terça-feira, 14 de outubro de 2025

como os seminários e casas de formação podem incorrer no risco de transformar o processo formativo clerical em verdadeiras “cavernas platônicas”?.

 


O psicólogo clínico Dr. William Castilho Pereira demonstra, em sua obra A ideologia da vergonha e o clero do Brasil (Vozes, 2025, 296 p.), como os seminários e casas de formação podem incorrer no risco de transformar o processo formativo clerical em verdadeiras “cavernas platônicas”.

Inicialmente, o autor analisa as origens econômicas e socioculturais dos seminaristas, evidenciando os condicionamentos que moldam suas trajetórias pessoais. Em seguida, contrapõe a cultura familiar de origem às exigências da cultura contemporânea, revelando o profundo choque entre esses dois mundos e os efeitos dolorosos que daí decorrem na formação dos futuros religiosos.

É nesse ponto que o autor identifica a gênese da ideologia da vergonha, desvelando-a em toda a sua nudez e brutalidade. Ao tentarem escapar da vergonha associada às próprias origens, muitos formandos acabam seduzidos pelo que o autor denomina “consumo do sagrado”, a busca por reconhecimento através da admiração a padres influenciadores digitais, do apego a vestimentas e adereços clericais, ou de outros símbolos externos de prestígio e poder.

Assim, a formação clerical corre o risco de se converter na caverna de Platão em sua versão narcísica, onde as aparências substituem o autêntico encontro com o real e o sagrado.


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