29/4/2023-19h
Antônia Amorosa de Menezes. Você pode até discordar muito, ou razoavelmente, do gingado, de modo superlativo como essa moça vê o mundo, percebe as coisas e as pessoas há 56 anos em Sergipe.Mas jamais poderá ser indiferente ou levantar suspeita de omissão ou descompromisso em relação à sua atuação na cultura do Estado, na música e até mesmo perante as pessoas do seu tempo.
Amorosa, portanto, não deixa nada a dever a qualquer teórico do setor cultural de Aracaju, de Sergipe ou do Brasil - tanto dentro quanto fora de cargos públicos.
Amorosa tem um poder de atuação e um histórico que se encaixam bem nessa boa visada da coisa cultural. Este ano, completa 40 de carreira artística, com um foco que à faz atracada à música, mas é também poeta, radialista, jornalista, teórica e agitadora cultural.
Ela se impôs tanto e de tal modo na vida e na cultura que se fez identificar apenas pelo adjetivo que carrega no sobrenome: Amorosa. É Amorosa, e pronto. De Antônia e de Menezes, as pessoas, desde que não sejam as mais íntimas e intimíssimas, até esquecem. Ou pouco lembram.
E é com essa carga densa e respeitável que Amorosa chega a um atracadouro forte e importante no curso das políticas públicas culturais de Estado de Sergipe.
O espaço que ela preside, a Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe - Funcap -, só não é uma Secretaria de Estado em si por filigranas. Ou mera morfologia de nomenclatura. Mas é quem define e gere toda a política de cultura do Estado.
Se, deste posto, ela vai agir como gestora na mesma proporção do que visualiza e promete, isso é uma outra coisa. É tábua ou madeira de uma outra lei. Às vezes a política é mais atravanco do que avanço.
Mas Amorosa é atenta e não esquece área ou atividade alguma sob o seu domínio ou entorno na esfera que representa. Sua visada perpassa o pop junino, o cult do teatro, da poesia e das artes visuais. Da música dita popular, reino em que ela habita.
Pensa no interior como uma grande bandeira de possibilidades, nos equipamentos e monumentos apensados ao fazer cultural - incluindo aí os de Comunicação do mundo Aparipê, que são da sua jurisdição e paróquia.
Para este ano de início de Governo, a Funcap que ela preside dispõe de uma alavanca fantástica em forma de mais de R$ 33 milhões vindos da Lei Paulo Gustavo, em cima da qual o desgoverno federal anterior havia botando uma pedra.
Desde algum tempo, Amorosa e sua equipe de Funcap estão Sergipe adentro promovendo treinamento para aplicar essa dinheirama toda sem complexidade.
“Entendo que a cultura é o nível mais alto da educação de uma sociedade, e que se pode fazer muito por ela quando um gestor e também esse povo entendem da sua importância, da intensidade e da sua permanência”, teoria a gestora.
Amorosa sempre ressalva que encontra no governador Fábio Mitidieri, PSD, um agente público com sensibilidade prática para as coisas culturais. Programar uma festa junina com uma grade de 30 dias para este ano, como fez Fábio, é para ela uma demonstração clara disso.
“O País do Forró precisa ocupar seu lugar de direito. Não temos no Brasil nenhum lugar que se aproxime da riqueza cultural de Sergipe. Se em Pernambuco a festa é em Caruaru e na Paraíba, em Campina Grande, em Sergipe, podemos dizer que não citamos só uma cidade, mas várias delas”, diz.
“Temos um potencial cultural valioso que precisa ser colocado numa vitrine compatível com o mercado nacional. Na visão do novo governo, a cultura de Sergipe deve caminhar com a cultura nacional, não de forma isolada, mas confluindo entre o permanente e o midiático”, reforça.
Como era de esperar da faladeira Amorosa, nessa Entrevista Domingueira ela se expõe sem filtro e ungida pelos sais das boas intenções.
Antônia Amorosa de Menezes nasceu no dia 27 de fevereiro 1967 na velha Itabaiana Grande. “Pelas mãos da minha avó Zita, parteira”, diz ela, se autodefinindo como “menina de gamela”. É filha de Lucindo Lima de Menezes e de Percília da Silva Barreto.
Solteira, “até casar de novo”, ela é mãe de Glau Marcel de Menezes Rocha, 34 anos, Gabriel de Menezes Rocha, 31, Amora Raynah Menezes de Medeiros, 23, e avó de Maria Luiza Tavares de Menezes, 4 anos, e de Maya Menezes Vasconcelos, de apenas três semanas.
Se dizendo “formada na faculdade que tem escrito na frente sei que sei, mas sei que por mais que saiba, sei que nada sei”, além de cantora, Amorosa tem registro de radialista e de jornalista.
Ela bateu os bancos do Educandário João XXIII, Eduardo Silveira, Murilo Braga, Atheneu Sergipense e da Unit. “Minha especialização (acadêmica) foi construída na lida diária da dedicação de 40 anos na vida cultural com shows local, nacional e internacional, cinco livros lançados, oito anos assinando uma coluna no Correio de Sergipe, mais de 400 artigos publicados e tendo servido ao poder público por quatro anos na Funcaju. Posso até me aposentar aos 56 anos, mas não vim ao mundo para me acomodar”, adverte.
Nos 40 de cantorias, Antônia Amorosa gravou sete CDs, fez parte de 10 coletâneas fonográficas e participou do Festival Canta Nordeste em 1993, promovido pela Rede Globo, onde foi contemplada como melhor intérprete, do Festa da Música Brasileira, no Rio de Janeiro, em 2001, onde ganhou também como melhor intérprete e do Festival de Cascavel, no Paraná, levando a Aclamação Popular, que ela considera “o voto mais desejado por um artista”.
“A cultura, dita humana, é um universo amplo, complexo, contraditório, definido, mutante, dinâmico, estático, permanente, exuberante e diferente. Necessário e sacrificado, elevado e simples, reconhecido e esquecido”, teoria ela.
A Entrevista com Amorosa está cheia de convincentes afirmações e vale o tempo dedicado à leitura.
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O que faltou ser perguntado pelo jornalista Jozailto Lima a presidente da FUNCAP - Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe? As melhores perguntas serão publicadas até o final da primeira semana de maio no blog da Ação Cultural. Participe! Vamos elevar o nível do debate sobre políticas culturais em Sergipe Del Rey.
“Entendo que a cultura é o nível mais alto da educação de uma sociedade, e que se pode fazer muito por ela quando um gestor e também esse povo entendem da sua importância, da intensidade e da sua permanência”
JLPolítica & Negócio - Para além do que pensa e propõe o Governo sergipano para a cultura, o que a senhora pessoalmente compreende da área e o que pensa para ela?
Antônia Amorosa - Entendo que a cultura é o nível mais alto da educação de uma sociedade, e que se pode fazer muito por ela quando um gestor e também esse povo entendem da sua importância, da intensidade e da sua permanência.
JLPolítica & Negócio - Quais são os principais desafios que se sobrepõem ao seu caminho como gestora de cultura do Estado via Funcap?
AA - O maior deles é se deparar com uma estrutura ainda não modernizada, que necessita de maiores investimentos tecnológicos e de registros, além de uma capacitação técnica em torno dos seus operadores, na esfera funcional permanente ou temporária. É igualmente desafiador tentar ressignificar na mentalidade de uma parte artística que o Estado pode ser um grande parceiro quando o agente tem atividade laboral ativa no mercado ou se faz ser percebido pelo povo através da sua arte. Afinal, quem reverbera o valor de um artista não é unicamente o Estado, mas primeiramente o povo. Um artista, um pensador, um pesquisador que não ecoa no coração de um povo, e não reverbera sua missão ao ponto de gerar admiradores ou fãs, precisa rever sua missão, produzindo arte com conceito e qualidade para se tornar coadjuvante da sua própria história e legado.
JLPolítica & Negócio - O que é que a senhora encontrou na Funcap enquanto ambiente para fomentar e fecundar a Cultura do Estado?
AA - Dispomos de bons equipamentos que precisam ser ocupados pelo setor artístico de Sergipe. Do Gonzagão aos teatros, Sergipe precisa ver mais Sergipe nestes ambientes. E, com brevidade, anunciaremos as novidades que pretendemos desenvolver, não apenas nestes equipamentos públicos, como também no interior, que precisa de um olhar mais atento pelo Estado, onde o governo tem dado uma aula exemplar através do projeto idealizado pelo próprio governador Fábio Mitidieri, via o “Sergipe é Aqui”, que tem feito diferença por onde tem passado.
DA TEORIA DE CULTURA II
“A cultura, dita humana, é um universo amplo, complexo, contraditório, definido, mutante, dinâmico, estático, permanente, exuberante e diferente. Necessário e sacrificado, elevado e simples, reconhecido e esquecido, seja pela instrução, por suas atividades ou vocações, dons ou interesses. Penso que a construção coletiva da cultura é o caminho para seu alicerce”
JLPolítica & Negócio - Aliás, o que foi possível a sua gestão tocar nesses 100 dias de Governo?
AA - Chegamos em janeiro e nossa posse ocorreu em fevereiro. Entre as ações, fizemos um levantamento do inventário da maioria das unidades, faltando concluir a TV Aperipê e unidades em reforma. Formamos uma equipe do patrimônio e solicitamos que realizassem diligência no patrimônio da própria Funcap, além de visitas nos bens tombados que necessitam de vistoria e laudo. A área de patrimônio urge atenção, dada a sua importância e necessidade de planejamento estratégico de preservação. Solicitamos um levantamento das obras de artes visuais da Lei Aldir Blanc e da Funcap e, em breve, anunciaremos uma ação em torno deste acervo. Direcionamos uma equipe para apresentar um diagnóstico de todas as unidades, assim como levantamento dos processos jurídicos em andamento. Estamos reavaliando os modelos contratuais dos espaços, a exemplo dos teatros, sobre as taxas, regras na reserva de pauta com maior transparência e a busca por uma melhor modernização no atendimento das bilheterias. Como ações culturais, realizamos o I Cortejo Forró Verão durante o Festival de Verão e realizamos o maior encontro de mulheres da música, dança, poesia, circo, teatro e ritmos de Sergipe, contemplando 75 delas em uma política pública de inclusão no Dia da Mulher. Com o apoio do governador, que tem uma visão de turismo também voltada ao entretenimento com cultura, a Funcap realizou parceria com a Prefeitura Municipal de Aracaju através do Festival de Verão, apoiou o Rasgadinho, Lagarto Folia e tem dado suporte às emendas impositivas da esfera federal e estadual. Cumprimos com a etapa das oitivas da Lei Paulo Gustavo e já estamos na quarta rodada de gestores do interior, faltando apenas três para concluir. Realizaremos após essa rota cultural pelo Estado, uma grande oitiva e seminário visando instruir gestores e a cadeia produtiva da cultura no tocante às regras e projetos que serão viáveis pela Lei Paulo Gustavo que é mais rigorosa do que a Lei Aldir Blanc, necessitando de maior preparação onde estamos apenas aguardando a regulamentação. Temos um projeto inovador para a Orsse e desejamos com maior brevidade possível, colocá-la em prática. Entendemos da necessidade de uma ação estratégica em torno dos museus e já estamos debatendo com nossa equipe para definirmos coordenações especializadas nestes espaços, com a devida capacitação técnica para avançarmos nesta área. No tocante aos projetos de ações culturais estaremos lançando, ainda em maio, todo o plano estratégico que será realizado no biênio 2023/2024, atendendo à visão do nosso gestor que tem preparado toda equipe de governo numa visão transversal de unidade, comprometimento e resposta positiva junto a sociedade. Pela alta demanda da Funcap, dispomos de uma equipe pequena, porém disposta ao trabalho.
JLPolítica & Negócio - Afinal, a partir do espaço que a senhora ocupa e representa, o que é cultura para a senhora?
AA - A cultura, dita humana, é um universo amplo, complexo, contraditório, definido, mutante, dinâmico, estático, permanente, exuberante e diferente. Necessário e sacrificado, elevado e simples, reconhecido e esquecido, seja pela instrução, por suas atividades ou vocações, dons ou interesses. É o cenário que endeusa os homens e, muitas das vezes e infelizmente, reduz ilusoriamente a superioridade de Deus. Mas, no que concerne especificamente à pergunta, a nossa cultura é a menina rica desta terra Serigy que seus habitantes precisam saber mais da sua existência e dos seus tesouros, mas que ainda insistem em observar tudo que possa vir de mais longe, que seja quase intocável e, por isso, torna-se mais valioso. Penso que ela, a “menina rica” em que defino a nossa cultura em toda sua pluralidade, segue pelos anos, corpos, vozes, movimentos, poéticas e mãos a dançar, pintar, moldar, tocar, cantar, sentir, criar, representar numa luta insana para conseguir chamar a atenção de todos que estão bem aqui, ao seu lado, tão perto e, muitas vezes, tão longe.
JLPolítica & Negócio - O que fazer para preservá-la e nela avançar?
AA - A única forma de seguir é continuar mostrando-se como é, com cada agente, cada expressão,
disposto à missão, seja pelo novo, seja pela arquitetura que preserva o passado. Penso que a construção coletiva da cultura é o caminho para seu alicerce. De mãos dadas com o poder público, cada um entendendo qual é o seu papel. Defendo ações que tragam para nossa gente um reconhecimento do que somos e do que queremos para nosso presente e futuro. E o duelo reside justamente nisso: em discernir a cultura permanente da paralela, sem desprezar esta ou aquela. O que penso sobre cultura no sentido prático é executando ações que contribuam com cenários democráticos, acessíveis, respeitando as regras burocráticas inevitáveis que obrigam os seus fazedores a ocupar o cenário de negócios com organização, planejamento e visão.
AÇÃO EM PARCERIA COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
“Fui surpreendida positivamente com a convivência que tenho tido com o secretário Zezinho Sobral, da Educação. Um homem público cordato, atencioso, dinâmico, e que já visitou a Funcap para reuniões regulares, sempre com pontualidade, conselhos pertinentes e abertura para parcerias”
JLPolítica & Negócio - É solitário e complexo tocar um projeto em nome dessa área?
AA - É desafiador. Lembro de uma noite em que não dormi, idealizando tudo o que desejo fazer, se Deus permitir, diante da oportunidade que me foi concedida pelo governador Fábio Mitidieri, com apoio direto do meu amigo Nitinho Vitale, um apaixonado por cultura, da mesma forma que Fábio. A pasta é plural, é complexa, e exige de mim uma atenção constante em todos os movimentos que a compõem. Defendo uma modernização em todas as suas instalações para um acompanhamento mais dinâmico e seguro, visando proteger o bem público e acompanhar as dinâmicas de cada ambiente integrado à Fundação.
JLPolítica & Negócio - Com que previsão orçamentária a senhora conta para tocar a Funcap neste 2023?
AA - Já chegamos com uma previsão orçamentária e, embora a Funcap tenha, para este ano, um valor visualmente generoso, ele tem destino e finalidade. A primeira delas envolve a maior festa dos sergipanos, na qual o governo pretende realizar um investimento compatível com a visão de mercado para concorrer com Estados que também são destaque nacional. O País do Forró precisa ocupar seu lugar de direito. Não temos no Brasil nenhum lugar que se aproxime da riqueza cultural de Sergipe. Se em Pernambuco a festa é em Caruaru e na Paraíba, em Campina Grande, em Sergipe, podemos dizer que não citamos só uma cidade, mas várias delas. Temos um potencial cultural valioso que precisa ser colocado numa vitrine compatível com o mercado nacional. Na visão do novo governo, a cultura de Sergipe deve caminhar com a cultura nacional, não de forma isolada, mas confluindo entre o permanente e o midiático. Ao mesmo tempo, há valores que chegam pela Funcap que são emendas federais e estaduais, a maioria delas impositiva, e não será diferente com a Lei Paulo Gustavo que embora lide com um valor expressivo, sua destinação tem base legal e será conduzida de forma responsável para quem de direito: a cadeia produtiva da cultura. Por fim, realizaremos projetos que irão contemplar diversos setores da cultura. Ou seja: estamos diante de um governo que não fará gestão cultural se baseando numa Lei que foi conquistada pela cadeia produtiva da cultura. O governo de Fábio está sintonizado com a inovação, a coragem e a vontade de fazer diferente, tendo em seu próprio orçamento o devido para este setor.
JLPolítica & Negócio - Qual é a interação entre a Funcap e a sua Secretaria-mãe, a da Educação? Há uma interface entre elas, ou as duas marcham por caminhos solitários?
AA - Fui surpreendida positivamente com a convivência que tenho tido com o secretário Zezinho Sobral, da Educação. Um homem público cordato, atencioso, dinâmico, e que já visitou a Funcap para reuniões regulares, sempre com pontualidade, conselhos pertinentes e abertura para parcerias. Portanto, o que posso dizer é que nossa convivência tem atendido à visão do nosso líder que defende a convivência colaborativa, respeitosa e construtiva.
O DESTINO DO TEATRO LOURIVAL BATISTA
“Há, por parte da gestão, grande interesse em entregar o teatro com a maior brevidade possível. Se ele sobreviveu até aqui e o Estado jamais desistiu dele, mesmo que tenha sido estagnado por causa, talvez, da crise pandêmica, estamos acompanhando os relatórios dos nossos técnicos para que seja retomada a sua finalização (de recuperação)”
JLPolítica & Negócio - A senhora chegou à Funcap quase numa pós-pandemia. Há algo especificamente a fazer para atenuar os danos deixados por aquele período?
AA - Há muito a fazer desde antes da pandemia. É fato que não se faz uma transformação radical em 100 dias. Mas, pode-se dizer muito de uma gestão a partir das diretrizes iniciais e temos visto um gestor altamente dinâmico, de energia positiva e muita vontade de realizar o melhor que puder. Sobrevivemos a uma guerra onde a saúde física e psicológica desafiou a todos nós. Mas, se atravessamos este monte, Deus espera que sejamos proativos em favor do próximo, entendendo que a dinâmica do servir ensinado por Ele mesmo continua sendo o melhor investimento que fazemos em favor da vida e do bem comum.
JLPolítica & Negócio - Quais são os equipamentos específicos de atribuição da Funcap, e fisicamente como estão eles?
AA - Dispomos de dois equipamentos em reforma, dois teatros ativos, dois espaços para eventos multicultural, museus administrados em parcerias e três deles diretamente pela Funcap. Um cinema administrado pelo Curta-SE, uma galeria e a TV/Radio Aperipê. Como sendo espaços antigos ou de rotatividade constante, a manutenção e preservação exige da gestão planejamento para pequenas ou inovadoras reformas que exigem oportuno planejamento orçamentário que já está sendo analisado para os devidos ajustes e cronograma para sua realização.
JLPolítica & Negócio - O Teatro Lourival Batista vai sumir do mapa da cultura sergipana?
AA - Se ele sobreviveu até aqui e o Estado jamais desistiu dele, mesmo que tenha sido estagnado por causa, talvez, da crise pandêmica, estamos acompanhando os relatórios dos nossos técnicos para que seja retomada a sua finalização, atendendo ao objeto contratual e entendendo o diagnóstico até aqui apresentado. Há, por parte da gestão, grande interesse em entregar o teatro com a maior brevidade possível.
DA BOA PARCERIA COM A SECRETARIA DE TURISMO
“Temos uma relação respeitosa e construtiva. Realizamos juntos o Calendário de Sergipe na perspectiva cultural e turística. E lançaremos, no comando do governador Fábio Mitidieri, o Projeto Segundona do Turista, visão do nosso gestor que uniu cultura, turismo e trabalho em torno deste importante objetivo artístico anual no cenário de forró mais secular do Brasil”
JLPolítica & Negócio - Como é que a Funcap vê institucionalmente o interior do Estado e suas múltiplas manifestações?
AA - Vemos como o melhor palco que podemos ter para fazer acontecer o que realmente somos com nossas expressões artísticas, literárias, sonoras, de criação, originalidade e movimento. O interior é um tesouro cultural a ser descoberto, investido e valorizado.
JLPolítica & Negócio - É boa ou inexistente a interlocução entre a Funcap e a Secretaria de Estado do Turismo?
AA - Temos uma relação respeitosa e construtiva. Realizamos juntos a construção do Calendário de Sergipe na perspectiva cultural e turística. E, em breve, lançaremos no comando do nosso governador Fábio Mitidieri, o Projeto Segundona do Turista, visão do nosso gestor que uniu cultura, turismo e trabalho em torno deste importante objetivo que apresentará para a sociedade uma programação artística anual no cenário de forró mais secular do Brasil.
JLPolítica & Negócio - Para a senhora, a estrutura burocrática de Sergipe estava preparada para um São João de 30 dias corridos, como determinou o governador Fábio Mitidieri para este ano?
AA - A gestão de Fábio Mitidieri não pensa ou age unilateral, mas sempre com transversalidade. Para que tenha ideia, embora o Encontro Nordestino de Cultura envolva vários eventos interligados - Arraiá do Povo, Encontro Nacional de Música Nordestina, Arranca Unha do Centro de Criatividade, Arraiá do 18 do Forte, apoio à Rua São João, Arraiá do Gonzagão, além do concurso para escolha do Cavalheiro e da Rainha do Milho no País do Forró e Salva Junina com desfile de quadrilhas até o Centro de Criatividade, somados ao apoio para iniciativas populares -, este projeto traz consigo a participação direta da Funcap, das Secretarias de Turismo e de Comunicação, através de uma equipe operacional que atua na logística, jurídica, financeira, contratual e de comunicação. Onde existe amor pelo que faz, até o improvável se torna viável.
DOS MAIS DE R$ 33 MILHÕES DA LEI PAULO GUSTAVO
“São R$ 33.036,415,48 onde cada município recebe 20% pelo FPM e 80% por seus habitantes. Deste valor, R$ 24.305,515,06 é para o audiovisual - por ser um recurso de impostos do setor e conquista nacional do segmento -, e R$ 8.730.900,41 destinados a outras manifestações culturais”
JLPolítica & Negócio - O que é que uma festa deste porte e deste tamanho pode deixar de positivo para o turismo e a cultura de Sergipe?
AA - É a oportunidade que Sergipe tem de dizer ao mundo porque somos O Pais do Forró. Já testemunhei como artista várias piadas em torno desta frase, quando muitos diziam que “País do forró que só tem forró nas festas juninas é igual a qualquer outro lugar!”. Neste governo Sergipe irá testemunhar ações concretas de mobilização para o fortalecimento desta frase “País do Forró”, porque Sergipe avança na frente após a conquista do forró como Patrimônio Cultural do Brasil. Aliás, lembremos que foi Sergipe quem decretou o 24 de junho como feriado pela importância cultural que celebramos como sendo um segundo natal dos sergipanos. Todo o Estado se movimenta, e isso só ajuda na economia criativa e no estímulo ao turismo.
JLPolítica & Negócio - Qual é o planejamento da Funcap para 2023 diante da Lei Paulo Gustavo?
AA - Estamos realizando as oitivas com gestores. Já alcançamos algumas regiões reunindo cidades em torno de uma delas. Fizemos em Boquim, Propriá e Porto da Folha através do Sergipe é Aqui, orientando também artistas em torno do mapa cultural. Em breve, faremos na região centro sul, região Metropolitana de Aracaju e na área da cidade de Capela. Recentemente estivemos em Itabaiana alcançando as cidades circunvizinhas da região. Temos cumprido com as etapas exigidas por lei e orientado artistas sobre o mapa através do departamento da Dicult. Quanto às oitivas que são obrigatórias, já cumprimos, graças a Deus, com esta primeira etapa.
JLPolítica & Negócio – A Funcap sabe quanto virá para Sergipe da Lei Paulo Gustavo?
AA - São R$ 33.036,415,48 onde cada município recebe 20% pelo FPM e 80% por seus habitantes. Deste valor, R$ 24.305,515,06 é para o audiovisual - por ser um recurso de impostos do setor e conquista nacional do segmento -, e R$ 8.730.900,41 destinados a outras manifestações culturais.
DO FIM DOS PRÊMIOS ESTADUAIS DE POESIA E CONTO
“Afirmo que neste governo a literatura terá seu momento e vez em que poderemos dar maior visibilidade aos nossos escritores. Entre as nossas metas, estão a criação da biblioteca virtual sergipana, a itinerância literária e um festival de música que irá confluir com a poesia”
JLPolítica & Negócio - Quais serão o formato e o planejamento do Encontro Nordestino de Cultura deste ano?
AA - Ele será ampliado em sua estrutura, estratégia de marketing, atrativos artísticos e alcance na cadeia produtiva do mercado junino, contribuindo com uma aceleração em diversos setores que dependem diretamente da cultura de eventos. Somente na área musical, alcança em Sergipe mais de mil trabalhadores entre músicos, quadrilhas juninas, filarmônica, grupos folclóricos, equipe técnica e setorial de produção.
JLPolítica & Negócio - A senhora acha normal que o Governo do Estado de Sergipe tivesse apagado do horizonte da literatura os Concursos Estaduais de Poesia Santo Souza e de Contos Núbia Marques?
AA - Não quero entrar no mérito de quem assim o fez por desconhecer o aspecto orçamentário da época. O que afirmo é que neste governo a literatura terá seu momento e vez em que poderemos dar maior visibilidade aos nossos escritores. Entre as nossas metas, estão a criação da biblioteca virtual sergipana, a itinerância literária e um festival de música que irá confluir com a poesia.
JLPolítica & Negócio - O Sistema Aperipê de Comunicação - com sua TV e Rádio - vai continuar natimorto sob a sua gestão?
AA - Atualmente a pasta está sendo conduzida diretamente pelo jornalista Carlos Batalha, profissional experiente que já dirigiu a emissora radiofônica em outra gestão. Seguindo a diretriz de transversalidade do governo e a divisão de tarefas, a Funcap tem cumprido sua parte onde estamos colhendo material sonoro de artistas sergipanos considerando que o acervo atual da emissora neste sentido está aquém da realidade do mercado. Também estamos preparando um material voltado para o segmento da TV, sempre na linha cultural.
DAS SAUDADES DE ISMAR BARRETO
“Ismar Barreto dizia que eu era a sua quarta irmã e péssima companhia para farras - porque eu não bebia nada alcoólico e assim sigo nesta disciplina. Eu digo que ele foi meu maior compositor e o sergipano mais incrível que conheci, com orelha e tudo, tendo sido capaz de ler o contemporâneo com humor, sonoridade e poesia”
JLPolítica & Negócio - Mas não é pra já!
AA - Você há de convir que um projeto desta natureza não se constrói em três meses de governo. Recentemente estive lendo um TCC de quase dez anos e as mesmas reclamações de hoje são as mesmas registradas no trabalho. Portanto, o problema estrutural da Aperipê não nasceu agora. E para que a gestão consiga transformá-la, que é um dos focos do novo governo, será necessário uma intervenção planejada com recursos, assim como na reformulação do organograma e programação, sem esquecer da equipe ativa daquela unidade que merece ser valorizada, onde conhecemos aqueles que por ela se dedica, por anos.
JLPolítica & Negócio - Ao longo da sua carreia, como foi e tem sido a sua relação com os compositores sergipanos?
AA - Fui uma das intérpretes que contribuiu com o surgimento de compositores no mercado sergipano, a exemplo de Ismar Barreto, tendo sido a primeira artista que gravou sua obra e a que mais cantou também. Tenho satisfação em afirmar que fui a primeira intérprete a gravar uma música de Rubens Lisboa. Na música, cada artista busca parceiros afins e eu me orgulho muito deles, assim como de outros que tive o prazer de gravar, como Joésia Ramos, Tonho Baixinho, Neu Fontes e Cláudio Miguel.
JLPolítica & Negócio - O que é que Ismar Barreto significa para a senhora entre os tantos compositores entre os quais se relacionou artisticamente?
AA - O Ismar Barreto dizia que eu era a sua quarta irmã e péssima companhia para farras - porque eu não bebia nada alcoólico e assim sigo nesta disciplina. Eu digo que ele foi meu maior compositor e o sergipano mais incrível que conheci, com orelha e tudo, tendo sido capaz de ler o contemporâneo com humor, sonoridade e poesia.
DO PRECONCEITO SERGIPANO CONTRA SI MESMO
“De José Augusto a Luiz Americano, o sergipano conhece mais o que acontece no Brasil do que na história cultural de Sergipe. Onde estaria o erro? Na escola, na família ou na contaminação midiática? Cremos que um dia tudo isso pode mudar se decidirmos pensar mais em Sergipe, por Sergipe”
JLPolítica & Negócio - Qual é o seu conceito da música sergipana?
AA - É o de um grupo de pensadores sonoros e de letras em busca da própria identidade, achada em uns, ainda procurada por outros, mas resilientes e construtores de uma linguagem que resiste, apesar da praga dos caranguejos. Temos compositores incríveis. Só precisamos de mais ouvidos para ouvi-los.
JLPolítica & Negócio - O sergipano tem preconceito de José Augusto Sergipano? Por que o nome dele é tão esquecido por aqui, inclusive pelo ente Estado?
AA - De José Augusto a Luiz Americano, o sergipano conhece mais o que acontece no Brasil do que na história cultural de Sergipe. Onde estaria o erro? Na escola, na família ou na contaminação midiática? Não sabemos, mas cremos que um dia tudo isso pode mudar se decidirmos pensar mais em Sergipe, por Sergipe.
JLPolítica & Negócio - As artes plásticas não têm espaço na grade da cultura de Sergipe? O destino da Galeria de Arte Ana Maria Alves na Atalaia foi mesmo o da desativação?
AA - A Galeria de Arte Ana Maria Alves foi idealizada por um visionário, o saudoso amigo João Alves Filho, mas não compreendida no sentido de gestão por quem foi chegando. Parece-me que não há uma atração em consumir cultura permanente às margens do mar, entretanto, isso pode mudar com uma nova visão de gestão a partir de um plano mais abrangente. Quanto ao destino da Galeria, confesso não ter essa resposta precisa para lhe dar.
TEATRO SERGIPANO DIZ ALGO À GRADE DA CULTURA?
“Diz muito. Em breve lançaremos o edital OcupART, que é um dos eixos do Inteirart-SE, que tem como finalidade incentivar e promover a cultura local. Sou uma defensora do teatro quando há na sua grade um equilíbrio entre a cultura local e nacional. Se há desequilíbrio, urge apresentar um novo conceito em favor de quem ama o teatro pela sua finalidade”
JLPolítica & Negócio - O teatro sergipano diz algo ou alguma coisa para a grade da cultura do Estado?
AA - Diz muito. Sou uma defensora do teatro quando há na sua grade um equilíbrio entre a cultura local e nacional. Se há desequilíbrio neste sentido, urge apresentar um novo conceito em favor do fomento e da difusão de quem ama o teatro pela sua finalidade e com quem tem compromisso com o fortalecimento da nossa cultura. Em breve lançaremos o edital OcupART, que é um dos eixos do Inteirart-SE, que tem como finalidade incentivar e promover a cultura local.
JLPolítica & Negócio - Como fica a sua carreira de cantora com esta dedicação temporária à burocracia da cultura?
AA - Ela fica ali, em mim, sempre, entendendo a missão que assumi em favor de um coletivo e renunciando alguns palcos na perspectiva individual. Porém, este ano farei 40 anos de carreira e não deixarei de realizar alguns shows para celebrar a conquista de uma vida dedicada à missão de cantar. Estar temporariamente gestora é uma forma também de cantar através de outras vozes.
JLPolítica & Negócio - Como a senhora concilia seu tempo de mãe de família com o da gestora pública?
AA - De janeiro para cá tenho dedicado até fins de semana e feriados ao trabalho, porque entendo que preciso cumprir a agenda de atividades e debruçar horas para aperfeiçoar o que se faz necessário, considerando a complexidade da Fundação em suas mais diversas vertentes da qual preciso me inteirar. Meus filhos, noras e genro têm entendido isto, minha mãe, irmãos e amigos. Mas, quando chego no limite físico ou mental, vou em busca das netas que me levam ao lugar mais feliz da minha vida: aonde a inocência não cobra nada de mim, senão riso e brincadeiras, e a certeza que há um Deus poderoso que me guarda em cada etapa da minha jornada nesta terra passageira. A Ele entrego tudo e, por tudo, só agradeço.
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O que faltou ser perguntado pelo jornalista Jozailto Lima a presidente da FUNCAP - Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe? As melhores perguntas serão publicadas até o final da primeira semana de maio no blog da Ação Cultural. Participe! Vamos elevar o nível do debate sobre políticas culturais em Sergipe Del Rey.
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