terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Cineclube Realidade em parceria com o Instituto Piabinhas encerra com alegria e tristeza a última sessão da 2ª Mostra Mercosul Audiovisual no São Braz (Socorro-SE).

 Na última sexta-feira (05/12), ocorreu a última sessão da 2ª Mostra Mercosul Audiovisual realizada pelo Cineclube Realidade. Em outros pontos de exibição pelo país, as atividades prosseguiram até ontem,  segunda-feira, 8 de dezembro. Aqui em Sergipe, soubemos pelas redes digitais que o Ponto de Cultura Barracão Mãe Maria também integra a rede de exibição da mostra.


Para nós, da Ação Cultural — entidade-mãe, ou guarda-chuva, por ter gestado e abrigar o Cine Realidade — foi de grande importância participar desta edição, assim como da primeira Mostra Difusão Cinema e Direitos Humanos. Ambas foram organizadas pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV/MINC), em parceria com outros ministérios e, no caso da Mostra Mercosul, com organismos equivalentes dos países que compõem o bloco,  Argentina, Brasil, Paraguai  Uruguai,  Bolívia e Colômbia como pais convivendo para essa mostra. 

É justamente esse aspecto do trabalho em rede que desejamos destacar aqui, especialmente quando conectado ao contexto local.

Como divulgado em nossas redes, a sessão de ontem foi realizada na base comunitária do Instituto Piabinhas, localizada no povoado São Braz, município de Nossa Senhora do Socorro — parte integrante da região metropolitana de Aracaju. Trata-se de um território cada vez mais conectado à capital devido às grandes obras de infraestrutura, como a construção de pontes. Isso é particularmente evidente no caso do São Braz, que vem gradualmente perdendo suas características de povoado e assumindo a configuração de um bairro urbano — processo que traz ganhos e perdas.

Na foto,  Denisson José da equipe do Cineclube Realidade mediando o debate e comentando sobre a questão ambiental no filme e na realidade do São Braz.

Para quem conheceu a região antes da construção da segunda ponte sobre o Rio do Sal, fica claro o impacto dessa obra em uma comunidade que vivia “nos fundos” dos novos conjuntos habitacionais do antigo Complexo Taicoca — nome hoje substituído pela denominação Complexo Marcos Freire. De “porta dos fundos”, São Braz transformou-se em porta de entrada, ou segunda porta de entrada, de Aracaju para Socorro. E isso significa abertura para uma nova frente de expansão imobiliária e de empreendimentos econômicos concentradores de renda, marcados por baixos salários, condições de trabalho exaustivas e pouca perspectiva de desenvolvimento pessoal e social. Soma-se a isso a ameaça constante à preservação dos recursos naturais e da cultura comunitária local.

No caso de São Braz, entretanto, essa cultura tem resistido. Isso se deve, em grande parte, à visão de futuro de um casal de jovens moradores que, há cerca de vinte anos, criou o projeto sociocultural “Pescando Memórias”. Graças a iniciativas como essa, a memória, a paisagem e as tradições da comunidade ainda encontram espaços, cada vez mais reduzidos para perdurar.

Esses temas estiveram presentes no debate que se seguiu à exibição do segundo filme da tarde, Terra sem Males, que suscitou reflexões sobre passado, identidade, pertencimento e futuro.

Abaixo, texto produzido por Iasmin Feitosa, assistente de produção do Cineclube Realidade

Relatório de Exibição – Cineclube Realidade
2° Mostra Mercosul Audiovisual
Local: Instituto Piabinhas
Horário: 15h45
Data: 05/12/2025
Público presente: 28 pessoas (incluindo a produção)


[Primeiro Filme – Dois Rios: Cacau e Liberdade]

Pergunta: “Teve algo mostrado no filme que marcou vocês?”

• A injustiça das pessoas que trabalhavam ali, terem as posses tomadas por senhores de alto escalão. 

• As pessoas produziam seu próprio alimento, recebiam pouco, eram submissos aos senhores. Até vir a praga Vassoura de Bruxa, e funcionar como solução para os trabalhadores, que denominaram a praga de "Santa Vassoura".

• O sistema Cabruca, que tem como ato cultivar e colher sem derrubar a mata. 

• O pessoal mexendo e fazendo a secagem do cacau. Me lembrei de quando eu trabalhava fazendo farinha, utilizando o mesmo forninho. 

• A introdução do cultivo de outros alimentos, fazendo o Sistema Cabruca. 

[Segundo Filme – La tierra sin mal]

Pergunta: “O que vocês acham sobre a visão que o filme passou? ”

Respostas/opiniões de alguns alunos:

• As belas árvores sendo derrubadas apenas pela ambição de terceiros. 

• A cultura e a natureza sendo demolidas e soterradas por grandes empresas mobiliários. 

Sobre o meio-ambiente:

• Os empresários fazem o que querem, eles são os políticos hoje em dia. Se a comunidade não tiver força suficiente para barrar a construção de um conjunto residencial de prédio que destrói parte significativa do verde e da paisagem natural do povoado, terá que tomar medidas mitigadoras, principalmente na parte ambiental.

* Poderia ser uma espécie de mini parque ambiental ou praça, mantendo a natureza viva no que pode dar lugar a um condominio de prédios, pressionado também a manutenção do mangue e da qualidade das águas do rio do sal, que pode se transformar em um esgoto a céu aberto, mais ainda do que já é. 
[Iasmin S. Feitosa - Assistente de Produção]

"Acompanhando o filme durante a sessão realizada no Instituto Piabinhas, minha visão sobre o curta "La tierra sin mal" foi vê-lo como um retrato potente e melancólico do conflito entre um mundo que busca o sagrado na natureza e um outro que a vê apenas como um recurso a ser explorado. Deixou a sensação de uma perda irreparável, não só de território, mas de um sonho coletivo. Foi e é uma pequena obra necessária para refletir sobre o custo humano do "desenvolvimento". Iasmin Feitosa

Absurdo, uma canção bela e sensível sobre a destruição do meio ambiente em função dos  interesses capitalistas.


O vídeo abaixo foi produzido por mulheres que estiveram presentes. O destaque é o momento do lanche, pipocas e refrigerantes... 


SOBRE A 2ª MOSTRA MERCOSUL AUDIOVISUAL

Iniciativa do Ministério da Cultura e da Recam reúne 12 curtas de cinco países, reforçando a integração cultural e o olhar das novas gerações sobre o território latino-americano.

De 8 de novembro a 7 de dezembro, o público poderá conferir a 2ª Mostra Mercosul Audiovisual, que neste ano tem como tema Territórios e Paisagens em Transformação. As exibições ocorrem em 367 pontos culturais distribuídos em 250 municípios de todos os estados brasileiros e são gratuitas.

A iniciativa, promovida pela Secretaria do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul (Recam), celebra a diversidade cultural e o olhar sensível das novas gerações sobre o território e suas histórias.

A Mostra será exibida em cineclubes, pontos de cultura, bibliotecas públicas e comunitárias, escolas e instituições educacionais, centros educativos urbanos (CEUs) da Cultura, centros culturais, movimentos sociais, associações, museus e unidades socioeducativas, além de salas verdes e pontos do circuito Tela Verde, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

As exibições são organizadas de forma descentralizada pelos pontos exibidores, que têm liberdade para propor atividades complementares junto às sessões. Em muitos locais, o público também poderá participar de conversas, debates ou oficinas.

Duas sessões, múltiplos olhares

A Mostra reúne 12 curtas-metragens de cinco países — Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Colômbia (país associado da Recam) — distribuídos em duas sessões: uma voltada ao público infantil e outra ao público em geral.

Na Sessão Infantil, produções como A menina e o Mar; Casa na Árvore e Os Macarus convidam o público a redescobrir o mundo pela curiosidade e pela poesia do cotidiano, enquanto No Están Solos II, De Onde Você É? e El Intronauta propõem reflexões sobre a convivência e a relação entre humanidade e meio ambiente.

Já a Sessão para o público em geral apresenta histórias que atravessam memórias, resistências e identidades regionais. Filmes como Dois Riachões: Cacau e Liberdade, La Tierra Sin Mal e Movimentos Migratórios destacam a força das comunidades que reinventam o território a partir da luta, da ancestralidade e da esperança.

Entre o real e o mítico, Keradó, Mita’i Churi e Luthier reafirmam o poder do audiovisual como espaço de encontro e expressão entre povos latino-americanos.

Sobre o Cineclube Realidade 

O Cineclube Realidade teve as atividades do ciclo inicial realizadas na Escola Estadual Júlia Teles , como uma das ações do Ponto de Cultura Ação Cultural, a partir de agosto de 2015 até outubro de 2017, abrindo com o filme filme "Uma onda no ar" (comunicação periférica)    e encerrando com o filme" Quando sinto que já sei” (estudantes com vez e voz nas escolas) , depois prosseguiu em Aracaju no ano de 2019, 2024 e 2025

O início da atividade se deu a partir da Oficina Rap Identidade Cultural, fruto de proposta realizada por ex-alunos da escola que formaram os grupos de rap Filosofia de Loucos e Resistentes da Favela. 

O Cineclube Realidade foi criado para contribuir no desenvolvimento daquilo que é considerado como o quinto elemento do hip-hop, o  conhecimento , os outros quatro elementos são:  DJ, MC, Breakdance, Graffiti e Conhecimento. O DJ é o mestre de cerimônias, o MC é o vocalista que rima, o Breakdance é a dança, o Graffiti é a arte visual e o Conhecimento representa a consciência social, a história e os valores da cultura hip hop. 

Para este  final de 2025 e durante 2026 o Cineclube Realidade foi contemplado como um dos componentes  principais do Projeto Ação Cultural Juventude e Cidadania,   apresentado em seleção pública através do  Edital de Chamamento Público nº 11/2024 – Rede Municipal de Pontos de Cultura de Aracaju, no âmbito da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) e da Política Nacional Cultura Viva com participação da Fundação Cultural de Aracaju (Funcaju) - Prefeitura de Aracaju.

O projeto em tela prevê,  além da sessões de cinema mensal, oficina de audiovisual com celular (março-abril-2026), oficina de teatro popular (abril-maio-2025), mostra cultural (maio-2026), seminário introdutório de educação popular, ação cultural e participação social (junho-2026) e transmissão aberta de formação cultural no youtube (agosto-setembro-outubro 2026).

Sobre a Ação Cultural

A Ação Cultural é uma organização da sociedade civil pioneira no trabalho com dança moderna, audiovisual, teatro, cineclube e hip-hop, junto e misturado, voltado principalmente as crianças, adolescentes e jovens residentes na periferia de Aracaju e Região Metropolitana.

Foi criada no ano de 2004 por artistas e produtores culturais emergentes, além de educadores envolvidos com atividades de ação cultural nas periferias.

Se organiza buscando empoderar agentes e grupos culturais que atuam na periferia realizando de forma colaborativa reuniões, pesquisas de diagnóstico, oficinas de elaboração de projetos, produção de artigos/release, divulgação on-line, organização de portfólios, promoção de fóruns de debates, oficinas e mostras artísticas.

As sessões do Cineclube Realidade como parte da 2ª Mostra Mercosul Audiovisual. 

1ª sessão - 08 de Novembro (sábado) Igreja São Pedro Pescador - Avenida João Rodrigues, 425, bairro Industrial  – Aracaju – às 16h30.  

2ª sessão 19 de Novembro (Quarta-Feira) – Igreja São Pedro Pescador - Avenida João Rodrigues, 425, bairro Industrial  – Aracaju – às 19h.  

3ª sessão 02 de dezembro (Terça-Feira) - Instituto Federal de Ensino (Socorro) - Av. Perimetral B, s/n, Conj. Marcos Freire I, Nossa Senhora do Socorro - Sergipe.- 8 às 12 h. 

4ª sessão - 05 de dezembro  (Sexta-Feira) - Sede do Instituto Piabinhas no município de Nossa Senhora do Socorro, localizado no povoado São Braz, rua Vereador Deoclides Vasconcelos, n°44. - às 15h.


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