemplaroCristoDivino,masamá-loem sua humanidade, presente no outro.
Aindahoje,aIgrejanaAméricaLatinaratificaesseposicionamento naconclusãodaVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-Americanoedo Caribe.Ali,háaafirmaçãosegundoaqual“aopçãopreferencialpelospobres
éumadaspeculiaridadesquemarcaafisionomiadaIgrejalatino-americanae caribenha”(DOCUMENTO...,2007,p.177).Retoma-seodiscursodoPapa BentoXVInaaberturadaconferência:“Aopçãopreferencialpelospobres está
implícita na fé cristológica naquele Deus que se faz pobre por nós,paranosenriquecercomasuapobreza”(DOCUMENTO...,2007,p.177). Essa maneira de ser Igreja choca-se
com uma visão tradicionalista.
Nessa nova visão, a prática religiosa se concretiza em
ações radicais de solidariedadee,principalmente,fraternidade.Avivênciareligiosalimita-se,
muitasvezes,àcrençanodogma,àobediênciacegadasnormasedasleis
daIgreja,nãonavidarealdacomunidadecomquesetrabalha.Paramuitos
fiéis tradicionalistas,
[a] comunidade é quase uma abstração,
que não fala, não tem opinião; seusmembrosdevemmostrar-seagradecidosporpoderemusufruir dos bens da fé. Estes bens são, na sua quase totalidade, de
ordem espiritual:os‘sacramentos’e‘sacramentais’.(HARTMANN,1998, p.8).
Quanto à opção pelos pobres, a prática
eclesial puramente conservadoraenormativaemquestãonãocombateasestruturasdeinjustiça
eexclusão;emvezdissoevidenciaapráticadeumacaridadecujaeficácia émomentânea,poisnãosedirigeàscausassociaisdapobreza.Alémdisso,
não são raras as vezes em que ela serve quase que somente para aplacar a
consciênciadequempraticaacaridade/esmola.Adora-seoCristoDivino, cuja divindade/presença não se
percebe no outro.
A telenovela Roque Santeiro constitui um produto cultural que permite um
entendimento do cotidiano brasileiro e da vida econômica, política e cultural
do país. Trata-se de um texto ficcional que apresenta a questãosocialcatólicadaépoca,marcadaporposicionamentosparadoxais no que se refere
à ação eclesial – religiosa e laica – diante de um país marcado pordesigualdades.Figurativamente,essesposicionamentos–progressistae
conservador–concretizam-senasfigurasdePadreAlbanoePadreHipólito,
respectivamente.
SegundoodicionárioeletrônicoHouaiss(2009),contrapontoderiva
dolatimmedievalcontrapunctum(<lat.prep.contra+ac.punctum‘ponto’), vocábulo
usado na expressão latina cantus contra
punctus ‘canto, música em contraponto’. É uma palavra da teoria musical,
utilizado de várias formas.Contraponto“podesereferiràteiadatexturamusicaldeumapeça. Contraponto pode ser [também] sinônimo de polifonia, uma
vez que uma músicacontrapontísticaépolifônica”(OWEN,2015,p.6).Deformageral,a
polifonianãoé,emmúsica,geradoradedesarmonias.Emsentidofigurativo,
contraponto passou a significar também, segundo o dicionário, o “uso de contrastesoutemasentrelaçadosemtextoliterário,filmeetc.”(HOUAISS,
2009).Talvezessenovosentidotenhasurgidoporcausadoverbocontrapor,
que significa, entre outros sentidos, “pôr(-se) em contraste;
contrastar, opor(-se); divergir” (HOUAISS, 2009). Há de se verificar isso.Aatenção
dispensadaaessapequenababelsemânticatemporfinalidaderessaltarque, apesardeserempersonagenscontrapostos,PadreAlbanoePadreHipólito são, mesmo com os contrastes, arautos de uma mesma
Igreja.Ainda que sejamdiferentesemmuitasdasaçõestomadasedosdiscursosproferidos, nãodeixamdesersacerdotesdamesmacomunidadecatólicamundial,queé
tambémdiversa,quersejanorito(latino,bizantino,armênio,etc.),querseja na ação pastoral (missionária, indígena,
carcerária, etc.), quer seja na vivência comunitáriaeespiritual(ordens,congregações,institutos,movimentos,etc.), por
exemplo. Na novela, duas grandes vozes ganhem relevo eclesiástico.
Para melhor se estruturar a análise que
se fará aqui – baseada no contraste, na divergência – utilizaremos os seguintes
itens: o espaço/ ambiente; a indumentária; a idade dos padres; a doutrina/ o
discurso e as ações pastorais.
4.1Oespaço/ambiente:igrejasemAsaBranca
O espaço por onde as
personagens se movimentam e onde a ação sedesenvolvenãopodeserconsideradoapenasemseuaspectofísico,mas também em suas implicações sociais e psicológicas. “Num sentido mais
abstrato, é importante que seja considerado o espaço social, a ambiência social pela qual circulam as
personagens” (ABDALAJÚNIOR, 1995,
p. 48,grifodoautor).Costumeiramente,críticosempregamotermoambiente para se referirem a essa
interseção entre o físico, o social e o psicológico. Noambiente,surgemascaracterísticassociaisdaspersonagens (filosofiadevida,religião,ideologias,etc.)quecomeleserelacionam.“O espaço social, enquanto sistema de valores, projeta-se na
psicologia das personagensformandoemseuscérebros,simbolicamente,umespaço.Esse espaço
– seu sistema de valores – determina o que ela pode ou não fazer” (ABDALAJÚNIOR, 1995, p. 49). Na telenovela Roque Santeiro há dois espaçosoficialmentelitúrgicos:aigrejamatrizdeAsaBrancaeoutrotemplo
católico,localizadonosubúrbiodacidade.Ambosconstituem-secomosignos
dosjeitosdeserIgrejadePadreHipólitoedePadreAlbano,respectivamente.
SegundooCódigodeDireitoCanônico(2001,p.303),cânon
1214,entende-seporigrejaumedifíciosagradodestinadoaocultodivino, onde os fiéis católicos têm o direito de praticar a celebração
religiosa, especialmente se pública. Para Chevalier e Gheerbrant (2009, p.
874), “O temploéumreflexodomundodivino.Suaarquiteturaexisteàimagemda
representaçãododivinoquetêmoshomens[...]”.Jáotermo“igrejamatriz”
é muito utilizado no Brasil para designar o principal templo religioso
de uma paróquia. É a igreja paroquial, e a ela se submetem as outras igrejas
daquela circunscrição eclesiástica.
O caráter privilegiado da matriz de Asa
Branca confirma-se não somenteporseratitulardaquelafreguesiabaiana,comotambémpelasua
localização, que é simbólica, no caso, por ser plantada na região central da
cidade, em cuja praça principal se erigiu a estátua de Roque Santeiro (FIGURA
1).3 É um templo grande, antigo, cujo interior é ornado por
elementos característicos de um santuário tradicional católico. O bem acabadoaltarcentral,osbancosdemadeiradelei,asestátuasgrandesde santos, os castiçais, os entalhes nas paredes, a cor
dourada dos detalhes e ofamosoostensóriodeouro(roubadoporRoque),tudodemonstraolocus socialdessaigrejaeostatusdoseupároco(FIGURA2).Esseespaçoantigo
jánossinalizaoprovávelteordapregaçãoedapráxisreligiosaexecutadapor PadreHipólito:conservador,tradicional,ortodoxo.Osdiscursosproferidos
ali se referem a pecado, confissão, penitência, oração, arrependimento. Representantesdetodasasclassessociaislásecongregam.Chefespolíticos
e donos de estabelecimentos comerciais a frequentam e contribuem para
sua manutenção.
4.2Aindumentáriareligiosaeaidadedospadres
Intimamente relacionada ao tópico
anterior, a indumentária é sinal acentuadodasdiferentestendênciasreligiosasdossacerdotesestudados.Ao longodahistóriadahumanidade,asroupasdesenvolveram-separaseguir
funcionalidades determinadas por aqueles que as estavam criando e/ou vestindo.Aprincípiocomoproteção,depoiscomoelementodemanutenção
dopudor,asindumentáriaspassaramaserutilizadaspelosindivíduoscomo
formadeexpressãodeseustatussocial,etnicidade,crençaoucultura.4Para Chevalier
e Gheerbrant (2009, p. 947), “[a] roupa é símbolo exterior da atividadeespiritual,aformavisíveldohomeminterior”.Portanto,noâmbito
religioso – em nosso caso, católico –, é comum haver roupas específicas
para diferenciar os crentes.
O cânon 284 do Código de Direito
Canônico (2001, p. 97) indica que os clérigos devem vestir um traje
eclesiástico digno, segundo as normasdadaspelaconferênciaepiscopaleoscostumeslegítimosdolugar.
4Aindumentária–tecnicamente,o figurino – é um dos elementos narrativos do audiovisual, detentor
de assinalada importância; sem ela o texto fílmico fica incompleto e pode não
comunicar a ideia desejada, já que o figurino responsabiliza-se por transmitir
costumes, comportamentos, estação climática, classe social, aspectos
psicológicos, ideologias, religião, etc., por meio dos tecidos, cores, texturas
e formas.
Aveste religiosa
mais conhecida é a batina, chamada também de sotaina. Segundo Edwards (2012, p.
178), a batina é indumentária própria de clérigos católicos, luteranos,
anglicanos e católicos ortodoxos. Na versão católica,possui33botões,pararepresentaraidadedeCristo.Acorpretaé
acomum,estipulada,segundoinformaçãodeBrodbeck(2009,p.27),por
vários concílios e sínodos.
PorseraIgrejaCatólicaumainstituiçãohierarquizada,comorezao cânon207doCódigodeDireitoCanônico(2001,p.77),ousodasroupas
distingueossacerdotesentreseusparesediferencia-osdopovo.Paraafé católica,avestesacerdotalsimbolizaumaeleiçãoeumaseparação:eleição,
por vocação, de um homem ao serviço eclesiástico e separação desse
indivíduo do meio dos leigos. A roupa específica do sacerdote é o sinal
exteriordeumarealidadeinterior:opadrejánãopertenceasimesmo,mas é“propriedade”deDeus.Assim,avesteclericalrealçaopapeldeseparação
entreosacerdoteeosfiéis,opovocatólico.Brodbeck(2009,p.20)ratifica isso quando escreve que,
se por vocação divina e força da graça presente em um
sacramento distinto [o da ordem] os sacerdotes são separados, consagrados,
natural que signifiquem essa separação e consagração por meio de algunssímbolos,todoselesdecretados,emsuasabedoria,pelaIgreja,
mediante seu Direito Canônico.
Em desacordo, muitos leigos e
sacerdotes, destacadamente da ala ditaprogressista,evitamoexageronousodasvesteslitúrgicasnodiaadia.
Algunsargumentamqueousodessasroupasnãosinalizaobrigatoriamente o amor à
liturgia e muito menos um sinal do Evangelho. Carmo ([201-?], apud GUIMARÃES, 2017) afirma que, ao
contrário, as vestes religiosas podem ser sinal de ostentação e de poder sacro
e que o não uso delas, em muitassituações,reforçaqueodespojamento,arenúnciaaosprivilégiose asimplicidadesãosempreindicadoresdoseguimentoaJesus.Aprofessora
salientaque,aolongodahistóriadaIgreja,quandoessainstituiçãoesteve muitovinculadaaopodertemporal,opadreeraumnobredacorte,portanto
se vestia como era costume dessa classe social. Hoje, a teóloga assevera
queissoésimplesmentedespropositado,poisessasroupasnãoestariamao serviço do altar, mas daqueles que as
portam.
No contexto de uma obra audiovisual,
como Roque Santeiro, em vez de perda
do valor do símbolo, há ganho semiótico no uso de roupas comunsporPadreAlbano,umavezque,porvestir-seàpaisana,eleseinsere
nomeiodopovocomoumigual.Aatitudedopresbíteroserevestedeum
simbolismo caro ao discurso social desse jovem religioso: ser um a mais entreseusparoquianos,lutarjuntodelesecomoumdeles.Ousodabatina
porPadreHipólitorelaciona-se,simbolicamente,comseulugaroficialde detentordecertopodernasociedadeestratificadadeAsaBranca.Suaroupa o
distingue como o sacerdote de uma instituição que se faz presente nas decisõesdevultodalocalidadeenaapreciaçãosocialdeseusacerdócioe noreconhecimentodeseudeverdeaconselhar/orientaraspessoas,apartir
de um posicionamento católico oficial.
Quanto à idade, os presbíteros eram
originariamente anciãos. Segundo o dicionário eletrônico Houaiss (2009), a palavra origina-se do grego presbúteros ou présbus, eós e significa velho, idoso,
experiente, digno derespeito.Natradiçãoneotestamentária,conformeolivrodoApocalipse, capítulo1,versículo14,oFilhodoHomempossuicabelosbrancos,sinalde eternidade.Velhicerelaciona-seàtradição.Emtermosreligiososcristãos, significasabedoria,eassociedadesdaAntiguidadeconsideravamavelhice
como algo dignificante.
No contexto da telenovela, a velhice de
Padre Hipólito pode simbolizar a Igreja da tradição milenar; da perenidade do
dogma, da imutabilidade da doutrina.Ajuventude de PadreAlbano pode representar osnovoscaminhosdaIgrejacatólicapós-conciliar,aquelaqueoptoupelos pobres. SeAlbano se apresenta como o novo, Hipólito é considerado, em
algumas situações, como o ultrapassado.
Avelhiceea juventude dos
sacerdotes deRoque Santeiro apresentam, de maneira simplificada e panorâmica, duas visões –
tradicional e progressista – sobre a Igreja católica no Brasil daquela época.
4.3Adoutrina/odiscursoeasaçõespastorais
Demaneirageral,discurso“éaatividadelingüísticanasmúltiplase infindáveisocorrênciasdavidadoindivíduo”(CÂMARAJR,1988,p.99).
Odiscursorefleteasrelaçõessociais,vistoque“todaenunciaçãoconstitui um ato (prometer, sugerir, afirmar, interrogar...)
visando modificar uma situação” (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2008, p. 170).
Roque
Santeiro apresenta ao telespectador duas formas de
viver a fé católica, já anteriormente mencionadas. Uma delas relaciona-se a um catolicismodecaráterinstitucionaleburocráticoedesinalizadordasetapas da
vida por meio de seus rituais:
[a Igreja] da missa dominical, do batizado festivo, dos
casamentos sociais, dos anjos barrocos, do padre sisudo, da sacristia, do
confessionário e do altar, que fala do céu para os bons, do inferno para os
maus, das liturgias formais, dos corais, das canções e da músicaintimistas,dafécomoadesãoecompromissoindividualcom Deus,dadevoçãoaossantos,dasprocissões,daspromessas,daclara
distinçãoeseparaçãoentreféevida,ondeascoisasnãosemisturam.
(HARTMANN, 1998, p. 7).
Aoutraproposta,pautadanasdecisõespós-VaticanoII,une-seaos
pobres e aos padres que estão entre o povo, ou seja, apoia os sindicatos, osDireitosHumanos,osmovimentossociais,ascelebraçõespolitizadase as
minorias e promove o acolhimento, a transformação da ordem social,o combate às injustiças e, destacadamente,
adota uma visão de Igreja comunitária, em que a salvação é alcançada a partir
daqui e de agora para todoseemtodosossentidos.Pormeiodosdiscursoseaçõesdossacerdotes,
a novela reflete sobre esses dois modelos de ser Igreja.
Areferênciaparaa atuação dos padres
em Roque Santeiro diz respeito àquestãodopapeldopovoemrelaçãoàIgreja:ouelaéservadahumanidade, ouahumanidadesecolocacomoservadela.ParaHartmann(1998),oprincipal e,porvezes,únicoreferencialparaaatuaçãodoPadreHipólitoéainstituição eclesial,emseuâmbitodogmático,normativoelegalenãoarealidadeda comunidadecomqueopárocotrabalha.JáPadreAlbanorepresenta,noseu exercíciopastoral,umavisãoeclesialqueinverteopoloreferencial,colocando
acomunidadenolugardaIgrejainstitucional,istoé,sãopriorizadasaspessoas
concretas,comsuasalegriasetristezas,angústiaseesperanças.Ascriaturas
humanas se tornam o objeto principal dessa atuação sacerdotal. Hipólito
conhece a Igreja como instituição;Albano,
como povo de Deus.
Emumanovelatãoextensa,inúmerasvezesosdiscursoseasações dospadres,queremcenasemqueelesaparecemseparados,quernaquelas em que
aparecem juntos, revelam esses modos de se pensar a atividade pastoral e a
missão sacerdotal. Uma das ideias-força que caracteriza o discurso é a
interatividade, cuja maior manifestação é a conversação, “na qual os dois
locutores coordenam suas enunciações, enunciam em função da atitude do outro e
percebem imediatamente o efeito que suas palavras têmsobreooutro”(CHARAUDEAU;MAINGUENEAU,2008,p.171).
Escolheu-se, por isso, analisar neste artigo uma das cenas5
em que Padre Hipólito visita Padre Albano na igrejinha do subúrbio, onde
conversam sobre seus diversos modos de ver suas vocações. Logo no início da
cena, PadreAlbano orienta alguns
dos fiéis a procurarem o sindicado antes de qualquer atitude que venham a
tomar.
(InteriordaigrejinhadePadreAlbano.Algunsfiéisescutamopadre, que os aconselha.)
PadreAlbano–Então,vãocomDeus,amanhãagenteconversamais. Agoranãoseesqueçam,nãofaçamnadasozinhos,tá.Vocêstêmque procurar
antes de qualquer coisa o sindicato de vocês, tá.Vão com Deus, amanhã a gente se vê.
(Osfiéissaem.EntraPadreHipólito.)6
Comoanarrativacomeçainmediares,nãosabemosaqueproblema o sacerdote
faz menção, mas a ideia é ressaltar como Padre Albano está envolvido em
questões sociais bem concretas.
Em determinado momento, eles começam a
conversar sobre a vocação de Padre Albano, que diz estar lendo muito São João
da Cruz e Santa Teresa de Ávila.
PadreHipólito–[...]comoéquevaiasualuta.
PadreAlbano–Táferoz,táencarniçada,comotodaboaluta.Tenho meditadomuito,tenholidomuitoSãoJoãodaCruz,SantaTeresade Ávila.Temmeajudadomuito,pois(inaudível)mesintocomoseeu estivesse
me reencontrando comigo mesmo quando eu resolvi abraçar a Igreja. Eu lia
muito São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila na minhaadolescênciaantesdeentrarnoseminário.Melembro,muitas vezesmeusamigossaíamparasedivertir,parairaosbailes,eeuficava
em casa sábado à noite lendo Santa Teresa de Ávila.
PadreAlbano–É,nãoachavaerradooqueelesfaziamnão,achoque tava
certíssimo, eles queriam viver a vida que estava ali, né, sentir osprazeresdomundo.Eunãocondenava,maspramimeramuito
pouco,euqueriamuitomais,euqueriaavidanoseumistério,nasua plenitude, e
isso só Deus podia me dar.
Padre Hipólito – Engraçado, você está falando e eu estou
aqui... pensando como é que você consegue conciliar tamanha vocação místicacomessaigrejaqueétãoapegadaaosproblemasdomundo
que você prega.
PadreAlbano–Essasduascoisasnãosãoirreconciliáveis,muitopelo contrário,elassecomplementam.APalavradeDeussóserealizana plenitude do homem, logo é preciso o quê? Salvar o homem.
PadreAlbano –
Padre, não foi porque Ele amava a humilhação e a ofensa que Cristo chamou a si
os humilhados e os ofendidos. Ele precisava era livrá-los da humilhação e da
ofensa.
PadreHipólito–SeCristoquisesseresolverosproblemasdomundo
ele teria vindo com uma legião de anjos e teria expulsado todos os poderosos da
terra. Mas ele deixou apenas a sua Palavra.
(PadreAlbanofazgestosdenegaçãocomacabeça.) Padre Hipólito – É ela que nós
temos que pregar.
PadreAlbano–EledeixoutambémasuaIgreja,eéatravésdelaque
temos que acabar com a injustiça do mundo.
(PadreHipólitofazumgestodeimpaciência.)
PadreHipólito–Enfim,vamosdeixaressasdiscussõesteológicaspara depois, porque eu não quero me
aborrecer com você. De qualquer maneira eu me sinto muito contente em saber que
a sua fé está resistindo a todas as pressões.
Ossantosmencionados–SãoJoãodaCruzeSantaTerezadeÁvila
–sãoalgunsdosmaioresmísticosdahistóriamodernadaIgreja.Há,então, umaparenteparadoxo,vistoqueomisticismocatóliconãosecoadunacom uma ação política e social por parte
deAlbano, representante daTeologia da Libertação. Esse suposto
contrassenso é percebido por Padre Hipólito, que pergunta como ele concilia tal
vocação mística com “essa Igreja queétãoapegadaaosproblemasdomundo”,paracitarmosliteralmenteafala da personagem.
Observemos que, ao dizer “essa Igreja”, Padre Hipólito a considera diferente do
que seja a Igreja católica.
Odiscursodosacerdoteidosorevelaumadoutrinaespiritualapartada
dasproblemáticassocioeconômicaspresentesnavidadosfiéiseconfirma a ação pastoral dos padres como
sendo unicamente espiritual.Aresposta deAlbano revela outra concepção de Igreja: aquela que age por
meio do próprio homem, e não por pura ação de seres espirituais, ou “anjos”. Um
fatocurioso:durantetodaacena,AlbanochamaHipólitode“padre”,oque
não acontece quando Hipólito se dirige a seu amigo de sacerdócio.
Essesdiscursos,divergentesemmuitospontos,conduzemasações dessespadres.DiasGomes,napeçaRoqueSanteiroouOberçodoherói, esboça a personagem Padre
Hipólito.Apesar de o Hipólito da
telenovela nãoseresumiraoqueorientaodramaturgonotexto-fonte,hátraçosdaação pastoralqueestãobemdelineadosnacaracterizaçãodapersonagem.Escreve
o dramaturgo:
PadreHipólitoéumafiguracontraditória.Tãocontraditóriaquanto a própria Igreja Católica. É já de meia-idade [na
telenovela é jáum idoso] e os anos
que tem na paróquia lhe permitiram assistir ao crescimentodacomunidade.Éaúnicapessoaquepossuiumavisão
global desse desenvolvimento desigual e desordenado em que, sob os rótulos de
progresso e civilização, entram, de contrabando, os germens que irão contaminar
a futura sociedade dita civilizada e cristã. Consciente disso, Padre Hipólito
trava uma violenta batalha contra a corrupção dos costumes, que cresce com a
própria cidade. Sem uma visão nítida de progresso histórico, combate os
efeitos, esquecendo as causas, e,
contraditoriamente, sua paróquia se beneficia dessa mesma corrupção que
ele combate. Essa obsessão, essa ideia fixa–ocombateàsprostitutasqueinvademacidade–éacristalização
deumarevoltadecorrentedaconsciênciaquetemdesuaimpotência para impor a própria concepção
moral. (GOMES, 2001, p. 20).
OpárocodeAsaBrancanotaacorrupçãodaquelasociedadecitadina, no entanto não sabe envolver-se, pois
acredita que não deve misturar-se com as mudanças fundamentais para impedir a
corrupção social que lá existe.PadreHipólitorevela,porsuasações,odesconhecimentodecomo
responder a problemas e outras situações que se impõem no cotidiano da
sociedadedeAsaBranca,agindodemaneiraanacrônicaaocombater,por exemplo,casosdecunhosexual,semperceberqueascorrupçõesquesurgem
nacidadereferem-seaquestõespolíticas,econômicas,sociaisereligiosas.
Padre Albano, por outro
lado, muitas vezes descuida-se de suasobrigaçõesestritamentelitúrgicaseditasespirituaisebuscamudara
realidadedesuacomunidadeeclesial,minorandosuasdificuldadesmateriais
eincentivandoalutapordireitos.Éumpadredeaçãoconcreta,buscando transformaçãosocial.SeHipólitoesqueceascausasdosproblemasdacidade,
AlbanoestáatentoparaasorigenssocioeconômicasdadesigualdadeemAsa Branca.
Ofatodesenvolve-seemvários capítulos.7 O empresário é dono de uma pequena indústria que
explora o mitodeRoqueSanteiropormeiodavendademedalhas,camisetas,amuletos
e esculturas. Sonha ampliar seu negócio com o aumento da fabricação de
mercadorias e a abertura de um supermercado. Sob a liderança de Padre Albano,
as funcionárias, diante da recusa de Zé em abrir a creche, levam seus filhos
para a indústria, o que causa aborrecimentos ao empresário. Conflitos acontecem
entre o sacerdote e o negociante. Em uma discussão entre eles, após Zé das Medalhas afirmar, peremptoriamente, que não
abriria a creche e que ganharia a guerra contraAlbano e as funcionárias, o padre olhaparaumcrucifixoedizàimagemdeJesus:“Desculpeoatrevimento, mas o
Senhor também gostava de uma boa briga.”Aimagem nutrida por PadreAlbanoéadeumCristoqueagecontraoerro.ÉoCristoque,apesar deser“mansoehumildedecoração”(BÍBLIA...,Mt11,29,2008),expulsa
com violência os “vendilhões do templo” (BÍBLIA..., Jo 2, 13-16, 2008).
Padre Hipólito reprova a atitude de PadreAlbano em incentivar a manifestação em
prol da abertura da creche.
Padre Hipólito – Não, claro que não sou, e nem podia ser, né.
Mas euachoqueosmétodosquevocêestáusandoparaaaberturadessa creche são profundamente condenáveis, né. Porque se essa ideia das
mulheres irem lá pra fazer aquela bagunça na casa do Zé das Medalhas, lá na
loja dele, não é ideia delas, aquilo é ideia sua.
PadreAlbano–Padre,aideiaéminha,euqueplanejeitudo.
Padre Hipólito – Pois, então, desplaneje tudo! Vá lá e acabe
com aquelabagunça.
Padre Albano – Padre, o senhor se lembra das Escrituras,
quando Cristo foi lá e expulsou os vendilhões do templo...
Padre Hipólito – Ah, não venha me adaptar as Escrituras às
suas [sic]interessespolíticos.APalavradeDeuséumasó,nãofaçauso
dela para justificar as suas campanhas. Aquelas mulheres estão reivindicandoacreche,tácerto,maselastêmquefazerdentrodalei.
O que elas estão fazendo, por conselho seu, é ilegal.
PadreAlbano–Mas,PadreHipólito,osenhorestácansadodesaber
quenósfizemostudopraconvenceroseuZédasMedalhasdetodas as maneiras legais.
Vamos ver se assim ele entende.
Padre Hipólito – Não, não, não, mas eu não concordo com isso!
O senhorestáerrado!Eeu,comopadremaisantigoaquideAsaBranca,
eusouobrigadoporumaquestãomoraldefazerumrelatóriopraCúria Metropolitana
contando o que está acontecendo aqui!
PadreAlbano–Masoquêquetáacontecendoaqui?
PadreHipólito–Oqueestáacontecendoaquiéquetemumpadrena cidade que se preocupa mais com a
matéria do que com o espírito, gostamaisdebrigardoquederezareandaquerendotransformaras suas ovelhas
em lobos.
PadreAlbano–Osenhorpensaissodemim,padre?
PadreHipólito–Claro,vocêquemedárazãocomseusatosdepensar assim!Agora vá lá acabe com essa confusão
enquanto é tempo!
PadreHipólito–Oh,eunãosei,tôpensando,nãoseisevoufazer. PadreAlbano – Que Deus ilumine o senhor na hora da decisão.
Mesmo apoiando a abertura da creche, o
pároco desaprova, veementemente,aaçãodasmãesincentivadasporPadre
Albano.Ele não compreende o ponto de
vista do “padre vermelho”, para quem as manifestaçõessãomoralmentejustificáveis,poistrazembenefíciossociais,
embora possam parecer ilegais para aquele pároco. O discurso agressivo
de Hipólito reafirma seu entendimento de uma Igreja que deve limitar-se ao
serviço espiritual – daí a crítica ao dizer que Albano prefere brigar a orar.
Parece que, para o pároco mais antigo deAsa
Branca, a oração sem atitudesésuficiente.Envolver-seemaçõesdecunhosocialehumanitário, então, não
deve ser prioridade para um sacerdote, segundo o pensamento conservador e
institucional de Padre Hipólito.
Podemosdefinir,então,quePadreAlbanorepresentaotipodopadre comunitárioePadreHipólito,opadreinstitucional.“[...]opadrecomunitário buscacontribuirparaumprojetoglobalintegrador,queconvocaatodosos homensemulheresdeboavontadeparaasuarealizaçãoecujoreferencialé, fundamentalmente,ummundomaisjustoesolidário”(HARTMANN,1998,p. 9).Jáopadreinstitucionalpreocupa-se,geralmente,comquestõesparticulares, frequentementeintimistasefundamentalistas,eincentivamanifestaçõesde fé,masnãopossuidisposiçãoparaaorganizaçãocomunitária.Éconveniente
frisarquehácríticaàaçãodeAlbanoquandoeleérelapsoemquestõesde liturgia. É possível interpretar a
pouca vontade dele em relação às celebrações oficiaisdocatolicismocomoumreducionismodessemododeserIgrejaem sua
abordagem revolucionária dos problemas sociais.
Assimdefinidos,parafraseamosHartmann(1998)eidentificamoso padrecomunitáriomaiscomo“profético”eopadreinstitucionalmaiscom o “conservador” (fundamentalista,
intimista, assistencialista).
5Consideraçõesfinais
Este texto, de modo panorâmico, apontou,
inicialmente, aspectos darecepçãodapeçaRoqueSanteironoperíodomilitarditatorialnoBrasil. Após isso, explanaram-se diversas
traduções/adaptações do texto para o teatroeparaatelevisão.Afirmou-sequetodatradução/adaptaçãotelevisiva
ressignifica o texto-fonte (neste caso um material teatral), dentro dos
protocolosdesuamídiaaudiovisual,emquebuscafazeradaptaçõesapartir
dos discursos, das determinações, das pressões e das ideologias em voga.
Considerandoesteúltimoitem,realçaram-seduasideologiasdirigentes da ação católica àquela época: uma conservadora e outra
fundamentada naTeologiadaLibertação.Pormeiodacontraposiçãodosdiscursosedas
práticasdospadrescatólicosdatelenovela,PadreHipólitoePadreAlbano, destacaram-seduasformas,emmuitospontosbastantedistintos,doserIgreja.
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