No filme Evangelho da Revolução, Pe. Júlio faz o encerramento da película junto com a Estação Primeira da Mangueira no desfile de 2020, onde foi apresentado um questionamento ao Jesus bélico, individualista e conformista que passou a ter papel de destaque institucional nos anos do governo Bolsonaro como reação ao Jesus da paz inquieta, da partilha e da inclusão defendido pela Teologia da Libertação.
Quanto ao final do filme, o diretor François Xavier Drouet foi muito feliz por finalizar o mesmo com Pe.Julio e com o desfile da Mangueira, mostrando que apesar de toda perseguição , a Teologia da Libertação está viva e a sua influência extrapola os muros eclesiais.
Uma imagem que me veio à lembrança depois do final do filme é àquela que vemos ao final de uma grande fogueira de São João no começo dos primeiros raios da manhã, quando depois de um fogo alto e bonito, a fogueira mesmo baixa e reduzida a um monte de cinzas, ainda queima, ainda brilha em alguns pontos ou por debaixo das próprias cinzas e ai de quem acha que pode mexer impunemente naquilo que sobrou, e se foi uma fogueira vigorosa então.
Por último, ligando o final do filme Evangelho da Revolução, com os atuais acontecimentos relacionados ao Pe. Júlio vem a mente trecho da canção "Podres Poderes" e aqui percebemos o quanto simbólico e significativo é o papel e a pessoa do Pe. Júlio Lancellotti.
"Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval"
Samba-Enredo 2020 - A Verdade Vos Fará Livre
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (RJ)
Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade
Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi pro cordão da liberdade
E também vale a pena relembrar o samba enredo da Mangueira de 2019.
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