sábado, 15 de fevereiro de 2025

Enfrentar a guerra cultural não é fácil…Por Ivanisa Teitelroit Martins

Publicado originalmente no blog Geração 68

A cultura é essencial na luta política, definindo realidades e valores. Enfrentar a guerra cultural demanda estratégia. 


Diante das guerras culturais
vivo daquilo que o outro não sabe sobre mim,
vivo daquilo que nem eu mesmo sei de mim.

A cultura não é um elemento acessório na luta política; ela é o campo onde se constroem as bases da hegemonia. Quem controla a cultura não apenas domina narrativas, mas define os limites do possível, orienta valores e molda a percepção da realidade. Enfrentar a guerra cultural, portanto, exige mais do que reação ou denúncia: é necessário um esforço estratégico e de longo prazo que trate a cultura como o principal território de disputa política. Apenas ao disputar a cultura de forma propositiva e estruturada será possível reverter a hegemonia conservadora e resgatar a capacidade de a cultura funcionar como uma ferramenta crítica, capaz de ampliar os horizontes do debate público e transformar a sociedade.

A guerra cultural não é um desvio da política real, mas uma de suas formas mais sofisticadas de disputa pelo poder. Ela opera no longo prazo, reconfigurando percepções, deslocando os termos do debate público e redefinindo o que é socialmente aceitável ou inaceitável. Enquanto a direita utilizou esse mecanismo para consolidar sua influência, a esquerda demorou a reconhecer a cultura como um território central na luta política.

O resultado é um cenário onde o debate público foi capturado por discursos que naturalizam desigualdades, reforçam hierarquias e deslegitimam o pensamento crítico. A guerra cultural não se limita ao enfrentamento direto de ideias políticas; ela transforma valores e comportamentos em campos de batalha permanentes, onde o que está em disputa não é apenas a argumentação, mas os próprios limites do que pode ser imaginado, dito e aceito na sociedade.

Com isso, a política cede à administração de necessidades sociais que não podem modificar o quadro das relações socioeconômicas já existentes e que continuarão, assim, perseverando.

O hipercapitalismo dissolve também a existência humana completamente em uma rede de relações comerciais. Hoje não há mais domínio da vida que se despojaria do aproveitamento comercial. O hipercapitalismo faz com que todas as relações humanas se tornem relações comerciais. Toma da pessoa humana sua dignidade e a substitui por valor de mercado. Vivemos em uma sociedade orientada completamente pela produção, pela positividade. Ela suprime a negatividade do outro do estrangeiro para acelerar a circulação de produção e de consumo. O que se permite são apenas as diferenças consumíveis. O outro, a quem foi retirada a alteridade, não se pode amar, apenas consumir.

Na hipercomunicação digital tudo se mistura com tudo. Os limites entre o interno e o externo se tornam cada vez mais permeáveis. Pessoas humanas tornam-se interfaces de um mundo totalmente conectado. Essa desproteção digital é estimulada e explorada pelo hipercapitalismo.

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https://68naluta.blog/2025/02/05/enfrentar-a-guerra-cultural-nao-e-facil/


Ivanisa Teitelroit Martins é psicanalista, cientista social e gestora pública federal. É autora de “Psicanálise: Uma Experiência Do Inconsciente” (Ex Libris, 2023).


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