quinta-feira, 9 de maio de 2013

Marco Feliciano e os amigos poderosos do pastor Marcos Pereira

Crime

Polícia Civil afirma que deputado do PSC passou a segunda-feira reunido com o líder evangélico preso por estupro no Rio. Lista de amizades inclui ainda Anthony Garotinho, Alvaro Dias, Marlene Mattos e o ex-pagodeiro Waguinho

Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Fonte: Veja AQUI
Pastor Marcos Pereira com uniforme da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap)
Pastor Marcos Pereira com uniforme da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) - Divulgação

A lista de amigos influentes do pastor Marcos Pereira, preso por estupro na noite de terça-feira, é extensa e vai bem além dos templos da Baixada Fluminense. Desde a última quinta-feira, quando foram expedidos os mandados de prisão pela Justiça do Rio, policiais da Delegacia Especial de Combate às Drogas (DCOD) monitoraram os passos do pastor. De acordo com o delegado Márcio Mendonça, ao longo de toda a última segunda-feira Marcos Pereira ficou dentro de um templo em São João de Meriti na companhia de outro pastor ilustre: o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e alçado à fama tanto por suas declarações como pelas reações destemperadas que as frases causaram.


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Assista: Publicado em 27/04/2012
Este vídeo contém uma entrevista concedida pelo Líder AfroReggae,
JOSÉ PEREIRA DE OLIVEIRA JÚNIOR, mais conhecido por JOSÉ JÚNIOR, concedida a um Programa de Entrevistas de nível nacional, no dia 04/04/2012, no qual o Líder do Movimento AfroReggae ratifica as graves denúncias feitas contra o Pastor Evangélico MARCOS PEREIRA DA SILVA, da ASSEMBLEIA DE DEUS DOS ÚLTIMOS DIAS. Dentre as acusações feitas está, inclusive, a de ameaça de morte que sofreu. AQUI
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Na noite em que foi preso, Pereira imediatamente telefonou para amigos influentes – entre eles alguns deputados da bancada do Rio. Chamou também fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), para protestar contra sua prisão. Pelo menos um deputado atendeu prontamente ao chamado: o deputado Geraldo Pudim, do PR fluminense, aliado e braço direito do deputado e ex-governador Anthony Garotinho, foi à delegacia ainda de madrugada.
A influência de Pereira sobre traficantes e o domínio que exerce em áreas controladas pelo tráfico na Baixada Fluminense sempre intrigaram quem acompanha de perto os dois assuntos - política e criminalidade. Nunca havia se provado, no entanto, que ele tenha ido além do papel de líder religioso. Em março do ano passado, no entanto, VEJA tornou públicas as acusações formais contra ele, em uma remportagem que detalha inquéritos por estupro e a relação próxima com traficantes. Há mais de um ano, portanto, quem se aproxima de Pereira tem noção exata das acusações que pesam contra ele.
Um vídeo publicado no Youtube mostra Marco Feliciano, em 19 de fevereiro deste ano, fazendo uma defesa de Marcos Pereira na tribuna da Câmara dos Deputados. Para Feliciano, Pereira e Silas Malafaia sofrem perseguição de órgãos da imprensa. Em outro vídeo, Feliciano é ovacionado em uma pregação para fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, corrente comandada por Marcos Pereira. Feliciano relata, em um dos vídeos, ter ficado impressionado com o poder de Pereira de salvar jovens do tráfico e das cracolândias. Ele relata ter estado com o pastor no carnaval, em uma fazenda onde estavam reunidos 500 jovens.
A diferença entre os dois personagens defendidos por Feliciano é bastante clara: um enfrenta reações por suas opiniões, e, como o próprio presidente da Comissão de Direitos Humanos, torna-se alvo sempre que - usando sua liberdade de expressão - manifesta-se contra o casamento gay e outros temas. Já Pereira entrou na mira da polícia por algo que nada tem a ver com liberdade ou religião: é acusado de crimes gravíssimos, como abuso sexual - que motivou a prisão - e homicídio, ainda em investigação.
Os pedidos de prisão preventiva foram expedidos este mês em função de dois depoimentos prestados por vítimas em abril, o que embasou a necessidade de manter o acusado em detenção.
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Como mostrou VEJA em março do ano passado, a lista de amigos ilustres inclui o também pastor e ex-pagodeiro Waguinho, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) e a produtora de TV Marlene Mattos. Para os políticos, Marcos Pereira foi até agora um amigo e tanto, por sua influência na Baixada Fluminense e seu poder de penetração em áreas carentes – e perigosas, pela presença de traficantes. Desde a revelação das acusações de estupro, não são aceitáveis, portanto, justificativas na linha do "eu não sabia" para quem vinha tentando faturar politicamente com a amizade.
Marcos Pereira aproximou-se do ex-governador e deputado Anthony Garotinho (PR) quando, em 2004, intermediou as negociações que encerraram uma rebelião de detentos no estado do Rio. Garotinho era, à época, secretário de Segurança da governadora Rosinha Garotinho, sua mulher. Começou, naquele episódio, a imagem de homem capaz de domar criminosos fortemente armados e com poder de interlocução nos presídios.
Pastores – Entre líderes das igrejas evangélicas, a prisão de Pereira foi recebida com cautela. “Tem que esperar a Justiça. Toda pessoa é inocente até que se prove o contrário”, afirmou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), pastor e presidente da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, que se disse “chocado e muito triste” com a notícia. Em fevereiro passado, Feliciano rasgou-se em elogios ao amigo pastor na tribuna da Câmara, onde é presidente da Comissão de Direitos Humanos. Na ocasião, disse que Pereira é “um homem reconhecido da nação” e “uma pessoa de bem”.

Já Silas Malafaia é menos condescendente com o homem que ajudou a “converter”. “Se for verdade, vou lamentar profundamente, mas ele terá de pagar, como qualquer pessoa que comete um ato monstruoso desse.” Presidente da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ele conta que ouviu de Pereira que foi graças a uma pregação sua, há cerca de 15 anos, que o pastor decidiu “entregar sua vida” a Cristo. Depois, não tiveram mais muito contato. Malafaia sabe e elogia os projetos de Pereira com presos e drogados, mas ressalta que isso não alivia as acusações que recaem sobre ele. “Nada justifica”, enfatiza.

Os crimes de estupro que chocaram o Brasil

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Maníaco do Parque

Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque, matou sete mulheres por estrangulamento depois de estuprá-las, em 1998, em São Paulo. Em nove meses cometendo crimes, o Maníaco do Parque se transformou no serial killer de maior fama do Brasil. Muitas vezes ele usou como chamariz a proposta de fotografar ensaios de mulheres para levá-las à mata do Parque do Estado de São Paulo. Quando conseguia, espancava e estuprava a vítima e, em seguida, estrangulava até a morte. Após um interrogatório de três dias, o Maníaco do Parque confessou ter matado dez mulheres.
Agora que a lista de crimes vem à tona, a Polícia Civil do Rio questiona até a postura de neutralidade vendida pelo pastor. Para o delegado Márcio Mendonça, da Delegacia Especial de Combate às Drogas (DCOD), Pereira nada mais faz do que encenar negociações. Na verdade, afirmou ele, ao site de VEJA, há por trás disso um envolvimento com traficantes com suspeita de ocultação de armas em templos e episódios de violência: ele é suspeito também de ter ordenado ataques do tráfico em 2006 no Rio, na época em que duas dezenas de pessoas morreram e a cidade ficou de joelhos diante do poder dos criminosos.
Pereira é investigado por um homicídio: o da jovem Adelaide Nogueira dos Santos, morta em 29 de dezembro de 2006. Um dos condenados em primeira instância pela morte da jovem é Geferson Rodrigues dos Santos, sobrinho de Pereira.

 Dep. Chico Alencar
O deputado Marco Feliciano, pela sua condição pública, que tanto preza, tem que explicar em plenário suas relações com o pastor Marcos Pereira, preso sob acusação de 20 estupros de fiéis, lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e encomenda de assassinatos. Em fevereiro deste ano, Feliciano, já presidindo a CDH, subiu à tribuna para defender Pereira, "homem de família, que só ajuda a sociedade" - com quem esteve neste último domingo, inclusive. Feliciano, vá lá, tem o benefício da dúvida: generoso e ingênuo, nunca acreditou nessas acusações, que vêm de longa data... Qualquer um, na função que ocupa, já teria se manifestado. Pq. a demora e o silêncio?

O que se esconde atrás do caso Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos

Fonte: Blog do Leonardo Boff AQUI

09/05/2013


Magali do Nascimento Cunha é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora da Universidade Metodista de São Paulo e autora do livro A Explosão Gospel. Um Olhar das Ciências Humanas sobre o cenário evangélico contemporâneo (Ed. Mauad) publicou um estudo esclarecedor sob o titulo “O Caso Marco Feliciano:um paradigma na relação mídia-religião-políitca”. Ela desvenda, numa análise minuciosa, o jogo político que se esconde atrás da discussão da permanência ou não do Pastor Marco Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal. Este texto ajudará a muitos a entender as causas ocultas da resistência dele e os objetivos políticos presumivelmente almejados pela bancada evangélica na Câmar dos Deputados. O texto pode ser encontrado em : midiareligiaopolitica.blogspot.com.br   Lboff


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Nestes meses de março e abril de 2013 temos lido, ouvido e assistido a um episódio sem precedentes no Congresso Nacional, que coloca em evidência a relação religião-política-mídia. Em 5 de março foi anunciada pelo Partido Socialista Cristão (PSC), a indicação do membro de sua bancada o pastor evangélico deputado federal Marco Feliciano (SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal (CDH). Foram imediatas as reações de grupos pela causa dos Direitos Humanos ao nome de Marco Feliciano, com a alegação de que o deputado era conhecido em espaços midiáticos por declarações discriminatórias em relação a pessoas negras e a homossexuais. O PSC se defendeu dizendo que seguiu um protocolo que lhe deu o direito de indicar a presidência dessa comissão, um processo que estava dentro dos trâmites da democracia tal como estabelecida no Parlamento brasileiro. Isto, certamente, é fonte de reflexões, em especial quanto ao porquê da defesa dos Direitos Humanos ser colocada pelos grandes partidos como “moeda de troca barata”, como bem expôs Renato Janine Ribeiro em artigo publicado no Observatório da Imprensa (n. 740, 2/4/2013). Soma-se a isto o fato de o deputado indicado e o seu partido não apresentarem qualquer histórico de envolvimento com a causa dos Direitos Humanos que os qualificassem para o posto. O que tem chamado a atenção neste caso, e que é objeto desta reflexão, é a “bola de neve” que ele provocou a partir das reações ao nome do deputado, formada por protestos públicos da parte de diversos segmentos da sociedade civil, mais a criação de uma frente parlamentar de oposição à eleição de Feliciano, e pelo estabelecimento de uma guerra religiosa entre evangélicos e ativistas do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), e entre evangélicos e não-cristãos. E esta bola de neve é produto de fatores que se apresentam para além da CDH, e a expõem como um elemento a mais no complexo quadro da relação entre religião e sociedade no Brasil. Pensemos um pouco sobre estes fatores; vamos elencar quatro. 
1. A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política 
Desde o Congresso Constituinte de 1986 e a formação da primeira Bancada Evangélica e seus desdobramentos, a máxima “crente não se mete em política” construída com base na separação igreja-mundo foi sepultada. A máxima passou a ser “irmão vota em irmão”. 
Depois de altos e baixos em termos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo, a bancada evangélica se consolidou como força no Congresso Nacional, o que resultou na criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2004, ampliada nas eleições de 2010 para 73 congressistas, de 17 igrejas diferentes, 13 delas pentecostais. Os parlamentares evangélicos não são identificados como conservadores, do ponto de vista sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo. Seus projetos raramente interferem na ordem social e se revertem em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. Basta conferir o perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos está afiliada e os recorrentes casos de fisiologismo. 
Mais recentemente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da FPE, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos tradicionalistas, diálogo impensável no campo eclesiástico. 
Os números do Censo 2010 são fonte para a demanda de legitimidade social entre os evangélicos, e certamente de conquista de mais espaço de influência. Estudos mostram que desde 2002, período da legislatura em que a FPE foi criada, a cada eleição, o número de evangélicos no Parlamento (Câmara e Senado) aumenta em torno de 30% do total anterior. A estimativa, mantido este índice, é de chegarem a 100 cadeiras em 2014, o que representaria em torno de 20% das 513 do Congresso, refletindo a representatividade dos evangélicos no Brasil revelada pelo Censo 2010. Este é um projeto cada vez mais nítido deste segmento social que certamente visa, como os demais grupos políticos, muito mais do que cadeiras no Congresso, mas também presidências de comissões e de ministérios relevantes (para além do único atual tímido Ministério da Pesca, sob a liderança do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivela). 
A polêmica com Marco Feliciano deixa este projeto em evidência, já que não só uma presidência inédita de comissão foi alcançada, mas também maior visibilidade aos evangélicos na política e ao próprio PSC, que tem o nome “Cristão”, mas sempre se caracterizou como um partido de aluguel para quem desejasse candidatura independentemente de confissão de fé. Pelo fato de estar nas manchetes durante semanas, o PSC já prevê que Feliciano, eleito com 212 mil votos por São Paulo em 2010, se tornará um “campeão de votos” nas próximas eleições, podendo atingir um milhão de votos, e ainda alavancará a candidatura do pastor Everaldo Pereira (PSC/SP) a presidente da República. Aliado de Marco Feliciano, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia, figura sempre presente nas mídias, declarou: “Se o Feliciano tiver menos de 400 mil votos na próxima eleição, eu estou mudando de nome”.
Mais uma vez, é possível afirmar que a cada novo episódio, a relação evangélicos- política é dinâmica complexa que inclui disputas por poder e hegemonia no campo religioso, ambição dos políticos que veem no pragmatismo dos evangélicos fonte para suas barganhas de campanha, concorrência de grupos que competem por poder sociopolítico e econômico como as empresas de mídia, como veremos adiante. 
2. O conservadorismo de Marco Feliciano e de seus “soldados” 
A imagem dos “evangélicos” foi construída fundamentalmente com base na identidade de dois grupos de cristãos não-católicos: os protestantes de diferentes confissões que chegaram ao Brasil por meio de missões dos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XIX, e os pentecostais, que aportaram em terras brasileiras na primeira década do século XX, vindos daquele mesmo país. Esta imagem sempre mostrou ao Brasil um segmento cristão predominantemente conservador teologicamente, marcado por um fundamentalismo bíblico, um dualismo que separava a igreja do “mundo”/a sociedade e um anticatolicismo. 
Desta forma, não é surpresa que um pastor evangélico, no caso Marco Feliciano, reproduza em seus sermões modernos e de forte apelo emocional, uma abordagem teológica tão antiga como a que embasa a ideologia racista, por meio da leitura fundamentalista de textos do Gênesis que contêm a narrativa da descendência de Noé. Também não é surpresa que Marco Feliciano conduza sua reflexão teológica por meio de bases que justifiquem a existência de um Deus Guerreiro e Belicoso, que tem ao seu redor anjos vingadores, que destrói do Titanic a John Lenon ou aos Mamonas Assassinas, continuando o que já fazia com os povos africanos herdeiros do filho de Noé, e que, nesta linha, certamente fará aos que assumem e apregoam o homossexualismo. Menos surpreendente é ainda que o líder religioso reaja a quem lhe faz oposição ou tenha posição diferente da sua classificando-o como agente do diabo e assim foram sinalizadas a própria formação anterior da Comissão de Direitos Humanos e celebridades como o cantor Caetano Veloso. 
Quem se surpreende com o que Feliciano diz e com o apoio que ele recebe de diversos segmentos evangélicos desconhece o DNA deste grupo. Não há nada de novo aqui. O que há é maior visibilidade pela projeção que a mídia religiosa e não-religiosa têm dado a este discurso. Em 2010, por exemplo, o pastor estadunidense Pat Robertson, dono de um canal de televisão, declarou que o trágico terremoto no Haiti naquele ano era consequência de um pacto dos haitianos com o diabo no passado para se tornarem independentes da França. A declaração de Robertson, amplamente veiculada, provocou manifestações contrárias em todo o mundo. As palavras de Marco Feliciano no Brasil de 2013 são apenas o eco da mesma teologia. 
Há algo novo, sim, neste processo, relacionado à articulação dos apoios a Feliciano que coloca em evidência o conservadorismo, antes atribuído mais diretamente aos evangélicos, que reflete uma tendência forte na sociedade brasileira de um modo geral. 
É nesse contexto que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), suplente da CDH, afirmou que se sente como “irmão” do presidente da comissão. “Como capitão do Exército, sou um soldado do Feliciano”, declarou Bolsonaro, em matérias divulgadas pelas mídias em 27 de março, e acrescentou: “A agenda antes era outra, de uma minoria que não tinha nada a ver. Hoje, representamos as verdadeiras minorias. Acredito no Feliciano, de coração. Até parece que ele é meu irmão de muito tempo. Não sinto mais aquele cheiro esquisito que tinha aqui dentro e aquele peso nas costas. Aqui, era uma comissão que era voltada contra os interesses humanos, contra os interesses das crianças e contra os interesses da família. Agora, essa comissão está no caminho certo. Parabéns, Feliciano”. 
O deputado Bolsonaro tem um histórico de posicionamentos racistas e de conflito com ativistas sociais e militantes de movimentos gays. Em novembro de 2011, ele chegou a pedir, da tribuna da Câmara, à presidente Dilma Rousseff para que ela assumisse se gostava de homossexuais. Em março do mesmo ano, respondeu que “não discutiria promiscuidade” ao ser questionado em um programa de TV pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra.
No campo das igrejas, o já citado pastor Silas Malafaia, conhecido por polêmicas midiáticas desde a campanha presidencial de 2010, se alistou nas fileiras do deputado Feliciano e se tornou seu árduo defensor e colaborador desde o início da controvérsia da presidência da CDH. Até a Igreja Católica, explícita em suas posições quanto à ampliação de direitos civis de homossexuais, mas clássico “inimigo” dos evangélicos, é colocada por Feliciano na lista de aliados. Em entrevista à TV Folha-UOL (2/4/2013), o deputado explicitou: “Tenho alguns contatos com algumas pessoas da CNBB, mas com os grandes líderes do movimento católico não tive contato até porque quase não tenho tempo. Acredito que, nesse momento, todos eles me conhecem até porque o que eu sofro hoje de perseguição dado ao movimento LGBT, a Igreja Católica sofre isso no mundo todo. Inclusive, o novo papa, o papa Francisco, na Argentina quase foi linchado por esse grupo. Então, nós temos algumas coisas que, acredito, nos fazem pensar igual.(…) Eu fiquei feliz por termos ali um papa que ainda é bem ortodoxo, é bem conservador e que prima por aquilo eu acredito também, que a família é a base da sociedade. Aliás, a família é antes da sociedade”.
Estas alianças estão produzindo efeitos até na qualidade do discurso de Marco Feliciano. Os benefícios proporcionados pela aproximação com lideranças mais experientes ficam evidentes nas mudanças no discurso do deputado como: “Só saio da presidência da CDH morto” para “Só saio da presidência da CDH se os deputados condenados pelo julgamento do mensalão, José Genoíno e João Paulo Cunha, deixarem a Comissão de Constituição e Justiça”. Com isso, Feliciano atraiu para si a simpatia da mídia que se fartou na cobertura do julgamento do Superior Tribunal de Justiça e de segmentos conservadores, que, embora não concordem com seu nome na presidência da CDH, querem “a cabeça” dos condenados. Feliciano usa uma controvérsia ética para justificar a controvérsia de sua própria eleição – a CDH como moeda de troca partidária.
Alianças do religioso com o não-religioso formando exércitos que marcham em defesa da moral e dos bons costumes – em defesa da família – não é algo novo no Brasil, mas é bastante novo no espaço político que envolve os evangélicos e suas conquistas na esfera pública. Em matéria na Folha de São Paulo, de 7/4/2013, o diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Mauro Paulino, declarou que o discurso de Feliciano atinge preocupações de parte da população: “Entre os brasileiros, 14% se posicionam na extrema direita. As aparições na imprensa dão esse efeito de conferir notoriedade a ele.” Isto significa que apesar dos tantos slogans divulgados em manifestações presenciais e nas redes sociais – “Feliciano não me representa” – Feliciano, Bolsonaro e tantos outros são eleitos e ganham espaço e legitimidade. Portanto, há quem se sinta representado, sim, não somente do ponto de vista da popularidade mas do peso das articulações ideológicas em curso na sociedade brasileira. 
3. Inimigos, um componente do imaginário evangélico 
Exércitos precisam de inimigos. A teologia de um Deus Guerreiro e Belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem combatidos. Historicamente a Igreja Católica Romana sempre foi identificadas como tal e sempre foi combatida no campo simbólico mas também no físico-geográfico. Da mesma forma as religiões afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente, no imaginário dos grupos pentecostais.  Periodicamente, estes “inimigos” restritos ao campo religioso perdem força quando ou se renovam, como é o caso da Igreja Católica, a partir dos anos de 1960, ou quando aparecem outros que trazem ameaças mais amplas. Assim foram interpretados os comunistas no período da guerra fria no mundo e da ditadura militar. Há também um imperativo imaginário de se atualizar os combates, quando a insistência em determinados grupos leva a um desgaste da guerra. Durante o processo de redemocratização brasileira nos anos 80, o espaço que vinha sendo conquistado pelo Partido dos Trabalhadores, interpretado como nítido representante do perigo comunista, foi reconhecido como ameaça e campanhas evangélicas contra o PT reverberaram de forma religiosa o que se expunha nas trincheiras da política. 
Com o enfraquecimento do ideal comunista nos anos 90 e com o PT chegando ao poder nacional com o apoio dos próprios evangélicos, a força das construções ideológicas estadunidenses abriu lugar à atenção à ameaça islâmica e houve algum espaço entre evangélicos no Brasil para discursos de combate ao islam. No entanto, como esta ameaça está bem distante da realidade brasileira – não se configura um inimigo tão perigoso nestas terras -, emerge, mais uma vez, o imperativo de se atualizar os combates. Não mais catolicismo, nem comunismo, não tanto islamismo… quem se configuraria como novo inimigo? Desta vez, um inimigo contra a religião e seus princípios, contra a Bíblia, contra Deus, contra o Brasil e as famílias: o homossexualismo. 
Declarações de Marco Feliciano na mídia noticiosa expressam bem este espírito belicoso: “É um assunto tão podre! Toda vez que se fala de sexo entre pessoas do mesmo sexo ninguém quer colocar a mão, porque é podre. Por causa disso, um grupo de 2% da população – os gays – consegue se levantar e oprimir uma nação com 90% de cristãos, entre católicos e evangélicos, e até pessoas que não têm religião, mas que primam pelo bem-estar da família, pelo curso natural das coisas” (Rede Brasil Atual, 1/3/2013). “Existe uma ditadura chamada (…) “gayzista”. Eles querem impor o seu estilo de vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pensamento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liberdade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro”. (TV Folha-UOL, 2/4/2013). 
Consequência da eleição de inimigos e do combate a eles é o discurso de que há uma perseguição a quem se faz contrário, promovida pelo maior inimigo de Deus, Satanás. Esta ideia está claramente presente em afirmações de Feliciano como: “Eu morro, mas não abandono minha fé”; “A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”; “Se é para gritar, tem um povo que sabe o que é grito. [...] Nós (evangélicos) sabemos qual é o poder da nossa fé.” 
A insistência da mídia noticiosa em enfatizar a guerra Feliciano-homossexuais, com o lado “inimigo” representado por um deputado, na mesma condição do primeiro, Jean Wyllys (PSOL/RJ), ativista do movimento LGBT, só faz reforçar a reconstrução do imaginário evangélico da guerra aos inimigos e da perseguição consequente. Isso tem gerado manifestações diversas de apoio a Feliciano entre evangélicos dos mais diferentes segmentos e ações como a da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), realizada em Brasília neste abril, que aprovou uma moção de apoio a Feliciano, aprovada em votação simbólica por unanimidade. Feliciano agradeceu o apoio dizendo que “nunca houve uma comissão com tanta oração. Os pastores estão orando pela minha vida e pela comissão. Venceremos esta batalha”. 
Há ainda uma explosão de postagens em nas mídias digitais, em especial nas redes sociais. Por exemplo, uma montagem com foto de Marco Feliciano com uma faixa presidencial tem sido veiculada por usuários do Facebook, e, na primeira semana de abril já havia superado a marca de 65 mil compartilhamentos. A campanha pede que favoráveis à candidatura do pastor à presidência da República em 2014 compartilhem a imagem para demonstrar força nas redes sociais: “Campanha urgente: Marco Feliciano presidente do Brasil”, diz o texto.
Uma segunda imagem com comparações entre Marco Feliciano e Jean Wyllys também veiculada no Facebook, já havia superado 100 mil compartilhamentos em meados de abril, registrando mais de 7,5 mil comentários. Na imagem, há dados sobre o número de votos de cada um dos deputados, além de comparações entre as bandeiras políticas defendidas por cada um deles. A imagem quando compartilhada revela declarações pessoais de quem “curtiu” com texto que manifesta apoio ao pastor Feliciano: “Eu sou cristão, a favor da democracia, da vida e da família brasileira. Marco Feliciano me representa”. 
A declaração de Silas Malafaia à Folha de São Paulo (7/4/2013) sobre a repercussão do caso entre os evangélicos e simpatizantes reflete bem este espírito: “Quero agradecer ao movimento gay. Quanto mais tempo perderem com o Feliciano, maior será a bancada evangélica em 2014″. 
Toda e qualquer análise e ação em torno da presença dos evangélicos nas mídias e na política não pode ignorar esta dimensão do imaginário da necessidade da criação de inimigos e da consequente perseguição. Isto é característico de religiões numericamente não-majoritárias, sendo portanto, fruto, entre outros aspectos, do caráter minoritário da presença evangélica em terras brasileiras. 
4. As transformações e as revelações na relação mídia-religião 
O histórico da presença evangélicas nas mídias não-religiosas no Brasil revela a hegemonia católica-romana que vem pouco a pouco sendo diminuída por conta do espaço que os evangélicos vêm conquistando na esfera pública. Enquanto católicos sempre apareceram para expressar sua fé nas datas clássicas do calendário religioso e para se manifestar sobre temas amplos, à exceção dos casos controversos inevitáveis como a pedofilia praticada por clérigos, cuidadosamente tratados, evangélicos tinham espaço garantido quando se tratava de escândalos de corrupção ou situações bizarras. 
Na última década, a expressiva representatividade dos evangélicos no país com o consequente declínio do catolicismo, e a ampliação de sua presença nas mídias e na política, torna este segmento não só visível mas um alvo mercadológico. As mídias passam a prestar a atenção no segmento e na lucratividade possível, em torno da cultura do consumo vigente. 
Um exemplo ilustrativo se dá quando um personagem, por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, como o pastor Silas Malafaia, que assume o papel da pessoa controvertida em todo este contexto e constrói sua imagem midiática como “aquele que diz as verdades”, é convidado para uma conversa com o vice-diretor das Organizações Globo, João Roberto Marinho (PINHEIRO, Daniela. Vitória em Cristo. Revista Piauí, n. 60, set 2011). Aí é possível identificar o patamar em que se encontra o segmento evangélico nas mídias. Segundo depoimento do pastor depois da conversa, Marinho teria alegado precisar conhecer mais o mundo dos evangélicos já que a emissora teria percebido que Edir Macedo não seria “a voz” dos protestantes no Brasil. O pastor Malafaia ganhou, então, trânsito em um canal destacado de comunicação e teve várias aparições no programa de maior audiência da Rede Globo, o Jornal Nacional. 
Além do contato com Malafaia, as Organizações Globo, por meio da gravadora Som Livre, já contrataram grandes nomes do mercado da música evangélica que têm, a partir daí, espaço garantido na programação da Rede Globo. A Globo tirou da Rede Record, em 2011, o evento de premiação dos melhores da música evangélica, tendo criado o Troféu Promessas. A Rede Globo é também, a partir de 2011, patrocinadora de eventos evangélicos como a Marcha para Jesus e de festivais gospel. Noticiário inédito do mundo evangélico tem ganhado espaço na Rede, como por exemplo, a matéria sobre a reeleição de José Wellington Bezerra à presidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus veiculada em matéria de 1’44 no Jornal da Globo, de 1’52 na Globo News, em 11 de abril, além de nota na CBN e no portal G1. 
Neste contexto, o caso Marco Feliciano tem sido amplamente tratado pela grande mídia. Feliciano já foi entrevistado por todos os grandes veículos de imprensa e já participou dos mais variados programas de entretenimento – de talk-shows a games. Foi tratado com simpatia na entrevista de Veja e defendido pelo jornalista Alexandre Garcia em comentário na Rádio Metrópole (5/4/2013) com o argumento de “liberdade de opinião”. Fica nítido que estes veículos não desprezam a dimensão do escândalo e da bizarrice relacionada ao caso, somada à atraente questão da homossexualidade que mexe com as emoções e paixões humanas e expõe a vida íntima de celebridades, como o caso da cantora Daniela Mercury que veio à tona na trilha desta história. 
No entanto, o amplo espaço dado para que Feliciano e seus aliados exponham seus argumentos e sejam exibidos como simpáticos bons sujeitos revela que estas personagens ganham um tratamento bastante afável em comparação à execração imposta a outras em situações críticas da política brasileira, como a que envolveu os parlamentares do PT. Não temos aqui apenas os evangélicos como um segmento de mercado a ser bem tratado, mas, retomando a constatação de que Feliciano, Malafaia e Bolsonaro representam uma parcela conservadora da sociedade brasileira, é possível que haja uma identidade entre estes líderes e quem emite e produz conteúdos das mídias. Afinal, é a mesma mídia que constrói notícias sobre crimes protagonizados por crianças e adolescentes de forma a promover uma “limpeza” das cidades por meio de campanha por redução da maioridade penal no Brasil, ou que veicula programas que trazem enquetes durante um noticiário sobre crimes urbanos que indagam: “Ligue XXX ou YYY para indicar qual pena merece o criminoso? XXX para prisão ou YYY para morte”. 
São transformações na relação mídia e religião, com efeitos políticos, que merecem ser monitoradas e esclarecidas, tendo em vista a complexidade das relações sociais, em especial no que diz respeito à religião, e que devem ser potencializadas no ano eleitoral que se aproxima. 
Um paradigma 
O caso Marco Feliciano pode ser considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na história em que os evangélicos se colocam como um bloco organicamente articulado, com projeto temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos.
Torna-se nítida uma articulação política e ideológica conservadora em diferentes espaços sociais – do Congresso Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira, de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz. 
A postagem de um pastor de uma igreja evangélica no Facebook reflete bem este espírito: “Devemos nos unir cada vez mais, já somos milhões de evangélicos no Brasil, fora os simpatizantes. Temos força, é claro que nossa força vem de Deus. Precisamos nos mobilizar contra as forças das trevas, que querem desvirtuar os bons costumes e a moral e, principalmente que querem afetar a honra da família. Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar e orar, não tem capeta que resista”. E as palavras de Marco Feliciano ecoam como profecia: “Graças a Deus permanecemos firmes até aqui. Chegará o tempo que nós, evangélicos, vamos ter voz em outros lugares. O Brasil todo encara o movimento evangélico com outros olhos”.
Nesse sentido é possível afirmar que os grupos políticos e midiáticos conservadores no Brasil descobriram os evangélicos e o seu poder de voz, de voto, de consumo e de reprodução ideológica. A ascensão de Celso Russomano nas eleições municipais de São Paulo, em 2012, já havia sido exemplar: um católico num partido evangélico, apoiado por grupos evangélicos os mais distintos. A eleição da presidência da CDH é paradigmática no campo nacional e ainda deve render muitos dividendos a Feliciano, ao PSC, à Bancada Evangélica e a seus aliados. O projeto político que se desenha, de fato, pouco ou nada tem a ver com a defesa da família… os segmentos da sociedade civil, incluindo setores evangélicos não identificados com o projeto aqui descrito, que defendem um Estado laico e socialmente justo, têm grandes tarefas pela frente.

Programa nº 2058

Sexo em nome da fé
O estelionato da fé

Por Luciano Martins Costa em 09/05/2013 no programa nº 2058 | 0 comentários


Sexo em nome da fé
O deputado e pastor Marco Feliciano, que se tornou uma celebridade ao levar para o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados suas ideias arcaicas sobre direitos de minorias, volta ao noticiário por conta de suas relações com outro religioso, Marcos Pereira da Silva, que acaba de ir para a cadeia.
O pastor Marcos Pereira da Silva é presidente da igreja denominada Assembleia de Deus dos Últimos Dias, com sede no Rio de Janeiro.
Pesam contra ele denúncias de associação com traficantes de drogas, homicídios e violência sexual contra seguidoras de sua organização.
Os jornais divergem quanto ao número de mulheres que teriam sido estupradas pelo sacerdote. Segundo o Estado de S. Paulo, ele teria abusado de seis fieis, usando a alegação de que elas estariam possuídas pelo diabo e que o ato sexual as libertaria.
Na versão da Folha de S. Paulo, foram quatro as vítimas e, segundo o Globo, os depoimentos colhidos em um ano de investigações identificam pelo menos 26 casos.
O acusado se tornou conhecido por negociar o fim de rebeliões em presídios e libertar reféns de traficantes, impedindo suas execuções, mas, segundo a polícia, ele na verdade era uma espécie de líder espiritual de traficantes e outros bandidos, aos quais era associado, e esses episódios eram simulações combinadas com os criminosos. 
O conjunto das reportagens compõe um roteiro escabroso de exploração da fé, abusos, manipulação de consciências, homicídios, lavagem de dinheiro e roubo puro e simples.
Embora seja um caso extremo de delinquência associada à religiosidade, a carreira do pastor Marcos Pereira da Silva deveria inspirar um esforço de investigação jornalística em torno do fenômeno das seitas que proliferam por todo o país e avançam sobre o campo político.
As relações entre Pereira da Silva e o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados merece uma atenção maior do que a mera reprodução de declarações que tem marcado a ação da imprensa.
Uma das pistas a serem seguidas é a da lavagem de dinheiro: o pastor é acusado de receber comissão de traficantes para dissimular a receita do crime por meio da venda de CDs e DVDs de evangelização.
Além disso, sua ascendência sobre chefes do crime organizado o coloca como um dos líderes da onda de ataques que aterrorizaram o Rio em 2006 e 2010, como reação contra o programa de ocupação de favelas pela chamadas unidades de polícia pacificadora.
Considerar que o deputado Feliciano ignorava tal folha corrida seria chamá-lo de alienado, coisa que ele, definitivamente, não é.
O estelionato da fé
O inquérito contém preciosidades, como a descrição de orgias que teriam sido promovidas pelo dublê de líder religioso e chefe de quadrilha em um apartamento na Avenida Atlântica, registrado em nome da igreja e avaliado em R$ 8 milhões: segundo testemunhas, o pastor teria o hábito de realizar encontros que incluíam relações homossexuais de homens e mulheres.
Também há referências a troca de favores com políticos e autoridades policiais, o que indica a extensão da influência do personagem, e que pode ser medida pelo empenho do deputado Feliciano em defender o acusado.
A imprensa precisa esclarecer essa relação suspeita.
Preso, o pastor Marcos Pereira da Silva tem sua vida vasculhada pelos jornais, que fazem descrições espantosas sobre sua longa carreira de abusos.
No entanto, o noticiário ainda se limita ao relato puro e simples dos crimes de que ele é acusado, quando o episódio deveria levar a imprensa a analisar com mais profundidade o fenômeno de entidades supostamente religiosas que são, na verdade, organizações criminosas.
Não imposta se a delinquência se limita ao estelionato mais primário em nome de angústias espirituais ou se chega ao estágio sofisticado de criminalidade que é atribuído ao líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias.
No livro intitulado Mídia e poder simbólico, o jornalista e cientista social Luís Mauro Sá Martino já tratou com detalhes a questão do mercantilismo no campo religioso.
O caso do pastor Pereira da Silva abre uma oportunidade para a imprensa investigar a verdadeira natureza de organizações que colocam no poder político figuras como o deputado Marco Feliciano, capaz de transformar um órgão do porte da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em um circo místico de crendices e preconceitos.
Pode-se ir um pouco além, analisando-se, por exemplo, como a sociedade contemporânea ainda se mantém vulnerável à penetração de arcaísmos e mistificações, que contaminam as instituições da República, e de que modo tais manifestações de irracionalidade atrapalham o desenvolvimento do país.
Mas isso seria esperar demais. Desmascarar outros falsos religiosos associados ao crime já seria um bom começo.


Ouça aqui 


Programa nº 2059

>>A rede da fé e do dinheiro
>>Propaganda enganosa

Por Luciano Martins Costa em 10/05/2013 no programa nº 2059 | 0 comentários

A rede da fé e do dinheiro

Uma reportagem publicada pelo Globo nesta sexta-feira (10/05) oferece pistas para jornalistas que pretendam investigar a infiltração do crime organizado na política.

O jornal carioca traz alguns nomes de parlamentares que estão criando uma corrente de apoio ao pastor Marcos Pereira da Silva, preso sob a acusação de estuprar adeptas da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, a denominação evangélica que ele dirige.

reportagem se refere a homenagens que ele recebeu de deputados estaduais e do deputado federal Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

A corrente de solidariedade pode esclarecer os laços entre organizações religiosas, partidos políticos e chefes de milícias que tentam dominar as comunidades das quais o governo do Rio afastou quadrilhas de traficantes nos últimos meses.

Conforme tem sido noticiado pelo Globo com frequência, esses grupos disputam o controle do transporte público, da distribuição de gás e outros serviços no interior das favelas.

Um dos principais defensores de Pereira da Silva, o deputado estadual Geraldo Pudim, é integrante da chamada "tropa de choque" do ex-governador Anthony Garotinho, com quem partilha a condição de réu em um processo por crime eleitoral.

A reportagem do Globo pode ser tomada como uma pauta inicial para investigações mais profundas que podem revelar a complexa rede de interesses que transformou algumas regiões do Brasil em paraísos do crime organizado.

Parte dessa história, que inspirou os filmes da série Tropa de Elite, já foi contada em capítulos pelos jornais, mas as acusações levantadas contra o pastor Marcos Pereira da Silva permitem juntar os episódios e esclarecer a relação ambígua de seitas religiosas com a política e o crime.

O Rio de Janeiro tem, de longe, a maior bancada dita evangélica entre todas as Assembleias Legislativas.

O bloco chamado de Frente Parlamentar Evangélica conta com quase 60 parlamentares no Rio, dos quais mais da metade enfrenta processos na Justiça por crimes eleitorais, peculato, roubo, improbidade administrativa, formação de quadrilha e, agora, com a contribuição de Marcos Pereira da Silva, também por crimes de estupro e lavagem de dinheiro.

Propaganda enganosa

O crescimento das chamadas seitas neopentecostais, nas últimas décadas, não produziu apenas grandes fortunas e muito poder na mídia.

Como consequência natural, os líderes dessas organizações foram buscar também o poder político, caminho direto para os cofres públicos.

Parlamentares ligados a essas igrejas repassam recursos de orçamentos públicos para organizações não-governamentais controladas por eles mesmos, e assim o círculo iniciado numa pequena sala de orações se expande até a criação de um sistema de mídia com emissoras de rádio e televisão, jornais e portais de internet.

Nem todas exibem o poder alcançado pela Igreja Universal do Reino de Deus, mas pelo menos cinco denominações brasileiras já se tornaram poderosos empreendimentos multinacionais.

Seu discurso típico consiste em convencer o fiel a doar seus bens à igreja, em troca de uma vida melhor. Não no suposto paraíso eterno, mas aqui e agora.

Pessoas com dificuldades financeiras e fragilizadas emocionalmente chegam a se endividar para fazer esse pacto.

De acordo com os jornais, o apartamento em Copacabana onde o pastor Marcos Pereira da Silva promovia orgias, foi doado por um empresário cuja família tentava interditar, por apresentar problemas psicológicos.

No mês passado, o governo de Angola baniu daquele país as igrejas de origem brasileira, pela prática de propaganda enganosa.

Um representante do governo angolano declarou, na ocasião, que os pastores brasileiros "se aproveitam das fragilidades do povo".

Num regime democrático, o direito ao culto limita a ação das autoridades contra os exploradores da fé.

Por isso, o episódio que envolve o líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias pode fundamentar um trabalho mais consistente da imprensa no esclarecimento do papel dessas organizações no Brasil, com uma investigação de todas as suas conexões nas instituições da República.

Além das evidências de enriquecimento ilícito eventualmente levantadas quando a imprensa tradicional entra em choque com as mídias evangélicas, é preciso ir além, esclarecendo como a mistura de religião com negócios invade a política, interfere em decisões de governos e contamina com preconceitos o debate público sobre questões essenciais para o aprimoramento institucional do País.


Ouça AQUI


 Adicionado em 20 de Maio de 2013 (abaixo)

Direito de resposta - Pr. Marcos Pereira

Das 6 acusações apresentadas, o Ministério Público, através do promotor Rogério Lima, da 8ª Promotoria de Investigação Penal acatou apenas duas, Os três casos que restaram foram arquivados.
De acordo com o inquérito instaurado pela DECOD, através do delegado Márcio Mendonça, o Pastor Marcos Pereira da Silva, teve sua prisão decretada devido a  acusações de 6 estupros, dentre eles, da sua ex-esposa, Sra. Ana Madureira, (http://www.reporterdedeus.com/pastor-marcos-pereira-foi-preso-sob-acusacao-de-estupro-vitimas-seriam-fieis-da-assembleia-de-deus-dos-ultimos-dias/ , conforme declarações da própria Sra. Ana Madureira(esposa) através do vídeo postado no youtube https://www.youtube.com/watch?v=oXuHrh-_PWE, a esposa do pastor Marcos Pereira nega ter acusado seu esposo de estupro.

Das 6 acusações apresentadas, o Ministério Público, através do promotor Rogério Lima, da 8ª Promotoria de Investigação Penal acatou apenas duas, Os três casos que restaram foram arquivados.
Uma das mulheres que acusou o Pr. Marcos Pereira de estupro, se arrepende, assume seu erro e declara em vídeo que foi procurada pelo Sr. Rogério de Menezes e Sr. Alex, no seu trabalho em Macaé e orientada a prestar depoimento na DCOD.
Através de gravação escondida, fica comprovada a coação a testemunhas feita por Rogerio Menezes e Gaúcho, ambos membros do Grupo Afroreggae: http://www.youtube.com/watch?v=-LB2pPbwnlg
Nas redes sociais oficiais da ADUD, estão sendo divulgadas as verdades sobre o caso, já que a mídia  e a justiça até o momento, não apresentou nenhuma prova e sequer deu chance para defesa.
Páginas Oficiais : 
www.adud.com.br

Fonte: Assessoria ADUD
Adudimprensa@gmail.com


Pastor Marcos é flagrado pela polícia em escutas ‘picantes’ com fiéis de sua igreja.
Fonte: Extra AQUI

Rafael Soares

Em escutas autorizadas pela Justiça que já estão sendo investigadas pela polícia, o pastor Marcos Pereira é flagrado em conversas picantes com fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias.
Em uma das quatro conversas a que o EXTRA teve acesso com exclusividade, o pastor, antes de se despedir de uma fiel que falava com ele do seu celular de seu carro, avisa: "Tô com saudade do seu rabo". Marcos foi preso no último dia 8 acusado de dois estupros de fiéis. A polícia ainda investiga se o pastor estuprou outras 20 mulheres que moravam na igreja.
Em quatro conversas obtidas pelo EXTRA, pastor mostra intimidade com fiéis
Em outro diálogo, uma mulher insinua que "o pastor ia gostar" de uma lingerie que ela usou: "Ontem coloquei um negócio muito legal que o senhor ia amar, eu acho", ela diz. Marcos ri e avisa: "Fica ligada, fica ligada". A mulher tranquiliza o pastor: "Mas era por baixo". Em depoimentos à polícia, vítimas do pastor afirmaram que ele mandava que fiéis fossem a seu gabinete na igreja sem roupas íntimas.
O apartamento na Av. Atlântica, em Copacabana onde, segundo vítimas, o pastor realizava orgias com fiéis também é mencionado em uma das escutas. Na conversa com uma fiel, ele combina a ida dela para o local e diz que ela pode levar outra mulher, "aquela sem vergonha, a Fabiana".
Uma fiel também se oferece para ajudar o pastor a tomar banho: "Vem embora logo", responde ele.
Em conversa, pastor marca encontro com fiéis no apartamento de R$ 8 milhões na Av. Atlântica Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

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