domingo, 9 de fevereiro de 2025

JANGADAS AO MAR! Chico Alencar

 (Breve reflexão para cristãos ou não)

Arte de Lu Paternostro (SP)

Gosto muito da comparação da nossa existência com um barco no mar (ou lago, ou rio), que exige permanente invenção do cais, e "saber a vez de me lançar" (Milton e Brant). Que pede que reinventemos em nós o sonhador (o sonho, a dor?).

Pois é uma metáfora de água, coragem e abundância contada por Lucas (5, 1-11) a ouvida hoje em milhares de comunidades de fé do mundo.

Jesus está à beira do Lago de Genesaré (Mar da Galileia ou de Tiberíades), ensinando à multidão, "que se apertava ao seu redor" -  há melhor "templo"? Foi quando viu duas barcas paradas. Os pescadores estavam exaustos e frustrados após uma noite de pouco resultado.

O Mestre, sempre atento aos desiludidos e fragilizados, dobra a aposta: "Avancem para águas mais profundas e lancem suas redes!".

E não é que o filho de carpinteiro, contrariando a lógica daqueles experimentados e decepcionados "homens do mar", estava certo? Suas redes quase arrebentam com tanto pescado!

Simão Pedro, espantado, quer prostrar-se aos pés Daquele que o impulsionou para tamanha conquista, mas Jesus fala do mais importante: "Não tenha medo. Agora você será 'pescador' de  homens!". Não apenas ele, mas seus companheiros de duro ofício, Tiago e João.

Por isso, o símbolo dos cristãos das catacumbas era um peixinho, e a igreja nascente e pobre foi chamada de "barca de Pedro"...

O episódio dessa pesca - milagrosa porque coletiva e ousada, na profundidade e não no raso - se dá numa região hoje conflitada, onde um pretenso e tresloucado dono do mundo quer expulsar milhões de palestinos, promover limpeza étnica e construir resort para ricos... E o sujeito ainda se diz cristão!

Que bela missão essa proposta pelo Nazareno: pescar riquezas invisíveis, acolher gente, contribuir para a humanização do ser humano, buscar fartura e reparti-la. Na contramão desses que, individualistas, desprezam a solidariedade e qualquer pesca em comum.

Ouvindo esse relato do Evangelho, me deixo embalar pela "Suíte dos pescadores", linda canção de Dorival Caymmi (1914-2008): "Minha jangada vai sair pro mar/ vou trabalhar, meu bem querer/ Se Deus quiser quando eu voltar do mar/ um peixe bom eu vou trazer/ Meus companheiros também vão voltar/ e a Deus do céu vamos agradecer!".

VAMOS?

Foto de Juliana Leite (Paraty, RJ)

9/2: 116 anos de D. Helder Câmara! VIVE!
Arquivo Nacional
Dom Hélder Câmara

O Arquivo Nacional relembra hoje o nascimento de Dom Hélder Câmara, em 7 de fevereiro de 1909. Nascido em Fortaleza (CE), desde cedo já mostrava vocação para o sacerdócio. Em 1923, com apenas 14 anos de idade, ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza.

Ordenado Bispo em 1952, foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife em 12 de março de 1964. Após o golpe civil-militar, Dom Hélder integrou a oposição ao regime e denunciou as torturas e as violações dos direitos humanos praticadas durante os governos militares brasileiros. Por sua condenação à ditadura e por sua defesa dos pobres, foi chamado de comunista e chegou a receber a alcunha de “Arcebispo Vermelho”.

Sobre isso, em uma de suas falas mais conhecidas, disse: “Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”.

Com a publicação do Ato Institucional n° 5 (AI-5), Dom Hélder foi proibido de se manifestar publicamente e os veículos de comunicação foram proibidos até de mencionar seu nome. Desde então, passou a viajar pelo Brasil e pelo exterior denunciando a violência do governo brasileiro. Seu combate ao regime rendeu-lhe quatro indicações ao Prêmio Nobel da Paz.

Dom Hélder faleceu aos 90 anos, no dia 27 de agosto de 1999. Em 26 de dezembro de 2017, foi declarado patrono brasileiro dos direitos humanos e, atualmente, corre no Vaticano um processo para sua canonização.



Nas imagens, Dom Hélder Câmara, sem data. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã. BR_RJANRIO_PH_0_FOT_13958_034 


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