quinta-feira, 14 de maio de 2020

CRONICAZINHA DE NADA. E SÓ

Por Romero Venâncio


Tenho cá comigo (e não é lei pra ninguém) que cada um pode estragar sua vida como quiser e lhe a prover. Mas não tem o direito algum de estragar a vida de um outro que não tem nada com sua história. 

Digo isto por lembrar de meu pai. Um desgraçado que nunca deveria ter casado e muito menos ter colocado filhos no mundo. Paciência. É que tava lendo aqui sobre a morte do cantor pernambucano Orlando Dias (veneração de meu pai). 

Vi que uma nota na folha de São Paulo de 13 de agosto de 2001 sobre sua morte. Era um cantor daqueles que maldosamente chamamos de brega. Morreu no Rio de Janeiro esquecido (pra variar na história desse país). 

Segundo o jornal dos paulistas: "ele foi um dos pais do brega". Uma notinha de nada e pronto. Lembro disto porque este cantor entrou um dia na minha vida quando eu tinha lá meus 10 anos. final dos naos 70. Havia um circo nesse tempo na cidade de Garanhuns onde nasci e meu pai em mais uma briga com minha mãe (pra variar!) me arrastou pela mão e me levou num circo (já bêbado/pra variar mais uma vez). 

Uma das raras coisas boas que lembro de meu pai: gostar de circo ruim e me fazer gostar também. Guardo isto, ainda hoje. Nesse circo tava catando quem? Orlando Dias. Nunca esqueço: com um lenço branco na mão, gesticulando tudo que cantava, ficava de joelhos e numa voz gravíssima... Hoje reconheço: absolutamente dramatúrgico em seus gestos. Dramático até a tampa. 

E esses dias encontrei aqui no youtube uma das canções mais chamativas que o distinto cantava nesse dia: "Tenho ciúme de tudo"... daqueles versos estranhos de se falar de amor e que marcaram uma geração (não menos estranha)... Fui formado e marcado por esta geração e seu gosto musical e suas contradições. 

Minha mãe ouvia-os para afogar suas mágoas e meu pai para nadar na sua cachaça. A vida é assim. O que tá tá feito, tá feito. Por fim, minha mãe em seu "estoicismo inconsciente" e de feirante me disse algo uma vez que nunca mais esqueço e virou uma filosofia de vida: "merdas cagadas não voltam ao cu" - e não voltam mesmo!

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