Quem Te Viu, Quem Te Vê - Chico Buarque ‧ 1967
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer
Quando o samba começava, você era a mais brilhante
E se a gente se cansava, você só seguia adiante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer
Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer
Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade, por favor não dê na vista
Bate palmas com vontade, faz de conta que é turista
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer
AO MEU PROFESSOR CLODOVIS BOFF
Celso Pinto Carias, “mendigo de Deus”.
Caro professor.
Suas aulas e textos eram para mim a reflexão de um dos mais profundos teólogos que tive a honra de conhecer pessoalmente. Além da grande admiração por alguém que unia teoria e prática, que dava testemunho do que falava e escrevia.
Porém, agora fico me perguntado para onde foi este teólogo? Não escrevo para fazer contestação, mas para tentar encontrar este Clodovis que conheci.
Minha impressão, usando um ditado popular, é que você “está jogando a água é bebê fora”.
Não há dúvida que um intelectual profundo como você pode ir reformulando a própria reflexão ao longo tempo. Não me surpreende a revisão que você tem feito. Em certa medida, você sabe, até concordo que a TdL não aprofundou a relação da teologia com vida existencial do povo, não aprofundou, suficientemente, a dimensão subjetiva e simbólica.
Hoje mesmo (22/06), na pequena comunidade que participo, uma senhora que nunca tínhamos visto participou da Celebração da Palavra conosco. Na partilha ela disse que passou em frente e procurou saber o horário da celebração. Cremos que, como foi bem acolhida, abriu o coração. Disse que estava ali, na igreja, depois de três anos. Perdeu um filho assassinado, envolvido com drogas. Sentia-se culpada. Ora, o que poderíamos oferecer a ela? Falar da injustiça que o sistema impõe aos pobres? Dizer que há um processo de exclusão que estimula a aparofobia e segrega, sobretudo os negros? A comunidade simplesmente a acolheu e buscou afirmar que a vida dela tem valor e que vale a pena ela continuar. Parece que ela gostou.
Porém, sabemos bem, que isso não significa que possamos afirmar que o compromisso com os pobres seja um mero detalhe da Boa Nova de Jesus Cristo. Que o Reino de Deus não seja o centro da missão de Jesus de Nazar Também não dá para ficar no dualismo platônico entre alma e corpo, não reconhecendo a salvação como um processo integral até a plenitude.
Mas não tenho condições de fazer esta reflexão neste texto. O que me surpreende é a situação na qual você envolveu a sua crítica. Meu irmão, muitos dos que estão em sua volta hoje, utilizando-se do seu posicionamento, tem promovido mentiras e discurso de ódio. Alguns até suspeitos de estarem promovendo golpe de estado. Promovendo a divisão na Igreja de forma desonesta. Nosso Papa Francisco sofreu muito com eles.
Seria tão bom se pudéssemos bater um longo papo ao redor de uma mesa, com fraternidade, serenidade e acolhimento, para compreender tudo isso melhor. Fico imaginando uma conversa entre você e seu irmão Leonardo, que tanto te ama, e eu assistindo e dando um “pitaco” ou outro para provocar o aprofundamento.
Não sei se chegará a ler este pequeno texto, mas seria tão bom, sem querer ultrapassar o mestre, se a conversa não fosse pelo caminho escolhido por você, isto é, a aliança com setores eclesiais que nos odeiam, que rejeitam o Concílio Vaticano II. Não seria melhor uma conversa, pelo menos inicial, com pessoas que eram muito próximas a você?
Meu professor, se esta carta chegar a você, receba o meu abraço fraterno.
Um Cristo sem Jesus e sem os apelos do Reino: análise de um livro. Artigo de Faustino Teixeira
O objetivo desta minha reflexão é delinear alguns tópicos que estão presentes no recente livro de Clodovis Boff: A crise da Igreja católica e a teologia da libertação [1]. O livro recolhe dois textos anteriores de Clodovis Boff, publicados na Revista Eclesiástica Brasileira (REB) nos anos de 2007 e 2008. O primeiro texto foi publicado depois da Conferência de Aparecida (2007), com grande repercussão na ocasião, com reações publicadas também na REB, com artigos de teólogos como Leonardo Boff, Luis Carlos Susin, Francisco de Aquino Junior, José Comblín e João Batista Libânio [2]. A controvérsia já tinha de certa forma se iniciado por ocasião de uma conferência de Clodovis no encontro da SOTER, no ano 2000, onde abordou o tema: “Retorno à arché da teologia”. O texto veio publicado no livro organizado por Luiz Carlos Susin, A sarça ardente [3]. Além dos dois textos citados, o livro vem acrescido de um artigo inédito de Clodovis Boff e duas entrevistas concedidas por ele na Folha de São Paulo e na Adital [4]. A apresentação do livro foi feita por Leonardo Razera, também organizador da obra.
O incentivo à minha reação ocorreu também em razão de uma live com participação de Clodovis Boff, onde ele pôde apresentar o conteúdo essencial de seu novo livro. Isso ocorreu no dia 14 de junho de 2023, promovido pela diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda, com o título: Diálogos fraternos sobre a unidade cristã. Educação e a Casa Comum [5].
Eu tive o privilégio de ter sido aluno de Clodovis Boff durante o meu mestrado no Rio de Janeiro, entre 1978 e 1982. Pude acompanhar várias disciplinas ministradas por Clodovis, entre elas uma que abordou o tema de sua tese doutoral, recém defendida na Universidade de Lovaina na Bélgica. A tese veio publicada em livro no ano de 1978 [6]. Na ocasião, pudemos trabalhar cuidadosamente com ele todas as argumentações a respeito do método da Teologia da Libertação (TdL). Além das aulas, lembro-me que fizemos também um grupo de estudos sobre o livro, com participação de Inácio Neutzling, que era igualmente aluno do mestrado em teologia.
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