Eu sou da América do Sul! Eu sei, vocês não saber”, cantou Milton numa cancão intitulada para Lennon e McCartney, que também não sabiam. O Grammy também não sabe. O Grammy é Awards, é “America”, tentando ser a única - e great, again and again and again. É um disco riscado. É uma fábrica de hits, de riffs, de refrões. E o mundo inteiro canta. Ai de você que não conhece uma das suas big stars. Estrelas cadentes. Decadentes. São eles mesmos, que não vão saber. Que chamam de “world music” toda música de todo o mundo que ecoa além de suas fronteiras bem muradas. A gente não. A gente é o mundo. É Minas Gerais, é Girl from Rio – da laje à Ipanema. You know what I mean? Eu não sou cowboy, eu jamais serei vocês.
Eles não vão saber, porque imersos desde sempre na sua ignorância autofágica. Mas a ignorância é uma benção porque sair dela dá trabalho. É preciso enxergar dois palmos à frente do nariz e um pouco além do umbigo. É preciso ir além das fórmulas musicais prontas e repetidas à exaustão. Estrelas que se apagam e cujo brilho é preciso concretar no chão para que não sejam esquecidas. É preciso abrir os ouvidos, os olhos, a cabeça. Abrir as portas para o que vem de fora. Abrir um lugar à mesa. Abrir a página de um livro, de história ou de Machado. Mas quando é gringo descobrindo Machado, Clarice, ou Rubens Paiva, a gente faz palminha, comenta, engaja. E lê o que a gente não mesmo não leu. Mas agora tem o aval da blogueira estadunidense. Agora eu vou entrar na Amazon de Bezos e comprar o livro. Quem sabe eu até leia. Quem sabe eu até ouça Para Lennon e McCartney. Quem sabe eu até entenda do que se trata.
Escolha quem vai sentar à sua mesa. Isso diz muito mais sobre você do que sobre mim. Da gente eles só querem o ouro de tolo mesmo – de Minas ou da Amazônia. No mais, eles se lixam para a gente. Porque eles não sabem do lixo ocidental.
—Texto: @neli_pereira
Fonte: Página Mais Brasil no facebook
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