Marcelo Barros
Vigília de Páscoa, 2023
Queridas irmãs e queridos irmãos,
Escrevo essas linhas para vocês, preparando o coração para a vigília desta noite e já curtindo a alegria de cada momento e celebrando cada palavra e cada gesto desejando que eles não passem e essa embriaguez do Espírito seja permanente e sem fim, sem fim.
Mas como transmitir a quase insensatez dessa boa notícia? Em alguns momentos, me sinto como se falasse um idioma que foi extinto e ninguém mais quer falar. Ou, desculpem a comparação, como uma mulher grávida que tenha buscado maternidades e batido à porta de vários grupos para descobrir onde dar a luz e as pessoas olham como se dissessem: Não há mais gravidez! Não vale a pena engravidar. Não há mais lugar neste mundo para novo nascimento.
Vou participar da vigília pascal junto com a comunidade do Mosteiro do Discípulo Amado, inspiração do padre Comblin e hoje na periferia do grande Recife. É com esta pequena comunidade monástica, inserida e que reúne irmãos e irmãs de várias gerações, várias procedências e acolhe vizinhos/as de diversas Igrejas, que vamos juntos proclamar: O Cristo ressuscitou verdadeiramente e esta é a fonte da nossa alegria e da nossa comunhão!
Ali vamos retomar o caminho das mulheres, amigas de Jesus, do túmulo vazio para a comunidade dispersa e sofrida para dizer: Vamos acordar a aurora. A barra do dia já surgiu. A vida venceu a morte.
Vamos nos juntar nessa caminhada da madrugada e participar do que Karl Barth chamava de “conspiração de testemunhas”. Vamos teimar na aposta de que a vida, sim, é que tem a última palavra, vitoriosa sobre a morte, raio brilhante que projeta luz nas densas trevas da condição humana.
Vamos fazer serenata para a lua cheia. Neste ano, as comunidades judaicas estão celebrando o Pesah nestes mesmos dias que nós. Os/as muçulmanos estão no meio do Ramadan. Na Amazônia, os Xamãs Yanomami chamam os Iatiris e eles reanimam a dança da vida e a floresta renasce em meio às cinzas. O amor é possível e o carinho vale a pena.
Vamos convidar nossos mártires e nossos/nossas mestres na fé e vamos sim ajudar a madrugada a nascer. Nós passamos da morte para a vida porque amamos e quando amamos. É essa transgressão fundamental que nos faz crer na Vida e espalhar ressurreição. Para testemunhar que Cristo ressuscitou, já experimentamos a vida nova em nós. Vamos acordar.
É Páscoa e que esta nossa Páscoa seja sem fim. Feliz Páscoa.
Abraço do irmão Marcelo Barros
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