Tomamos nossa casa como exemplo de vida cultural e entendemos que a gestão cultural é uma forma de construir laços e afetos. Nas relações domésticas, a administração dos bens e serviços é fruto de negociação. As famílias têm um ou mais indivíduos e, portanto, já se pressupõe uma diversidade cultural, construída por opiniões antagônicas, mas também por acordos e por afeto. As soluções chegam por meio do diálogo comum, que geralmente está condicionado ao consenso, o que, muitas vezes, esfria o ânimo necessário para a engrenagem funcionar.
As experiências acumuladas em casa trouxeram um modelo de gestão doméstica mediado pela cultura. No Estado, o povo abandonou, em grande medida, a cidadania.Passamos, então, a entender a gestão cultural como algo possível nas casas, que são nossos grandes centros culturais. O que as baliza são as diversidades de pessoas e de culturas. Uma casa, em sua diversidade, é ouro, porque não existem lugares iguais. No Estado, o poder ainda é para poucos.
Sem a participação das pessoas na gestão cultural doméstica, tudo fica mais difícil ou acaba virando uma disputa de imaginários: um quer verde, outro amarelo. Criando consenso, existe diálogo, e as pessoas podem convergir para uma mesma ideia. O Estado que ainda está previsto na Constituição é o de bem-estar social, que funciona a partir da isonomia e da garantia de direitos.
No entanto, o neoliberalismo povoa nosso imaginário. Por isso, precisamos entender que participação e controle social são direitos. Voltando um pouco: você imagina um interventor dentro da sua casa, te orientando e assumindo o papel de gestor cultural? Isso é o que normalmente acontece nos territórios periféricos: alguém determina o que você vai dizer, fazer, comer ou beber, ou qual roupa, comida ou bebida pode consumir ou não; quanto vai gastar nas compras ou quais contas vai pagar.
No modelo de Estado-empresa, visa-se o lucro, a redução de gastos e a diminuição do Estado, o que extingue a participação social. Esse é o pressuposto de um Estado conduzido pelo gestor-empresário.
Por isso, nossa luta é contra o desmonte do Estado e pela ampliação de uma governança deliberativa e universal, sem tirar do horizonte o diálogo.
Neri Silva Silvestre: Produtor cultural, articulador e gestor cultural, idealizador do Sarau na Quebrada, poeta e agitador cultural. Sempre foi um sujeito inquieto. Quando jovem lança com o grêmio escolar, o Jornal Macunaíma, daí não parou mais. Esteve à frente como coordenador do 1° Ponto de Cultura de Santo André (SP) de 2010/2013. Produziu inúmeros eventos que vão da música à literatura.

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