Chico Alencar
(Peço desculpas, de antemão: fui escrever sobre o significado de Jesus para mim e saiu um textão...)
No trecho do Evangelho lido hoje em milhares de igrejas do mundo (Mateus 16, 13-20) Jesus faz essa pergunta aos seus discípulos.
Chegando Jesus à região de Cesareia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: "Quem os outros dizem que o Filho do homem é?"
14Eles responderam: "Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas".
15"E vocês?", perguntou ele. "Quem vocês dizem que eu sou?"
16Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".
17Respondeu Jesus: "Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não foi revelado a você por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus.
18E eu digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.
19Eu darei a você as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus".
20Então advertiu a seus discípulos que não contassem a ninguém que ele era o Cristo.
Passados mais de 20 séculos ela está dirigida a nós. Pede resposta pessoalíssima, intransferível. Íntima e sincera, não para ser alardeada aos berros (ecoando, tantas vezes, discursos de ódio e preconceito).
Eu me indago sobre Jesus desde criança, graças à minha mãe. Sou grato a ela por ter me colocado nessa busca - que, afinal, é do sentido da vida.
Hoje, passadas sete décadas, refaço sempre a indagação e anima-me a tarefa orante de tentar responder.
Jesus Cristo - que, como Buda e Sócrates, não deixou nada escrito - é afetuoso enigma a ser sempre desvendado. Aquele profeta maior, "rabi" da Galileia, nos chega através dos Evangelhos 😊 boas novas).
Jesus foi e é, para mim, a humanização de Deus.
Antes, predominava aquele Juiz severo, tomador de conta, "grande inquisidor" que devia ser temido. Pronto pra castigar o "pecador".
Com Jesus, filho muito amado do Criador, descobri que "no ventre de Maria, Deus se fez homem; na oficina de José, Deus se fez classe" (Pedro Casaldáliga, 1928-2020).
Jesus da gente: irmão de estrada, companheiro de caminhada, meu outro e melhor eu.
A Eterna Criança de acolhedores natais, Menino no presépio em comunhão com o boi, o burro, os pastores, os magos.
Na missão, o rebelde das utopias, do reconhecimento do diferente e do diverso, mestre da lei maior, a do Amor, que renova a face da Terra (e a nossa).
Jesus modelo da luta por Justiça, o manso e humilde de coração que, com o chicote da ira santa, expulsa os vendilhões (que continuam, adoradores do dinheiro e do poder, usando seu nome em vão).
Jesus que não se deixou seduzir pelos bens materiais ("meu reino não é deste mundo") mas nunca fugiu da realidade, obcecado em transformá-la.
Jesus místico, presente, que anuncia o Reino e afirma que ele começa dentro de nós.
O humaníssimo que chorava a perda de um amigo, bebia com os marginalizados, convivia com Marta e Maria Madalena, repartia o pão, encarava a cruz e a coroa de espinhos, assumindo em si todas as dores da Terra.
O libertador, mito autêntico (cuidado com as falsificações!), cuja aceitação cobra coerência: praticar o pregado, fazer o proclamado. Oração e ação.
Jesus de Nazaré que cutuca nosso egoísmo e chacoalha nossa mesquinhez. Jesus, um arrebatado, um apaixonado, sempre jovial na sua eternidade.
Jesus amigo oculto, irmão secreto, na doença e na saúde, na dor e na alegria. O Deus escondido - feminino, masculino, plural - que acalma e aconselha, guia das trilhas por onde queremos ir.
Gosto desse Jesus que carrego no peito, com o tao de São Francisco, louco por todas as criaturas. Com o pobre de Assis aprendo um Jesus solar, trovador, em fraternidade com todas as criaturas.
Jesus que é água, árvore, pedra, música, caminho, verdade, vida.
Que é o melhor de nós mesmos, quando o Espírito sopra pra varrer do mundo a opressão. Jesus Cristo, meu outro coração!
O de cada um(a), o de Fernando Pessoa (1888-1936), no apelo de Alberto Caieiro:
Jesus, para mim, é alegria e energia de renascimento. Mistério da fé. E para você?
(C.A.)
A face solar de Cristo - Cláudio Pastro (1948-2016)
O primeiro quadro pintado por Tarsila do Amaral (1886-1973) foi esse "Coração de Jesus", em 1904, quando ela tinha 18 aninhos! Acho lindo nas cores e na simplicidade. Qual a imagem de Jesus, entre milhares, que você mais gosta?
Zezito de Oliveira
Ontem fazendo a nossa ceia "profana" e profética dos sábados a noite, reunidos eu, minha esposa, meu filho e a sua namorada em um dado momento falei sobre como sou tomado por Jesus Cristo de tal maneira que caminho com os dois, o histórico, imanente e o teológico, transcendente. E disse, assim Jesus Cristo nunca há de me faltar... Também conversei da minha segurança como cristão, o que pode me levar a celebrar o Deus de todos os nomes e de todos as cores. Assim em um país de maioria muçulmana, caso precisasse morar, poderia celebrar em uma mesquita, assim como não tenho problemas em ir a terreiros de umbanda e candomblé, se convidado e etc. Mas lembrei que isso é fruto de uma evolução sobre a presença de Jesus Cristo na minha vida e na história da humanidade...
Nietzsche “Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar”: Em "Assim Falava o sábio Zaratustra"
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