quinta-feira, 9 de outubro de 2025

AO PAPA LEÃO XIV COM CARINHO. Mensagem de Marcelo Barros como resposta a exortação apostólica “Dilexi te”, sobre o cuidado com os pobres..

 Muito obrigado, Papa Leão XIV

Muito obrigado pela bela e oportuna exortação Dilexi te sobre o cuidado com os pobres. Sua exortação ganha especial sentido no mundo atual, no qual, o Capitalismo perdeu todas as suas máscaras de sistema minimamente humanitário. Multidões de migrantes e continentes inteiros como a África se tornaram descartáveis. 

Marcelo Barros - 

🙏🏻 | Monge beneditino📝 | Escritor 🏳️ | Assessor de movimentos populares e no diálogo entre as religiões 📖 | Biblista 

Essa exortação é também urgente em uma Igreja na qual muitos grupos considerados católicos e a maioria da hierarquia e do clero se divide entre posições de direita e de extrema-direita, uns e outros aprisionados em uma visão de Igreja clerical, autorreferente e saudosa dos velhos tempos de Cristandade. Quem sabe, bispos e padres que não se preocuparam em ler as encíclicas do Papa Francisco, aceitem ler e levar a sério as suas exortações. 

A exortação também fará bem a outras Igrejas irmãs. Aqui no Brasil, nesses dias, uma Igreja evangélica conhecida pediu ao Banco Central para abrir um banco. E continua considerada Igreja cristã. 

A sua exortação é um bom resumo do que uma boa enciclopédia poderia trazer sobre a ajuda aos pobres nos textos bíblicos, nos documentos da Patrologia e de toda a tradição de vida religiosa na Igreja. 

Uma das bases da argumentação é a palavra de Jesus: “pobres,  sempre tereis entre vós” (Mt 26, 11). Na ceia de Betânia (casa dos pobres), Jesus cita o capítulo 15 do Deuteronômio que legisla sobre o ano sabático, a anistia das dívidas e a libertação dos escravos, para que não haja mais pobres na sociedade. No entanto, como a sociedade sempre encontra formas de manter as desigualdades injustas, é preciso ajudar os pobres, porque entre vós (e isso é uma acusação), sempre haverá gente empobrecida” (Dt 15, 11). 

Aliás, o vocabulário bíblico tem três termos hebraicos para designar o pobre. Na maioria dos textos, anaw ou anawin se traduz melhor por empobrecido do que por pobre. Os livros sapienciais falam dos anawin de Jahwé. É a categoria social e política do povo oprimido. O termo ebion tem o sentido de carente, enquanto dal designa a pessoa estruturalmente necessitada de cuidados especiais. 

Essa exortação papal me fez recordar da palavra do querido e saudoso Dom Helder Camara, que, uma vez, o Papa Francisco citou: “Quando eu ajudo os pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que são pobres, dizem que sou comunista”. Do tempo de Dom Helder para cá, o mundo piorou tanto que, quem sabe, mesmo essa exortação que trata mais do cuidado com os pobres e apenas alude às causas estruturais da pobreza, possa ser acusada de comunista. 

Muito obrigado, Papa Leão, pela menção honrosa aos movimentos populares e ao seu manifesto desejo de que a Igreja se coloque na solidariedade concreta e na luta pacífica para vencer as causas estruturais da pobreza. 

Por falar nisso, a sua carta traz uma longa lista de coisas boas que, em toda a história, a Igreja Católica fez para os pobres. Recordou a proposta evangélica e franciscana de uma Igreja dos pobres e para os pobres. No entanto, todos nós sabemos que, embora todos esses textos sejam verdadeiros e importantes, no que diz respeito à prática concreta, a hierarquia eclesiástica nem sempre agiu de acordo com esses princípios. Durante a história, os representantes da Igreja se uniram aos impérios colonizadores e legitimaram a violência da conquista, da escravidão e, portanto, da origem da pobreza estrutural da maioria de nossos povos. O Papa João Paulo II pediu perdão pelos pecados de alguns filhos da Igreja, mas todos nós sabemos que aqueles eclesiásticos agiram como representantes da Igreja e endossados por documentos oficiais, que até os tempos do Papa Leão XIII, condenavam todos os movimentos sociais, sindicatos e quaisquer organizações de trabalhadores. 

Infelizmente, essa indiferença social e política com a manifestação do reinado divino no mundo continua ainda no DNA de muitos eclesiásticos e espero que a sua exortação provoque verdadeira conversão estrutural e comunitária. A mim, me interpela não apenas a ajudar os pobres e ser solidário, mas a denunciar as causas estruturais da pobreza e a lutar contra as estruturas que, diariamente, a produzem e a multiplicam. 

Leia também:

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2025-10/dilexi-te-eu-te-amei-primeira-exortacao-apostolica-papa-leao-xiv.html

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RESUMO

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - DILEXI TE

DO SANTO PADRE LEÃO XIV

SOBRE O AMOR PARA COM OS POBRES

A Exortação Apostólica Dilexi te do Santo Padre Leão XIV, que assume e acrescenta reflexões ao projeto do seu amado predecessor, Papa Francisco, trata do amor para com os pobres, sublinhando que este amor está intrinsecamente ligado ao amor de Cristo e é essencial para a missão e santificação da Igreja.

PRINCIPAIS CONCEITOS E IDEIAS CENTRAIS

1. Declaração de Amor de Cristo: A Exortação baseia-se na passagem bíblica «EU TE AMEI» (Ap 3, 9), dirigida a uma comunidade cristã com pouca força. Jesus se identifica «com os últimos da sociedade» e o contato com os que não têm poder é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história (Revelação).

2. Opção Preferencial de Deus e da Igreja pelos Pobres: Trata-se de um conceito teológico que sublinha a ação de Deus que, por compaixão, se dirige à fraqueza humana e tem particularmente a peito aqueles que são discriminados e oprimidos. Esta opção está implícita na fé cristológica e impele a Igreja a uma posição decidida e radical em favor dos mais fracos.

3. A Pobreza como Clamor e Fenômeno Multifacetado: A condição dos pobres representa um grito que interpela a vida, as sociedades e a Igreja. A pobreza não é uma condição única, mas manifesta-se em múltiplas formas, incluindo falta de bens materiais, marginalização social, pobreza moral, espiritual e cultural, e ausência de direitos ou liberdade.

4. Inseparabilidade do Amor a Deus e ao Próximo: O amor ao próximo (especialmente ao pobre) é a prova tangível da autenticidade do amor a Deus. Não se pode amar a Deus sem estender o amor aos pobres. Qualquer ação de amor pelo próximo é um reflexo da caridade divina.

5. Denúncia das Estruturas de Pecado: A pobreza é frequentemente causada por estruturas sociais e estruturais e ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. O pecado social manifesta-se como uma "mentalidade dominante que considera normal ou racional o que não passa de egoísmo e indiferença", definida como alienação social.

6. Os Pobres como Sujeitos e Evangelizadores: Os pobres não são meros objetos de beneficência, mas sujeitos capazes de criar cultura própria, mestres silenciosos e uma fonte de sabedoria, ensinando a simplicidade e humildade. A Igreja precisa de se deixar evangelizar por eles.

“CAPÍTULOS E/OU SEÇÕES” MAIS RELEVANTES

Os capítulos e seções da Exortação organizam o tema da seguinte forma:

● CAPÍTULO II – DEUS ESCOLHE OS POBRES: Este capítulo estabelece o alicerce teológico da opção pelos pobres, detalhando a pobreza radical de Jesus, que se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza, e que é o Messias dos pobres e para os pobres.

● A Misericórdia Para Com Os Pobres Na Bíblia: Destaca a centralidade da caridade como mandamento inseparável do amor a Deus, e apresenta a parábola do juízo final (Mt 25, 31-46) como a regra de comportamento pela qual seremos julgados.

● CAPÍTULO III – UMA IGREJA PARA OS POBRES: Oferece um vasto panorama histórico do compromisso eclesial, desde o serviço (diakonía) dos primeiros diáconos e os Padres da Igreja (como São João Crisóstomo, que via os pobres como os verdadeiros tesouros da Igreja), até às Ordens Mendicantes (São Francisco), e as obras de educação e cuidado dos migrantes e enfermos.

● CAPÍTULO IV – UMA HISTÓRIA QUE CONTINUA: Foca-se no Magistério moderno e contemporâneo (Doutrina Social da Igreja). É crucial a citação do Concílio Vaticano II, que afirmou que o mistério de Cristo na Igreja é o mistério de Cristo presente nos pobres. Esta seção aborda a necessidade de lutar contra as estruturas de injustiça e enfatiza os pobres como sujeitos.

● NOVAMENTE O BOM SAMARITANO: Utiliza esta parábola para desafiar a indiferença moderna, questionando com quem nos identificamos, e exorta a “Vai e faz tu também o mesmo”.

● O CUIDADO COM OS ENFERMOS e A IGREJA E A INSTRUÇÃO DOS POBRES: Estas secções sublinham que a compaixão cristã se traduz em ações concretas de promoção humana integral, dignificando o ser humano através do cuidado da saúde e da educação.

PERSONAGENS, TEORIAS E/OU MÉTODOS APLICÁVEIS

Personagens (Pessoas de Destaque)

A Exortação enfatiza a vida de santos e líderes que encarnaram o amor aos pobres:

● Leão XIV: Autor, que assume a herança do projeto.

● Papa Francisco: Predecessor, que iniciou o projeto Dilexi te e cuja Encíclica Dilexit nos aprofundou o amor do Coração de Jesus.

● Jesus Cristo: A figura central, que se fez pobre e é a revelação do privilegium pauperum.

● São Francisco de Assis: Ícone da primavera espiritual. Escolheu imitar Cristo pobre, vendo nos pobres irmãos e imagens vivas do Senhor.

● São João Crisóstomo: Pregador ardoroso da justiça social que alertava que não dar aos pobres é roubá-los.

● São Lourenço: Diácono mártir que apresentou os pobres como "os tesouros da Igreja".

● Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres: Ícones modernos da caridade nos mais indigentes, que viam o serviço como fruto da oração e do amor total a Cristo.

● São José de Calasanz e São João Batista de La Salle: Fundadores de congregações para a educação popular e gratuita dos jovens mais pobres.

● São Oscar Romero: Arcebispo e mártir que centrou a sua opção pastoral no drama dos seus fiéis pobres.

TEORIAS E/OU MÉTODOS APLICÁVEIS

● Doutrina Social da Igreja (DSI): Um tesouro de ensinamentos que se desenvolveu a partir dos desafios modernos, começando com a Rerum novarum (Leão XIII). A DSI estabelece a destinação universal dos bens da terra e a função social da propriedade.

● Obras de Misericórdia: Recomendadas como um sinal da autenticidade do culto e para nos abrir à transformação que o Espírito pode realizar.

● Partilha e Misericórdia (Modelo do Bom Samaritano): O método prático para combater a indiferença, que implica parar, olhar, tocar e partilhar.

● A Caridade Intelectual: Conceito enfatizado pelo Beato António Rosmini, segundo o qual o conhecimento e a formação são dimensões indispensáveis para o desenvolvimento integral da pessoa.

● Método Preventivo (São João Bosco): Baseado nos princípios de razão, religião e amabilidade, aplicado na educação de jovens.

LIÇÕES OU INSIGHTS PRÁTICOS

Os pontos mais significativos que podem ser aplicados ou refletidos são:

Lição/Insight Prático

Significado e Aplicação

A Pobreza como "Questão Familiar"

O cristão não deve ver os pobres apenas como um problema social ou objeto de um departamento eclesial, mas como parte do seu povo, da sua "carne". Isso exige dedicar-lhes tempo, escuta e atenção amável.

Combate às Ideologias Mundanas

É essencial rejeitar preconceitos ideológicos, como a falsa visão de meritocracia, e denunciar a cultura que descarta os outros com indiferença. O bem-estar pode tornar-nos cegos.

A Necessidade de um Duplo Compromisso

O compromisso com os pobres deve ser duplo: estrutural (lutar pela erradicação das causas sociais e estruturais da pobreza) e pessoal/prático (gestos concretos de amor e caridade). Planos de assistência são respostas provisórias; a falta de equidade é a raiz dos males sociais.

A Esmola como Encontro e Toque

Embora não substitua a luta pela justiça, a esmola continua a ser um momento necessário de contato, encontro e identificação com a condição do outro. É um gesto que purifica o coração e permite tocar a carne sofredora dos pobres.

Prioridade do Cuidado Espiritual

A pior discriminação que os pobres sofrem é a falta de cuidado espiritual. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se primariamente numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária.

Libertação em Todas as Formas de Cativeiro

A missão da Igreja é proclamar a libertação, atuando contra as escravidões modernas (tráfico, trabalho forçado). A liberdade de Cristo manifesta-se como amor que cuida e liberta de todas as amarras.

A Igreja deve ser "em saída"

A comunidade que se limita a subsistir tranquila, sem se ocupar criativamente com a dignidade dos pobres, corre o risco de dissolução e de ser submersa pelo mundanismo espiritual.

Reconhecer o Pobre como Mestre

Devemos receber a "misteriosa sabedoria" que Deus quer comunicar através dos pobres. Eles revelam a precariedade da vida aparentemente segura e convidam a simplificar a nossa própria vida.

O amor pelos pobres é um elemento essencial da história de Deus conosco e irrompe do próprio coração da Igreja como um apelo contínuo ao coração dos cristãos. Quando a Igreja se ajoelha diante dum leproso, criança desnutrida ou moribundo anónimo, ela realiza a sua vocação mais profunda: amar o Senhor onde Ele está mais desfigurado.

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Abaixo, acréscimos do editor da postagem para linkar/somar com a mensagem do Papa Leão XIV

Oração Civil - Coração Civil




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