sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

O PL da anistia disfarçada para além do Jornal Nacional e da Globo, Record e SBT NEWS. Aqui, de acordo com o artigo de Eliara Santana no GGN, 247 e Meteoro. Vale a leitura!!

 


“Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa”, por Eliara Santana

Foi notícia de que Jacques Wagner havia costurado acordo para votar o PL da Dosimetria em troca da aprovação da taxação de bens e fintechs.

por Eliara Santana

Guimarães Rosa é sempre inspirador demais da conta em todos os momentos. Ontem, dado o furor dos últimos acontecimentos na votação do PL da Dosimetria, pensei muito e muito nesse conterrâneo. Recapitulando, o que estourou na mídia – a partir de uma fala e uma postagem de Renan Calheiros – foi a noticia de que o PT, via Jaques Wagner, o senador baiano, havia costurado um acordo para votar o PL da Dosimetria em troca da aprovação da taxação das bens e fintechs, a taxação BBB.

Segundo a denúncia partiu do senador Renan, o líder do Governo havia pedido para “deixar votar” o projeto da dosimetria como parte de uma articulação para destravar a pauta econômica no Senado.

Caça às bruxas, ou melhor, ao PT.

A Globo indignada com tamanha “safadeza”, colocando Otávio Guedes pra gritar e bradar contra Wagner, pra dizer que o PT rifou a democracia.

Comecei a ver o noticiário e a acompanhar as reações da esquerda, ou do campo progressista, como preferirem. Todos deixando saltar o ódio a Wagner, a Rui Costa, às tramoias políticas, colocando a política naquele campo puro, imaculado, sem respingos, muita gente jurando que jamais votaria no PT de novo, danando-se para a extrema direita. Pensei em Maquiavel se revirando no túmulo. E fiquei matutando (gosto muito de matutar) pra entender – afinal, não tenho todas essas certezas que tanta gente tem. Mentira. Tenho uma certeza firme: NÃO QUERO VER A EXTREMA DIREITA DE VOLTA AO PODER NO BRASIL.

Muito bm. Vi as justificativas do senador Jaques Wagner, com aquela calma de quem vê a tarde passar em Itapoã tomando um belo whisky, falar que o acordo foi “de procedimento e não de mérito” e que ele resolveu arriscar sem falar com o presidente Lula ou com a ministra Gleisi, porque “quem está na política tem de ter coragem de se arriscar, e a política sem risco não tem graça”. Ainda segundo o senador baiano, “no mérito, o meu partido fechou questão contra essa matéria, e o governo orienta voto contra”.

Vamos pensar em alguns aspectos para tecer os fios, se for possível.

1: Pode ter havido tentativa de acordo pra garantir uma vitória muito importante para o Governo com um Congresso miserável? Sendo que o PL da Dosimetria não será aprovado por Lula e pode ser alvo do STF? Pode, claro que pode. De novo, estamos falando de real politik. Jaques Wagner já assumiu a “culpa” toda pelas tratativas, Gleisi condenou a ação do líder e disse que o PT e o Governo não negociam a democracia. Aliás, os senadores petistas todos votaram contra o PL.

2: O PL da Dosimetria reduz as penas de Jair Bolsonaro e dos demais golpistas do 8 de janeiro. É um absurdo? Sim, total – o Congresso blindando os bandidos. A base do Governo tinha força pra derrotar a aprovação? Não. Os senadores petistas votaram a favor? Não. Lula vai aprovar? Não. O presidente afirmou hoje, em coletiva a com os jornalistas, que quem atentou contra a democracia tem de pagar e que se o PL chegar à mesa dele, ele vai vetar.

3: O Governo é minoria no Congresso. Minoria de verdade num Congresso aberta e francamente bolsonarista. O Congresso quer marretar o Governo, quer destruir o Governo. Não há clima para republicanismo.

4: Sem a taxação BBB, o Governo começaria 2026 com um problemão orçamentário – em ano eleitoral. Teria de cortar na carne de projetos importantes. Estamos falando de 20 bilhões. Iria inviabilizar o Governo. Mas ontem, o Governo teve uma vitória impressionante. Conseguiu virar o jogo e retirar uma série de isenções e garantir a taxação e a possibilidade de orçamento – recuperou 20 bilhões para 2026.

5: Insultos a Rui Costa e a Wagner explodiram na rede. Pedidos de afastamento de ambos. Gritaria, muita raiva. Não estou aqui defendendo nenhum dos dois, sei que Rui tem problemas à frente da Casa Civil e que Wagner tem lá seus problemas também. No entanto, três coisas: 1) a Bahia é uma vitrine do e para o PT, é o estado que deu a maior votação a Lula, em que o PT governa há CINCO mandatos; 2) para onde vão no estado (e eles rodam muito pelo interior), Rui, Wagner e Jerônimo levam Lula – de inauguração de escola a entrega de cestas de Natal, o discurso vigente é “esse projeto foi possível graças à parceria com o governo do presidente Lula; a Bahia está de braços dados com o Presidente”, e isso se integra ao discurso das pessoas de modo geral, cidadãos comuns que defendem o PT e defendem Lula e VOTAM em Lula; 3) a extrema direita quer furar os feitiços de proteção da Bahia e entrar de sola no estado, minando a força de Lula; para isso, conta com as agremiações evangélicas picaretas que explodiram no estado e com a mídia – já repararam que a manchete “Violência na Bahia” volta à cena com força?

6: Nos estertores de 2025, é muito conveniente colar no PT a pecha de corrupto, que faz negociata, tramoia – nas redes, da esquerda e da direita, esse era o tom. Sobretudo no final do ano, quando os índices de Lula estão muito bons e a extrema direita ainda está capenga – mas os entornos de Flávio estão se organizando, não se iludam.

Por fim, não acredito em santos na política, que fique claro. Sou totalmente contra esse PL que livra os bandidos, que fique claro também (antes que atirem pedras). No entanto, aprendi que a gente deve respirar e tentar olhar as coisas com mais racionalidade e menos fígado.

Lá bem atrás, quando comecei a tentar montar o quebra-cabeça da parceria mídia e Lava Jato, em muitos momentos, diante de tantas certezas de gente tão mais eloquente e competente que eu, cheguei e pensar que estava sucumbindo a teorias da conspiração – sei lá, vai ver era aquilo mesmo, o PT era um antro de corrupção, estava envolvido nas tramoias da Petrobras que deviam existir…. Tantos alecrins dourados que estavam acima do bem e do mal e que vociferavam contra o PT e Lula e Dilma. Enfim, talvez eu estivesse mesmo errada. Mas também sou teimosa – aliás, muito teimosa – e achei que minha intuição pudesse estar certa. Fui fuçando, fuçando… e o tempo e as investigações mostraram que, afinal, eu estava certa em enxergar a parceria. Aliás, só para registro, apanhei muito, muito durante os anos – longos – do episódio Lava Jato. Vocês se lembram que os procuradores eram seres ungidos pelo Divino e que estavam acima do bem e do mal, não é?

Como eu sou reles mortal e aprendi a não pensar com o fígado, depois de anos exposta ao fundo vermelho com canos enferrujados e dinheiro escorrendo, sinto-me à vontade para costurar aqui esses fios soltos (pelo menos para mim). O Governo é minoria num Congresso miserável, que defende única e exclusivamente seus interesses e os interesses do andar de cima. Não há projeto, muito menos projeto de país. Estamos lidando – e vamos lidar em 2026 – com a escória da política, que foi levada ao poder com o bolsonarismo – e permanece no poder, mesmo que tenham perdido em 2022 a Presidência. Um republicanismo romântico, como se estivéssemos na Dinamarca comemorando o Natal, não nos salvará e nem vai possibilitar que possamos sonhar com um país um tiquim melhor.

Esse é só o meu ponto de vista. De alguém que tem poucas certezas, muitas dúvidas e uma vontade enorme de derrotar de novo a extrema direita.

Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora do Observatório das Eleições e integra o Núcleo de Estudos Avançados de Linguagens, da Universidade Federal do Rio Grande. Coordena o programa Desinformação & Política. Também Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Leia o  artigo na fonte original, aqui

Para integrantes do governo Trump, avanço do PL da Dosimetria na Câmara pesou em decisão dos EUA sobre Moraes

Segundo integrantes do governo Trump, o movimento no Congresso brasileiro influenciou revisão de sanções impostas ao ministro do STF

247 - O avanço, na Câmara dos Deputados, de um projeto de lei que reduz penas de condenados pelos ataques de 8 de janeiro e pela trama golpista foi considerado determinante para a mudança de posição do governo de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, em relação às sanções aplicadas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A revisão das medidas também atingiu Viviane Barci de Moraes, esposa do magistrado, e o Instituto Lex, ligado à família do ministro.

Segundo O Globo, o andamento do texto no Legislativo brasileiro foi interpretado pelo Departamento de Estado dos EUA como um sinal positivo, sendo visto por interlocutores próximos ao secretário de Estado, Marco Rubio, como um passo na direção certa.

De acordo com integrantes da administração Trump, o projeto em debate na Câmara passou a ser tratado internamente como uma “lei da anistia”, embora o texto não preveja a eliminação das penas. A leitura predominante no governo estadunidense foi a de que o avanço da proposta indicaria uma redução daquilo que autoridades dos EUA classificavam como prática de lawfare no Brasil.

Ainda segundo esses relatos, a manutenção de Alexandre de Moraes e de sua esposa na lista de sancionados passou a ser vista como incompatível com os interesses da política externa dos Estados Unidos. A suposta perseguição do Judiciário brasileiro a Jair Bolsonaro (PL) era apontada por Trump e por Rubio como o principal argumento para justificar tanto as sanções quanto o tarifaço de 50% imposto às exportações brasileiras.

Controvérsia sobre as sanções
A aplicação das punições, no entanto, sempre foi alvo de controvérsia. Alexandre de Moraes não é acusado de corrupção, e suas decisões no processo relacionado à tentativa de golpe foram reiteradamente confirmadas pelo plenário do STF. Além disso, o Brasil é classificado como uma democracia com Judiciário independente por projetos acadêmicos internacionais de democracia comparada, como os da Freedom House e do V-Dem.

O comunicado oficial que anunciou a retirada dos nomes da lista da Lei Magnitsky, divulgado pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, não detalhou as razões que motivaram a mudança de posição.

Distensão diplomática entre Brasil e EUA
A decisão ocorreu em meio a um processo de distensão nas relações entre o governo Trump e a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O fim das sanções vinha sendo solicitado pelo Brasil em conversas diretas entre Lula e Trump, além de tratativas conduzidas pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, junto ao secretário de Estado Marco Rubio.

Alexandre de Moraes havia sido incluído na lista de sancionados em julho, no mesmo dia em que Trump anunciou oficialmente o aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros. A justificativa apresentada à época foi a atuação do ministro na ação penal da trama golpista, que resultou na condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão.

Impactos da Lei Magnitsky
Moraes foi o primeiro brasileiro sancionado diretamente com base na Lei Magnitsky, que prevê bloqueio de bens e contas bancárias em território americano. As medidas também tiveram reflexos no Brasil, como o cancelamento de cartões de crédito. Em 22 de setembro, o governo dos Estados Unidos ampliou as sanções para Viviane Barci de Moraes e para o Instituto Lex, empresa vinculada à esposa do ministro e aos três filhos do casal. 

ALESSANDRO VIEIRA, QUE SUPOSTAMENTE DENUNCIOU O "ACORDÃO", VOTOU POR GOLPE | PLANTÃO






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