quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

A Escola de Ensino Integral que a propaganda esconde.

O ensino integral é a proposta ideal para educar com qualidade os milhões de crianças, adolescentes e jovens que estão matriculados na educação básica.

E de quebra, ainda colabora para afastá-los potencialmente do consumo excessivo de drogas licitas e ilicitas, além do envolvimento com o tráfico de drogas, do consumo em excesso do lixo produzido pela indústria cultural, da possibildade de perceber e criticar os lideres religiosos que propagam a alienação, além de anti-intelectuais e mercenários, colabora para hábitos de alimentação saudável, de melhor cuidado com o corpo, na formação profissionalizante e etc.
Em resumo, além do impacto na qualidade do ensino, o integral tem impactos positivos na questão da saúde, da cultura, da democracia, do emprego e da segurança pública.
E não de hoje,  muitos brasileiros afirmam e constróem possibilidades de educação integral.

Aristides Barsanulfo com sua ilustre, mas  desconhecida experiência exemplar da escola de ensino integral no inicio do século xx. Anisio Teixeira com suas Escolas Parque, Paulo Freire com o sistema Paulo Freire de educação, que não limita-se a alfabetização de adultos como muitos pensaram e ainda pensam. O sistema ginásio vocacional, iniciativa de ensino integral localizada na rede pública de São Paulo na década de 1960/1970, perseguida e extinta pelos militares.  Darcy Ribeiro e Leonel Brizola com seus CIEPS ou Brizolões, Marta Suplicy com os CEUS. E, mesmo com as limitações, o Mais Educação, o Mais Cultura e o  Ensino Médio Inovador dos governos Lula e Dilma

E eis que no governo golpista e autoritário do Temer surge uma proposta de Ensino Médio Integral, prometendo mundos e fundos em matéria de recursos e junto com açodados secretários de educação, que sem dispor de condições  e garantias adequadas, acabam metendo os pés pelas mãos. 

E quem mais sofre com isso? Alunos, familiares e professores.

É bem verdade que nem tudo são espinhos, dificuldades ou sofrimentos.

Mas, se quem não pode com o as formigas, não deve assanhar o formigueiro, porque não ter começado com poucas escolas, mas com condicões adequadas e garantias de recursos suficientes?

É por causa de interesse eleitoreiro, de promoção, marketing?




Vamos a  entrevista...

Como é a rotina pedagógica na escola  onde estudamos...

Tem uma coisa na escola que é chamado  socioemocional.  Faz parte do sistema de ensino integral. Isso pesa muito, abala muito os alunos. Porque tudo é uma questão de avaliação, não é só na aula de um professor. São nas 10 matérias que você tem. Qualquer coisa que você fizer  isso irá lhe prejudicar em todas as matérias, quando for avaliado pela socioemocional.

Porque são quatro avaliações que gerará uma média: A socioemocional, a BNCC, o  Simulado e a PVA, que é a avaliação que a gente faz toda segunda feira.  

Socioemocional é presença em sala de aula, participação, comportamento e tudo o mais. Só que vários professores utilizam a socioemocional para ameaçar os alunos. Tem  professor bom que cobra do aluno de forma diferente a socioemocional, por atividades, pelo comportamento em sala de aula, mas outros professores exigem não  atrasarmos  em  nenhum momento , porque senão  perde nota, mesmo com justificativa. Se faltar, mesmo com justificativa perde nota.

Tem professor lá que não se adaptou diretamente com  o programa do ensino integral e não mudou a didática ainda, quer tudo certinho demais

Sobre  a  mudança do ensino tipo  regular para o ensino  integral, no  primeiro ano pesou demais, porque era muito cansativo e até mesmo para os professores houve problemas  de adaptação. 

Para o aluno  tinha muita atividade acumulada, aí o  aluno passa o dia todo na escola e a noite ainda tem que fazer dever de casa,   e o sono onde é que fica?

Tem alunos que saíram de lá para outra escola e que saíram chorando. um colega gritou na sala. Eu não aguento mais!  Isso está me prejudicando! Disse uma colega,  chorando mesmo. 

A questão de você se adaptar é bem complicado, porque muita gente entra lá com um propósito, mas aí a realidade de muitos envolvem questões de dificuldades financeiras, e então fica bem complicado, porque quem não tem condições pra se manter, não aguenta.

E para complicar, a direção da escola proibiu as vendas dos alunos na escola, porque vendíamos muita coisa, isso pesou para muita gente, inclusive para mim.

Mas voltou atrás, agora vendo trufas  na escola. 

O olhar positivo de um dos alunos presentes na “roda de conversa” ....

O integral se torna puxado porque para mim existe uma diferença entre aluno e estudante. Aluno é a pessoa que só quer concluir o ensino, não quer saber se vai tirar nota boa ou não, só quer a média. E o integral  vem com a missão de formar estudantes, alunos  comprometidos,  que irão  sair com um projeto de vida, que é uma matéria que você estuda durante os três anos do integral, em que você planeja o que quer quando sair da escola.  O integral puxa muito dos alunos  para se tornarem estudantes  capacitados em cumprir suas tarefas e compromissos. Essa questão de puxar  muito é para nos preparar para a universidade, para o mercado de trabalho,  para tudo, porque se você trabalhar e chegar atrasado, ninguém vai alisar sua cabeça não.

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“Não é preciso ser impositivo: quando se confia nas escolas, elas respondem”

Outra aluna

Eu não posso falar que sou aquela aluna de Deus, quietinha. E isso me prejudica por causa da socioemocional. Ai tem professores que não gostam da minha cara,  baixam a nota.

Como agora. Por ter ficado  doente um pouco, deixei de ir para a  escola. Levei atestado de um mês  da psicóloga. Um certo professor não quis aceitar atestado e baixou minha nota todinha. Eu fiquei com 0.5 ponto de 10. Ai ele me prejudicou total nisso. Disse que é porque eu merecia. E se  fosse reclamar eu ficaria com zero.

 A maioria dos colegas pensam como nós.  A socioemocional é bem discutida na escola. Tem professores que realmente  pisa. Você vai fazer   tudo  do jeito que eu quero mesmo!  Se não responder agora perde dois  pontos!  É muita pressão na cabeça. Não se  pode dormir na sala.  Se abaixar a cabeça, é menos 1 ,menos 2

Tem professores  que agora estão mudando. Eles propõe projetos, principalmente através das matérias chamadas eletivas,  que não tem no regime regular, é mais pra pessoa  identificar  onde se  quer trabalhar no futuro. Tem eletiva de gastronomia, do Enem, de Agricultura....

Esse é um ponto positivo, porque tem professores que aproveitam isso para avaliar a socioemocional.  Dos dez professores cinco lidam bem com a socioemocional.

Há espaços na escola para os estudantes falar com a liberdade como se está falando aqui?

Existe uma reunião  quatro vezes por ano, quando vai pessoas da coordenação do  ensino médio integral  para a escola. Quando vão pessoas lá na escola saber como vai o ensino integral. Isso por conta da implantação do integral estar em fase experimental.   Isso implica na nota que o estado de Sergipe recebe.

Isso gera total reviravolta na escola.  Na semana da visita, os alunos são obrigados a irem de farda, tudo certinho. Se for sem farda manda voltar. O diretor  fez uma reunião com todos os lideres e vice lideres da escola. O diretor  manipula a cabeça deles para falar bem da escola.

Na última reunião,  a gente bem que sabotou a presidência dos clubes de alunos para falar a verdade, porque a gente não aguentava mais aquilo acontecendo e aí a gente entrou na sala.

Na hora que o diretor  viu a gente entrando na sala, percebendo  que gente ia contar a verdade, ele  implorou para a gente não entrar, para a gente não falar, começou a suar na nossa frente, ficou nervoso, disse que tem pressão alta. Que se a gente fosse falar alguma coisa, era melhor a gente dizer pra ele, que ele pediria demissão na mesma hora, e isso era muito ruim para ele, porque tinha muita gente que dependia dele fora da escola. Ele está no quarto casamento, e tem filhos com todas as ex e com a atual mulher.

Ai a gente entrou,  falou toda a verdade e aí a nota da escola  caiu totalmente. Foi lá pra baixo. E a coordenação do ensino integral  ficou  sabendo de tudo que estava acontecendo, dos almoços errado, quando a gente ficava sem almoço. E aí foi uma reviravolta na escola. O  diretor  voltou a pressionar a gente. Até chegamos a sair da escola, mas voltamos. 

Somos uma espécie de "mosca" na sopa do  diretor  e da secretaria da educação.  Mas a sopa já é estragada.....


Sobre o contexto de produção da reportagem acima


Um dos grandes momentos da  luta dos  professores da rede estadual de Sergipe,  aconteceu bem próximo ao final do ano que passou. Foi realizado para barrar a tentativa do governo Belivaldo Chagas em retirar direitos históricos conquistados pela categoria

 A partir da greve e ocupação da Assembleia Legislativa, entre 26 de novembro e 04 de dezembro,  professores e professoras conseguiram manter o direto ao triênio; o direito às incorporações das gratificações para aposentadoria e o direito a redução de ¼ da carga horária aos 20 anos de trabalho.

Durante esse momento de greve, vigília e ocupação,  a participação dos estudantes foi  bastante importante e necessária. Participaram estudantes de escolas da capital e do interior.

E durante a ocupação no domingo, dentro do plenário da   assembleia legislativa de Sergipe conversamos com três adolescentes, estudantes de uma escola localizada no interior do estado. Além dos três, estivemos juntos,  o professor que escreve estas linhas, Zezito de Oliveira, e o colega e professor Irineu Oliveira. 

Conversamos sobre diversas questões relativas a escola e a participação de estudantes  naquele momento de luta e de resistência contra os retrocessos. Brenda, Daniela,  Murilo são os  nomes fictícios que daremos a eles, por conta de revelações que disseram, podendo ensejar mais perseguição e discriminação. 



As vozes estão  misturadas  e as falas  divididas em  blocos temáticos.  

LEIA A PRIMEIRA PARTE DA ENTREVISTA

sábado, 11 de janeiro de 2020

Dezembro em Sergipe foi o mês da vitoriosa greve dos professores com o apoio de estudantes.



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SUGESTÃO PARA OS SINDICATOS DOS PROFESSORES DE SERGIPE E DE OUTROS ESTADOS QUE ENFRENTAM O MESMO DESAFIO.

1 - Organizar oficina de produção de audiovisual com celular, envolvendo professores e alunos, com um minimo de 40 horas e no final ter como produto videos sobre a realidade das escolas de ensino médio onde trabalham e estudam. Os videos entre 3 e 5 minutos seriam disponibilizados em um canal no youtube e divulgados via redes sociais e exibidos em rodas de conversas nas escolas e em  espaços que reúna jovens.

2 - Estudantes de graduação e pós graduação,  poderiam realizar pesquisas visando a produçaõ de artigos,  TCCs, dissertações e teses, o tema seria referente "a dor e a delicia de ser professor e aluno do ensino médio integral" . Inclusive este mesmo mote, pode servir como tema do resultado das oficinas de vídeo.

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