Rio de Janeiro - Prevenção é a política que o governo brasileiro deve
adotar para combater a expansão das drogas no país, disse à Agência Brasil
a pesquisadora Mina Carakushansky, diretora da Associação Brasileira de
Alcoolismo e Drogas (Abrad) e da Federação Mundial contra as Drogas
(Wfad, a sigla em inglês). Ela participa neste sábado (11) de seminário
de prevenção ao uso de drogas e à dependência química, promovido pela
Abrad, na Câmara Comunitária da Barra da Tijuca.
A Wfad é uma comunidade multilateral de organizações não governamentais
e indivíduos, sediada na Suécia. Fundada em 2009, a entidade tem como
objetivo trabalhar para um mundo livre de drogas. A federação apoia as
convenções de narcóticos da Organização das Nações Unidas (ONU).
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Mina disse que, de maneira geral, apenas 5% da população mundial usam
regularmente algum tipo de droga ilícita, enquanto 95% não usam qualquer
droga. “A gente ouve muito falar em tratamento contra drogas, que é
necessário. Mas ouve-se falar muito pouco em prevenção”. O seminário,
ressaltou, visa a chamar a atenção da sociedade para a necessidade de
prevenção às drogas no Brasil.
Para ela, se a verba destinada pelo governo federal para o enfrentamento do crack,
no total de R$ 4 bilhões até 2014, conseguisse tratar e recuperar os
atuais dependentes dessa droga, isso não ia resolver o problema, porque
logo apareceriam outros usuários. “O paralelo que a gente tem que fazer
em relação às drogas que hoje são ilegais, as drogas psicoativas, é o
mesmo que se faz em relação ao tabaco, à dengue, à tuberculose ou à
febre amarela”. Ou seja, combater as drogas por meio de campanhas
preventivas maciças que mostrem à população as consequências que o vício
pode trazer.
Mina assegurou que a prevenção evita que haja novos problemas ou, pelo
menos, que os problemas proliferem. “A solução real está em a gente
evitar que aquelas pessoas caiam no precipício das drogas”. O seminário
abordará a prevenção às drogas em suas múltiplas formas, dentro das
empresas, da família, nas escolas, nos clubes sociais. Serão oferecidas
palestras e oficinas para educadores, jornalistas, psicólogos, médicos,
enfermeiros, assistentes sociais e lideranças comunitárias.
A política de prevenção deve ser iniciada na infância, defendeu Mina,
para que o Brasil consiga atingir no futuro a posição de países de
primeiro mundo na luta contra as drogas. Segundo ela, a Suécia é o país
que melhor êxito obteve na prevenção contra as drogas, em comparação com
as demais nações europeias que apresentam características similares de
educação, moradia, bem-estar da população, meios econômicos e
democracia.
Titular da Secretaria Especial de Prevenção à Dependência Química em
2000, o primeiro órgão desse tipo no Brasil, Mina criticou o movimento
pela legalização das drogas. Lembrou que a própria Suécia, após várias
experiências de liberalização das drogas, resolveu adotar uma política
de prevenção forte e ampla, que se mantém, independentemente da posição
política ou ideológica do governo. “A política de drogas não muda. É
sempre a mesma”. Ela admitiu que não há ainda perfeição na Suécia. “Mas
em relação ao que se pode fazer, é um exemplo a ser imitado”.
Dados da ONU indicam que o Brasil é o primeiro país consumidor de crack
no mundo e o segundo maior consumidor de cocaína. Mina alertou, porém,
que não adianta fazer comparações entre o Brasil e outros países, porque
são realidades diferentes. A Suécia, por exemplo, liberalizou as
drogas em 1965. Diante do crescimento do consumo e dos problemas sociais
que surgiram, o governo voltou atrás três anos depois e as leis foram
endurecidas.
A pesquisadora reiterou que a prevenção contra as drogas deve começar
na infância. O ideal é que ela comece na família. “É uma cultura que a
pessoa não desenvolve da noite para o dia. É uma cultura desenvolvida
com campanhas, com esclarecimentos”. Mudanças de humor e de
comportamento devem acender um alerta nos pais ou responsáveis. “No
início, é relativamente fácil neutralizar isso. Agora, quando se torna
dependente, é mais difícil”.
O caso do cigarro é, disse ela, o melhor exemplo de que é possível
fazer coisas positivas no Brasil. No início da campanha do governo
contra o fumo, 35% da população fumavam. À medida que os conhecimentos
científico e tecnológico avançaram e a campanha de esclarecimento se
intensificou, o índice de consumo baixou para 15%. Segundo ela, o
hábito de fumar já é visto como algo que não é positivo.
Mina lembrou ainda que o Brasil conseguiu um feito grande em relação à
própria população com a redução do consumo de cigarro, porque diminuíram
os custos com saúde e houve um prolongamento da vida de pessoas que
antes poderiam ficar doentes. Para fazer campanhas preventivas e
esclarecedoras desse nível, é preciso que haja vontade política e
pessoas que pensem no bem-estar do povo, destacou.
A diretora da Abrad e da Wfad manifestou-se contra o projeto de
descriminalização do consumo de drogas, porque vários países citados
como exemplos de sucesso estão voltando atrás em suas decisões. É o caso
de Portugal, citou. “Porque aumentaram muito os índices de
criminalidade, de overdose”. Ela está certa de que todos os movimentos
que visem a dar acesso livre às drogas e facilitar sua obtenção, “anos
mais tarde vão voltar atrás”. Reiterou que todas as drogas, dependendo
da potência, causam efeitos perigosos ao organismo.
Edição: Graça Adjuto
- Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
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