quinta-feira, 5 de março de 2020

A melhor pARTE do Brasil. O que fazer? Ou, porque falta gente nas ruas contra a bárbarie?



Raimundo Venâncio

UMA ESQUERDA NA CONTRAMÃO DA COMPREENSÃO DO NOVO JOGO POLÍTICO

Enchi o saco desse momento político que o nosso país está vivendo, e não aguento mais a pasmaceira da esquerda em fazer vistas grossas às aberrações cometidas por este presidente, a que estamos cotidianamente sendo submetidos, e com essa tamanha gravidade! 

O golpe contra o Brasil e contra os trabalhadores foi dado quando foi permitido que tirassem Dilma da presidência, quando foi permitido que prendessem Lula injustamente, quando foi permitido eleger o Bolsonaro num processo fraudulento de eleição, para que a direita abocanhasse o poder na marra, já que não teria competência para derrotar a esquerda nas urnas. 

E quem conseguiu aprender História aprendeu também que o nosso país se fez na base dos golpes promovidos pela elite brasileira; golpes estes que só os manipulados destes e de outros tempos não viram, nem veriam, nem verão sabendo nós quem são os golpeadores. 

E desde então é como se a esquerda estivesse perdida, atordoada ou mesmo sem ânimo para se arvorar. E de fato está mesmo com os ânimos em baixa: por saber que tudo que possa fazer que vá de encontro ao estabelecido será em vão. Sim, a esquerda sabe. Toda ela, sem exceção, sabe que daqui para frente, no Brasil, nada vai acontecer de diferente do que está posto! Obviamente, porque os três poderes – o executivo, o legislativo e o judiciário –, junto aos ricos do Brasil, ao mercado e à mídia acanalhada se uniram para este fim. Até o mundo já está careca de saber que são eles os grandes mentores do golpe! E é por isso que Bolsonaro faz o que bem quer e entende. 

E até sair do poder ele seguirá agindo assim, pois nada absolutamente irá lhe acontecer. Pelo volume de crimes de responsabilidade, de quebra de decoro que o bisonho cometeu, num país respeitável, civilizado e com sérias instituições do poder judiciário em decente funcionamento, ele já estaria atrás das grades ou de algum manicômio judiciário. 

Temos o macabro exemplo de Dilma para mostrar a força que há quando os PODEROSOS resolvem se juntar para golpear a verdade, a honestidade e a justiça. Somos hoje um país fragilizado, em frangalhos, com armas enferrujadas demais para lidar com essa monstruosidade, nada antes visto nesta nossa já aturdida sociedade. 

A esquerda não consegue se unir nem para cuidar de suas próprias feridas, que dirá das feridas alheias. Prova disso é a falta de uma ação única e concreta da esquerda em resposta ao maior dos crimes de responsabilidade que este presidente cometeu, que foi incitar um movimento de apoio ao fechamento do Congresso e do Supremo, depois de vários atos terem sido isoladamente construídos. 

Há tempos, a esquerda sabe que já não consegue mais mobilizar as pessoas para irem às ruas; não consegue mobilizar gente para um único ato, que dirá para três atos, como está buscando fazer agora. Se não consegue mobilizar nem as pessoas que são vítimas diretas deste retrocesso, vítimas incapazes de se motivarem a salvar a própria pele, então é porque precisa urgentemente refazer o caminho ou percorrer outros, refletir as suas práticas, avaliar as velhas estratégias para criar novas. 

Quando vai cair a ficha de que a guerra mudou, e o inimigo não é mais o mesmo? Ou vai insistir com essa tática batida de arrastar aquela mesma meia-dúzia de gatos pingados, que depois voltarão para as suas casas com o sentimento de dever cumprido, cada um dos gatos dizendo para si: “ao menos eu fiz a minha parte”? Pois eu digo: podem fazer mil manifestações, mil passeatas, explodir em revolta nas redes sociais que não vai acontecer nada! Podemos espernear, gritar, urrar que não vai dar em nada! Só um distraído não vê. E é justamente porque consegue fazer essa leitura que Lula defende que o presidente “tal-oquei” siga o seu mandato até o fim. 

Lula bem sabe enxergar o quadro caótico a que o país está imerso, e os partidos de esquerda também sabem disso, por isso se comportam dessa maneira: alimentando uma luta dividida, compartimentada. Todos eles sabem que tudo que se faça será em vão. Só existiria um jeito de derrubar a extrema direita numa nova eleição, que é elegendo um novo presidente, no mínimo de centro esquerda - isso se houver eleição, o que duvido. 


É só lembrarmos do que os PODEROSOS foram, são e sempre serão capazes de fazer contra a nossa Democracia, que continuará em vertigem. E diante do fato inconteste de não haver possibilidade de trucidar “o maior inimigo do Brasil”, o que vemos é a luta da esquerda em se dividir para tentar eleger - cada partido trabalhando para si - os seus representantes, custe o que custar. Quer dizer, quando precisaria que a esquerda se unisse com a esquerda, como tinha que ser, busca união justamente com a velha direita golpista! 

Por isso, não se abismem se nesse jogo eleitoral que se aproxima encontrarmos a esquerda de braços dados com os que forjaram o impeachment de Dilma, com os que votaram pela reforma trabalhista, a favor da terceirização - algozes dos trabalhadores, com os famigerados que votaram a favor da reforma da previdência, destruindo conquistas históricas, centenárias, enfim, ao lado de quem despreza o povo pobre do Brasil! A eleição não divide mais o joio do trigo, e já ultrapassamos o fundo do poço. 

E nós, reles mortais, seguimos amargando a dureza da perda de direitos, e amedrontados com a possibilidade de perdermos até a liberdade. “A esquerda está velha na compreensão do jogo político”, precisa mudar para ontem as suas estratégias, a fim de não ser engolida de vez. A era agora é a da pós verdade, a guerra agora é híbrida, o inimigo agora é o da milícia, ultra terrorista. A sensação, pura e fria, é de que já perdemos o jogo.

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