sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mundo Jovem - Namorar é buscar morada no outro.


Músicas











Jornal Mundo Jovem - Edição 437 - Junho de 2013.

  Namoro: é possível ampliar nosso conceito de amor
entrevista com Robertson Ferreira Lins (Esquilo), publicada na edição nº 437, junho de 2013.

Robertson Ferreira Lins (Esquilo) psicólogo, didata em biodanza e pós-graduando em Espiritualidade, Educação e Ecologia. Reside em Recife, PE.
 
A sexualidade e o aprendizado através do namoro são temas importantes para se conversar na escola. É preciso transformar nossos espaços de vida – e a escola é um dos principais – e compartilhar sempre o nosso melhor e o potencial de qualidade que o outro tem. Deixar que a relação aconteça: que possamos ter entregas cada vez maiores sem tanta cobrança de resultados. Ou “não ficar tão perto que a gente possa sufocar, e nem tão longe que a gente possa ser esquecido”, como diz o nosso entrevistado, Robertson Ferreira Lins. Esquilo, como gosta de ser chamado.
  • O namoro ainda tem sentido ou é algo ultrapassado? O namorar hoje é bem atual e vai ser sempre atual, em qualquer época. Penso e ao mesmo tempo sinto que namorar é buscar um encontro com o outro, é buscar uma morada no abraço do outro, é querer morar dentro do outro para permitir se encontrar dentro do outro. E essa busca de se encontrar, de se permitir, de se entender, de buscar ser amado vai ter sentido em qualquer época. Namorar nunca vai estar fora de época, fora do contexto. Acredito que todo ser humano e todo animal vai sempre buscar o encontro. Nós, humanos, costumamos namorar, brincar de morar dentro do outro. Por isso creio que esse deslumbramento sempre vai existir, por mais que se diga que está desatualizado.
  • As características de namorar, hoje, são diferentes de outras épocas? Talvez exista alguma diferença conforme os tempos. Não sei se com o amor romântico da época medieval existiam mais poetas que declaravam o amor explícito, o amor comentado, do êxtase. Hoje, há uma série de burocracias que criamos em cima do namorar, há cobranças que existem entre as pessoas, principalmente exigindo resultados, como fazem as empresas. Talvez por isso o namoro tenha perdido um pouco o caminho. Porque o namoro não é resultado, é para se deslumbrar com o outro, é ampliar a sensação de percepção. Hoje temos mecanismos de expressão diferentes de namoro, a nossa vontade de namorar, vontade de dizer que ama. As maneiras é que são diversas.
  • A rapidez do mundo atual afeta o relacionamento amoroso, cria uma espécie de prazo de validade? A pressa que se tem hoje, a ideia da rapidez, da velocidade da internet e das informações, às vezes nos faz esquecer que namorar tem outro ritmo. Namorar é perceber, é ter a possibilidade de escutar o encanto da outra pessoa, saber brotar em cada chão por onde passamos, o encantamento de mostrar uma flor, mostrar uma árvore, mostrar o pôr do sol ou simplesmente olhar a lua cheia. E o tempo para isso é completamente diferente do tempo lógico. É algo mais lento. A rapidez impede a contemplação desses momentos juntos, de olhar, escutar, sentir a presença da outra pessoa. Não pode haver rapidez. Quando a gente começar a atrasar juntos os relógios e começar a fazer pequenas contemplações, estando cem por cento presentes, escutando e se deliciando com a presença do outro, o tempo é outro. Namoro não é resultado, é estar presente e pronto.
  • O namoro pode ser também um projeto de vida de alguém ou é algo que vai surgindo? Penso que tem as duas coisas. Existe a necessidade ou o desejo de um projeto de vida e, ao mesmo tempo, a relação que vai crescendo. Não sei a ordem de como começa, qual a primeira, mas acho que se perdeu um pouco, porque antes disso as pessoas deveriam se encontrar amando a si mesmas. Quando a pessoa descobre que pode amar a si, vai descobrir que pode amar o outro. Agora, no momento em que permanecemos juntos e percebemos continuamente que estamos juntos, tem uma continuidade. Lembrei de duas pessoas interessantes que falaram sobre o amor. Santo Agostinho disse: "simplesmente, ame". Nada além do que seja amor. Cobrança já não é mais amor, exigência não é amor. E Jesus considerava que por amor tudo é possível. Então, duas pessoas que falaram de amor, falaram algo tão simples! Para ter continuidade de vida, de projeto de namoro, tem que se perceber se não está se escondendo atrás do amado ou da amada. Porque, se for assim, não há amor e o projeto vai por água abaixo. A pessoa tem que se perceber completa na relação. É um abrir-se, ficar transparente, e é na intimidade que há a possibilidade do projeto de vida, caso contrário fica difícil a continuidade.
  • Os novos tipos de família, outros modelos, podem afetar o namoro dos filhos? Acabamos tocando na ferida dos pais. Por ter recebido um pouco da não expressão amorosa com naturalidade, acredito que os pais acabam não entendendo as expressões amorosas dos filhos e não sabendo lidar com elas. Como os pais estão nas suas próprias relações? Se isso não vai bem, não há como entender as relações dos filhos. Quanto aos filhos, querendo ou não, há um pouco do protótipo das famílias. Se eles vêm de uma família desorganizada, podem entrar no círculo do padrão da família. Se os pais estão juntos por status, comodidade, algum receio, isso poderá refletir na percepção dos relacionamentos. Quando os pais se amam, dá para ter uma certa tranquilidade a respeito dos filhos. Então isso é algo de mão dupla: os pais entendendo a expressão amorosa dos filhos e os filhos entendendo a expressão amorosa dos pais.
  • Por que um namoro começa e por que ele termina? A própria vida é um processo de transformação. Tudo tem movimento. Há quem disse que tudo é vazio, luz, cores e que tudo é música e movimento. As relações começam porque buscamos esses encontros: da luz, da música, do vazio e do movimento. E se tudo é movimento, chega o momento de passar à frente, dar continuidade. A expressão amorosa é muito maior do que imaginamos. Agora, considerando que amar outra pessoa é o melhor para ela, e que quando ela queira ir embora, compreender que isso possa ser melhor para ela, é entrar no nosso templo de humildade e de liberdade, e permitir que o outro vá. Caso contrário, não é querer o melhor para o outro. Então tudo começa e tudo se transforma. Buscamos esse primeiro contato de carinho, de afeto, de proteção, de realização, mas talvez chegue o momento que se queira mais e isso não significa um fracasso na relação, mas uma ampliação desse amor. Confunde-se muito manter a relação com a posse. Mas as relações não são posse, elas são movimentos dançantes que se expressam a cada momento. A própria vida é uma dança, é uma dança se encontrar com o outro e também é uma dança partir para outros movimentos.
  • O namoro pode servir para um aprendizado do corpo? A todo momento estamos aprendendo, e o aprendizado também acontece na relação com a outra pessoa. Mas talvez tenha se perdido um pouco quando esquecemos de cuidar da relação. E daí entrou uma série de moralismos em cima da relação com o corpo, acabou surgindo a condenação e, com a condenação não há aprendizado perfeito. Mas no momento em que entrarmos desculpabilizando o corpo, com o devido cuidado, é um verdadeiro aprendizado com o outro. Talvez tenhamos que descobrir quais são os nossos medos, nossas culpas, o que estamos buscando, porque o outro simplesmente me dá as pistas do que estou buscando. Quem vai criar percepções e entendimento é a própria pessoa. Namorar vai ser sempre um aprendizado.
  • Como a nossa sociedade e os meios de comunicação lidam com as diferentes expressões de afeto? Acho estranho como, numa sociedade, dentro do nível da racionalidade, falamos de amor e ao mesmo tempo negamos as expressões amorosas em todos os lugares. A televisão, por exemplo, passa mais expressões de morte, de violência do que as pequenas expressões amorosas, como o simples gesto de ajudar alguém a atravessar a rua, dar uma flor, escrever um poema, olhar para outra pessoa. Esses pequenos gestos não são muito pontuados. E quando se reprime a expressão amorosa, aí se provoca o maior distúrbio social, que é a própria violência, a não aceitação do diferente. A diversidade é que faz a vida dar seus passos. É o entendimento desse diferencial também em nós que talvez possa aceitar o diferencial que está fora. Do contrário nos tornamos ditadores; as outras expressões não valem. Acho que todas as expressões são válidas, contanto que revelem o cuidado, o afeto, a cumplicidade e também intimidade num sentido mais amplo, em que possamos encontrar vida em todas as emoções. Existem emoções que fazem com que nos permitamos, nos abramos para a vida, e outras que fazem com que nos fechemos, que é a depressão. Perceber as expressões amorosas externas faz com que nos abramos. Acho que tem uma mistura de moralismo que talvez tenhamos recebido, somado ao medo dessas expressões corporais, de sensações que temos. Muitas vezes, olhar também provoca extremas emoções. Ao mesmo tempo, devido às nossas repressões, não queremos revelar a alegria de ver em nós e no outro as expressões diferentes. É preciso deixar os sentimentos comungarem com as ideias.

O namoro na escola atrapalha ou ajuda?

O namoro pode ajudar muito na escola, porém vai depender da escola e do nível de repressão que os professores carregam dentro de si. Porque se pegar o tema namoro, o flertar, o ficar, o encontrar-se com o outro também como tema de sala de aula, desmistificando esse mistério do amor, colocando-o com mais naturalidade, seria um aprendizado, talvez mais terapêutico do que educativo. É importante compartilhar nossas sensações de alegria, de prazer, de estar aberto para o mundo, porque, quando estamos amando, estamos vendo tudo muito mais bonito. E é essa força divinal que precisamos redescobrir dentro das escolas. As escolas deveriam se abrir para este potencial de vida. Por que não associar o amor e suas várias expressões dentro da sala?
Acho que tudo o que é muito proibido e não é discutido, comentado, provoca uma curiosidade imensa. O ser humano é um bicho curioso. Ele busca alguma coisa, quer entender, quer experimentar, sair dos limites. Então, quanto mais naturalidade nos temas, mais vai preparar as pessoas para escolherem o que querem.
Entre a relação de amor e a relação de morte, parece que se valoriza mais a morte, a luta, a competição. Quase nada se valorizou das expressões amorosas em suas múltiplas possibilidades. Não sei se seria muita hipocrisia hoje querer limitar os tipos de relações amorosas permitidas. Penso que tem que deixar as pessoas serem felizes. Se o feliz dela é estar com o igual, vamos celebrar o igual; se for com os diferentes, vamos celebrar os diferentes, mas o importante é deixar as pessoas escolherem suas melhores expressões amorosas, contanto que não invadam o espaço das outras pessoas: terão apenas que fazer uma escolha responsável. Mas é ainda um grande debate, uma grande discussão tanto filosófica quanto psicológica para ser colocada nas escolas, nos encontros, nos meios de comunicação.
Se nas aulas de História, por exemplo, falássemos do amor em todas as épocas ao invés de falar das guerras, acho que seria interessante. A questão da sexualidade, do aprendizado através do namoro, acredito ser a própria expressão divina. Quando a flor desperta para o desabrochar já é um convite para a abelha chegar. É tudo uma dança. E a dança simplesmente acontece.

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 Sugestão do blog
Cântico dos Cânticos - Um dos mais belos poema para  os (e)namorados.

Texto completo  AQUI

Notas erótico exegéticas  AQUI
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