Diálogo
Candidato do PT considera segundo
turno, seja qual for o candidato, um embate entre direitos e ditadura. E
o representante progressista terá de saber "costurar, cerzir uma roupa
que foi esgarçada"
por Vitor Nuzzi, da RBA
publicado
24/09/2018 20h29,
última modificação
24/09/2018 20h37
Ana Flávia Marx
Haddad: 'A classe dominante não tem necessariamente uma unidade. Tem muita gente envergonhada'
São Paulo – Com 13 dias como candidato e a 13 dias do primeiro turno, Fernando Haddad (PT) considera que "nada está garantido", mas ressalta o fato de que um projeto de centro-esquerda estará representado na segunda rodada eleitoral.
Dois anos atrás, ele aponta o risco de um embate entre "direita e
extrema-direita". "Estamos na disputa. Reerguemos o projeto de
centro-esquerda e demos a ele condições competitivas", afirmou, em
entrevista coletiva a veículos da mídia alternativa, no início da noite
desta segunda-feira (24), em São Paulo.
Agora com 22% segundo o Ibope
– a entrevista ocorreu antes da divulgação da pesquisa –, Haddad avalia
que o segundo turno terá uma disputa entre um projeto social, de
preservação de direitos, e um de ditadura, mesmo simbólica.
"Existe uma ameaça real à democracia. Estamos falando de uma coisa
que é fruto de uma luta histórica de gerações. De um lado, direitos. De
outro, ditadura, nas formas contemporâneas. Os riscos são enormes, e
isso está sendo naturalizado. Esse campo dos direitos e da ditadura está
se moldando."
Mas há fatores que ainda evidenciam uma indefinição do cenário,
segundo o presidenciável petista. "Neste momentos de interregno
histórico, também a classe dominante não tem necessariamente uma
unidade. Tem muita gente envergonhada. Não declara porque acha que isso é
jogar água no moinho do PT."
Ele citou declaração do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, sobre respeito ao resultado eleitoral, o que deveria ser uma obviedade, em uma situação política normal. "É porque não é mais óbvio."
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Ele concordou com a apontada presença do antipetismo na eleição, mas
lembrou que não se trata de fenômeno novo. "Ouço boato sobre o Lula
desde 1980", afirmou, "porque ele é uma pessoa indesejável para a
casa-grande." Mas manifestou confiança no diálogo. "Os franceses estão
na quinta república. Teve de tudo para consolidar o que hoje a gente
tanto admira. Acredito nos fundamentos (políticos, econômicos e sociais)
do país. E a sociedade vai responder a um chamado de reconstrução."
Tem de vir "piano"
Sobre a campanha, ele lembrou que 30% dos eleitores ainda não sabem
quem é o candidato do PT, enquanto 12% dizem que vão votar no
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já não é mais candidato.
Mas acrescentou que nada se resolverá no dia 7 ou em 28 de outubro.
"Quem ganhar vai ter de vir 'piano' conversar com as pessoas",
afirmou. Segundo Haddad, será necessário um "trabalho de costura, de
cerzir uma roupa que foi esgarçada".
"Vamos ter de reconstruir, inclusive no imaginário das pessoas,
alguma confiança no processo político. Não vejo como uma travessia
fácil." Não será como em 2002, quando Lula venceu pela primeira vez.
Haddad observou que havia uma crise econômica, mas a transição ocorreu
de forma tranquila.
Esse processo tem duas dimensões, segundo o candidato: discussão do
programa de governo e fortalecimento das instituições. No primeiro caso,
a negociação é com o Congresso. Segundo Haddad, existem medidas "com
caráter adiantado de redação". O programa inclui uma discussão sobre os
meios de comunicação "como nunca nós fizemos".
No segundo caso, é preciso discutir como se recuperar do desgaste de
Executivo, Legislativo e Judiciário – inclusive setores do Ministério
Público "que partidarizaram o combate à corrupção". "Isso não tem nada a
ver com programa de governo. Numa situação normal, só teríamos a
discussão programática", disse Haddad, para quem é preciso recuperar uma
"cultura democrática", o que inclui as Forças Armadas.
O petista reafirmou que "trabalhou intensamente" por uma chapa única
no campo da centro-esquerda, conversando com o agora candidato do PDT,
Ciro Gomes, e inclusive intermediando reunião entre o presidente do
partido, Carlos Lupi, e Lula. "Sempre joguei no time da coalizão. Acho
que vamos estar juntos no segundo turno."
Uma das perguntas foi sobre a possibilidade de o agressor de
Bolsonaro, Adélio Bispo, dar entrevistas sobre o ataque ocorrido no
último dia 6. "O Marcola dá entrevista, esse rapaz dá entrevista e o
Lula não pode dar um recado, não pode filmar. Tudo isso vai sendo
registrado pelos historiadores."
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