sábado, 11 de janeiro de 2020

Dezembro em Sergipe foi o mês da vitoriosa greve dos professores com o apoio de estudantes.



Um dos grandes momentos da  luta dos  professores da rede estadual de Sergipe,  aconteceu bem próximo ao final do ano que passou. Foi realizado para barrar a tentativa do governo Belivaldo Chagas em retirar direitos históricos conquistados pela categoria

 A partir da greve e ocupação da Assembleia Legislativa, entre 26 de novembro e 04 de dezembro,  professores e professoras conseguiram manter o direto ao triênio; o direito às incorporações das gratificações para aposentadoria e o direito a redução de ¼ da carga horária aos 20 anos de trabalho.

Durante esse momento de greve, vigília e ocupação,  a participação dos estudantes foi  bastante importante e necessária. Participaram estudantes de escolas da capital e do interior.

E durante a ocupação no domingo, dentro do plenário da   assembleia legislativa de Sergipe conversamos com três adolescentes, estudantes de uma escola localizada no interior do estado. Além dos três, estivemos juntos,  o professor que escreve estas linhas, Zezito de Oliveira, e o colega e professor Irineu Oliveira. 

Conversamos sobre diversas questões relativas a escola e a participação de estudantes  naquele momento de luta e de resistência contra os retrocessos. Brenda, Daniela,  Murilo são os  nomes fictícios que daremos a eles, por conta de revelações que disseram, podendo ensejar mais perseguição e discriminação. 

As vozes estão  misturadas  e as falas  divididas em  blocos temáticos.  



Na próxima semana estaremos publicando a segunda parte da entrevista, tratando mais diretamente dos problemas do ensino integral. Para além da ausência de condições minimas de infra-estrutura, como veremos abaixo. 

As fotos publicadas nessa reportagem estão na página Portal Sintese no facebook,  e os vídeos no canal do Sintese do youtuber. 



Como  foi a vinda para participar do movimento

Quando nos  falaram que ia ter greve, a gente pensou,  vamos pra rua. Aonde? Em Aracaju, na capital? 

Perguntamos aos professores, mas eles só disseram que seria em Aracaju, não disseram mais nada. Se ia ter ônibus, de onde iria sair,  para onde. Aí  a gente pensou,  então vamos para a subsede do sindicato para ter as informações  mais completas. Conseguimos então  as  respostas e estamos aqui. 

Para saber sobre  movimentos  ou atividades ligadas a educação e a cultura, ficamos ligados nas redes sociais, principalmente nas  postagens do Levante Popular da Juventude. Tem também os programas populares de rádio. 

Já dentro da escola, não tem essa de avisar, principalmente ligado a movimento  de reivindicação. A gente mesmo é quem se mobiliza para ficar sabendo.

E o movimento estudantil  na cidade?

Já teve organização de grêmio na escola.  Quando entramos  não existia mais.  Depois tivemos eleição, mas a última diretoria eleita do grêmio fica  na mão do diretor. 

Por isso criamos um coletivo estudantil,  fizemos assim para cobrar porque a escola tem sérios problemas de infraestrutura. 

O coletivo estudantil é formada por pessoas da chapa  que concorreu ao grêmio e não venceu, isso por uma diferença de 16 votos.  O diretor  barra a atuação do coletivo dentro da escola. Só deixa o grêmio atuar.
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Para alcançar os nossos objetivos,  “invadimos”   a secretaria da educação e cobramos a presença do secretário para ouvir  nossas reivindicações .

 Antes de acontecer esse ato de “invadir” a secretaria da educação,  fomos  avisar as turmas que ia ter o movimento. mas como o grêmio que existe na escola é ligado  ao diretor, eles entravam nas salas e diziam que  era para os alunos não participar. Tanto que fecharam os portões e aí quem saiu, saiu  e quem ficou, ficou.  O diretor parece ter medo de que a  imagem negativa da escola seja mostrada .

Estrutura do colégio.

É um colégio de regime integral, mas falta muita coisa pra isso. A cozinha é pequena, não tem uma quadra esportiva, não tem banheiro. Quem mora no povoado, nem tem chance de ir pra casa para tomar banho e nem almoçar. 

E antes, quando  abria o banheiro, você teria que escolher, almoçar ou tomar banho. Para mulher é bem puxado, imagine em estado menstrual,  ficar o dia todinho sem poder   tomar um banho.

Aí nosso coletivo  fez movimento de protesto para a  construção de uma quadra e para resolver o problema  da alimentação.  Fomos para a rua e conseguimos a assinatura do termo de autorização  para o inicio da obra. 

O coletivo estudantil  é também formado por estudantes  da UFS e por pessoas de outras escolas. O propósito é formar grupos nas escolas para abordar os problemas da educação. Porque as escolas localizadas no município tem muitas falhas. A ideia é colocar todos os problemas num papel e correr pra luta. 

Na cidade tem o   Levante Popular da Juventude. Alguns jovens do coletivo  estudantil também participam do Levante. Uma coisa boa da nossa presença no movimento aqui em Aracaju foi conhecer a galera do Levante de Aracaju. 



O que motivou a vinda a Aracaju e o que leva como aprendizado

É mais pela   valorização da educação  mesmo, pela valorização dos nossos professores, mas muitos colegas que nós chamamos pra vir com a gente , usou como desculpa  que o  professor não quer dar aula, que o  professor ganha bem.  

A gente está aqui não por nós, mas por causa dos deputados que quer fazer esse projeto para atrapalhar nossos professores , atrapalhar a educação.  É isso que a gente tenta fazer,  conscientizar os alunos que isso não é questão de não querer trabalhar, é uma questão de lutar pelos nossos próprios direitos.

Esse movimento aqui, ele muda a minha visão como estudante, porque  no futuro eu posso estar aqui como professor pra lutar por direitos. Hoje eu estou aqui para lutar pelo professor, mas amanhã  eu posso estar aqui para lutar por um direito meu. Isso muda mais a minha visão, pensar que esse pode ser o meu futuro.

Gostamos  muito das  rodas  de conversa que tiveram nesse ocupação, principalmente  da que tratou sobre a consciência negra. Uma questão importante, principalmente nesse mês de novembro. É  bom mostrar as culturas dos  nossos antepassados, como é o caso da capoeira.  É bom a gente ter contato com  outras culturas.

Teve o debate sobre feminismo negro. A gente por ser mulher sofre muito, mas a mulher negra sofre na pele o preconceito duplamente, sendo mulher e negra. Teve um caso na roda de conversa, que apresentou  uma professora que estava passando na rua e quase foi atropelada, a mulher que dirigia o carro era branca e ela respondeu, “cala a boca sua macaca”  quando a professora reclamou com ela. Isso comprova o quanto existe racismo no Brasil.

O público da cidade onde moramos  tem preconceito com a capoeira, por achar que é coisa de malandro. As mães não querem colocar os filhos por causa do preconceito, por causa do julgamento negativo  da sociedade.







PORTAL SINTESE
A greve foi marcada pela solidariedade de anônimos, conhecidos, familiares, cada um que perdeu e ganhou um pouco de seu tempo com um só objetivo: defender o direitos dos professores e professoras de Sergipe.
Ao fim vencemos a primeira batalha, mas luta continua. E essa vitória não seria possível sem o apoio da população e dos estudantes, que nos acompanharam diariamente, na rua, nas escolas e nas redes sociais.
Agradecemos às inúmeras manifestações de apoio de entidades de classe, coletivos e instituições que estiveram sempre ao lado dos educadores nesse momento de resistência.

























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