quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

O filme do baile do menino Deus na Igreja São Pedro Pescador como ato de resistência ao natal comercial/consumista de nossos dias..

 Mais uma sessão exitosa do Cineclube Realidade na Igreja São Pedro Pescador, dessa vez com o filme “O Baile do Menino Deus", escrito por Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima com trilha sonora de Antônio Madureira,  A terceira sessão  em 2025 no local é a  primeira realizada com a nossa curadoria ou escolha do filme. As duas primeiras sessões apresentaram filmes selecionados para a 2ª Mostra Mercosul Audiovisual pela equipe responsável da mesma. 

A relevância dessa obra magistral  reside na valorização da identidade nacional, ao contrapor o imaginário natalino europeu (Papai Noel, renas e neve) com um "Natal feito por nós e para nós", enraizado na cultura popular nordestina. 

E exibir “O Baile do Menino Deus” em um dia de dezembro não poderia ser escolha melhor, já que o filme é inspirado na história do  nascimento do Menino Deus e na  busca de Maria e José para um lugar seguro onde seu filho pudesse  nascer para não  correr  perigo de ser morto,  como tantas outras crianças condenadas  por Herodes (73 a.C.-4 d.C.), através de um decreto produzido visando  evitar o crescimento do  Rei dos Judeus, o qual conforme informações dos Reis Magos teria nascido dois anos antes da  assinatura do decreto imperial infanticida em  Belém nesse período. 

De outro modo, mas sem perder  semelhança com o enredo original  contado no Evangelho (Mateus 2:16–18), onde a busca pelo local do nascimento de Jesus através da estrela-guia é realizado por três reis magos, no espetáculo quem faz a busca  são dois Mateus,  que seguem  atrás da  estrela guia  que indica o local do nascimento do menino Deus. Mateus são personagens centrais do  Reisado, do Bumba meu Boi,  do Pastoril Profano, do   Cavalo Marinho e do teatro de mamulengo.

E se os magos da história bíblica oferecem ouro, incenso  e mirra, os dois Mateus do filme oferecem uma série de criações da nossa cultura popular, como  versos, advinhas, sortilégios e outros tipos de brincadeiras criativas inventadas pelo povo tempo afora , além de muitos tipos populares  presentes em nossos folguedos ou brincadeiras  como a burrinha, o jaraguá, o boi, as vestimentas e adereços dos caboclinhos e de diversas brincadeiras populares, tudo isso reunido em um baile que no filme é apresentado como uma espécie de cortejo popular, baile com muita música e muita dança. 

As músicas originais criadas para o espetáculo são da autoria de  Antonio Madureira (maestro do Quinteto Armorial) e inspiradas diretamente nos ritmos e tradições melódicas da região nordestina, utilizando instrumentos e sonoridades típicas.

Por ultimo, o filme do “Baile do Menino Deus” revela instantes de grande cuidado, ternura e afeto, isso no caso das cenas com Maria, Jose  e seu filho amado. São poucas cenas, mas com forte impacto emocional e que lembram o que afirma a canção francesa “La Trendesse” ( A ternura) 

"Pode-se viver sem riqueza 

Quase sem dinheiro 

Senhores e Princesas  

Já não têm muito 

Mas viver sem ternura 

Nós não conseguiríamos 

Não, não, não, não

Nós não conseguiríamos

Pode-se viver sem a glória

O que não prova nada

Ser desconhecido na história

E continuar bem

Mas viver sem ternura 

Isso nem sequer é questão 

Não, não, não, não 

Isso nem sequer é questão 

Ò que doce fraqueza 

Que lindo sentimento 

Essa necessidade de ternura 

Que nos vem nascendo 

Realmente, realmente, realmente   

No fulgor da juventude 

Florescem os prazeres 

E o amor faz proezas 

Para nos deslumbrar 

Sim, mas sem ternura 

O amor não seria nada 

Não, não, não, não 

O amor não seria nada 

Uma criança lhe beija 

Porque a faz feliz  

Todas as nossas tristezas desaparecem 

Vêm lágrimas aos olhos 

Meu Deus, meu Deus, meu Deus 

Em sua grande sabedoria 

Imenso fervor 

Faz então chover incessantemente 

No fundo dos nossos corações 

Torrentes de ternura 

Para que reine o amor 

Que reine o amor  

Até o fim dos tempos."


Vale a pena conferir a gravação original em francês gravada em estado de confinamento no período da pandemia, assim como a versão brasileira.   AQUI

EXIBIÇÃO DO FILME “BAILE DO MENINO DEUS”


Anotações por Iasmim Feitosa a partir do debate realizado pós exibição.

Local: Igreja São Pedro Pescador

Data: 10/12/2025

Horário: 19:20 (inicio)

Público: 11 pessoas (com a produção) 

Pergunta:

— O que vocês viram de interessante no filme? Algo que tenham visto, e lembrado de algo que já se perdeu, que não temos atualmente?

• Pra mim, ficou a alegria da dança. Isso foi perdido com o tempo, e vai se acabando. Essa alegria não temos mais, a risada, o sorriso, as brincadeiras. O mundo está muito acinzentado. 

• Quando eu morava em São Cristóvão (SE), havia animação, alegria, era muito bom. No Natal apresentavam o nascimento de Jesus, incluindo essas brincadeiras alegres e espontâneas que são apresentadas no filme. 

• Achei interessante essa realização representando o nascimento de Jesus na cultura do frevo, algo tradicional de Recife. Tudo isso em meio à pandemia. Também a inocência das crianças, sendo levadas pela música, e a alegria de estarem participando.  

• O casal está buscando uma casa, não apenas um lugar para ficar. A inclusão dos vários povos reverenciando o nascimento do menino. A juventude quem fez a saudação inicial, na hora da apresentação da dança de rua. E outro detalhe, a importância da música, a música é quem nos leva a seguir o enredo,  refletir e pensar. 

• O menino simplesmente nasceu, ninguém estava lá para ajudar. Ele apenas veio ao mundo.

• Fazem a representação com a cultura raiz de Recife, de Pernambuco. Muitas manifestações culturais que foram se encontrando e se misturando perfeitamente. Também a forma como o povo sentiu e percebeu a religiosidade. Estamos cansados de tanta discriminação, de tanto preconceito. Esse filme nos mostra como conviver com a diversidade cultural e a preciosidade disso. 

As fotos são de Iasmin Feitosa

Abaixo, texto produzido através da IA deepseek 

Quais as vantagens em assistir um filme em cineclube ao contrário dos cinemas e principalmente a diferença de assistir em cineclubes em comparação com assistir em streaming?

As diferenças entre cineclubes, cinemas comerciais e streaming são profundas e dizem respeito não apenas à experiência de assistir, mas ao propósito e ao contexto da exibição.

Vamos dividir as vantagens e diferenças:

Cineclube vs. Cinema Comercial

Um cineclube é uma associação cultural, não-comercial, voltada para a exibição, discussão e formação de público. A diferença central é a curadoria e a comunidade.

Vantagens do Cineclube:

Curadoria com propósito: A programação não visa o lucro, mas temas, autores, períodos históricos, cinematografias negligenciadas (como africana, asiática, latino-americana) ou filmes de arte/experimentais que nunca chegam aos multiplex.

Contexto e Mediação: Antes ou depois do filme, há uma apresentação (por um especialista, pesquisador ou o próprio programador) que situa a obra: seu diretor, contexto histórico, importância estética. Isso transforma a sessão em uma experiência de aprendizado.

Debate e Troca: A essência do cineclube é o debate. Ouvir diferentes interpretações, compartilhar impressões e dúvidas enriquece imensamente a compreensão do filme. Você sai com mais perguntas do que entrou.

Experiência Coletiva Qualificada: A plateia está ali por interesse genuíno, não apenas por entretenimento casual. O silêncio e a concentração costumam ser diferentes, e a reação do grupo é parte do evento.

Preservação do Formatos: Muitos cineclubes projetam em película (16mm, 35mm), oferecendo a experiência "original" da textura, grão e cor do cinema analógico, algo cada vez mais raro.

Acessibilidade e Preço: Geralmente, as sessões são mais baratas (ou por contribuição voluntária) e muitas vezes ocorrem em universidades, centros culturais ou espaços independentes, fora dos shoppings centers.

No Cinema Comercial (Multiplex), você tem:

Conforto técnico padronizado (som digital, imagem digital brilhante, poltronas largas).

Programação homogênea, dominada pelos grandes estúdios de Hollywood.

Experiência focada no consumo individual (pipoca, refrigerante, silêncio social).

Exibição no lançamento, como evento de massa.

Cineclube vs. Streaming
Aqui a diferença é ainda mais radical, indo do coletivo e dedicado para o individual e algorítmico.

Vantagens do Cineclube sobre o Streaming:

Imersão sem Distração (Atenção Forçada): No cineclube, você desliga o celular e se entrega ao filme por duas horas. No streaming, a pausa para o WhatsApp, a tentação de mudar de filme ou a multitarefa são constantes, quebrando a imersão.

Descoberta Ativa vs. Passiva: No streaming, você é guiado por um algoritmo que prioriza o que é popular ou "similar ao que você já viu". O cineclube propõe um caminho fora da sua bolha, desafiando seus gostos e expandindo seu repertório de forma consciente.

A Obra no Centro: No streaming, o filme é um "conteúdo" a ser consumido. No cineclube, ele é um "texto" a ser estudado e discutido. A valorização da obra é diferente.

Socialização Real e Debate Imediato: O streaming é solitário ou, no máximo, em família. O cineclube é um encontro social com estranhos que compartilham um interesse. O debate pós-filme é único e insubstituível – é a construção coletiva de significado.

Acesso ao Inacessível: Muitos filmes exibidos em cineclubes não estão disponíveis em nenhuma plataforma de streaming. Seja por questões de direitos, nicho de público ou simples desinteresse comercial. O cineclube muitas vezes é a única janela para ver essas obras em condições dignas de projeção.

Ritual e Memória: Ir a um cineclube é um evento marcado no calendário. Você se desloca, encontra pessoas, participa de um ritual. Isso cria uma memória afetiva muito mais forte do que "aquele filme que a gente viu na Netflix numa terça-feira à noite".

No Streaming, você tem:

Conveniência e instantaneidade infinita.

Catálogo vasto (mas superficial em certas áreas).

Controle total (pausar, voltar, acelerar).

Experiência totalmente personalizada e privada.

Conclusão Sintética
Cinema Comercial: É sobre entretenimento de massa e experiência técnica confortável.

Streaming: É sobre conveniência e consumo personalizado de conteúdo no seu tempo.

Cineclube: É sobre formação cultural, descoberta coletiva e pensamento crítico. É um ato de resistência cultural, que coloca o filme como arte e objeto de reflexão, não apenas como produto.

Em resumo, ir a um cineclube é como frequentar um clube do livro ou uma aula aberta sobre cinema. É uma prática que nutre não só o amor pelos filmes, mas também a capacidade de vê-los com outros olhos e de se conectar com outras pessoas através deles. É, acima de tudo, uma experiência ativa em um mundo cada vez mais passivo de consumo cultural.

Quem não pode ir ao espaço de convivência da Igreja São Pedro Pescador na noite de ontem, pode assistir em formato de streaming, mas considerando o que está escrito acima, não deixe de assistir no cineclube realidade ou em outros cineclubes, pelas razões apresentadas acima, tanto este filme, como outros.


Para ouvir a trilha sonora do filme acima, clique aqui (youtube) ou  aqui  (spotfy) 

aqui, ouça a trilha sonora do espetáculo cênico com  gravacão de 1987 

 Sobre o Cineclube Realidade 

O Cineclube Realidade teve as atividades do ciclo inicial realizadas na Escola Estadual Júlia Teles , como uma das ações do Ponto de Cultura Ação Cultural, a partir de agosto de 2015 até outubro de 2017, abrindo com o filme filme "Uma onda no ar" (comunicação periférica)    e encerrando com o filme" Quando sinto que já sei” (estudantes com vez e voz nas escolas) , depois prosseguiu em Aracaju no ano de 2019, 2024 e 2025

O início da atividade se deu a partir da Oficina Rap Identidade Cultural, fruto de proposta realizada por ex-alunos da escola que formaram os grupos de rap Filosofia de Loucos e Resistentes da Favela. 

O Cineclube Realidade foi criado para contribuir no desenvolvimento daquilo que é considerado como o quinto elemento do hip-hop, o  conhecimento , os outros quatro elementos são:  DJ, MC, Breakdance, Graffiti e Conhecimento. O DJ é o mestre de cerimônias, o MC é o vocalista que rima, o Breakdance é a dança, o Graffiti é a arte visual e o Conhecimento representa a consciência social, a história e os valores da cultura hip hop. 

Para este  final de 2025 e durante 2026 o Cineclube Realidade foi contemplado como um dos componentes  principais do Projeto Ação Cultural Juventude e Cidadania,   apresentado em seleção pública através do  Edital de Chamamento Público nº 11/2024 – Rede Municipal de Pontos de Cultura de Aracaju, no âmbito da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) e da Política Nacional Cultura Viva com participação da Fundação Cultural de Aracaju (Funcaju) - Prefeitura de Aracaju.

O projeto em tela prevê,  além da sessões de cinema mensal, oficina de audiovisual com celular (março-abril-2026), oficina de teatro popular (abril-maio-2025), mostra cultural (maio-2026), seminário introdutório de educação popular, ação cultural e participação social (junho-2026) e transmissão aberta de formação cultural no youtube (agosto-setembro-outubro 2026).

Sobre a Ação Cultural

A Ação Cultural é uma organização da sociedade civil pioneira no trabalho com dança moderna, audiovisual, teatro, cineclube e hip-hop, junto e misturado, voltado principalmente as crianças, adolescentes e jovens residentes na periferia de Aracaju e Região Metropolitana.

Foi criada no ano de 2004 por artistas e produtores culturais emergentes, além de educadores envolvidos com atividades de ação cultural nas periferias.

Se organiza buscando empoderar agentes e grupos culturais que atuam na periferia realizando de forma colaborativa reuniões, pesquisas de diagnóstico, oficinas de elaboração de projetos, produção de artigos/release, divulgação on-line, organização de portfólios, promoção de fóruns de debates, oficinas e mostras artísticas.

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