domingo, 8 de março de 2020

"A gente não precisa somente de comida, a gente precisa de comida, diversão e arte.."Parafraseando Titãs.

As crianças precisam de arte e histórias, poemas e música, tanto quanto precisam de amor, comida e ar fresco.


As crianças precisam de arte, histórias, poemas e música, tanto quanto precisam de amor, comida, ar fresco e de brincar. Se não der comida a uma criança, o dano fica rapidamente visível. Se não permitir que uma criança tenha ar fresco e que brinque, o dano também é visível, mas não de forma tão rápida. Se não der amor a uma criança, o dano pode não ser visível por alguns anos, mas será permanente.
Mas se  não der a uma criança arte e histórias, poemas e música, o dano não será tão fácil de ver. No entanto, está lá. Os seus corpos são suficientemente saudáveis; eles conseguirão correr, pular e nadar e comer com fome e fazer muito barulho, como as crianças sempre fizeram, mas faltará algo.
É verdade que algumas pessoas crescem sem nenhum contato com arte de qualquer tipo e são perfeitamente felizes,  e vivem vidas boas e valiosas; pessoas em cujas casas não há livros, e elas não se importam muito com pinturas, e elas não conseguem ver o interesse da música. Bem, não há mal. Eu conheço pessoas assim. São bons vizinhos e cidadãos úteis.
Mas outras pessoas, em algum momento da sua infância ou juventude, ou até mesmo da velhice, deparam-se com uma coisa que nunca sonharam antes. É tão estranho para eles como o lado escuro da lua. Mas um dia eles ouvem uma voz no rádio lendo um poema, ou passam por uma casa com uma janela aberta onde alguém toca piano ou vêem um cartaz de uma pintura na parede de alguém e isso dá-lhes um golpe tão forte e ao mesmo tempo tão gentil que eles ficam tontos. Nada os preparou para isso. De repente percebem que estão cheios de fome, embora eles não tivessem ideia disso até há um minuto atrás; uma fome de algo tão doce e tão delicioso que quase parte o seu coração. Eles quase que choram, eles sentem-se tristes, felizes e solitários e acolhido por essa experiência completamente nova e estranha, e eles estão desesperados por ouvir mais perto do rádio, eles ficam fora da janela, eles não conseguem tirar os olhos do cartaz. Eles queriam isso, eles precisavam disso como uma pessoa a morrer de fome precisa de comida, e eles nunca o souberam. Eles não tinham ideia.
É isso que acontece a uma criança que precisa de música, pinturas ou poesia, ao se deparar com essas coisas por acaso. Não fosse esse acaso, talvez o encontro jamais ocorresse, e ela passaria a vida inteira num estado de fome cultural  da qual nem teria ideia.
Os efeitos da fome cultural não são dramáticos e rápidos. Não são tão facilmente visíveis.
E, como eu disse, algumas pessoas, pessoas boas, amigos simpáticos e cidadãos úteis, nunca chegam a viver essa experiência. Estão perfeitamente bem sem isso. Se todos os livros e toda a música e todas as pinturas do mundo desaparecessem da noite para o dia, elas não sentiriam falta; elas nem notariam.
Mas essa fome existe em muitas crianças, e muitas vezes nunca é satisfeita porque nunca foi despertada. Muitas crianças, em todos os cantos do mundo, estão a passar fome pela falta de algo que alimenta e nutre as suas almas de uma maneira que nada mais no mundo poderia.
Dizemos, corretamente, que todas as crianças têm direito à alimentação e ao abrigo, à educação, ao tratamento médico, e assim por diante. Mas devemos entender que todas as crianças têm direito à experiência da cultura. Temos de entender verdadeiramente que sem histórias, poemas, pinturas e música, as crianças também passarão fome.

Texto escrito por Philip Pullman (Versão original) para o décimo aniversário do Prémio Memorial Astrid Lindgren em 2012.







Dinamarca prescreve ‘vitamina de cultura’ para pacientes com depressão
Tratamento lançado em 2016 dura dez semanas e coloca pessoas com depressão, ansiedade ou estresse em contato com guias culturais profissionais.
Por Ana Carolina Moreno, G1

11/08/2019 05h00  Atualizado há 6 meses

Mikael Odder Nielsen  coordena o projeto de 'vitamina cultural' da cidade dinamarquesa de Aalborg, voltado a pacientes com depressão 

Mikael Odder Nielsen não tem formação profissional em saúde, mas desde 1º de outubro de 2016 coordena um tratamento para pessoas com depressão, ansiedade e estresse na cidade de Aalborg, na Dinamarca. Batizado de Kulturvitaminer, ou "vitaminas de cultura", o programa oferece aos pacientes encontros com profissionais de diversas áreas artísticas que os ajudam a tirar o foco da doença e incentivar a autoconfiança.

Nesse quesito, Nielsen tem muita experiência: formado em musicologia, ele já trabalhou durante oito anos com jovens vulneráveis.

"Usei a cultura, e a música em particular, para renovar a energia deles, construir a autoconfiança e fortalecer a habilidade deles em serem mestres de suas próprias vidas", contou o dinamarquês, em entrevista ao G1.

Desde que foi lançada, a iniciativa já recebeu 260 pacientes, principalmente por indicação de centros de empregabilidade locais, e a ideia é que ele atenda cerca de 100 pessoas por ano.

"A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o estresse e a depressão serão duas das maiores causas de doença no ano 2020. Mais e mais pessoas têm saúde mental precária. Por isso é importante fazer esse trabalho, disse Mikael Nielsen.
Uma das 'pílulas de cultura' introduzidas no tratamento dinamarquês é visitar os bastidores de uma orquestra de música clássica .

'Pílulas de cultura'

No projeto mantido pelo Centro de Saúde Mental do Departamento de Saúde e Cultura de Aarlborg, as atividades do Kulturvitaminer acontecem três vezes por semana durante um período de dez semanas.

"Os cidadãos conhecem guias culturais muito competentes, bem preparados e dedicados que oferecem uma 'pílula de cultura' para botar de novo um sorriso no rostos deles, conseguir apoio e fé em si mesmos", explicou o musicólogo.

Nielsen diz que são oito as atividades principais:

Em uma biblioteca, os pacientes fazem leituras coletivas e compartilham de forma aberta seus pensamentos, memórias, ética e moral da história lida. "Não existe resposta errada", diz o coordenador.
O grupo também integra um coral, cantando junto e compartilhando da sensação de estar em comunidade e pertencer a um grupo. Nielsen ressalta que cantar estimula o cérebro a promover dopamina, um antídoto para os hormônios do estresse.
As visitas também levam os pacientes ao arquivo histórico da cidade, com passeios pelas ruas e uma introdução à genealogia dos moradores. "Isso lhes dá uma filiação, o sentimento de que pertencem a um lugar."
Escutar música é outra das atividades, usando um app com músicas calmantes que levam as pessoas a "fazer uma pausa, aprofundar a ponderação e as ajudam a pegar no sono".
Um tour de um teatro também está dentro do programa, incluindo subir ao palco, conhecer as coxias e bastidores e acompanhar oficinas por trás dos panos, incluindo uma de linguagem corporal com dois atores.
O grupo ainda assiste à experiência de ver uma sinfonia de música clássica ao vivo. "Isso se encaixa com muitas emoções dos participantes", diz Nielsen. "Aqui, falamos sobre a catarse – um refinamento do cérebro produzido pela arte."
Museu de arte é outro destino do cronograma, incluindo explicações sobre arte moderna, onde o tema é a arte que se vê e o efeito que ela tem nos pacientes, e quais emoções ela desperta.
O tratamento não deixa, ainda, de promover a conexão com a natureza, incluindo caminhadas pelas áreas naturais da cidade. Trata-se, segundo o coordenador, de "experimentar a natureza como um espaço livre, onde você não precisa pensar em coisas cotidianas, você pode apenas ser".
No projeto de 'vitamina cultural', pacientes com estresse, depressão ou ansiedade conseguem formas laços e reforçar sua autoconfiança e sentimento de pertencimento .

Resultados

Todo o processo é voltado a despertar nos pacientes sentimentos ligados à autoconfiança e ao pertencimento a um grupo, para que eles renovem sua energia de participar da sociedade. Isso ajuda a tirá-los de círculos viciosos como o isolamento, que os faz perderem empregos e amigos, e os afunda ainda mais na solidão e no sentimento de inaptidão.

"Os resultados são promissores", diz Nielsen. "Muitos deles voltaram a se aproximar novamente do mercado de trabalho e completaram estágios."
O processo, continua o especialista, "ajuda a remover o foco na doença e, em vez disso, cria novas imagens deles mesmos, de pessoas com habilidades, que conseguem fazer algo de suas vidas".

Desde 2016, o coordenador do Kulturvitaminer diz que o governo da Dinamarca já investiu o equivalente a mais de R$ 4 milhões em projetos do tipo, dos quais a prefeitura de Aalborg recebeu R$ 1 milhão, além de ter desembolsado o mesmo valor para manter o projeto.


Redação do Enem: a cineasta Laís Bodanzky faz a prova 06/11/2019 04h00
 No último domingo (03), as mais de 5 milhões de pessoas que prestaram a primeira etapa da prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) tiveram que escrever uma redação com o tema "democratização do acesso ao cinema". Convidamos a cineasta Laís Bodanzky para escrever sobre o assunto. No início do ano, ela assumiu a presidência da Spcine, empresa de fomento ao audiovisual na capital de São Paulo. "O cinema é um instrumento de cidadania, de inclusão social".  Veja mais em AQUI

Cultura desata o nó do desemprego
A cultura nos conecta ao sonho e ao talento criativo, característico da experiencia humana. O mapa que indica a direção do crescimento econômico e da paz social está aí, para quem tiver olhos de ver.















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