(Breve reflexão para cristãos ou não)
Arte de Lu Paternostro (SP)Gosto muito da comparação da nossa existência com um barco no mar (ou lago, ou rio), que exige permanente invenção do cais, e "saber a vez de me lançar" (Milton e Brant). Que pede que reinventemos em nós o sonhador (o sonho, a dor?).
Pois é uma metáfora de água, coragem e abundância contada por Lucas (5, 1-11) a ouvida hoje em milhares de comunidades de fé do mundo.
Jesus está à beira do Lago de Genesaré (Mar da Galileia ou de Tiberíades), ensinando à multidão, "que se apertava ao seu redor" - há melhor "templo"? Foi quando viu duas barcas paradas. Os pescadores estavam exaustos e frustrados após uma noite de pouco resultado.
O Mestre, sempre atento aos desiludidos e fragilizados, dobra a aposta: "Avancem para águas mais profundas e lancem suas redes!".
E não é que o filho de carpinteiro, contrariando a lógica daqueles experimentados e decepcionados "homens do mar", estava certo? Suas redes quase arrebentam com tanto pescado!
Simão Pedro, espantado, quer prostrar-se aos pés Daquele que o impulsionou para tamanha conquista, mas Jesus fala do mais importante: "Não tenha medo. Agora você será 'pescador' de homens!". Não apenas ele, mas seus companheiros de duro ofício, Tiago e João.
Por isso, o símbolo dos cristãos das catacumbas era um peixinho, e a igreja nascente e pobre foi chamada de "barca de Pedro"...
O episódio dessa pesca - milagrosa porque coletiva e ousada, na profundidade e não no raso - se dá numa região hoje conflitada, onde um pretenso e tresloucado dono do mundo quer expulsar milhões de palestinos, promover limpeza étnica e construir resort para ricos... E o sujeito ainda se diz cristão!
Que bela missão essa proposta pelo Nazareno: pescar riquezas invisíveis, acolher gente, contribuir para a humanização do ser humano, buscar fartura e reparti-la. Na contramão desses que, individualistas, desprezam a solidariedade e qualquer pesca em comum.
Ouvindo esse relato do Evangelho, me deixo embalar pela "Suíte dos pescadores", linda canção de Dorival Caymmi (1914-2008): "Minha jangada vai sair pro mar/ vou trabalhar, meu bem querer/ Se Deus quiser quando eu voltar do mar/ um peixe bom eu vou trazer/ Meus companheiros também vão voltar/ e a Deus do céu vamos agradecer!".
VAMOS?
Foto de Juliana Leite (Paraty, RJ)
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