quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ARTE É PRA QUEM TEM ALMA


Abílio Neto




Se você está naquela situação que Chico narrou numa música ‘tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu’, não pense que é com Marília Mendonça, Gustavo Lima ou Luan Santana que vai melhorar seu estado de espírito. 

Ouço muita gente reclamar que a música do Brasil vai de mal a pior. Concordo, mas é aquela que ocupa a mídia. Procure coisa boa que você ainda acha. A cena musical de Pernambuco, por exemplo, é rica demais. Ouça Martins, Almério, Geraldo Maia, Zé Manoel, Ylana e outros. São feras! 

2020 não chegou muito legal para mim, porém espanto meus grilos com ME DÊ, de Martins, tanto na versão dele (voz e violão) como na outra feita pelo pessoal do frevo de bloco, grupo Malassombro, que fez uma ligeira adaptação na melodia. 

“Se você tiver de sobra um pra me subverter, meu bem/ Me dê, me dê, me dê/ Eu que nunca fui tão certo faço pose de quem não te lê/ Mas eu leio sim eu só não sei se você quer/ Tu que tens essa manobra e eu não sei corresponder, meu bem/ Me dê, me dê, me dê/ Um motivo mais concreto pra eu não ter que ter que amar você/ Mas eu quero sim eu só não sei se você quer/ Minha configuração, meu lar, meu sal minha consignação, meu ritual/ Eu não sou mais minha solidão/ Você me traz continuação/ Este teu ar de me engolir/ Que eu tenho olhos pra te ver e mãos pra te aplaudir.” 


Para. Pense. Reflita! 

Mando pra vocês os dois vídeos. Se não gostarem, o povo que escuta sertanejo está certo e eu todo errado. 






Pernambucano, 70 anos, é memorialista e pesquisador musical, além de  pequeno colecionador de discos. Seu arquivo contém algumas obras que se tornaram preciosas na música brasileira diante do mau gosto popular nessas duas primeiras décadas do século XXI. São frevos, sambas, maracatus, forrós, xotes, polcas, toadas, marchinhas, merengues e choros. Tem mais de 400 artigos escritos sobre música que foram publicados em sites da internet, ‘terreno’ que se notabiliza pela impermanência. Seus artigos provam que a História também se conta através da música.

----------------------------------------------------------
Música e sociedade, música e política, música e afeto, amizade, alegria e prazer. Uma delícia quando lemos o texto de uma pessoa que sabe fazer essa combinação. É o que faz Abilio Neto, o qual conhecemos nos anos do Overmundo, entre 2006 e 2011, primeiro portal nacional de internet dedicado a difusão  da  cultura independente, das periferias, dos sertões,   dos que mesmo produzindo com qualidade e compromisso, não conseguiam espaços para fazer divulgação nos cadernos culturais dos grandes jornais.
Ler o texto do Abilio Neto é como conversar ao cair da tarde em um alpendre de varanda das casas coloniais, cercados pela brisa suave que sopra das árvores, grandes e pequenas que cercam o redor da casa. Ou então,  é como conversar em uma barraca de praia, sentindo o vento que vem do mar soprando em nossas caras, bebendo uma boa caipirinha, intercalando com água de coco.

Abilio Neto passa a ser colaborador eventual do blog da Ação Cultural a partir desse mês de dezembro de 2019. Vida longa parceiro! 

Zezito de Oliveira

Nenhum comentário: