Um grito de Carnaval
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Os donos do mundo têm um ano inteiro para chamar de seu. Via de regra,
os poderosos fazem e acontecem, sem dar nenhuma satisfação a ninguém. O
pai do sambista estava coberto de razão, o brasileiro médio é mesmo um
homem cordial. À parte as conversas em mesa de bar, um post aqui, outro
ali, apesar de todos os escândalos, não se ouve bater de panelas, nem um
pio.
No Carnaval, ao contrário, a voz do povo finalmente ganha
volume e berra mais alto, como se fosse de fato a própria voz de Deus. O
corpo fala. Além de se cobrir com todas as cores para tomar as ruas em
alvoroço, o folião muitas vezes aproveita para ir à forra e faz da farra
um grandiloquente ato político.
Nos dias de festa, a ordem
treme. A caretice, o moralismo e até o poder recolhem-se ao escuro de
suas tocas, com o rabo entre as pernas. O escracho é a única norma.
Qualquer um com culpa no cartório tem motivo de sobra para temer o
confete, a serpentina e o apito.
O sumido Queiróz, por exemplo,
pode até driblar o Ministério Público, escorado na força da grana, fruto
das relações pouco republicanas mantidas com a família Bolsonaro, como
fez até agora, impunemente. Mas não será poupado pela fuzarca. Henrique
Teles (Maria Scombona), Julio Andrade (The Baggios) e Alex Sant'Anna,
três compositores da língua grande, botaram o amigo do presidente na
roda, sem um pingo de dó.
‘Cadê Queiróz?’, um frevo embalado a
toque de caixa e guitarra fuzz, é desde já o grande hit do bloco
cibernético Unidos do Laranjal, disposto a congestionar os caminhos
pavimentados do ambiente virtual com o repique de uma pergunta
inconveniente, que não pode se calar.
Publicado no Jornal do Dia, 19 de fevereiro.- "Mas a esquerda segue meio perdida, reativa e sem imaginação. Onde é preciso ouvir, muita pregação. Onde falta interlocução, mais pregação. Onde precisa de base, decisões da liderança. Precisa achar, cultivar e fomentar experiências que apontem para fora deste atoleiro."
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"Fui a três atos dos funcionários municipais que estão em greve por causa da imposição de um plano de previdência péssimo: o Sampaprev. A mobilização parece que está boa, maior que a do ano passado, que logrou barrar o decreto temporariamente. A Prefeitura não está negociando e o movimento tenta se manter na rua. Do ponto de vista da rua, as manifestações obedecem a um padrão bem clássico: concentração com carro de som, votação por aclamação, passeata. Tudo de bom ao movimento, mas fiquei de novo com aquela sensação de que é preciso renovar as formas de atuar em público. Por ora, parece que a sociedade não se sensibiliza com atos de rua."
Leia mais: AQUI
- O texto de Frei Betto serve não só de conselhos, mas também de auto-avaliação.
Temos que ter clareza de quem somos!!!!
Dez Conselhos para militantes de esquerda
1. Mantenha viva a indignação.
Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda a encara como uma aberração a ser erradicada.
Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.
2. A cabeça pensa onde os pés pisam.
Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.
3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.
O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.
O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.
4. Seja crítico sem perder a autocrítica.
Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros (as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.
Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos (as) companheiros (as).
5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".
"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.
O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.
6. Seja rigoroso na ética da militância.
A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo: a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.
Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.
O verdadeiro militante, como Jesus, Gandhi, Che Guevara, é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.
7. Alimente-se na tradição da esquerda.
É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto) biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.
8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.
Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.
Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.
9. Defenda sempre o oprimido, ainda que, aparentemente, ele não tenha razão.
São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.
Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.
A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.
10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.
Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes, deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.
Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar, assim como Jesus amava, libertadoramente.
O que é a nova esquerda -
André Jacobina e Leonardo Attuch debatem sobre a nova esquerda e figuras como Bernie Sanders, Alexandra Ocasio Cortez e Fernando Haddad.
Afinal, o que querem os partidos-movimento?
Eles prometem uma nova esquerda, indispensável. Mas, como mostra Alexandria Ocasio, talvez seja a hora de construir programas claros, e uma estrutura orgânica que vá além da eterna “consulta às bases”
Manifestantes entregando folhetos de conscientização da reforma da previdência, com uma fruta simbólica.
Clique AQUI para assistir ao vídeo.
Terça valente em BH - Evento periódico que acontece desde setembro/2016 para debater Política.
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