Blog do Cinema
Nostalgia da revolução
18 de dezembro de 2025 | José Geraldo Couto
O filme Nouvelle vague, de Richard Linklater, está em cartaz em janeiro nos cinemas do IMS Paulista e IMS Poços.
Fico sempre com um pé atrás diante de filmes que buscam reconstituir “fatos reais” e/ou retratar figuras históricas conhecidas. Esse ímpeto mimético tende a apequenar o próprio cinema, reduzindo-o a uma função meramente ilustrativa. O filme passa a ser avaliado por sua capacidade de imitar caninamente o real: “Olha como o ator fulano está igualzinho ao sicrano que ele interpreta”.
Dito isso, vamos a Nouvelle vague, o filme de Richard Linklater que retrata os bastidores da produção de O acossado (1960), de Jean-Luc Godard, marco do cinema moderno e uma das obras fundadoras da... Nouvelle vague.
Vemos ali, em ação, a personalidade efervescente e imprevisível de Godard (Guillaume Marbeck), às voltas com um produtor duro na queda (Georges de Beauregard, encarnado por Bruno Dreyfürst), uma equipe atarantada e duas estrelas de personalidades díspares (Jean Seberg/Zoey Deutch e Jean-Paul Belmondo/Aubry Dullin). A missão nada modesta da trupe: subverter o cinema convencional e criar uma nova forma (ou novas formas) de expressar o real por meio de som e imagem.
Nosso fetichismo
A despeito do que foi dito no primeiro parágrafo, é forçoso dizer que se trata de um filme irresistível para os cinéfilos (entre os quais me incluo), talvez por conta de certo desejo fetichista de estar ali, no epicentro de uma revolução estética, política e moral. E nos deixamos levar prazerosamente por essa onda, que o próprio Godard maduro ironizaria invertendo a frase. “Une vague nouvelle”, disse ele, transformando o adjetivo em substantivo e vice-versa: uma vaga novidade.
Assim, o filme nos leva não apenas aos sets de filmagem, mas também à redação dos Cahiers du cinéma, às conversas com ídolos como Rossellini e Bresson, aos cafés e ruas do Quartier Latin, numa reconstituição cuidadosa expressa num preto e branco que mimetiza a imagem do filme original, cujo frescor, aliás, segue incólume.
Para que não se quebre o encanto, praticamente todos os diálogos são frases de efeito ditas de fato em alguma ocasião, ou expressam de modo didático as transgressões buscadas por Godard. E aqui há um paradoxo: fala-se, por exemplo, do faux-raccord e dos cortes no interior do plano, mas o filme de Linklater não os pratica em nenhum momento, resignando-se a uma decupagem essencialmente convencional, “invisível”. É um filme clássico celebrando um filme moderno.
Truffaut, o ex-amigo
Tudo somado, é uma obra a ser vista e comentada, um bom desfecho para o ano cinematográfico. Para os espectadores paulistanos, o lançamento vem com um bônus considerável: o Cinesesc programou uma mostra completa da obra de François Truffaut.
Um complemento ou contraponto mais que interessante seria o documentário Godard, Truffaut e a Nouvelle vague (2010), de Emmanuel Laurent e Antoine de Baecque, disponível em DVD da Imovision. Ali se investiga mais a fundo essa espinhosa amizade/inimizade criativa que sacudiu a história do cinema.
quarta-feira, 14 de setembro de 2022
O Godard que conheci de muito ouvir falar e que agora contemplo nas reações pela sua morte.
Comecei a ouvir falar de Godard cedo, em virtude de ter vivido como adolescente e inicio da juventude em uma certa época e em um certo lugar, além do gosto precoce pela leitura de jornais..
A época foi os meados de 1970 a até os meados de 1980. O local foi o Rio de Janeiro, um Rio não tomado pelo tráfico de drogas, milícias e fundamentalismo religioso, mas com o embrião do que veio a se tornar nestes tristes dias, misturado com as alegrias da praia, do futebol e da beleza da sua gente, da sua natureza e sua cultura..
Por gostar de ler jornais, em especial o Jornal do Brasil e os jornais da imprensa alternativa e independente, topava vez em quando com Godard e outros mestres do cinema europeu. Godard foi bastante citado..
Das leituras até o cinema, via cinemas de arte, cinemas de rua e cineclube, foi só um pulo.. Como morava distante do centro e da zona sul, locais onde podia encontrar os tipos de cinema que citei, não conseguir frequentar com mais constância, porém quando podia fazer era motivo de alegria,
Dos filmes escolhidos tinha especial predileção pelos filmes censurados e depois exibidos com o afrouxamento ou fim oficial da censura...
Por gostar em primeiro lugar de música brasileira, de literatura brasileira e do cinema nacional, não buscava assistir filmes estrangeiros, salvo alguns censurados e depois liberados... Lembro em especial de Pai Patrão (1977 - Irmãos Taviani) e Novecento (1976 - Bernardo Bertolucci).
Leia/assista mais em:
https://acaoculturalse.blogspot.com/2022/09/o-godard-que-conheci-de-muito-ouvir.html


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