domingo, 13 de novembro de 2022

Aniversariando com os amigos com inspiração na CONTRACULTURA

 Os dias 11 e 12 de novembro  de 2022 foram  culturalmente bastante ricos para mim, cultura entendida aqui como cultivo da amizade, da alegria, da esperança, da justiça e da beleza, assim também como culto, como celebração e cuidado pela vida, sempre com abundância, e  para todos.

Os amigos (as) e familiares reunidos no primeiro dia, 11 de novembro.

Isso começou nas  redes digitais, principalmente facebook, como também de forma presencial, em encontros cheios de eucarístia, utilizando aqui  o significado original da palavra,  o que em grego antigo significa   "reconhecimento", "ação de graças".

O que escrevi como agradecimento no facebook.... "Muito feliz pelos amigos (as) que tenho e  com caminhos espirituais diferentes, mas conectados com o bom, com o justo, com o belo e com o melhor do mundo. E se estão conectados a isso tudo, nem preciso perguntar ou me preocupar se crêem em Deus, em Deuses e Deusas,  ou se não crêem. Apenas preciso amá-los e agradecer por estarem presentes em meu percurso...Abaixo canções  para celebrar o bem viver, que precisa ser de e para todos...Antes,  uma antiga benção irlandesa que gosto muito,  em razão das conexões que ela faz. Gratidão pelas mensagens de carinho e amizade em razão do meu aniversário."

E como atualizada ação de agradecimento vale a pena ler texto recente, “Eucaristia e Picanha”, escrito pelo Padre Gegê Natalino. (1)

Foram muitas emoções expressas por meio de símbolos, incluindo os presentes, palavras, dinâmica bem simples e natural como gosto, canções, imagens, citações, comidas, bebidas...

Das palavras do segundo dia,  lembro da pergunta e resposta da Maíra Magno, professora, dançarina e artivista,  a seguinte questão. O que distingue o homem dos outros animais? A capacidade de criar símbolos, e com isso transcender ao simples papel de criatura. A questão para ela e para todos os presentes é que esta capacidade de criar símbolos, de criar cultura,  está sendo brutalmente enfraquecida por causa de interesses econômicos do grande capital, o qual está promovendo um processo agressivo de desumanização do próprio homem, e isso é realizado por meio do fomento a cultura do ódio, do descarte, da padronização, assim como a necropolitica, ou politica a serviço da violência e da morte.

E diante das possíveis saídas para o  enfrentamento a isso, mesmo ainda não suficiente, mas  necessário,  coloquei na mesa e foram quase as últimas palavras a necessidade de realizarmos mais o que já fazemos, inclusive mais momentos  CONTRACULTURAIS como este. 

Pronto, fechamos,  ou quase, ou por enquanto, com a palavra CONTRACULTURA. A qual no site site mundoeducação.uol é apresentado da seguinte maneira: 

“A essência da contracultura encontra-se na contrariedade de normas e padrões estabelecidos socialmente. As sociedades sempre criaram hábitos, costumes e padrões considerados como a normalidade da ação das pessoas, criando assim uma cultura. Dentro de uma sociedade, a cultura tende a tornar-se hegemônica, ou seja, a estabelecer-se como um padrão de comportamento que deve ser seguido por todos. Nesse sentido, a contracultura vem para questionar as normas hegemônicas como forma de indicar que algo na cultura está errado e deve ser modificado.”

E antes de fechar  o texto vale uma explicação. A realização da celebração do meu e nosso aniversário aconteceu em dois momentos. Ficando o primeiro dia (11/11),  para recebermos aqueles amigos (as) que estão presentes em alguns momentos durante o ano, tanto aqui em casa, como na casa deles e em locais de encontros comunitários. Já o  segundo dia foi para abraçar e agradecer aos amigos da arte e da cultura que realizaram o ritual “Acorda Zezito”.

Segundo dia de comemoração do aniversário do Zezito. Dessa feita com os artistas que produziram o Acorda Zezito.  

Ontem, 12/11,  fiquei sabendo através do querido Raimundo Venâncio a proposta ter sido realizada pela também querida Virginia Lúcia , a qual se inspirou em uma tradição de povos africanos. Um ritual de despertar dos enfermos, um ritual de restabelecimento e cura para os doentes...

E não é que acordei mesmo no dia seguinte, um mês após  entrar em estado de coma induzido, até porque duro na queda como sou, a primeira dose do sedativo não foi suficiente, conforme relatou Irene, amada esposa companheira...

A ressaltar,  o tanto de correntes de oração a meu favor, realizada por familiares, amigos, colegas de trabalho e  alguns conhecidos por meios digitais, mas que se fazem presentes longe do corpo,  mais perto do coração.. Um exemplo pode ser conferido neste link contendo a celebração virtual realizada no ano de 2021.

E como falar e praticar  CONTRACULTURA nestes dias tão dificeis? Dias de predominio da cultura neoliberal acompanhada de bolsões protofascistas, muitas vezes juntos e misturado..

A canção "Lua Cheia" do grupo 5 a seco dá algumas dicas, nos lembrando algo do  pensamento dos micros poderes de Foucault e da revolução molecular de Guattari e  Deleuze..

Importante lembrar, no próximo ano pretendemos realizar somente um encontro de aniversário, o qual pretendo vir acompanhado do lançamento do segundo volume do livro AMABA/Projeto Reculturarte. Neste caso em um local onde possamos receber bem mais gente... Mesmo as que quiserem vir pela segunda razão.

A eleição de Lula torna possível sonhar e acreditar que encontraremos mais condições e oportunidades para promovermos mais  CONTRACULTURA, afim de diminuir o impacto da prevalente cultura da morte, do efêmero, da redução dos homens e mulheres ao estado de máquinas e etc.

O que torna ainda mais significativo e simbolicamente importante estes encontros dos dias 11 e 12 de novembro de 2022 , e os que se seguirão de agora em diante.

Zezito de Oliveira


Lua Cheia
5 a Seco

A gente anda inseguro
Construindo muros no chão
Arquitetando no escuro nossa direção
Viver de esperança cansa, eu sei
A nossa crença se abalou
Mas frases de ódio não vão vingar
Chega pra cá pra falar de amor

A gente tá no dia a dia
E às vezes a alegria não tá
Vivendo sem ter companhia ninguém vai chegar
O mundo anda reclamando demais
A fé na vida não firmou
Mas ondas do medo não vão soar
Fúria e amargura não vão se impor
Deixa a tristeza pra lá

Vem cá, a lua tá cheia
Vamos contar histórias
Falar de coisa boa
Vem cá, olhar para as estrelas
Vamos criar memórias
Elogiar pessoas

A gente anda inseguro
Construindo muros no chão
Arquitetando no escuro nossa direção
Viver de esperança cansa, eu sei
A nossa crença se abalou
Mas frases de ódio não vão vingar
Chega pra cá pra falar de amor

A gente tá no dia a dia
E às vezes a alegria não tá
Vivendo sem ter companhia ninguém vai chegar
O mundo anda reclamando demais
A fé na vida não firmou
Mas ondas do medo não vão soar
Fúria e amargura não vão se impor
Deixa a tristeza pra lá

Vem cá, a lua tá cheia
Vamos contar histórias
Falar de coisa boa
Vem cá, olhar para as estrelas
Vamos criar memórias
Elogiar pessoas


1) A Eucaristia e a Picanha
Gegê Natalino
O mundo católico é, irremediavelmente, um mundo simbólico. De modo especial, na Sagrada Liturgia, na Eucaristia, tudo que é visível está em função do invisível; o material reclama o imaterial. "O essencial é invisível aos olhos". Participar, pois, de uma missa implica exercitar a competência de ver para além das aparências. A transformação das espécies do pão e do vinho (transubstanciação) é a máxima ocorrência, que supera qualquer entendimento racional: o pão deixa de ser pão e o vinho deixa de ser vinho. 
A catequese,  nesse horizonte, deveria ser uma escola de místicos e poetas.
Participa da missa quem, pelos olhos da fé,  vê o invisível. 
Vale repetir: "o essencial é invisível aos olhos!". 
Partindo dessa competência simbólica, podemos afirmar que mundo das coisas e as coisas do mundo fazem parte de um enredo sacramental. Tudo fala! Ensina o príncipe Paulinho da Viola: "As coisas estão no mundo, mas eu preciso aprender". 
O próprio Jesus advertiu aos seus discípulos para que fossem capazes de ver para além do pão que mata a fome do corpo. Disse o Mestre: "Nem só de pão vive o homem ".
Acessando o mundo simbólico, é possível ouvir e ver  "Picanha" para além da carne material, para além da grelha... "Picanha", então, poder ser tomada como símbolo daquilo que interrompe o prato comum do dia-a-dia, como manifestação daquilo que é bom, agradável e prazeroso. Diz a canção: "A gente quer do bom e do melhor". Nesse sentido, "Picanha" pode ser pensada como maneira festiva e gostosa de ser e estar mundo - uma espécie de afirmação de um  mistério gozoso na gastronomia popular!
Onde há ditadura, não há "Picanha". Mentes, regimes e estômagos ditatoriais ignoram metáforas!
"Você tem fome de que?".
"Picanha" pode ser qualquer outro prato pensado e  desejado  pela nossa imaginação transgressora. Estamos falando de nossas carnes desejantes.
Ora, como a fé cristã carrega consigo tudo que é verdadeiramente humano ("O Verbo se fez carne"),  não pode deixar de trazer nossa cultura, nossas culinárias, nossos pratos, nossos sonhos e desejos. A propósito, ensinou São João Paulo II: "uma fé que não se torna cultura é uma fé não plenamente acolhida, não inteiramente pensada e não fielmente vivida". Diz ainda Santo Papa que a síntese entre fé e cultura é também uma exigência interna da própria fé.
Afirma santa Tereza: "Deus está entre as panelas". Mas também podemos dizer de forma mais radical: "Deus está dentro das panelas!".  
É pois nessa comunhão profunda entre o céu e a terra, Deus e o humano, o sagrado e o profano, o altar e a grelha que vejo o encontro nupcial, místico e gozoso (e sem divórcio) entre o altar e churrasqueira, entre o incenso e a fumaça, entre a Eucaristia e a Picanha.
A fé cristã nos habilita ver o Deus revelado e escondido até no carvão em brasa, na faísca e na fumaça; no abraço e no sorriso entre as parças e os parças ... Deus está dentro!!!  
Nossas carnes são sempre confissões de desejos para além da carne!




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