domingo, 23 de abril de 2023

São Jorge, o Santo que venceu a demanda do preconceito católico: não tem hóstia, mas tem feijoada!

 Padre Gegê Natalino


Não vou me alongar. Sou do tempo em que , pelas lentes do catolicismo oficial carioca, metido a besta, São Jorge era visto, no mínimo, como santo suspeito; Santo de malandros, marginais e macumbeiros. 

Já ouvi muitos relatos de mães, pais, filhos e filhas de santo dizendo que, pela fé no santo guerreiro, foram hostilizados por padres.

Outros tantos sequer falavam em Jorge pra não dar confiança a Ogum. 

Em resumo, São Jorge sempre foi olhado com suspeita e desdém pelo catolicismo oficial carioca. Longe de Jorge, longe dos macumbeiros!

No entanto, hoje, com ou sem padre ou bispo, cresce de modo admirável a devoção ao Santo vencedor de demandas. Muitas e muitos, por mil e uma razões, privados da hóstia consagrada, comem o sagrado no suculento feijão.

Para o povo é assim: "não tem cão, caça com gato"; não tem hóstia, mas tem feijoada!

O que sabe a teologia sobre a fome ritual do povo?

Pode a catequese falar de comunhão sem entender de feijão?

São Jorge é o Santo da resistência popular!

Ao que parece, o Santo só quer passar!

Com ou sem Igreja, o Santo montado em seu cavalo entra nos corações do povo. E se a Igreja, hoje, não correr atrás do Santo perde o povo nas encruzilhadas da vida. O Santo corre mais rápido que a teologia e a catequese oficiais da Igreja. A Igreja é lenta em entender que o imaginário não separa a cruz da encruza. Como num casamento, ninguém separa o que Deus uniu!

Dizem as más línguas, que, na Arquidiocese do Rio, neste ano da graça de 2023, há um projeto de Missão Popular em que conta com a entronização da imagem de São Jorge nos lares dos cariocas. Quem diria... Salve, Jorge!

De Santo rejeitado à Santo do povo, Santo da cidade, Santo do lar. 

Quem foi que disse que o Santo do povo e o povo do Santo não vencem demandas?

Salve, Jorge; Ogunhê!

https://www.youtube.com/watch?v=fHpH-mvCt6A


https://www.youtube.com/watch?v=TbZYzMAGqmY


https://www.youtube.com/watch?v=-TjVFn-hK0Y


JORGE NO CAMINHO DE EMAÚS

Chico Alencar

(Breve reflexão para cristãos ou não)

Nesse 3º domingo depois da Páscoa conta-se a linda história dos discípulos a caminho do povoado de Emaús (Lc, 24, 13-35).

Uma história de desencanto (com Jesus morto, estavam arrasados), de aceitação do outro (um "estranho" junta-se a eles na caminhada), de diálogo sincero (vão conversando no trajeto de 11 km), de aprendizado (o "desconhecido" conhecia muito as Escrituras e os profetas), de acolhida ("já vem a noite, fique conosco", dizem os de Emaús ao peregrino) e de revelação (reconhecem Jesus na partilha fraterna do pão!).

Todos somos chamados, na estrada da vida, a encontrar os valores da esperança, da abertura ao outro, da busca do conhecimento, da solidariedade, do entusiasmo - que "aquece o nosso coração", abre nossa visão, tira o "morno" do cotidiano.

Esse domingo 23/4 é também Dia de São Jorge. Jorge da Capadócia (atual Turquia) - 275-302 d.C.-  e do Brasil, tão querido na devoção popular.

Jorge que, explica Mayara Horta, da Casa União Umbandista Luz, Caridade e Amor, "é sincretizado com Ogum, orixá guerreiro, cavaleiro do céu, que vence as batalhas com bravura. Orixá que guerreia pela paz! É também aquele que forja o aço, faz as lâminas para a luta e o trabalho".

Mayara completa: "existe uma conexão de Ogum com São Jorge, também cavaleiro, também valente, que luta contra o mal".

Há uma identificação, tanto de São Jorge quanto de Ogum, com a vida do povo brasileiro. Que, na sua vulnerabilidade, carece de muita proteção, enfrenta maléficos "dragões" - desigualdade, desprezo, privação - e ainda assim mantém teimoso gosto de existir, com alegria e animação...

Vejo Jorge/Ogum como mais um a caminhar ao lado de Jesus, na estrada de Emaús... Vamos, corações ardentes, nos juntar a essas luminosas e protetoras companhias!

Imagem 1: Emaús, Claudio Pastro (1948-2016)

Imagem 2: São Jorge, Ermelinda de Almeida (1947-)

Chico Alencar

Meia noite, acordei com intenso foguetório nas bandas de Santa Teresa, Catumbi, Rio Comprido (RJ). Era a saudação a São Jorge e a Ogum. Madrugada a dentro, nos terreiros, o orixá é cultuado. E missas católicas, desde cedinho, estão sendo celebradas, com centenas de fiéis. São Jorge também é muito reconhecido na Igreja Ortodoxa e na Comunhão Anglicana (é também muito popular na Inglaterra e na Rússia). O domingo será de muita feijoada, samba e cortejos em homenagem a Jorge/Ogum. Que tanta festa e louvor nos animem, com sua proteção (do santo ou do orixá), a não esmorecer, a sermos "guerreiros" pela Justiça, sem a qual não há Paz verdadeira. Com o "coração ardente" dos discípulos de Emaús!






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