sexta-feira, 26 de junho de 2020

10ª Live da Ação Cultural "Memórias afetivas e culturais dos festejos juninos." com a participação do Professor José Paulino.


"Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias."Eduardo Galeano


ARTE - MAXIVEL FERREIRA



Saudade de um tempo bom de São João eternizado em poemas, canções, romances, pinturas, filmes  e nas  memórias de pessoas idosas, mesmo que no  caso de alguns,  vivenciado   por um certo período, em especial por causa da migração para cidades das grandes metrópoles. O que é o caso do Gonzagão e da maioria dos   parceiros artisticos  que foram residir no Rio de Janeiro ou em São Paulo, assim como milhões de nordestinos que saíram de seu torrão natal  em busca de melhores condições de vida.

E, um tempo bom de São João cada vez mais distante para quem nasceu no século XXI. Ou será que sempre é tempo bom para quem está disposto a viver o melhor que o presente lhe oferece?  

Seguindo o recomendado pelo livro do Eclesiastes no capitulo 5, versículo 17 "Concluí que a felicidade para o  homem é comer e beber, usufruindo de todo o trabalho que ele realiza debaixo do sol, durante os dias de vida que Deus lhe concede."

 E como diz o comentário da bíblia pastoral acerca desse versículo até o dezenove. 17-19: "Repete-se aqui o pensamento-chave do autor. Vivendo na alegria do momento presente, a pessoa descobre que a eternidade - experiência de Deus e da vida - não consiste em viver muito, e sim em viver intensamente cada momento."  E para uma compreensão fundamental o capitulo 2 versículo  24 afirma:  ‘”Vejam:  felicidade do homem está em comer e beber, desfrutando o produto do seu trabalho. “

O que significa comer e beber, mas não às custas do trabalho dos outros como acontece nos sistemas econômicos que utiliza o trabalho escravo e/ou o trabalho assalariado, o que garante a boa vida de poucos em detrimento da maioria.

Daí,  voltando a nossa afirmação primeira, acerca  da  saudade de um tempo bom de São João, penso que  se deve as possibilidades de  relações familiares e comunitárias  baseadas em valores e atitudes  realizadas com  mais gratuidade, fantasia, imaginação, prazer, ajuda mútua, compartilhando  saberes e fazeres.  Em suma, saudade da verdadeira  alegria que é partilhar  a vida.

Isso pelo menos nos dias das festas de junho, ainda mais por tratar-se de   festas  de  celebração da colheita, de celebração da fertilidade, o que não é pouco, em especial nas sociedades baseadas em relações de exploração, quando  o sofrimento provocado por isso, tinham/tem  nestes dias um momento de relaxamento ou distensionamento,  mesmo que simbólico. 

E para concluir, deixo uma bela e pouco conhecida canção do Padre Zezinho, bem de acordo e ampliando a compreensão do argumento acima. 


De um valor que foi perdido.”
Zezito de Oliveira


A live será realizada através da página da Açao Cultural no facebook.

https://www.facebook.com/acaocultur/


Quem é o Professor José Paulino: José Paulino da Silva é formado em Pedagogia e Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Filosofia e História da Educação. Nascido em Cachoeira do Taépe - Surubim Pernambuco, em 1942.Veio para Sergipe trabalhar na Universidade Federal ,onde além de professor, coordenou o projeto de pesquisa : “Resgate da Memória Histórica :Canudos Ontem e Hoje”, exerceu atividades administrativas tendo sido Pro Reitor de Assuntos Estudantis, Pro Reitor de Pesquisa e Vice Reitor. Em 1993, recebeu o título de cidadão sergipano. Tem trabalhos publicados nas áreas da Educação, Cultura Popular e História da Guerra de Canudos. Para ele , uma educação de qualidade deve desenvolver sobretudo, o senso crítico e a solidariedade". (Jorge Lins de Carvalho).

(1)  Gonzaguinha - Da Vida (part. especial Gonzagão)



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LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DO SÃO JOÃO ANTIGO NA OBRA DE LUIZ GONZAGA
 Marcos Barreto de Melo

Já faz algum tempo, estamos sendo bombardeados por uma infinidade de músicas, se é que podemos assim chamá-las, que a cada ano surgem neste período que antecede as festividades juninas. 

Na sua quase totalidade, são músicas apelativas, com letras insinuantes e de duplo sentido, totalmente descompromissadas com o verdadeiro espírito da festa de São João. São músicas que em nada retratam os costumes ou a cultura do nosso povo, mas tão -somente visam à lucratividade. 

Ao que me parece, um objetivo já alcançado, haja vista o crescente número de cantores e adeptos deste gênero. Por serem músicas passageiras, de breve duração, podemos até classificá--las como mais um artigo de consumo para uma determinada faixa da população. Como não apresentam qualquer sustentação poética, estas músicas não conseguem resistir à ação demolidora do tempo, residindo neste fato a grande diferença entre estas e aquelas músicas mais antigas.

Dificilmente encontramos hoje músicas que cantem o São João na sua forma mais autêntica, como ainda é festejado no interior. O São João de quadrilhas e brincadeiras ao redor da fogueira, com balões e foguetões, onde as pessoas fazem pedidos a São João e se divertem com as adivinhações. O São João de fartura, com milho verde, canjica, pé-de--moleque, licor e aluá.

As marchinhas, os forrós baiões com motivação junina são hoje raríssimas exceções. Os atuais cantores da música nordestina parecem desinteressados na preservação deste estilo ou encontram-se já corrompidos pela lucratividade que o pornoforró lhes proporciona. Naturalmente que há exceções ao que foi exposto acima como exemplos, podemos citar os sanfoneiros Dominguinhos e Luiz Gonzaga, dois pernambucanos de fibra e que sempre souberam se manter fiéis ao compromisso de cantar os valores e a cultura da terra nordestina.

Diante deste quadro, nos parece muito confortante o fato de ainda podermos ouvir músicas que são verdadeiros clássicos da música junina. São obras que não envelheceram, não obstante tenham sido gravadas há quase 40 anos, e que ainda continuam trazendo alegrias e recordações até mesmo para o público mais jovem. 

Se não ouvimos com mais freqüência estas músicas, é porque os esquemas de divulgação não permitem. Quem não conhece, por exemplo, São João na Roça (A fogueira tá queimando/em homenagem a São João/ O forro já começô ô...), marchinha junina composta por Luiz Gonzaga em parceria com o poeta pernambucano Zé Dantas, em 1952, e cantada até os dias de hoje; Noites Brasileiras (Ai que saudade que eu sinto/das noites de São João/das noites tão brasileiras, das fogueiras/sob o luar do sertão...), também de autoria de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, gravada pela primeira vez em 1954; São João antigo (Era festa de alegria/São João/ tinha tanta poesia/São João/tinha mais animação...), outra marcha junina composta por Zé Dantas e Luiz Gonzaga no ano de 1957; São João no Arraiá (Ô Iaiá vem vê/Ô Iaiá vem cá/vem vê coisa bonita/São João no arraiá ..), composição de Zé Dantas gravada por Luiz Gonzaga em 1960; Olha pro Céu (Olha pro céu meu amor/vê como ele está lindo/ olha pra aquele balão multicor...), de José Fernandes e Luiz Gonzaga, gravada em 1951.

Estes são apenas alguns exemplos de músicas juninas que se transformaram em imortais sucessos e que, indiferentes à ação do tempo, continuam vivas ainda hoje. Com isso, vemos que a música que tem base poética, de único sentido e voltada para os valores da terra, não tem vida limitada. Para ela, sempre haverá espaço.

Observamos hoje, com tristeza, que a descaracterização do São João não está apenas na música, mas, também, na maneira como vem sendo comemorado. O que se vê hoje nas grandes cidades não passa de uma grosseira imitação.

É necessário que haja uma conscientização ainda maior no sentido de preservar esta que é uma das nossas mais tradicionais festas populares. Por tudo isso é que procuro refúgio no intetior, seguindo o conselho de Zé Dantas e Luiz Gonzaga.em São João Antigo, para ter a certeza de que não mudei, nem tão pouco o São João. Quem mudou foi a cidade.




SÃO JOÃO NO ARRAIÁ – (Zé Dantas), 1960





SÃO JOÃO NA ROÇA - (Zé Dantas & Luiz Gonzaga), 1952



OLHA PRO CÉU – (José Fernandes & Luiz Gonzaga), 1951


  
Salvador, junho de 2003

Canção tema da  10ª Live



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