Registro da Basílica de São Pedro durante a Noite Branca do Jubileu dos Artistas
Antônio Spadaro, subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação, assina reflexão sobre sobre o Jubileu dos Artistas e o Mundo da Cultura, promovido de 15 a 18 de fevereiro.
Antonio Spadaro*
A arte e a poesia são capazes de dar uma forma e um rosto, tanto espiritual quanto político, à esperança. Sem imaginação, não somos capazes de mudar as coisas: são os artistas que têm “a capacidade de sonhar com novas versões do mundo”, “a capacidade de introduzir novidades na história”, disse Francisco. Uma das peculiaridades de seu pontificado é dar ao logos poético um valor magisterial. Francisco não citou poesia e literatura aqui e ali, mas integrou-as totalmente às exortações apostólicas (pense em Querida Amazonia, por exemplo) como parte integrante de seu discurso.
Mas isso não é tudo: se a Igreja sempre foi comitente de arte, estabelecendo uma relação forte (e nem sempre serena) com ela para expressar sua própria visão ao longo do tempo, hoje o Pontífice parece estar chamando os artistas para uma responsabilidade ainda maior e árdua. Ele recorre à arte para entender melhor sua própria identidade e missão, com palavras e imagens novas, às vezes necessariamente revolucionárias. E, ao longo do tempo, a arte sempre representou uma forma de resistência e renascimento, mesmo em tempos de crise.
O Papa Francisco está ciente de que o Jubileu da Esperança acontece em um momento em que o mundo está passando por uma “crise complexa, que é econômica e social e, antes de tudo, é uma crise da alma, uma crise de significado”. Portanto, “nós nos perguntamos sobre a questão do tempo e a questão da rota. Somos peregrinos ou andarilhos? Caminhamos com um destino ou estamos perdidos em nossas andanças? O artista é aquele ou aquela que tem a tarefa de ajudar a humanidade a não perder sua direção, a não perder o horizonte da esperança”. Essas são as palavras-chave de sua homilia na Missa do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura. Francisco atribui à arte a responsabilidade por nossa história, pelos acontecimentos do mundo. E, por outro lado, aqueles que trabalham no mundo por uma sociedade mais justa são reconhecidos como tendo uma criatividade que os torna poetas, “poetas sociais”.
Essa responsabilidade é acompanhada pela convicção de que a esperança não é uma utopia e está “entrelaçada com o drama da existência humana”, no qual ressoam um “eco de chumbo” e um “eco de ouro”. Isso foi dito pelo poeta jesuíta Gerard Manley Hopkins, que o Papa jesuíta cita diretamente. O artista é sensível a esses ecos e faz um discernimento: são cantos de sereia que seduzem ou chamados de nossa humanidade mais verdadeira?
Portanto: a cultura é um laboratório vivo de ideias e valores, capaz de regenerar o tecido humano de nosso tempo. O cristianismo precisa de esperança para se tornar generativo, e essa esperança encontra na arte e na cultura seu contexto privilegiado de expressão e transformação. Mas Francisco também diz algo desafiador para os artistas: a esperança é uma força que gera novas linguagens, narrativas e visões. A arte é uma janela para o futuro, e a poesia é uma semente do futuro escondida no presente. É por isso que os artistas são colaboradores em potencial na transmissão da mensagem cristã por meio da beleza, e sua criatividade enriquece o diálogo entre fé e cultura, iluminando novos caminhos de encontro e coesão. O Jubileu dos Artistas e o Mundo da Cultura foi, portanto, uma etapa importante na jornada do Jubileu.
Ele foi aberto com uma conferência internacional nos Museus do Vaticano, onde os diretores de alguns dos museus e instituições culturais mais prestigiados do mundo se reuniram para explorar novas linguagens e estratégias para a valorização e a transmissão do patrimônio religioso. Esse diálogo culminou com a elaboração de um Manifesto Educativo e Cultural, que reafirmou a importância do código cultural cristão como veículo de esperança e diálogo intergeracional, tão caro ao Pontífice. Não se trata apenas de preservar o passado, mas de torná-lo relevante para o futuro, sabendo que - como escreve Francisco - “nenhum algoritmo pode substituir a poesia, a ironia e o amor”.
No mesmo dia, a poucos passos da Basílica de São Pedro, foi inaugurado um espaço de exposição de vanguarda chamado Conciliazione 5. Essa galeria de janelas representa uma janela simbólica aberta para a cidade e para o mundo, acolhendo o projeto do artista chinês Yan Pei-Ming, que retratou em aquarela rostos de pessoas que vivem na prisão Regina Coeli.
Os retratos da comunidade carcerária em exposição também serão projetados na fachada da prisão nos próximos dias do jubileu. O local de detenção e punição é o local da criatividade e dos rostos. O anonimato é superado, a prisão e o descarte são transformados em uma proclamação de novas possibilidades e, portanto, de esperança.
A espiritualidade esteve no centro dos momentos de celebração, com a missa presidida pelo cardeal José Tolentino de Mendonça, que leu a homilia preparada pelo Santo Padre. E o dia culminou com uma Noite Branca na basílica, onde artistas e fiéis se uniram em um gesto simbólico e universal: a passagem da Porta Santa, acompanhada de uma jornada espiritual e cultural que convidava à reflexão e à contemplação. Foi uma forma alternativa e inusitada de cruzar a porta de São Pedro.
Houve também um momento de encontro e compartilhamento entre representantes de centros culturais católicos e organizações internacionais engajadas na promoção da cultura.
Uma atenção especial foi dada às formas de arte contemporânea, como a “poesia visual”, protagonista da exposição com curadoria de Raffaella Perna, intitulada Global Visual Poetry, hospedada nos escritórios do Dicastério para a Cultura e a Educação. Uma expressão de vanguarda, essa poesia que se expressa visualmente, significou bem o que o Pontífice escreveu em sua homilia: “que a arte de vocês seja a proclamação de um mundo novo. A poesia de vocês nos permite vê-lo! Nunca deixem de buscar, de questionar, de arriscar”. Usando elementos visuais inesperados e inovadores, a poesia visual transforma a poesia em uma experiência imersiva que rompe com as convenções, abrindo as portas para novas formas de interpretação e comunicação.
O Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura 2025 se propuseram como um chamado universal para redescobrir o poder criativo da arte e da cultura a fim de construir um futuro mais humano e inclusivo.
Por meio da celebração da beleza e da criatividade, o Jubileu queria inspirar uma nova geração de artistas, poetas e pensadores capazes de transformar o mundo com o poder da esperança. A essa altura, alguém poderia dizer: “mas para que serve a arte em um mundo ferido? Não há coisas mais urgentes, mais concretas e mais necessárias?”. A resposta veio em alto e bom som nas palavras de Francisco: “a arte não é um luxo, mas uma necessidade do espírito. Não é fuga, mas responsabilidade, convite à ação, chamado, grito”.
*subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação
Jubileu dos Artistas: patrimônio cultural religioso é um código de paz
Os Museus do Vaticano sediaram o encontro internacional “Sharing hope - Horizontes para o patrimônio cultural”, promovido com o Dicastério para a Cultura e a Educação por ocasião do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura. Mais de 130 especialistas participaram: “o Papa Francisco está em nossos corações”. No final dos trabalhos, divulgado um manifesto sobre a transmissão do código cultural e religioso.
Jubileu dos Artistas, Noite Branca em São Pedro
Uma viagem de alta sugestão artística e espiritual, oferecida no último domingo à noite, 16 de fevereiro, na Basílica Vaticana pelo Dicastério para a Cultura. "A arte deve nos ajudar a redescobrir a beleza e ser de alguma forma consoladora num momento histórico tão difícil", observou o diretor Chiodi, que fez a curadoria da instalação. "A arte precisa de coragem. Eu realmente acredito na nossa profissão como uma oportunidade de esperança."
https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-02/jubileu-artistas-noite-branca-sao-pedro.html
O Papa ao mundo da cultura: dar voz a quem não tem voz, transformar dor em esperança
“Vós, artistas e pessoas de cultura, sois chamados a ser testemunhas da visão revolucionária das Bem-Aventuranças. A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança”: diz o Papa na homilia da Missa por ocasião do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, presidida este domingo na Basílica de São Pedro pelo cardeal José Tolentino de Mendonça.
Dada Masilo - Inovação, recriação e ativismo
Era bailarina e coreógrafa. Nascera em Soweto, na África do Sul, em 1985. Em 20 anos de carreira deixou a marca da fusão entre o balé clássico e tradições africanas. A sua última obra foi “Sacrifice” que veio juntar-se a outras que lhe granjearam prestigiosos prémios . Faleceu, repentinamente, a 29 de dezembro de 2024. Estava a trabalhar numa nova obra, desta vez a solo. Em sua homenagem repropomos, em vésperas do Jubileu dos Artistas, a entrevista que nos concedera em 2021.
https://www.vaticannews.va/pt/africa/news/2025-02/dada-masilo-inovacao-recriacao-e-ativismo.html
O Papa e o cinema, um diálogo feito de encontros e memórias
Durante o Jubileu dos Artistas, em 17 de fevereiro, Francisco será o primeiro Pontífice a cruzar o limiar dos estúdios da Cinecittà. Seu vínculo especial com a sétima arte é feito de memórias pessoais, intercâmbio com artistas, citações cinematográficas e experiências no set de filmagem.
No Jubileu dos Artistas, o grande sino de São Pedro vai falar aos peregrinos
Entre as iniciativas do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura está a “Noite Branca na Basílica” no domingo (16/02), quando os peregrinos serão recebidos pela instalação "Os ecos silenciosos de uma grande escultura sonora - O grande sino de São Pedro". A experiência de um artista americano nasceu para valorizar um dos maiores sinos do mundo que "escuta o som da cidade e a oração dos peregrinos, e sempre responde", afirmou o diplomata Vattani. As vibrações capturadas poderão ser ouvidas.
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